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A dislexia encontra-se dividida em dois tipos: dislexia de desenvolvimento ou evolutiva e dislexia adquirida.

Torres & Fernández (2001) afirmam que um indivíduo com dislexia de desenvolvimento revela problemas na aquisição da leitura e da escrita desde o início da sua aprendizagem, manifestando-se desde a infância. Por outro lado, a dislexia adquirida está relacionada com um distúrbio adquirido, que ocorre geralmente em adultos, devido a traumatismos ou lesões cerebrais, causando perturbações na leitura. O sujeito que, anteriormente, lia e escrevia corretamente, ao sofrer uma lesão ou trauma, apresenta dificuldades nestes campos.

O presente relatório irá centrar-se apenas na dislexia de desenvolvimento, visto que se trata do tipo de dislexia apresentada pelos indivíduos participantes neste estudo.

Apesar de existirem vários tipos de dislexia adquirida, somente serão mencionados três tipos, a fonológica, a superficial e a profunda, pois atualmente começam a surgir provas de que elas também existem nas dislexias de desenvolvimento e inclusive apresentam caraterísticas semelhantes (Citoler, 1996) (Tabela II).

Tabela II: Tipos de dislexia. Adaptado de Citoler (1996).

Dislexia Adquirida

Fonológica: Dificuldade no uso do

procedimento subléxico por lesão cerebral.

Superficial: Dificuldade no uso do

procedimento léxico por lesão cerebral.

Profunda: Dificuldades no uso de ambos

os procedimentos.

Dislexia de Desenvolvimento

Fonológica: Dificuldade na aquisição do

procedimento subléxico por problemas fonológicos, percetivo-visuais e neurobiológicos.

Superficial: Dificuldade na aquisição do

procedimento léxico por problemas fonológicos, percetivo-visuais e neurobiológicos.

Mista: Dificuldade na aquisição de ambos

os procedimentos por problemas fonológicos, percetivo-visuais e neurobiológicos.

No que diz respeito à dislexia de desenvolvimento, os investigadores mencionam que a disfunção pode surgir na via fonológica, existindo, assim, uma dificuldade na aplicação de regras de correspondência entre grafemas e fonemas (via subléxica), ou seja, uma incapacidade ao nível da descodificação fonológica (Gonçalves, 2015; Carvalho, 2011; Lopes, 2010; Mather & Wendling, 2012). Para Cruz (2007, p. 224), neste subtipo “existe uma discrepância entre a leitura de palavras conhecidas ou familiares, que se encontra relativamente preservada, e a leitura de pseudopalavras e palavras desconhecidas, que está gravemente afetada”.

Segundo os mesmos autores, a dislexia superficial caracteriza-se por uma dificuldade no reconhecimento global das palavras (via léxica), que faz com que os erros

ocorram sobretudo em palavras irregulares ou nas homófonas, uma vez que estas implicam o acesso ao léxico ortográfico.

Contudo, existe um subtipo de dislexia que combina as dificuldades dos dois subtipos referidos anteriormente. Esta é designada dislexia mista. De acordo com Cruz (2007), este subtipo de dislexia “refere-se a uma dificuldade de aquisição das duas vias da leitura, a fonológica ou subléxica e a visual ou léxica” (p. 224). O autor ainda acrescenta que, o facto de a dislexia mista associar as dificuldades e sintomas da dislexia fonológica e superficial, torna esta uma situação mais grave.

Cruz (2007) conclui que “a distinção de subgrupos dentro do grupo dos disléxicos ainda não é um assunto resolvido, pois não existe consenso quanto ao número de subgrupos nem quanto às suas características” (p. 237).

Ao analisar a Tabela II pode-se inferir que os três subtipos de dislexia de desenvolvimento têm caraterísticas idênticas aos três subtipos de dislexia adquirida. Ainda assim, no decorrer da revisão bibliográfica encontrou-se muitas outras categorizações das dislexias de desenvolvimento, pelo que a seguir se faz alusão a algumas das principais classificações apresentadas.

Segundo Torres & Fernández (2001) a dislexia de desenvolvimento pode ser classificada quanto à sua natureza e às caraterísticas observadas:

o Disfonética ou auditiva: as crianças com este tipo de dislexia apresentam uma dificuldade na integração letra - som, revelando erros de discriminação auditiva; têm dificuldade em ler palavras desconhecidas, confundindo-as com vocábulos semelhantes; os erros mais frequentes são de carácter semântico (“mulher” em vez de “senhora”);

o Diseidética ou visual: as crianças com este tipo de dislexia apresentam dificuldades em perceber globalmente as palavras; não conseguem unir o conjunto de letras que as compõem, apresentando uma leitura lenta, soletrando e decompondo as palavras nos seus fonemas, ou seja, leem, foneticamente, todas as palavras como se as visualizassem pela primeira vez; os erros mais frequentes são as inversões visoespaciais de letras/sílabas/palavras (“b” em vez de “d”; “em” em vez de “me”; “bolo” em vez de “lobo”);

o Mista ou aléxica – reúne ambas as tipologias anteriormente referidas (disléxicos disfonéticos e diseidéticos), ou seja, as crianças com este tipo de dislexia apresentam tanto problemas visuais como fonológicos, provocando uma quase total incapacidade para a leitura.

Spear - Swerling & Sternberg (1996) classificam os disléxicos quanto à forma da leitura, mencionando quatro padrões:

o Leitores não alfabéticos - os que não revelam conhecimento dos princípios alfabéticos (reconhecimento das palavras por pista visual) e, consequentemente, demonstram também problemas de compreensão);

o Leitores compensatórios - revelam lacunas na descodificação das palavras, mas alcançam o conhecimento alfabético; podem revelar, no entanto, problemas de compreensão, dado que empregam o conhecimento visual da palavra ou o contexto de uma frase para chegarem a determinada palavra, o que os faz, por vezes, desviarem-se do “real” contexto da frase;

o Leitores não automáticos – revelam um conhecimento controlado das palavras, como tal, conseguem descodificar as palavras de modo preciso, mas fazem-no com muito esforço;

o Leitores tardios – conseguem adquirir habilidades para identificar os vocábulos, mas com lentidão (e com grande esforço); estas crianças geralmente não conseguem acompanhar o ritmo de trabalho das outras crianças, uma vez que enquanto as outras já estão preparadas para usar a leitura como ferramenta para adquirir novos conhecimentos, os leitores tardios ainda estão a esforçar-se para aprender as habilidades básicas de reconhecimento das palavras.

Seguindo esta linha de pensamento Cruz (2009), acrescenta um último grupo, o dos leitores sub-otimais, crianças que não conseguem alcançar uma leitura proficiente, contudo, reconhecem e compreendem automaticamente palavras simples (sem atingirem os níveis superiores de compreensão).

Em suma, a maioria dos autores identifica três grupos de dislexia evolutiva, contudo, denominam-nos de diferentes formas; “Fonológica”, “Superficial” e/ou “Mista” é outra das nomenclaturas muito usadas, no entanto, as características de cada um destes grupos assemelham-se às citadas para a “Disfonética/Auditiva”; “Diseidética/Visual” e “Mista/Aléxica.”

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