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Tolerância à dessecação de sementes de espécies domesticadas de Eugenia (E brasiliensis Lam., E involucrata DC., E pyriformis Camb e E uniflora L)

RESUMO

Neste estudo objetivou-se verificar os efeitos da secagem e da reidratação lenta sobre a germinação de sementes cultivadas de Eugenia brasiliensis (grumixama), E. involucrata (cereja), E. pyriformis (uvaia) e E. uniflora (pitanga). As sementes foram submetidas a dois tipos de secagem (estufa a 40°C e sílica gel a temperatura ambiente) até atingirem níveis próximos a 10% de água. Após cada nível de secagem, as sementes foram avaliadas quanto ao seu teor de água, porcentagem de germinação e produção de plântulas normais. Com o objetivo de verificar possíveis danos por embebição as sementes foram submetidas, além da embebição em água pura, à reidratação lenta e controlada por meio da embebição em solução de PEG 6000 (-4MPa) após cada período de secagem. Houve significava relação entre a redução do teor de água, germinação e a produção de plântulas normais, independente do tipo de secagem aplicado e da espécie estudada. Quanto à reidratação lenta, apesar de um resultado inicialmente positivo para cereja-do-mato e pitanga, não foi obtido aumento ou manutenção da germinação para nenhuma das espécies estudadas.

ABSTRACT

The present study is to verify the effect of the drying and the slow rehydration on the germination of seeds cultivated of Eugenia brasiliensis (grumixama), E. involucrata (cereja),

E. pyriformis (uvaia) e E. uniflora (pitanga). The seeds have been submitted to two types of

drying (40°C oven and room temperature silica) nearly 10% of water. Thus, water content, percentage of germination and normal seedlings have been evaluated taking into consideration the different levels of drying. In order to analyse possible imbibition injury, the seeds have been submitted to imbibition in pure water or the slow and controlled rehydration in solution of PEG 6000 (-4MPa), after each period of drying. There was a significant relation between reduction of the water content, germination and development of seedlings, independent of the type of drying or the studied species. As for the slow rehydration, although we have had positive initial results for cereja-do-mato and pitanga, there has not been increase of germination for none of the species in question.

INTRODUÇÃO

Tendo em vista a preservação da Mata Atlântica e a grande representatividade da família Myrtaceae neste bioma, trabalhos que visem o aprimoramento de técnicas para melhor utilização de seus recursos de maneira sustentável e que ofereçam a possibilidade da conservação ex situ destas espécies, têm papel de grande importância.

A principal técnica de conservação de sementes durante o armazenamento é a redução do seu metabolismo por meio da remoção da água. Porém, sementes de várias espécies nativas apresentam um limite letal de umidade, abaixo do qual há perda total de viabilidade do lote, apresentando grande dificuldade em sua conservação (Kohama et al. 2006). Tais sementes são denominadas recalcitrantes (Roberts 1973).

As sementes recalcitrantes têm a característica de germinar antes ou imediatamente após a separação da planta-mãe, principalmente porque continuam hidratadas até o final da maturação. Embora a viabilidade seja reduzida quando as sementes são armazenadas com elevado teor de água, para sementes recalcitrantes alguns pesquisadores têm mantido o teor de água elevado por meio do acondicionamento em embalagens herméticas, sob baixas temperaturas e, desta forma, têm conseguido ampliar sua longevidade natural (Barbedo & Marcos Filho 1998). Porém, deve-se observar que quando ocorre o armazenamento de sementes úmidas, ocorre a aceleração no processo de respiração, bem como o crescimento de microrganismos, favorecidos pela umidade e, conseqüentemente, o aumento na velocidade de deterioração (Toledo & Marcos Filho 1977). A preservação da qualidade fisiológica das sementes constitui-se em uma das fases mais importantes no processo de repovoamento da vegetação em áreas degradadas, pois permite o uso de espécies vegetais em épocas e locais diferentes dos de sua origem (Kohama et al. 2006).

