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4. OS ASPÉCTOS PENAIS E PROCESSUAIS DA LEI MARIA DA PENHA

4.3. Tipos de violência

O artigo 7º elenca as formas de violência abrangidas pela Lei Maria da Penha. Trata-se de um rol exemplificativo97, e não taxativo, em razão da expressão “entre outras” trazida ao final do caput do dispositivo.

Portanto, de acordo com o referido artigo, “são formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:”98 as violências física, psicológica, sexual, patrimonial e moral.

Quanto à definição de violência física não existem grandes discussões. Conforme inciso I do artigo 7º, entende-se por violência física, qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal da vítima.

A violência psicológica, por outro lado, é um pouco mais complexa e de difícil constatação. Isso porque a própria vítima muitas vezes não tem conhecimento que está sofrendo esse tipo de violência. Algumas acham que somente a agressão física é passível de denúncia,

96 ANDREUCCI, Ricardo Antônio- Legislação penal especial/ Ricardo Antônio Andreucci. –8 ed. atual. e ampl.-

São Paulo: Saraiva, 2011. p. 670.

97 SILVA, José Geraldo da.- Leis penais especiais anotadas/ José Geraldo da Silva, Paulo Rogério Bonini;

coordenador: Wilson Lavorenti.- 12. Ed.- Campinas, SP: Millennium Editora, 2011. p. 816.

visto que a agressão verbal é tida como menos lesiva que esta. Porém, é cientificamente comprovado que a violência emocional pode ser ainda mais danosa do que a física, uma vez que interfere diretamente na autoestima da vítima.99

Consoante o inciso II do artigo 7º, violência psicológica é “entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação”.

Esse tipo de violência é de difícil constatação, posto que muitas vezes essas agressões são indevidamente justificadas por vários fatores, sendo o principal deles o ciúme. A mulher, abalada emocionalmente, começa a achar que é a culpada pela violência, em razão da sua baixa autoestima. Começa a pensar que se tivesse feito tal coisa da forma certa, ele não teria lhe xingado, humilhado ou ridicularizado. E conforme a violência psicológica torna-se algo corriqueiro na vida do casal, mais ofuscada ela se torna aos olhos da vítima e as chances de uma denúncia se tornam cada vez menores. Isso porque se a vítima se considera culpada pela agressão sofrida, não há motivos para buscar ajuda. Além disso, muitas mulheres sentem vergonha de relatar as agressões, por medo do julgamento social. É bastante comum ouvir comentários maldosos a respeito das mulheres que sofrerem algum tipo de agressão e se mantiveram silentes, no sentido de condená-las por sentirem medo. É como se o silêncio da vítima convalidasse a violência.

Diferentemente da violência física -que já existia no ordenamento jurídico brasileiro, no artigo 129 do Código Penal-, a violência psicológica não encontrava previsão legislativa. Esse tipo foi incorporado ao conceito de violência contra a mulher pela Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará). Tal previsão veio para ser a proteção da autoestima e da saúde psicológica da mulher.100

Ainda de acordo com Maria Berenice Dias, não há a necessidade de laudo técnico ou realização de perícia para a constatação do dano psicológico. Assim, é cabível a concessão de

99 Fonte: <http://www.huffpostbrasil.com/2014/11/25/violencia-psicologica-e-a-forma-mais-subjetiva-de-

agressao-contr_a_21676045/>, acesso em 30 de dez. 2017.

100Dias, Maria Berenice- Lei Maria da Penha: a efetividade da Lei 11.340/2006 de combate à violência

medida protetiva de urgência desde que sua ocorrência seja reconhecida pelo juiz responsável pelo caso.

Superada a questão da violência psicológica, o inciso III do artigo 7º traz a definição de violência sexual.

III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;

Portanto, da leitura desse dispositivo percebe-se que qualquer ato que viole a liberdade sexual da mulher- desde que ocorrido no âmbito doméstico/familiar, ou em relação íntima de afeto- será enquadrado pela Lei Maria da Penha. Interessante destacar que a própria Lei, no parágrafo 3º do artigo 9º, garante às mulheres vítimas de violência sexual os procedimentos médicos necessários, incluindo serviços de contracepção de emergência, a profilaxia das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS).101

O inciso IV do artigo 7º da Lei trata acerca da violência patrimonial. Esse tipo de violência é entendida como “qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades”.

Aqui enquadra-se também o caso de descumprimento de obrigação alimentícia. Se o homem tem obrigação alimentícia para com a mulher e deixar de cumpri-la, injustificadamente, incorre nos delitos de violência patrimonial e abandono material, ainda que o encargo não estivesse fixado judicialmente.102

Por último, trata o inciso V da violência moral. Aqui estão previstos os casos de crimes contra a honra, quais sejam calúnia, injuria e difamação. Portanto, incorrerá no delito de violência moral, sendo abarcado pela Lei Maria da Penha, quem atentar contra a honra de uma mulher com quem mantenha relação íntima, doméstica ou familiar.

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