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VII: 12) Paulo então se questiona “13Portanto, uma coisa boa se transformou em morte para mim?

1.1.3. O todo espiritual

Rather than treat Augustine’s texts collectively as a kind of rubik’s Cube, so that by re-aligning the various passages in his writings, his conception of mediation can be synchronized with the distinct operations of the Father, Son and the Holy Spirit, scholars might look instead at his texts as at a multi-faceted gem. When looking at a gem we appreciate the beauty of its internal crystalline structure as we turn it and observe its interior through its several facets. Each facet presents to the beholder the gem’s interior structure as a unity.491

Agostinho compreende que a igualdade

492

que marca o Ser das três pessoas da Trindade é o que revela a unidade absoluta entre elas.

493

Como também aponta Studer, várias vezes Agostinho descreve Deus como Deus-trinitas, Unitas-Trinitas.

494

A doutrina cristã se verá sempre entre estes dois pontos, a unidade e a Trindade divinas.

495

Isto porque foi muito influenciado por aquela concessão filosófica, na qual, a essência suprema, ou summum bonum ocupam uma posição preponderante. Para Studer, exatamente por isto, segundo Agostinho, as três pessoas são plenamente iguais, e portanto, inseparáveis tanto no ser quanto no operar, logo um só Deus.496

490 CHEVALIER, J., La théorie augustinienne des relations trinitaires: analyse explicative des textes, Op. cit., 1940, p. 384. Cf.

HANSON, R. P. C. The Search for the Christian Doctrine of God: The Arian Controversy 318–381. In: Edinburgh:

T&T Clark, [s. l.], p. 668–673, 1997. p. 64. Cf. TEIXEIRA, E. B., Imago Trinitatis: Deus, sabedoria e felicidade: Estudo teológico sobre o De Trinitate de Santo Agostinho, Op. cit., 2003, p. 125.

491 “Em vez de tratar os textos de Agostinho coletivamente como uma espécie de Cubo de Rubik, de modo que, ao realinhar as várias passagens em seus escritos, sua concepção de mediação possa ser sincronizada com as distintas operações do Pai, Filho e Espírito Santo, os estudiosos podem olhar em vez disso, em seus textos como em uma joia multifacetada. Ao olharmos para uma gema apreciamos a beleza de sua estrutura cristalina interna à medida que a viramos e observamos seu interior através de suas diversas facetas. Cada faceta apresenta ao observador a estrutura interior da gema como uma unidade” (Tradução nossa) DODARO, R., Augustine on the Roles of Christ and the Holy Spirit in the Mediation of Virtues, Op. cit., 2010, p. 161.

492 “Resta considerar, portanto, que nas relações intra-tiniárias encontra-se a singularidade de cada pessoa, bem como na relação da Trindade com a humanidade percebem-se as manifestações distintas de Deus na história, apontando ainda assim sempre para a natureza divina que é una, imortal e imutável. Os predicados próprios de Deus como perfeição, grandeza, bondade, sabedoria, integram a essência do ser divino, mesmo que se manifestem particularmente em uma das pessoas divinas, nunca formarão três substâncias, três deuses, mas sempre, um Deus e três pessoas.”

REGO, P. V. O.; SILVA, M. O. da, O Amante, o Amado e o Amor: a teologia do Deus Trindade e sua relação de amor na obra de Trinitate de Santo Agostinho, Op. cit., 2021, p. 104.

493 TEIXEIRA, E. B., Imago Trinitatis: Deus, sabedoria e felicidade: Estudo teológico sobre o De Trinitate de Santo Agostinho, Op.

cit., 2003, p. 90.

494 STUDER, B., Augustin et la foi de Nicée, Op. cit., 1984, p. 149. Cf. TEIXEIRA, E. B., Imago Trinitatis: Deus, sabedoria e felicidade: Estudo teológico sobre o De Trinitate de Santo Agostinho, Op. cit., 2003, p. 90.

495 TEIXEIRA, E. B., Imago Trinitatis: Deus, sabedoria e felicidade: Estudo teológico sobre o De Trinitate de Santo Agostinho, Op.

cit., 2003, p. 90.

496 STUDER, B., Augustin et la foi de Nicée, Op. cit., 1984, p. 244. Cf. TEIXEIRA, E. B., Imago Trinitatis: Deus, sabedoria e felicidade: Estudo teológico sobre o De Trinitate de Santo Agostinho, Op. cit., 2003, p. 90.

