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toda racionalidade, todo valor e toda existência "

- A Abordagem Compreensiva

"Diferentemente da pesquisa quantitativa, a

qualitativa busca uma compreensão particular

daquilo que estuda. "

Joel Martins Vista a opção pela fenomenologia, para dar o suporte metodológico a este estudo, optei pela abordagem compreensiva qualitativa. Desta forma, para

l'vlARTINS e BICUDO ( 1989, p. 23):

"Diferentemente da pesquisa quantitativa, a qualitativa busca

uma compreensão particular daquilo que estuda. Uma idéia

mais geral sobre tal pesquisa é que ela não se preocupa com

generalizações, princípios e leis. A generalização é abandonada

e o foco da sua atenção é centralizado no específico, no

peculiar, no individual, almejando sempre a compreensão e não

a explicação dos fenômenos estudados. "

A partir dos depoimentos obtidos através das entrevistas gravadas e transcritas, procurei nas falas descritas destacar o núcleo invariante que acompanhou o

fenômeno interrogado pela seguinte pergunta norteadora: Qual a sua percepção sobre os sujeitos da enfermagem mediado por alguma experiência de hospitalização ou outra? Na verdade, esta pergunta dirigiu-se para uma experiência vivida pelo sujeito, ou seja, um caso concreto em que tenha vivenciado uma experiência onde lhe foi possível formar alguma percepção sobre os sujeitos da enfermagem. É importante

lembrar que, após a leitura das falas, segue-se o momento de tentar apreender as unidades de significado destes depoimentos visto que elas expressam as facetas mais elucidativas do fenômeno em questão, revelando o núcleo idêntico em variedades de vivências singulares. Feito isto, busca-se a apreensão de forma total do sentido de todas as unidades de significado destacados. A compreensão e a interpretação dos

dados obtidos na pesquisa qualitativa, baseiam-se no referencial filosófico escolhido, onde não se deve perder de vista o sentido originário daquilo que funda ó gesto, a linguagem e os objetos da cultura dentre outros.

Vendo a fenomenologia corno alternativa metodológica iv1ARTINS, BOEMER e FERRAZ ( 1990, p.139) afirmam que:

"a fenomenologia busca a essência do fenômeno situado e para a análise de sua estrutura, o pesquisador obtém descrições dos sujeitos que estão experenciando a situação, buscando a formação de unidades significantes. A hermenêutica é uma forma de interpretação que requer a fimdamentação de um

- A Entrevista

Nesta abordagem, a entrevista será mediada pela pergunta ou questão norteadora feita aos depoentes da pesquisa. CAPALBO apud CARVALHO (1992, p.7), declarou que: "A entrevista se dá sob a forma de existência situada no encontro

(...) O encontro apresenta a alteridade radical de outro com o qual deparo, me confronto, que me obriga a reconhecer que é uma realidade estranha a mim, que tem a sua identidade própria, fazendo-me, pois, apelo a meu descentramento de mim

mesmo, indo, intencionalmente, à compreensão empática deste outro que aí está

diante de mim. "

- Em direção ao depoente

- O cenário e a ambientação

"Só se pode perceber _os outros contemplando suas experiências vividas. "

Joel �Iartins

O cenário escolhido por num para a coleta de dados foi o Instituto Benjamim Constant, visto ser ele um campo onde encontrei facilidade para contactar o tipo de depoente que mais chamou a minha atenção no decurso de minha prática profissional - o DVT. Após ter nas mãos uma carta de apresentação da Coordenação do Curso de Mestrado da E.E.A.N./UFRJ, dirigi-me à direção do Instituto, o qual me

encaminhou para um núcleo de assistência pedagógica, já com um parecer favorável, a coleta de dados na Instituição.

A partir dali, fui posta em contato com a diretora do setor de assistência à saúde dos alunos e professores do Instituto Benjamim Constant. Pude, através de apresentações, chegar a diversos professores e estudantes deficientes visuais totais. Nesta ocasião expus-lhes para eles o objetivo do estudo, bem como a questão norteadora. Um dos professores do Instituto que também era deficiente visual, me apresentou aos demais DVT (alunos e professores) e com isto foi dado início à minha ambientação sem dificuldades. Nesta ocasião, foi importante para mim exercitar a atitude fenomenológica da epoché e pôr entre parênteses, o meu pré-reflexivo a fim de "liberar o meu olhar" tão somente para melhor contemplar a fala dos depoentes no momento da entrevista. Dirigi-me para aqueles DVT em que houve uma aproximação empática, uma fusão emotiva entre eu e ·o DVT que se estabeleceu através da reciprocidade do toque, do tom de voz, do olfato, enfim, do acolhimento do EU no TU e do TU no EU.

É interessante ressaltar que os depoentes tiveram o máximo prazer em serem entrevistados e exporem as suas experiências onde tiveram a oportunidade de terem algum contato com os sujeitos da enfermagem, mesmo que de forma passageira. Os alunos mais jovens sentiam-se privilegiados por poderem participar de uma entrevista.

Os dias da coleta dos depoimentos foram momentos inesquecíveis em minha vida. Procurei deixar o próprio deficiente à vontade para escolher o local de encontro, e geralmente era no Instituto Benjamim Constant o escolhido. Os ambientes

variavam entre a sala de professores, a sala de estudos da UFRJ, o jardim do Instituto e até wn refeitório desocupado. Eu gravava as entrevistas, colocava para eles ouvirem o que haviam dito e perguntava se autorizavam a ser divulgado posteriormente, em meu trabalho e eles diziam que sim. Além do que permitiram que seus nomes verdadeiros configurassem na pesquisa por não considerarem as respostas de caráter sigiloso.

Esta etapa da minha trajetória foi linda. Eu vi muita luz na dita escuridão de cada deficiente visual e aprendi muito com cada um deles. Ir ao Instituto foi e sempre será uma lição de vida para todos nós, por conta disto, paralelamente à realização das entrevistas procurei certificar-me sobre a origem das instituições de cegos, pois esta historicidade também fazia e faz parte do mundo do DVT, que se encontra no Instituto Benjamim Constant. Aprendi com eles e com os livros que as primeiras instituições para cegos datam do século IV e em 1260, o Rei' São Luis fundou, em Paris, um asilo para cegos que ainda existe hoje. A educação dos cegos foi iniciada por Valentin Hauy, que publicou, em 1784, um livro impresso com letras em relevo, além de ter fundado a primeira escola para cegos: O Instituto Nationale des Jeunes Aveugelles, em Paris.

Este homem foi considerado "o pai da educação dos cegos". Entretanto, a prática desta educação só se desenvolveu com Louis Braille, que foi discípulo de Hauy e criador do sistema de escrita em pontos salientes. No Brasil, a primeira escola para cegos foi fundada em 1854, sob o nome de Imperial Instituto de Meninos Cegos e que mais tarde foi transformado em Instituto Benjamim Constant.

Referências Bibliográficas

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CAPÍTULO III