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Todas as razões alegadas para condenar as relações com os Espíritos não resistem a um

No documento Revisão: Hugo Alvarenga Novaes (páginas 51-57)

A. K — Peço-vos perdão, mas essa proibição

14. Todas as razões alegadas para condenar as relações com os Espíritos não resistem a um

exame sério. Pelo ardor com que se combate nesse sentido é fácil deduzir o grande interesse ligado ao assunto. Daí a insistência. Em vendo esta cruzada de todos os cultos contra as manifestações, dir-se-ia que delas se atemorizam.

O verdadeiro motivo poderia bem ser o receio de que os Espíritos muito esclarecidos viessem instruir os homens sobre pontos que se pretende obscurecer, dando-lhes conhecimento, ao mesmo tempo, da certeza de um outro mundo, a par das verdadeiras condições

para nele serem felizes ou desgraçados. A razão

deve ser a mesma por que se diz à criança: – “Não vá lá, que há lobisomens.” Ao homem dizem: – “Não chameis os Espíritos: – São o diabo.” – Não importa, porém: – impedem os homens de os evocar, mas não poderão impedi-los de vir aos homens para levantar a lâmpada de sob o alqueire. O culto que estiver com a verdade absoluta

nada terá que temer da luz, pois a luz faz brilhar a verdade e o demônio nada pode contra esta. (38)

(grifo nosso)

Qualquer pessoa de bom senso concordará com essas considerações de Kardec; apenas os dogmáticos não verão nelas nenhuma lógica. Inclusive, vale a pena ressaltar este argumento: “Se a lei de Moisés deve ser tão rigorosamente observada neste ponto, força é que o seja igualmente em todos os outros”. Concordamos plenamente, e aí, logo abaixo, alguns bons exemplos de determinações mosaicas, que ninguém cumpre mais, por serem completamente inaplicáveis nos dias atuais:

Deuteronômio 21,15-16: “Se um homem tiver

duas mulheres, uma a quem ama e outra a quem

aborrece, e uma e outra lhe derem filhos, e o primogênito for da aborrecida, no dia em que fizer herdar a seus filhos aquilo que possuir, não poderá dar a primogenitura ao filho da amada, preferindo- o ao filho da aborrecida, que é o primogênito”.

(grifo nosso)

Deuteronômio 21,18-21: “Se alguém tiver um

filho contumaz e rebelde, que não obedece à

voz de seu pai e à de sua mãe, e, ainda castigado, não lhes dá ouvidos, pegarão nele seu pai e sua mãe e o levarão aos anciãos da cidade, à sua porta, e lhes dirão: Este nosso filho é rebelde e contumaz, não dá ouvidos à nossa voz: é dissoluto 38 KARDEC, O Céu e o Inferno., p. 166-177.

e beberrão. Então todos os homens da sua cidade o apedrejarão, até que morra; assim eliminarás o mal do meio de ti: todo o Israel ouvirá e temerá”.

(grifo nosso)

Deuteronômio 22,10: “Não lavrarás com junta

de boi e jumento”. (grifo nosso)

Deuteronômio 22,23-24: “Se houver moça

virgem, desposada, e um homem a achar na

cidade e se deitar com ela, então trareis ambos à porta daquela cidade, e os apedrejareis, até que morram; a moça, porquanto não gritou na cidade, e o homem, porque humilhou a mulher do seu próximo; assim eliminarás o mal do meio de ti”. (grifo nosso)

Deuteronômio 23,1: “Aquele a quem forem

trilhados os testículos, ou cortado o membro viril, não entrará na assembleia do Senhor”.

(grifo nosso)

Deuteronômio 23,2: “Nenhum bastardo entrará

na assembleia do Senhor; nem ainda a sua

décima geração entrará nela”. (grifo nosso)

Deuteronômio 24,1: “Quando um homem se

casa com uma mulher e consuma o matrimônio, se depois ele não gostar mais dela, por ter visto nela alguma coisa

inconveniente, escreva para ela um documento

de divórcio e o entregue a ela, deixando-a sair de

casa em liberdade”. (grifo nosso)

Deuteronômio 25,5: “Se irmãos morarem

mulher do que morreu não se casará com outro estranho, fora da família; seu cunhado a tomará

e a receberá por mulher, e exercerá para com

ela a obrigação de cunhado”. (grifo nosso)

Deuteronômio 25,11-12: “Quando brigarem dois

homens, um contra o outro, e a mulher de um

chegar para livrar o marido da mão do que o fere, e ela estender a mão, e o pegar pelas suas

vergonhas, cortar-lhe-ás a mão: não a olharás

com piedade”. (grifo nosso)

São completamente incoerentes os que afirmam ser a Bíblia a palavra de Deus; se fosse, realmente, não poderiam deixar de cumprir o que consta nela, já que, há de se convir, as leis de Deus são imutáveis, servindo para todos os tempos e povos.