Nas Confissões, ao narrar seu processo de conversão, Agostinho aponta algumas certezas que estavam gravadas em sua alma desde a juventude. Acreditava que Deus era “incorruptível, inviolável e imutável”, pois estava certo que “aquilo que se pode corromper é inferior ao incorruptível, e o que não se pode deteriorar, sem hesitação o antepunha ao deteriorável, e o imutável parecia-me melhor do que aquilo que é suscetível de mudança.”

497

Em Deus, surgem suas características

498

, sendo a primeira delas a Inefabilidade, uma vez que Deus tudo comporta, não se poderia dizer nada digno dele. “Não obstante, ainda que não se possa dizer coisa alguma digna de Deus, ele admite o obséquio da voz humana e quer que nos rejubilemos com nossas próprias palavras ao louvá-lo. É por isso que o chamamos de Deus.”

499

De início, está claro que para santo Agostinho a ideia de Deus é um conhecimento universal e naturalmente inseparável do espírito humano. [...] Se nos esforçamos para definir sua característica, ela se oferece a nós, contudo, sob um aspecto de algum modo contraditório, pois o homem não pode ignorá-la, mas, ao mesmo tempo, ele não pode compreendê-la, de modo que ninguém conhecerá Deus tal como ele é, e, contudo, ninguém pode ignorar sua existência.500

Agostinho tem a clara noção, como também outros pensadores, que qualquer linguagem para se tratar de Deus é inadequada e imperfeita. “A experiência bíblica ensina que o discurso sobre Deus é determinado pela experiência humana que é situada historicamente.”

501

Deus não se delimita pela palavra utilizada para lhe dar nome, no entanto, aos homens, ouvir essa palavra é suficiente para “leva a pensar em certa natureza soberana e imortal.”

502

Deus está em tudo, e tudo está nele, uma vez que “não são os vasos cheios de ti que te tornam estável, já que, quando se quebrarem, tu não te derramarás; [...]” ou ainda “[...]quando Vos

497 AGOSTINHO, S., Confissões, Op. cit., 1980, liv. VII.,1 ,1.

498 Que podem ser completadas por outras visões de Deus no restante das obras de Agostinho, como o chamado inicial nas Confissões “Ó Deus tão alto, tão excelente, tão poderoso, tão onipotente, tão misericordioso e tão justo, tão oculto e tão presente, tão formoso e tão forte, estável e incompreensível, imutável e tudo mudando, nunca novo e nunca antigo, inovando tudo e cavando a ruína dos soberbos, sem que eles o advirtam; sempre em ação e sempre em repouso;

granjeando sem precisão; conduzindo, enchendo e protegendo, criando, nutrindo e aperfeiçoando, buscando, ainda que nada Vos falte. Amais sem paixão; ardeis em zelos sem desassossego; arrependeis-Vos sem ato doloroso; irais-Vos e estais calmo; mudais as obras, mas não mudais de resolução; recebeis o que encontrais, sem nunca o ter perdido.

Nunca estais pobre e alegrais-Vos com os lucros; jamais avaro, e exigis com usura.” Ibidem, liv. I., 4, 4.

499 AGOSTINHO, S., A doutrina cristã: manual de exegese e formação cristão, Op. cit., 2002, liv. I., 6.

500 GILSON, É., Introdução ao estudo de Santo Agostinho, Op. cit., 2006, p. 31.

501 TEIXEIRA, E. B., Imago Trinitatis: Deus, sabedoria e felicidade: Estudo teológico sobre o De Trinitate de Santo Agostinho, Op.

cit., 2003, p. 89.“Deus não se deixa prender em conceitos gramaticais. Deus é um mistério inefável, e inefáveis são também seus atributos. O mortal, diante de sua pequenez humana, chega no máximo a balbuciar quando fala da grandeza divina O conceito, no fundo, é uma tentativa frustrada de explicar o inexplicável” Ibidem, p. 94.

502 AGOSTINHO, S., A doutrina cristã: manual de exegese e formação cristão, Op. cit., 2002, liv. I., 6.

derramais sobre nós, não jazeis por terra, mas levantais-nos, nem Vos dispersais, mas recolheis-nos. Vós, porém, que tudo encheis, não ocupais todas as coisas com toda a vossa grandeza?”

503

Platão deu-lhe a conhecer um Deus sem limites, sem limitações, um Deus infinito e inextenso. Só Ele, só um ser assim, será o princípio e a razão de ser de tudo. Um princípio substancial do mal, o Mal Substancial, é uma contradição nos termos, pois equivaleria a afirmar a realidade substancial do não-existente, do que não possui realidade nem substancialidade. 504

Deus é assim infinito, e em sendo infinito perpassa tudo o que criou, “Assim, a vossa criatura finita, supunha-a eu cheia de Vós, que sois o infinito.”