As espécies de Eugenia que foram estudadas neste trabalho possuem frutos comercialmente interessantes, denominados popularmente como grumixama (Eugenia

brasiliensis Lam.), cereja-do-mato (Eugenia involucrata DC.), uvaia (E. pyriformis Camb.) e

pitanga (Eugenia uniflora L.). São frutos comestíveis, doces e suculentos, excetuando-se os frutos de uvaia que, por apresentarem acidez elevada, são mais apropriados para o processamento (Donadio & Moro 2004).

E. brasiliensis Lam (grumixama, figura 3A e B) é uma arvoreta característica e

exclusiva da mata pluvial atlântica no sul do Brasil, bastante rara, ocorrendo, sobretudo, em associações primárias das planícies aluviais, bem como nas encostas suaves, ocorrendo também na vegetação de subserra (Legrand & Klein 1969). Os frutos são geralmente acídulos, agradáveis e refrigerantes; comem-se crus e prestam-se muito bem para conservas. É bastante ornamental e hoje é comum em pomares como planta frutífera. Em São Paulo, porém, é mais cultivada ainda como essência florestal de rápido crescimento (Corrêa 1974). Existem variedades de frutos amarelos e de frutos pretos, os quais são avidamente procurados por aves, tornando-a componente indispensável nos reflorestamentos heterogêneos destinados à recomposição de áreas de preservação permanente (Lorenzi 1992).

E. involucrata DC. (cerejeira, figura 3C) é uma árvore de vasta dispersão, não muito

freqüente nas matas primárias da Mata Atlântica, se encontra nas submatas mais desenvolvidas situadas em solos úmidos e não muito acidentados (Legrand & Klein 1969). Esta planta, quando cultivada, não se desenvolve tanto em altura, mas desenvolve grande copa, o que a torna ornamental (Corrêa 1974).

E. uniflora L.(pitanga, figura 3D) apresenta arbusto ou arvoreta de vasta e muito

expressiva dispersão, sendo muito abundante e freqüente em todos os capões, situados em solos úmidos, bem como nas matas de galeria, onde se torna ainda mais abundante, e faz parte das espécies dominantes dos estratos inferiores (Legrand & Klein 1969). Esta espécie apresenta efeitos farmacológicos como anti-inflamatórios, efeitos diuréticos, anti- hipertensivo, hipoglicêmico e anti-triglicérides (Pepato et al. 2001).

E. pyriformis Camb. (uvaia, figura 3E) apresenta-se como árvore mediana de 5 a 15

metros de altura, tronco bastante reto, casca quase lisa, descamante, esgalhamento racemoso e fino, forma copa estreita e muito alongada, esparsamente foliosa. Seu fruto globoso, de uns 2 cm com pêlos canescentes muito pequenos sobre um pedúnculo não engrossado (Legrand & Klein 1969), com mesocarpo comestível de sabor adocicado e acidulado, é usado para produzir suco, vinagre, vinho e licor (Andrade & Ferreira 2000)

O presente trabalho teve como objetivo analisar o comportamento germinativo de sementes de espécies de Eugenia brasiliensis Lam., E. involucrata DC., E. pyriformis Camb. e E. uniflora L. submetidas a diferrentes níveis de secagem, com ou sem reidratação lenta (em soluções osmóticas).

MATERIAL E MÉTODOS

Obtenção de material vegetal

Frutos maduros de Eugenia brasiliensis, E. involucrata, E. pyriformis e E. uniflora foram coletadas no final do ano de 2004, nos locais descritos abaixo:

• Em pomar localizado na Estação Ecológica de Mogi Guaçu - SP (22°15-16' S e 47°8-12' W) (E. brasiliensis Lam. de dois biótipos, frutos amarelos e frutos roxos);

• Em propriedade privada na Zona norte de São Paulo (E. uniflora L.) (23°27’ S e 46°36’ W) (figura 4) e;

• No Jardim Botânico de São Paulo, em São Paulo-SP (23°38’ S e 46°37’ W) (E.

brasiliensis Lam. do biótipo de frutos roxos, E. involucrata DC., E. pyriformis Camb. e E. uniflora L.) (figura 4).