Porém, o mais grave disso tudo é que encontramos, em algumas traduções bíblicas, em lugar do vocábulo necromante (Deuteronômio 18,11), as seguintes palavras: Espiritismo, espiritistas, médium espírita, conforme se vê naquelas que listamos um pouco mais acima.

Ora, não há o que contestar de que tais termos são neologismos criados por Allan Kardec, o codificador do Espiritismo. Isso ocorreu em abril de 1857, quando ele publica a obra O Livro dos Espíritos; portanto, esses termos não poderiam constar de nenhum texto bíblico, a não ser, é claro, por deliberada adulteração, com o objetivo precípuo de atingir aquilo que os outros

acreditam. E aí fica reforçada a nossa suspeita de que, se considerassem a Bíblia como sendo realmente “a palavra de Deus”, não teriam coragem de adulterá-la.

Quanto mais antigo um texto, mais fácil fica comprovar as adulterações. Temos, por exemplo, a obra apologética intitulada Contra Celso (cerca de 248), na qual Orígenes, refutando a obra O discurso verdadeiro de Celso, um filósofo pagão, menciona várias passagens bíblicas, entre as quais esta do Levítico (p. 65):

“Não vos voltareis para os necromantes nem

consultareis os adivinhos, pois eles vos contaminariam”. (Levítico 19,31).

Observar que o teor desse passo de Levítico se lia necromante e não feiticeira. E mais estranho é que as “modernas” traduções contêm palavras que não existiam em nenhuma das línguas nas quais a Bíblia foi escrita: hebraico, aramaico e grego, conforme já mencionado. Vejamos como essa passagem consta nas versões bíblicas:

Bíblias Católicas:

Ave-Maria: “Não vos dirijais aos espíritas nem

adivinhos: não os consulteis, […].” (grifo nosso)

Barsa: “Não vos dirijais aos mágicos, nem

consulteis os adivinhos, […].”

necromantes nem consultareis os adivinhos […].”

Pastoral: “Não se dirijam aos necromantes,

nem consultem adivinhos, […].”

Paulinas (Ed. 1957, 1977 e 1980): “Não vos

dirijais aos magos nem interrogueis os adivinhos, […].”

Vozes: “Não recorrais aos médiuns, nem

consulteis os espíritos […].” (grifo nosso)

Do Peregrino: “Não consulteis necromantes

nem adivinhos […].”

Santuário: “Não recorrais às evocações e aos

sortilégios; […].”

Bíblias Protestantes

Mundo Cristão: “Não vos voltareis para os

necromantes, nem para os adivinhos; […].”

Tradução do Novo Mundo: “Não vos vireis para

médiuns espíritas e não consulteis prognosticadores profissionais de eventos, […].” (grifo nosso)

Soc. Bíblica do Brasil: “Não vos virareis para os

adivinhos e encantadores; […].”

Soc. Bíblica Trinitariana do Brasil: “Não vos

virareis para os adivinhadores e encantadores, […].”

Shedd: “Não vos voltareis para os

Aqui encontramos, também, o uso das palavras médiuns e espíritas, que, certamente, aparecem para justificar as que constam de Deuteronômio 18,10-11, que transcrevemos um pouco acima. Das quinze Bíblias listadas, somente cinco (um terço) mantém no texto a palavra necromante conforme o encontramos em Orígenes. A continuar assim, não demora muito para que não apareça mais em nenhuma Bíblia.

Por outro lado, quando não se escoram ou adulteram os seus textos, tentam, com suas explicações, deturpar as coisas. Vejamos o que consta, por exemplo, na Bíblia Shedd:

Lv 19.31: Necromantes. Pessoas que se

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