505

A partir da leitura dos livros dos platônicos, Agostinho se sentiu empurrado a buscar a verdade incorpórea. Descobriu que Deus existe, que Deus é que é infinito, e ainda está no espaço sem por isto ser encerrado nele. Em uma palavra. encontrou-se com um monismo não-corpóreo que substituía o dualismo corporal dos maniqueus que havia-se tornado em algo repulsivo para a mentalidade agostiniana.506

A infinitude em Deus é espiritual, e nunca corpórea

507

. Trata-se de um todo espiritual, pois o corpóreo nunca pode ser simples, e a multiplicidade não existe em Deus, que é suprema simplicidade.

508

Deus está presente em todas as partes como presença incorpórea Ademais, e isto é importante, Santo Agostinho junta a substância divina com os atributos do ser, tais como o verum e o unum, segundo as circunstâncias, inspirados nos atributos do Umum plotiniano.

Isto confirma mais ainda a redução da idéia de substância àquela do sen.509

Agostinho cria assim uma fórmula que seguirá na filosofia e na teologia cristã, onde Deus é o que tem (quae habet haec et est et ea omnia unus est). As criaturas podem então possuir algumas perfeições, mas não de forma que lhes seja impossível não as possuir, resulta disso que por mais que possua perfeições, a criatura não é as perfeições que possui. Deus, pelo contrário possui todas

503 AGOSTINHO, S., Confissões, Op. cit., 1980, liv. I., 3, 3.

504 Nota Biográfica em AGOSTINHO, S., A Cidade de Deus. Vol. 1 (I-VIII), Op. cit., 1996, p. 34.

505 AGOSTINHO, S., Confissões, Op. cit., 1980, liv. I., 5, 7.

506 TEIXEIRA, E. B., Imago Trinitatis: Deus, sabedoria e felicidade: Estudo teológico sobre o De Trinitate de Santo Agostinho, Op.

cit., 2003, p. 45. Cf. WARREN MATTHEWS. El neoplatonismo como solución agustiniana al problema del mal. In:

Augustinus, [s. l.], v. 24, n. 107–108, p. 339–355, 1982. p. 344.

507 “Nicola Abbagnano afirma que, embora Agostinho não tenha encontrado nenhum ensinamento sobre a encarnação do Verbo nos livros platônicos, encontrou de maneira afirmada e demonstrada a incorporeidade e incorruptibilidade de Deus e isto o libertou definitivamente do materialismo.” ABBAGNANO, N. História da Filosofia. 6. ed. Lisboa:

Editorial Presença, 2010. v. 2p. 125. Cf. RODRIGUES, S. B., Amor a partir de uma análise do Livro “A Trindade” de Santo Agostinho, Op. cit., 2017, p. 26.

508 AGOSTINHO, S., A Trindade, Op. cit., 1994, liv. VI., 7, 8. Cf. TEIXEIRA, E. B., Imago Trinitatis: Deus, sabedoria e felicidade: Estudo teológico sobre o De Trinitate de Santo Agostinho, Op. cit., 2003, p. 123–124.

509 BLÁZQUEZ, N., El concepto de substancia según san Agustín, Op. cit., 1969, p. 320. Cf. TEIXEIRA, E. B., Imago Trinitatis:

Deus, sabedoria e felicidade: Estudo teológico sobre o De Trinitate de Santo Agostinho, Op. cit., 2003, p. 123.

as perfeições, e não poderia não as possuir. “Via médio-platonismo, a inspiração platônica é manifesta: em Deus nada é por participação e, fora dele, tudo o é, o que quer que seja.”

510

Assim, Deus não é sábio, ele é a sabedoria, assim como não é justo, ele é a justiça. “Deus não tem atributos, ele os é.”

511

Outra característica atribuída a Deus é a de ser “a causa primeira e suprema de todas as formas corporais e de todas as suas mudanças”

512

, o princípio gerador último, a causa

“incausada”.

513

E é sobre essa característica que repousa toda a lógica da eternidade de Deus.