Estes frutos foram beneficiados por lavagem manual com auxílio de peneira, em água corrente, para a separação das sementes, sendo imediatamente retirado o excesso de umidade com tecidos de algodão. As sementes foram então selecionadas (chochas ou muito predadas) e

acondicionadas em sacos de polietileno semipermeável com aproximadamente de 25 perfurações de 0,05 cm de diâmetro cada, para a livre entrada de ar e armazenadas em geladeira a 8°C até o início dos experimentos.

Secagem das sementes

Após a retirada de amostra de sementes dos lotes iniciais, denominada controle, o restante foi submetido à secagem em dois processos distintos: sílica gel (25°C±) e estufa com circulação forçada de ar (40°C±2).

As sementes submetidas a secagem em estufa foram dispostas em prateleiras forradas com tela plástica de sombrite, para melhor circulação do ar. As amostras para controle de umidade dos lotes foram constantemente retiradas para pesagem até a obtenção dos valores estimados de redução de peso das sementes.

Na secagem com uso de sílica gel as sementes foram colocadas dentro de recipientes de vidro fechados hermeticamente em temperatura ambiente com 500g de sílica gel, sendo feita a troca da sílica gel assim que esta perdia sua coloração azul intensa em uma faixa de aproximadamente 1 centímetro da primeira camada.

As amostras para verificação do teor de água, germinação, determinação e reidratação controlada, foram retiradas a medida que as sementes atingiam 49,6% até o valor mínimo de 11,4% de água para cereja-do-mato; 42,6% até 9,4% de água para pitanga; 57,2% até 14,7% de água para uvaia; 37,0% até 11,3% de água para grumixama do biótipo de frutos roxos; e 41,4% até 8,5% de água para grumixama do biótipo de frutos amarelos.

A B

C D

E

Figura 3 - Aspecto de frutos maduros de Eugenia brasiliensis Lam. do biótipo amarelo (A) e do biótipo roxo (B), E. involucrata DC. (C), E. uniflora L. (D) e E. pyriformis Camb. (E)

A

B

Figura 4 – Foto de satélite da localização geográfica dos locais de coleta: (A) Propriedade particular na Zona norte de São Paulo e (B) Jardim Botânico de São Paulo. Fonte: Google Earth, 2005.

Reidratação controlada

As sementes submetidas aos diferentes procedimentos de secagem foram reidratadas controladamente. O controle da velocidade de embebição foi realizado por meio de solução de polietileno glicol (PEG 6000) com potencial osmótico de –4 MPa a 25°C por 7 dias, obtido através dos resultados das curvas de hidratação descritos no capítulo anterior. Os cálculos para se determinar a quantidade de PEG 6000 de acordo com a temperatura foram feitos de acordo com a tabela proposta por Villela et al. (1991).

Avaliações fisiológicas

Logo após o beneficiamento de todo lote, as sementes foram analisadas quanto ao teor de água, conteúdo de matéria seca e germinação. O teor de água e o conteúdo de matéria seca das sementes foram avaliados conforme descrito nas Regras Internacionais para Análise de Sementes (ISTA 1985), através do método de estufa a 103±3 ºC, durante 17 horas, utilizando- se 4 repetições de 5 sementes cada.

O teste de germinação foi realizado em germinadores Marconi tipo MA400, com umidade relativa do ar de 100%, mantida por circulação interna de água, regulados para a temperatura constante de 25 ºC e 24 horas de luz. Para os testes foram utilizados rolo de papel tipo germitest, com duas folhas para a base e uma para cobertura (Brasil, 1992), pré-umedecidas, utilizando-se 4 repetições de 10 sementes. Neste teste, as avaliações foram realizadas a cada quinze dias, sendo computadas as sementes germinadas (protrusão de raíz primária com pelo menos 5mm) e as plântulas normais (plântulas com sistema radicular e eófilos desenvolvidos e sem defeitos aparentes).

Delineamento experimental e análise estatística

Todos os experimentos tiveram delineamento inteiramente casualizado e os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância pelo teste F ao nível de 5% de probabilidade.

