• Nenhum resultado encontrado

TIPOS DE VAREJO:

No documento Os estilistas e a produção de moda (páginas 103-108)

Lojas Independentes: Segundo Jenkyn (2005, p.66), são formadas por varejistas com menos de dez distribuidores, que são negociantes exclusivos de apenas uma loja ou butique. As lojas independentes têm custos mais elevados, precisam de fortes inovações da Moda, além da exclusividade e nome dos estilistas para atrair seus compradores. No Brasil, podemos exemplificar como independentes as lojas próprias dos estilistas e também a Daslu.

Lojas Informais e Outras: Podem ser definidas como aquelas que funcionam tanto no domicílio do proprietário quanto no do cliente, bem como em feiras, por exemplo, o

Mercado Mundo Mix.

Lojas Especializadas: São estabelecimentos que representam um setor específico de produtos como Moda íntima, Moda praia e fitness.

Lojas de Departamentos: São aquelas que oferecem uma enorme gama de produtos em diferentes andares ou departamentos e que são, segundo Jenkyn (2005 pg.66), planejadas para manter o cliente na loja o maior tempo possível.

Atualmente são estratégias das lojas de departamentos oferecer cartões de fidelidade e crédito, buscando atingir grupos específicos, principalmente jovens. No nosso caso, podemos citar a C&A, Pernambucanas, Lojas Americanas, Riachuelo e Renner.

Lojas de Desconto: Também conhecidas como ponta de estoque, essas lojas compram roupas com preços reduzidos, de origens diversas e no mundo todo, sempre com preços muito competitivos. As lojas de desconto costumam retirar as etiquetas da mercadoria a fim de impedir que os lojistas identifiquem o produtor da roupa.

Neste sentido, os dados das tabelas 3, 4 e 5, indicam que a indústria de vestuário no país caracteriza-se por uma teia de situações, envolvendo desde a grande empresa capitalista até o pequeno produtor independente, fato que ocorre de maneira semelhante, segundo a ABRAVEST, em outros países. No entanto, o que os diferencia é o peso que os pequenos produtores (representados na Tabela 5 como produtores independentes ou informais, os pronta-entrega e as butiques), setores ainda pouco organizados, ainda têm na produção e comercialização do vestuário.

Até a década de oitenta, os referidos setores obtinham vantagens comparativas com os produtos têxteis, no plano mundial. Tal fato pode ser explicado menos pelo fato de apresentarem elevada tecnologia e mais por utilizarem mão-de- obra- barata.

Tabela 6

CUSTOS DE MÃO-DE-OBRA NOS SETORES TÊXTIL/ VESTUÁRIO (dólar/hora)

Alemanha 21,94 Itália 16,65 Estados Unidos 12,26 Hong Kong 4,90 Portugal 4,77 Brasil (Sudeste/Sul) 2,40 Turquia 1,95 Tailândia 1,56 México 1,50 Brasil (Nordeste) 1,50 China 0,52 Índia 0,50 Indonésia 0,24 Fonte: ABRAVEST (Associação Brasileira de Vestuário / Relatório de fevereiro de 2000)

Através dos dados fornecidos pela Tabela 6, que fornece os valores da mão-de-obra no setor, podemos constatar uma tendência sofrida pelo capitalismo dos anos noventa.

No mundo, embora o setor se caracterize por uma grande heterogeneidade de unidades produtivas e padrões tecnológicos, a tendência atual, por parte dos países desenvolvidos, é de migração para os países em desenvolvimento.

Tal migração objetiva uma redução de custos e ganhos de produtividade, via absorção das vantagens propiciadas pelos salários mais baixos de países como o Brasil, que emprega, nesses setores, predominantemente mão-de-obra pouco especializada e feminina, cujo custo é historicamente inferior.

Como exemplo, podemos comparar o custo da mão-de-obra do setor, na Alemanha (US$ 21,94), com o do Nordeste brasileiro (US$1,50).

Até a década de oitenta, segundo dados fornecidos pela ABRAVEST, o comércio mundial de têxteis girava em torno de US$ 100 bilhões, e as exportações chegaram a US$ 1 bilhão, ou seja, 1% das transações mundiais de têxteis.

Entretanto, como já nos referimos anteriormente, a vantagem do setor têxtil, com relação à mão-de-obra empregada, altamente questionável do ponto de vista

social, não foi suficiente para competir com países de tecnologia avançada, ou com países que possuem salários ainda mais baixos, como a China (vide Tabela 6).

Tal situação fez com que, nos anos noventa, segundo a ABRAVEST, China, Hong Kong e Coréia controlassem sozinhos mais de 30% das exportações mundiais de têxteis e de confecções. Enquanto isso, a participação do Brasil, no setor mundial, caía para 0,6%.

A herança da abertura às importações dos produtos têxteis, segundo relatório Anual da ABRAVEST (2002), mantém as firmas produtivas em meio à crise, sendo que as empresas precisam ganhar produtividade, melhorar a qualidade dos produtos e oferecer respostas mais rápidas aos pedidos dos clientes.