Pois, tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito de tudo o que existe. Portanto, o que foi feito, já era vida nele, e não qualquer vida, mas a vida era a luz dos homens: luz das inteligências racionais, as quais estabelecem a diferença entre os homens e os animais e pelas quais são homens. Não era, portanto, uma luz corpórea, como a luz da carne, a que brilha no céu ou a que é acesa nas fogueiras da terra; nem a luz dos seres humanos ou dos animais, inclusive dos menores vermes. Todos esses seres vêem essa luz corpórea, mas aquela Vida era a luz dos homens, e não está longe de nós, pois nela temos a vida, o movimento e o ser (At 17,27.28).514

Segundo Teixeira,

O universo agostiniano é um universo inteiramente ordenado segundo um modelo harmônico pensado por Deus. Toda a criação foi pensada segundo uma idéia de ordem, de bondade", de beleza e de fecundidade que deriva de Deus. É esta idéia porque criadas por Deus. A idéia de uma lei harmônica e ordenada, de um cosmos enquanto um conjunto que se move tranquilamente segundo uma ideia de ordem, de bondade.515

Outra característica de Deus é sua excelência suprema, onde todos aqueles que buscam, pela inteligência, contemplar Deus, colocam-no em oposição a “todas as naturezas visíveis e corporais, assim como a todas as naturezas espirituais, inteligíveis e mutáveis.”

516

Para Agostinho a corporeidade não é uma característica de Deus, pois afirma que “desde que comecei a ouvir as lições da Sabedoria, não Vos supunha, ó meu Deus, sob a figura de corpo

510 NETTO, F. B. de S., Augustinus. Teologia da trindade: conceitos, imagens, analogias, Op. cit., 1993, p. 72.

511 GILSON, É., Introdução ao estudo de Santo Agostinho, Op. cit., 2006, p. 414.

512 AGOSTINHO, S., A Trindade, Op. cit., 1994, liv. III., 4, 9.

513 “Todos estes seres utilizados na obra, animados ou inanimados, movimentam-se, sofrem alterações, renovam- se, desaparecem e restabelecem-se e, de um modo ou do outro, sofrem mudanças por força do lugar e do tempo. Agora pergunto: a causa de todos esses feitos visíveis e mutáveis não seria a vontade de Deus invisível e imutável? Por meio de uma alma justa, em que habita a Sabedoria, Deus lança mão de todos esses seres: pessoas más, animais irracionais, criaturas inanimadas, seja qual for a intenção e incentivo que tiver para agir, mesmo de seres destituídos de sensibilidade. Aquela alma boa e santa, submetida a ele reuniu e utilizou a todos para uma finalidade piedosa e religiosa.”

Ibidem, 3, 8.

514 Ibidem, liv. IV., 1, 3.

515 AGOSTINHO, S., A Cidade de Deus. Vol. 2 (IX-XV), Op. cit., 2000, liv. XII., 5. Cf. TEIXEIRA, E. B., Imago Trinitatis:

Deus, sabedoria e felicidade: Estudo teológico sobre o De Trinitate de Santo Agostinho, Op. cit., 2003, p. 43.

516 AGOSTINHO, S., A doutrina cristã: manual de exegese e formação cristão, Op. cit., 2002, liv. I., 7, 7.

humano, pois sempre fugi deste errado juízo [...]”

517

Deus é assim a excelência suprema, de maneira que “todos pensam unanimemente que Deus está acima de todas as coisas.”

518

Em sua excelência suprema, Deus é sabedoria imutável. Agostinho critica aqueles que buscam em Deus uma imagem de ser vivo, atribuindo a ele paixões e desejos que a vida do homem e dos animais possuem. Em contrário, entende que em Deus deve ser buscado de outra maneira.

519

Aqueles que refletem sobre Deus prosseguem observando a mesma vida, e se a encontram puramente vegetativa, sem sensação, como é a das árvores, pospõem-na à vida sensitiva dos animais. E a esta, antepõem a vida intelectiva, como é a do homem.

Mas, ao ver que este é mutável, motivam-se a pôr acima dele a vida imutável, isto é, aquela que não é por vezes ignorante, por vezes sábia, mas que é sempre a mesma Sabedoria.520

A sabedoria de Deus não é como a sabedoria dos homens, que pode vir a ser adquirida ou perdida. A sabedoria de Deus é eterna, cuja existência e permanência não estão sujeitas a mudança.

521

Não somente eterna é a sabedoria de Deus, como também é infinita.

522

A pureza absoluta de Deus exige que o homem que o busca se purifique para poder contemplá-lo, “essa purificação como uma caminhada e um navegar em direção a pátria.”