As médias foram comparadas entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. Quando necessário para corrigir a normalidade e a heterogeneidade dos dados, estes foram transformados para arc sen √%/100 ou, na existência de grande quantidade de valores nulos,

para arc sen √%/100 + 0,5(Santana & Ranal 2004).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As quatro espécies estudadas apresentaram teores de água iniciais que variaram de 47,2% (Eugenia brasiliensis Lam.) a 66,8% (E. pyriformis Camb.), um teor de água alto, típico de sementes recalcitrantes (Tabela 1). Também é comum verificar estes valores similares para outras espécies deste gênero, como E. dysenterica DC. (47-53%, Andrade et al. 2003), E. involucrata DC. (61-63%, Barbedo et al. 1998), E. stipitata ssp. sororia Mc Vaugh (58,8%, Gentil & Ferreira 1999) e E. rostrifolia Legr. (43%, Santos et al. 2004).

Tabela 1 – Teor de água inicial das quatro espécies

Nome científico Nome comum Umidade (%)

Eugenia involucrata DC. cereja-do-mato 58,2

E. pyriformis Camb. uvaia 66,8

Eugenia uniflora L pitanga 52,0

Eugenia brasiliensis Lam. Grumixama – biótipo amarelo 49,6

Eugenia brasiliensis Lam. Grumixama - biótipo roxo 47,2

Quanto à tolerância à dessecação, de maneira geral, pode ser observado que os dois métodos de secagem utilizados para as quatro espécies foram prejudiciais, afetando tanto a capacidade de iniciar a germinação quanto a produção de plântulas normais (tabelas 2 a 6).

Devido à esta sensibilidade a desidratação e a alta quantidade de água inicial, estas sementes poderiam ser classificadas como recalcitrantes (Roberts 1973). Contudo, os diferentes níveis de tolerância à dessecação apresentado pelas espécies individualmente,

demonstram que à intolerância a perda de água em sementes de Eugenia não é absoluta. Mesmo quando desidratadas por um único procedimento, não apresentaram reduções similares dos níveis de viabilidade, devido aos diferentes graus de tolerância à perda de água. Este comportamento corrobora o descrito por Berjak & Pammenter (1994) e por Barbedo e Marcos Filho (1998).

Tabela 2 – Valores correspondentes a U% - teor de água, G% - germinação, PN% -

plântulas normais de sementes de E. involucrata, em função dos níveis de secagem em estufa e sílica. Letras iguais não diferem entre si pelo teste de Tukey (0,05).

Tratamento U% G% PN% 58,2 75 a 75 a 49,6 72 ab 72 a Estufa 42,1 72 ab 65 ab 32,6 40 b 30 b 21,4 2 c 2 c 12,1 0 c 0 c Coef. var. (%) 10,80 18,66 28,77 58,2 75 a 75 a 41,4 65 a 60 ab Sílica 36,5 62 a 57 ab 28,8 50 a 45 b 21,2 2 b 2 c 11,4 0 b 0 c Coef. var. (%) 9,76 22,02 21,93

Tabela 3 – Valores correspondentes a U% - teor de água, G% - germinação, PN% - plântulas

normais de sementes de E. uniflora, em função dos níveis de secagem em estufa e sílica. Letras iguais não diferem entre si pelo teste de Tukey (0,05).

Tratamento U% G% PN%

Coleta - Zona Norte - SP

52,0 97 a 97 a 34,6 57 b 47 b Estufa 32,5 55 b 45 b 26,4 12 c 7 c 15,8 0 c 0 c Coef. var. (%) 11,92 21,81 24,48 52,0 97 a 97 a 38,2 77 ab 62 b Sílica 34,6 70 b 57 b 22,2 0 c 0 c 9,4 5 c 2 c Coef. var. (%) 10,14 26,05 22,01

Coleta - Instituto de Botânica

50,4 97 a 92 a 42,6 95 a 90 a Estufa 35,3 65 b 50 b 19,1 10 c 7 bc 11,9 17 c 12 c Coef. var. (%) 9,78 22,39 28,07 50,4 95 a 92 a 39,7 65 b 60 b Sílica 37,9 65 b 50 b 19,1 2 c 2 c 13,0 0 c 0 c Coef. var. (%) 10,63 27,32 24,24

Tabela 4 – Valores correspondentes a U% - teor de água, G% - germinação, PN% - plântulas

normais de sementes de E. pyriformis, em função dos níveis de secagem em estufa e sílica. Letras iguais não diferem entre si pelo teste de Tukey (0,05).

