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1 Tipos e Padrões das Transições

No documento Ana Teresa tese final (páginas 73-76)

TEMA CATEGORIA SUBCATEGORIA

Tipo de Transição

Situacional

Emigração Independência

Novos papéis educacionais e profissionais Desenvolvimental Mudança no ciclo vital

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De acordo com Meleis et al. (2000) a Teoria das Transições possui três conceitos centrais: a natureza das transições, as condições facilitadoras e inibidoras e os padrões de resposta. A natureza das transições pode ser analisada de acordo com o tipo, padrão e propriedades. O indivíduo pode vivenciar vários tipos de transição, simultaneamente ou de forma sequencial, sendo que estas podem também relacionar-se ou não entre si. As experiências das transições não são unidimensionais, discretas ou mutuamente exclusivas. Pelo contrário, envolvem grande complexidade e estão envoltas em múltiplas dimensões. Por esse mesmo motivo, quando o enfermeiro analisa a natureza das transições, deve estar atento para a eventualidade da pessoa estar a passar por mais do que uma transição em simultâneo. Quanto ao tipo, as transições podem ser classificadas como: Saúde/Doença, Desenvolvimentais, Situacionais e Organizacionais.

Emigrar implica uma rutura com os referenciais básicos que orientam a conduta individual. A migração é um processo complexo e exigente, não só para o indivíduo, como também para quem a estuda e avalia, porque obriga a uma abordagem global e ao mesmo tempo minuciosa de uma realidade em constante mudança. O processo de mudança, ou transição, fenómeno pessoal e não estruturado, traduz-se num desenvolvimento, fluxo ou movimento de um estado para outro, e ocorre através do tempo. Representa pontos de viragem, que resultam no assumir de novos papéis e novas relações conduzindo a novas auto conceções (Zagonel, 1999).

No caso da emigração, transição situacional complexa, estas mudanças vão ocorrer a vários níveis: da família e amigos, da língua, da cultura, da casa, da posição social, do contacto com o grupo étnico e religioso, e vai exigir que o indivíduo desenvolva estratégias de adaptação que lhe permitam superar as dificuldades e lidar com a mudança etapa a etapa (Ramos, 2005). Este acontecimento é vivenciado como um luto, trazendo grande vulnerabilidade e sofrimento psicológico (Desjarlais et al., 1995; Bibeau, 1997; Kirmayer e Minas, 2000; Persaud e Lusane, 2000; Murray e Lopez, 1996). Independentemente do tipo de mudança, seja ela positiva ou negativa, representa sempre um fator de stress. Por isso mesmo, as pessoas que passam por uma transição, estão mais vulneráveis a riscos que afetem a sua saúde (Meleis et al., 2000). Nalguns processos migratórios, os níveis de stress podem ser tão elevados, que prejudicam a capacidade adaptativa do indivíduo, podendo chegar mesmo a impedi-la. O papel da Enfermagem torna-se então essencial, uma vez que o seu principal objetivo é analisar e desenvolver intervenções que facilitem a passagem por essa mesma transição.

A transição situacional migração foi comum a todos os participantes, uma vez que todos abandonaram o seu país para irem viver e trabalhar no Reino Unido, o que trouxe

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amadurecimento/crescimento pessoal “ (E10), “Tem de ser classificada sempre como positiva, porque nós retiramos sempre aprendizagens mesmo das dificuldades” (E11);

melhor condição económica e financeira: “Agora trabalho e sou independente a nível

financeiro…” (E4), “é bom a nível de independência económica (…)” (E5), “(…) ter uma condição monetária muito melhor.” (E6), “Agora tenho mais poder de compra. Posso comprar coisas que antes não tinha capacidade económica para tal” (E7), “Vivo melhor porque tenho mais poder económico e independência.” (E9); passar a ter independência:

“(…) dependia dos pais e agora sou independente.” (E1), “…tenho agora oportunidade para

ter uma casa, tenho qualidade de vida, mais independência…” (E3), “Passei a ter que organizar a minha vida, de forma mais independente e sem tanta interferência dos outros.”

(E6), “Vivo melhor porque tenho mais (…) independência…” (E9); os participantes referiram também que a experiência e adaptação foram stressantes e desafiantes: “Talvez me

sentisse bastante deprimida no início, e foi muito complicado. O primeiro mês que lá estive, chorava todos os dias” (E2), “mais difícil foi, se calhar, o primeiro mês de trabalho, a integração no trabalho” (E7), “Os três primeiros meses de adaptação foram bastante difíceis… Foi um choque. Porque Inglaterra é um país muito diferente de Portugal. Em tudo!” (E8), “… estou-me a adaptar a uma cultura que é diferente da minha, é difícil… é bastante difícil. E isso são mudanças que mexem connosco no dia-a-dia.” (E11). Ainda

dentro da transição situacional, ocorreram mudanças para novos papéis educacionais e profissionais: “… comecei a trabalhar (foi o meu primeiro emprego).” (E2), “… mudou por

exemplo pelo facto de ter começado a trabalhar… “ (E5), “E tenho uma carreira e um trabalho seguro. E perspetivas de progressão na carreira.” (E7).

Meleis et al. (2000) sustentam que o enfermeiro não deve concentrar-se apenas num tipo concreto de transição, mas sim considerar os seus padrões de multiplicidade. Dada a natureza longitudinal da transição migração, devem, por isso, ser considerados outros acontecimentos que ocorrem ao mesmo tempo. Tendo isto em mente, chegou-se à conclusão que os participantes deste estudo vivenciaram mais do que uma transição simultaneamente: situacional e desenvolvimental. Situacional por tudo o que já foi referido anteriormente. A separação da família e o facto de terem passado a viver sozinhos com os namorados/as fê-los passar simultaneamente por outra etapa no ciclo vital: a

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transição para a idade adulta, ao mesmo tempo que provocaram alterações nos seus papéis familiares: “Passei a viver com o meu namorado (…) Foi também uma transição para

a vida adulta.” (E2), “Mudou o facto de eu agora viver com a minha namorada e não com os meus pais.” (E3), “Eu sempre vivi com os meus pais, vim para cá viver sozinha.” (E6), “… E esta mudança obrigou-me a ser mais responsável, porque passei a organizar a minha vida completamente sozinha.” (E9).

Em conclusão, observa-se um padrão de transição múltiplo, simultâneo e relacionado, pois os indivíduos experienciaram uma transição situacional ao emigrarem, ao começarem a trabalhar, ao melhorarem a sua situação económica e por se terem tornado independentes. Ao mesmo tempo, vivenciaram uma transição desenvolvimental, ao terem feito uma alteração no seu ciclo vital por terem saído de casa, deixado de viver com os pais e terem iniciado uma vida conjugal ou sozinhos, o que provocou uma mudança nos seus papéis familiares.

No documento Ana Teresa tese final (páginas 73-76)