523

Essa purificação não seria possível, se Deus não se tivesse feito carne, e com que apresentando o caminho, leva o homem até Ele. Deus se fez “modelo de vida”, para guiar os homens até sua infinita sabedoria. “Eis por que a Sabedoria, sendo a pátria, fez-se também caminho para levar-nos à pátria.”

524

Mas ao passo que agimos sabiamente quando nos aproximamos da Sabedoria, ela, ao vir a nós, foi considerada, por homens soberbos, como realizadora de loucura. Enquanto nós nos fortificamos ao nos aproximar da Sabedoria, ela, ao se aproximar de nós, foi considerada como realizadora de ato de fraqueza. Contudo, o que é loucura de Deus é mais sábio do que os homens e o que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens (1 Cor 1,25).525

Assim como o som da voz se converte em linguagem no ouvido do ser humano, Deus se fez carne, sem mudar sua natureza, para no mundo “salvar os que creriam pela loucura da pregação.”

526

A Sabedoria encarnada veio como o médico para os doentes, “do mesmo modo a

517 AGOSTINHO, S., Confissões, Op. cit., 1980, liv. VII., 1, 1.

518 AGOSTINHO, S., A doutrina cristã: manual de exegese e formação cristão, Op. cit., 2002, liv. I., 7, 7.

519 Ibidem, 8, 8.

520 Ibidem, 8, 8.

521 Ibidem, 8, 8.

522 Ibidem, 9, 9.

523 Ibidem, 9, 9.

524 Ibidem, 11, 11a.

525 Ibidem, 11, 11a. Cf. BÍBLIA, Bíblia de Jerusalém, Op. cit., 2002, liv. Primeira carta de São Paulo aos Coríntios., 1:25.

526 AGOSTINHO, S., A doutrina cristã: manual de exegese e formação cristão, Op. cit., 2002, liv. I., 13, 12a-12b.

medicina da Sabedoria divina tomando forma humana aplicou seu remédio a nossos males.”

527

A sabedoria eterna de Deus encarnada no Cristo, possibilitou ao homem o caminho para a sabedoria.

“Ora, assim como a Sabedoria parece loucura para os contestadores de Deus, do mesmo modo o que chamamos loucura é sabedoria para os vencedores do demônio.”

528

Agostinho reforça a pregação de que em Cristo se tem o caminho, afirmando ainda que por Ele se vem, se chega e Nele se permanece.

529

Compreende-se por aí que coisa alguma deve deter-nos na caminhada, visto que o próprio Senhor, à medida que se dignou ser nosso caminho, não quis que nos detivéssemos nele, mas que passássemos além. E o fez para que longe de nos apegar por fraqueza às coisas temporais, que ele empreendeu e realizou em vista de nossa salvação, corramos com diligência através delas, para merecermos nos adiantar e chegar até aquele que libertou nossa natureza do jugo das coisas temporais e assentou-a à direita do Pai.530

A ressureição de Cristo dá ao homem esperança, uma perspectiva de elevação da criação ao Pai criador

531

, que é reforçada pelo Espírito de Deus, que oferece nesta vida “confiança e amor muito real para com aquele que ainda não vemos.”

532

Deus de suprema excelência, sabedoria

533

infinita e imutável, ama sua criação “e as divinas Escrituras proclamam bem alto esse seu amor para conosco.”

534

Todo o bem que existe no homem é Deus ou provem dele

535

, e dessa forma Deus não usa dos homens, pois nada de bom precisa deles que já não possua, mas utiliza-se deles. Essa utilização, no entanto, não se dá da mesma maneira como os homens se utilizam das coisas do mundo para chegar a Deus. Ele utiliza dos homens para manifestar sua bondade infinita.

536

Em sequência Agostinho descreve uma passagem de extrema força teológica.

De fato, é porque ele é bom que nós existimos, e é à medida que existimos que somos bons. Além do mais, é por ele ser justo que não podemos ser maus impunemente. À medida que somos maus, nós temos menos ser. Pois somente possui o ser, sumo e primeiro, aquele que é absolutamente imutável e que pôde dizer em toda plenitude: "Eu sou aquele que sou" e "Assim lhes dirás: Aquele que é enviou-me a vos" (Ex :3,14).

527 Ibidem14, 13.

528 Ibidem14, 13

529 Ibidem, 34, 38

530 Ibidem, 34, 38.

531 AGOSTINHO, S., Confissões, Op. cit., 1980, liv. Xi., 8, 10. Onde também se afirma: “Ressoou essa voz exteriormente aos ouvidos dos homens para que acreditassem nele, o buscassem dentro de si mesmos e o encontrassem na eterna Verdade, onde o bom e único Mestre ensina a todos os discípulos.” Idem.