Tratamento U% G% PN%

Primeira coleta - Instituto de Botânica

66,8 90 a 90 a 47,8 82 a 72 ab Estufa 39,8 62 a 52 b 21,9 17 b 15 c 18,1 10 b 10 c 17,0 5 b 2 c Coef. var. (%) 11,28 30,70 28,34 66,8 90 a 90 a 57,2 90 a 85 ab Sílica 48,3 62 a 55 b 25,1 7 b 5 c 17,9 5 b 5 c 14,7 5 b 2 c Coef. var. (%) 17,57 27,31 31,79

Segunda coleta - Instituto de Botânica

68,4 50 b 45 a 50,2 72 a 65 a Estufa 28,6 12 c 7 b 30,6 5 cd 2 b 16,9 0 d 0 b 14,7 0 d 0 b Coef. var. (%) 11,63 27,82 34,65

Tabela 5 – Valores correspondentes a U% - teor de água, G% - germinação, PN% - plântulas

normais de sementes de E. brasiliensis do biótipo de frutos roxos, em função dos níveis de secagem em estufa e sílica. Letras iguais não diferem entre si pelo teste de Tukey (0,05).

Tratamento U% G% PN%

Coleta - Faz. Campininha

47,2 80 a 70 a 35,8 40 b 30 b Estufa 20,3 0 c 0 c 12,5 0 c 0 c 11,3 0 c 0 c Coef. var. (%) 9,25 22,51 32,58 47,2 80 a 70 a 34,2 30 b 22 b Sílica 27,0 2 c 0 c 18,3 0 c 0 c 15,6 0 c 0 c Coef. var. (%) 10,39 53,62 46,62

Coleta – Instituto de Botânica

46,6 95 a 92 a Estufa 37,0 47 b 30 b 30,6 12 c 12 bc 19,27 0 c 0 c Coef. var. (%) 8,85 25,53 33,28 46,6 95 a 92 a Sílica 36,9 72 b 65 a 28,0 25 c 15 b 14,4 0 d 0 b Coef. var. (%) 6,23 30,88 31,59

Tabela 6 – Valores correspondentes a U% - teor de água, G% - germinação, PN% - plântulas

normais de sementes de E. brasiliensis do biótipo de frutos amarelos, em função dos níveis de secagem em estufa e sílica. Letras iguais não diferem entre si pelo teste de Tukey (0,05).

Tratamento U% G% PN% Primeira coleta 49,6 100 a 100 a 41,4 95 a 87 b Estufa 25,8 22 b 2 c 16,6 5 bc 0 c 8,5 0 c 0 c Coef. var. (%) 8,78 26,45 20,86 49,6 100 a 100 a 35,0 82 b 75 b Sílica 32,5 40 c 27 c 19,0 5 d 5 d 12,1 0 d 0 d Coef. var. (%) 12,06 14,99 16,69 Segunda coleta 40,9 82 a 40 a Estufa 31,3 20 b 2 b 20,3 0 b 0 b 12,2 0 b 0 b Coef. var. (%) 10,86 59,48 46,52 40,9 82 a 40 a Sílica 29,9 32 b 12 b 21,0 20 b 5 b 8,6 0 b 0 b Coef. Var. (%) 8,56 28,29 63,71

Sementes de cereja-do-mato (Eugenia involucrata DC.) apresentaram teor crítico de água,ou seja, teor de água a partir do qual a remoção de mais água ocasiona redução no vigor das sementes, de 36,5% de água (tabela 2). Apesar de não ter ocorrido diferença significativa de queda entre a germinabilidade das sementes destes níveis para os níveis imediatamente inferiores de hidratação, pôde ser observado uma queda na formação de plântulas normais. Este valor é inferior ao obtido por Barbedo et al. (1998) e por Maluf et al. (2003) que o situaram entre 41% e 51%. O conteúdo letal de água, abaixo do qual não ocorre mais germinação, foi de 28,8% (tabela 2).