Harvey (1996) questiona como os usos e significados do espaço e do tempo mudaram com a transição do fordismo (caracterizado por linhas de montagem em grande escala) para acumulação flexível. O autor afirma que, nas duas últimas décadas, uma intensa fase de compressão de tempo-espaço tem tido impacto desorientado e disruptivo sobre as práticas políticas-econômicas, sobre o equilíbrio do poder de classe, bem como sobre a vida social e cultural.

Com a aceleração do consumo em massa, dois aspectos, no nosso caso, podem ser ressaltados:

1) A mobilização da Moda em mercado de massa (em oposição aos mercados de elite) forneceu um meio de acelerar o ritmo do consumo não somente em termos de roupas, ornamentos e decoração, mas também numa ampla gama de estilos de vida e atividades de recreação.

2) A passagem do consumo de bens para o consumo de serviços, não apenas serviços pessoais como comerciais, educacionais e de saúde, com também de diversão, de espetáculos, eventos e distração (HARVEY,1996).

Mas, segundo o autor, como há limites para a acumulação e para o giro de bens físicos, faz sentido que os capitalistas se voltem para o fornecimento de serviços bastante efêmeros de consumo.

Dentre as inúmeras conseqüências dessa aceleração generalizada dos tempos de giro de capital, uma delas é acentuar a volatilidade e a efemeridade de modas, produtos, técnicas de produção, processos de trabalho, idéias, valores e práticas estabelecidas. Assim, a volatilidade torna extremamente difícil qualquer planejamento a longo prazo. Na verdade, para o autor, hoje é tão importante aprender a trabalhar com a volatilidade, quanto acelerar o tempo de giro. Isso significa uma alta

adaptação e capacidade de se movimentar com rapidez em resposta às mudanças no mercado ou ao planejamento da inconstância do mercado(HARVEY,1996).

Ainda segundo Harvey, atualmente, são as imagens que se tornam mercadorias. O capitalismo agora tem preocupação predominante com a produção de signos, imagens e sistema de signos, e não com as próprias mercadorias. A indústria da Moda, imersa neste sistema, é o campo ideal para conter esta multiplicação de signos e imagens.

Toda essa indústria se especializa na aceleração do tempo de giro por meio da produção e venda de imagens. Trata-se de uma indústria em que reputações são feitas e perdidas da noite para o dia, onde o grande capital fala sem rodeios e onde há um fermento de criatividade intensa, muitas vezes individualizadas, derramado no vasto recipiente da cultura de massa serializada e repetitiva. É ela que organiza as manias e Modas, e, assim fazendo, produz a própria efemeridade, que sempre foi fundamental para experiência de modernidade. Ela se torna um meio social de produção do sentido de horizontes temporais em colapso mais amplo do que ela mesma se alimenta tão avidamente (1996, p.262).

Entretanto, segundo a ABIT/ABRAVEST, alguns gargalos ainda prejudicam sobremaneira a expansão dos setores têxteis/vestuário:

- Ínfimos investimentos em modernização tecnológica das empresas. - Baixos investimentos para o desenvolvimento de produto e design.

- Ausência de parcerias/alianças estratégicas na relação com fornecedores para o desenvolvimento conjunto de novos produtos, aquisição conjunta de matérias-primas, etapas conjuntas de produção, por exemplo.

A chave para o desenvolvimento da indústria neste século, portanto, é via utilização de inovações tecnológicas em laboratórios, visando à maior praticidade, como, por exemplo, o desenvolvimento de tecidos leves, acabamentos que dispensam o ferro de passar e a incorporação de propriedades antibactericidas.

Apesar da modernização do parque industrial, com o aumento do emprego de equipamentos flexíveis, a principal estratégia de concorrência das empresas – tanto têxteis quanto de confecções – continua sendo o preço.

Para adequarem-se a um novo patamar de preços, tendo em vista a concorrência das importações, as empresas necessitam rever os custos e suas políticas de preços. A modernização e o acréscimo da concorrência estimulam a oferta de produtos de qualidade.

Seguindo-se ao preço, para a ABIT/ABRAVEST, a qualidade e a capacidade de diferenciação de produtos – atendimento a demandas de pequenos lotes – figuram como importantes estratégias de concorrência. Outros fatores importantes são a comercialização de marcas, prática comum no setor, e a valorização do design. E a valorização vem ocorrendo, neste caso, pela profissionalização do setor, através da formação e atuação dos estilistas graduados, que concorrem com os produtos estrangeiros, visando a agregar valor ao produto nacional.

Para maior reconhecimento do trabalho do designer em Moda, há a necessidade, ao nosso ver, de aumentar o número de estilistas participantes das

Semanas de Moda de Milão, Paris e Nova Iorque, além da elevação de lojas de produtos brasileiros no exterior.

No documento Os estilistas e a produção de moda (páginas 103-108)