532 AGOSTINHO, S., A doutrina cristã: manual de exegese e formação cristão, Op. cit., 2002, liv. I., 15, 14.

533 “É a Sabedoria, a mesma Sabedoria que bruxuleia em mim e rasga a minha nuvem. Esta encobre-me de novo quando desanimo por causa da escuridão e do peso das minhas misérias.” AGOSTINHO, S., Confissões, Op. cit., 1980, liv. XI., 9, 11.

534 AGOSTINHO, S., A doutrina cristã: manual de exegese e formação cristão, Op. cit., 2002, liv. I., 31, 34.

535 VASCONCELLOS, M., A interioridade como via do acesso a Deus no pensamento de Santo Agostinho, Op. cit., 1999, p. 48.

536 AGOSTINHO, S., A doutrina cristã: manual de exegese e formação cristão, Op. cit., 2002, liv. I., 31, 34; 32, 35.

Portanto, todos os outros seres que não ele, não podem existir a não ser por ele. E só são bons à medida que receberam o ser. 537

A infinita bondade de Deus estabelece o parâmetro que conduz o homem à bondade. Em sendo criaturas de Deus, feitas à sua semelhança, não podem os homens buscar outro caminho que não o da bondade, sem sofrer as consequências. O mal não é algo natural do homem, posto que como criação de Deus, ele tende à bondade, tal como Deus é bom

538

.

O Deus de Paulo era, também Ele, um Deus de beleza e bondade infinitas, não limitado nem constituído por partes extensas. E, mais que no Deus de Platão, era pessoal esta bondade, esta beleza infinita do Deus de Paulo, a arder de amor pelos homens que criou bons e belos. Mas estes, mal usando do bem da sua liberdade, d’Ele se afastaram e O repudiaram, e a amá-lO e a contactá-lO só poderão voltar desde que repudiem por sua vez o seu repúdio e afastamento pela penitência e humilde reconhecimento da sua contingência. 539

Resta lançada a base fundamental da doutrina moral que Agostinho elevará em seus escritos, e que fortalecerá sua compreensão da origem do mal, e consequentemente da própria ideia de liberdade.

A compreensão de toda doutrina de Cristo, perpassa pela compreensão das escrituras, para qual são necessários alguns princípios de exegese, como defende Agostinho.

O primeiro dos princípios é o amor, tido de forma dupla como “o amor àquela Coisa, que será nosso gozo (Rm 13,10 e 1 Tm 1,5); e o amor dos que podem partilhar conosco daquela fruição.”

540

Esse amor, no entanto, possui gradações

541

, uma vez que é possível o amor às coisas inferiores, de forma temporária, como objetos utilizados para alcançar um fim último, não pelas coisas em si, mas pelo fim almejado.

542

Esse amor duplo é mais comumente designado pela caridade. Resulta-se disso o maior princípio de exegese das escrituras e da obra Divina, uma vez que qualquer entendimento que “não edifica a dupla caridade - a de Deus e a do próximo -, é preciso reconhecer que nada entendeu”

543

537 Ibidem, 32, 35.

538 AGOSTINHO, S., Confissões, Op. cit., 1980, liv. I., 5, 7.

539 Nota Biográfica em AGOSTINHO, S., A Cidade de Deus. Vol. 1 (I-VIII), Op. cit., 1996, p. 34.

540 Doutrina Cristã, Livro I, 35, 39. P. 76

541 “Se te agradam os corpos, louva neles a Deus e retribui o teu amor ao divino Artista para Lhe não desagradares nas coisas que te agradam. Se te agradam as almas, ama-as em Deus porque são também mudáveis, e só fixas n'Ele encontram estabilidade. Doutro modo passariam e morreriam. Ama-as portanto n'Ele, arrebata-Lhe contigo todas as que puderes e dize-lhes: "Amemo-Lo". Ele, que não está longe138, foi o criador destas coisas. Não as fez para depois as deixar, mas d'Ele vêm e n'Ele estão. Ele está onde se saboreia a Verdade. Está no íntimo do coração, mas o coração errou longe d'Ele.” AGOSTINHO, S., Confissões, Op. cit., 1980, liv. IV., 23, 18.

542 AGOSTINHO, S., A doutrina cristã: manual de exegese e formação cristão, Op. cit., 2002, liv. I., 35, 39.

543 Ibidem, 37, 41b.

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