Este comportamento de redução na germinação e no vigor durante a secagem também foi observado em sementes de pitanga (E. uniflora L.) (tabela 3). O vigor começou a ser reduzido quando o teor de água atingiu valores inferiores a 42,6% (teor crítico de água) e as sementes perderam a viabilidade quando o teor de água atingiu valores inferiores a 32,5% (teor letal de água).

Resposta um pouco diferente pôde ser percebida para uvaia (E. pyriformis Camb.). No segundo lote, de pior qualidade fisiológica em relação ao primeiro, ocorreu aumento significativo na germinação e produção de plântulas normais no primeiro nível de secagem, talvez em decorrência de diferente estádio de maturação (sementes imaturas), como observado em eixos embrionários de Ekebergia capensisSparrm. que apresentaram diferentes respostas em relação a maturidade dos frutos (Perán et al. 2004). Sementes recalcitrantes apresentam considerável variação de comportamento entre espécies, dentro da mesma espécie, vários fatores podem contribuir para essa diferença, incluindo-se o teor de água no momento da dispersão, a velocidade de secagem, o grau de maturação, entre outros e a partir disso, identificar o amplo espectro de variação do desempenho das sementes recalcitrantes é de grande importância (Berjak & Pammenter 1994; Marcos Filho 2005).

Os dois lotes de uvaia apresentaram teor de água inicial alto (66,8% à 68,4%). A resposta da germinação em relação aos níveis de secagem, como pode ser verificado na tabela

4, apresentou um comportamento tipicamente recalcitrante, com uma queda acentuada de vigor a partir da redução do teor de água para valores inferiores a 47,8% (teor crítico de água) e perda total de viabilidade abaixo de 39,8% de água. Entre os tratamentos de secagem também pode ser observado, para esta espécie, uma diferença na resposta germinativa, principalmente depois do segundo nível de secagem, pois a secagem com sílica gel levou um período mais prolongado para se obter uma redução do teor de água similar ao método de estufa a 40°C±2°C. Portanto o método de secagem pôde produzir variações na avaliação da tolerância à dessecação, como ocorreu em sementes de Inga uruguensis Hook. & Arn. que, quando secas controladamente em estufa, perderam a germinação quando atingiram 21-22% (Bilia et al. 1999) enquanto que as secas naturalmente, obtiveram germinação nula quando atingiram 34% de água (Barbedo, 1997). Na secagem mais lenta, as sementes permanecem por maior período a níveis de hidratação que permitem a ocorrência de reações deteriorativas, inclusive as provocadas por radicais livres, e provocar danos sérios à estrutura das membranas (Pammenter et al. 1998).

A resposta dos dois biótipos de grumixama (roxo e amarelo) foi semelhante, pois a secagem desde o primeiro nível afetou negativamente a germinação e o vigor destas sementes (tabelas 5 e 6), tornando-se mais evidente a partir do segundo nível. O teor crítico de água foi de 36,9% para grumixama-roxa (tabela 5) e 49,6% para grumixama-amarela (tabela 6), valores próximos aos observados por Kohama et al. (2006). O teor letal de água foi atingido quando as sementes de grumixama-roxa estavam com valores inferiores a 34,2% (tabela 5) e, para grumixama-amarela, inferiores a 25,8% de água (tabela 6).

Estes altos valores de sensibilidade à dessecação estão dentro de outros já observados para diversas espécies com sementes recalcitrantes como, por exemplo, Euterpe

espiritosantensis Fernandes (51,4-40,7%, Martins et al. 1999).

A partir dos valores obtidos para todas as espécies, pode ser percebida uma significante relação entre a redução do teor de água e a perda de vigor e germinabilidade

independente do tipo de secagem aplicado (estufa, 40°C±2 ou sílica gel) e da espécie estudada, como já constatado anteriormente para outras espécies de Eugenia (E. dysenterica DC., Andrade et al. 2003; E. involucrata DC., Barbedo et al. 1998 e Maluf et al. 2003; E.

stipitata ssp. sororia Mc Vaugh, Gentil & Ferreira 1999 e E. pyriformis Camb., Andrade &

Ferreira 2000).

O conhecimento do teor crítico de água dessas sementes fornece importante informação para trabalhos de conservação “ex situ” dessas espécies. Em algumas espécies com sementes recalcitrantes uma redução, mesmo que pequena, no teor de água das sementes do lote pode contribuir significativamente no aumento do período de armazenamento, como para Inga uruguensis (Bilia 1998) e para Myrciaria dubia (HBK) Mc Vaugh (Gentil 2003). O armazenamento de sementes úmidas acarreta a aceleração no processo de respiração, bem como o crescimento de microrganismos favorecidos pela umidade e conseqüentemente, o aumento na velocidade de deterioração (Toledo & Marcos Filho 1977). Esta redução no teor de água pode minimizar tais danos, aumentando o período de conservação. Porem este comportamento não é observado para todas as espécies, pois para E. brasiliensis, Kohama et

al. (2006) observaram que o primeiro nível de secagem afetou negativamente o vigor das

sementes durante o armazenamento.

Para averiguação de que o dano não estava ocorrendo como resultado da redução do teor de água, e não por embebição rápida, foi testada a influência da reidratação controlada para estas sementes, baseando-se nos resultados de equilíbrio hídrico obtidos no capítulo 1.

De modo geral, quando expostas a reidratação lenta as sementes apresentaram grande redução na germinação e no vigor (figura 5 e 6), para todas as espécies estudadas, a exceção do primeiro nível de secagem em sementes de pitanga e cereja-do-mato (figura 5). Essa resposta também foi observada por Perán et al. (2004), para embriões de sementes maduras de

Isto sugere que o efeito da velocidade de reidratação pode ter bases similares ao efeito da velocidade de secagem: durante a reidratação lenta os tecidos gastam longos períodos em teores intermediários de água, permitindo que novos danos ocorram, ao passo que a reidratação rápida previne ou atrasa a acumulação dos danos. Uma alternativa ou efeito adicional pode ser que a técnica de reidratação lenta permita o livre acesso do oxigênio para os tecidos (diferentemente de imersão completa), aumentando a velocidade de produção de danos em espécies reativas ao oxigênio (Perán et al. 2004).

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 34.6 32.5 26.4 15.8 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 38.2 34.6 22.2 9.4 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 49.6 42.1 32.6 21.4 12.1 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 41.4 36.5 28.8 21.2 11.4 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 42.6 35.3 19.1 11.9 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 39.7 37.9 19.1 13 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 35.8 20.3 12.5 11.3 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 34.2 27 18.3 15.6 G% G% após reidratação

Figura 5 – Germinação de sementes de Eugenia uniflora Lote Zona Norte submetidas a secagem em estufa (A) e sílica gel (B), Lote IBt submetidas a secagem em estufa (C) e sílica gel (D), sementes de E. involucrata submetidas a secagem em estufa (E) e sílica gel (F), sementes de E. brasiliensis biótipo roxo submetidas a secagem em estufa (G) e sílica gel (H). Barras azuis representam germinação após imersão em água pura (embebição rápida) e barras vinhos representam germinação após imersão em solução de concentração osmótica de – 4MPa por 7 dias (embebição lenta).

A B C D E F G H Teor de água (%) Germina ção ( % ) Germina ção ( % )

Figura 6 – Germinação de sementes de Eugenia pyriformis 1ª coleta submetidas a secagem em estufa (A) e sílica gel (B) e, 2ª coleta secas em estufa (C) e E. brasiliensis biótipo amarelo submetidas a secagem em estufa (D) e sílica gel (E). Barras azuis representam germinação após imersão em água pura (embebição rápida) e barras vinhos representam germinação após imersão em solução de concentração osmótica de – 4MPa por 7 dias (embebição lenta).

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 47.8 39.8 21.9 18.1 17 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 57.2 48.3 25.1 17.9 14.7 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 50.2 28.6 30.6 16.9 14.7 Teor de água (%) G% G% após reidratação 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 41.4 25.8 16.6 8.5 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 35 32.5 19 12.1 Germina ção (% ) A D B E C