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TO PO G RA FIA DO APA RELH O PSÍQUICO

A teoria psicanalítica tem a particularidade de não considerar os atos psíquicos da mesma maneira que o faz a psicologia clássica. Esta os estuda como elementos justapostos, associados e estáticos.

A psicanálise concebe a vida psíquica como evolução incessante de forças elementares, antagônicas, compostas ou resultantes, com um conceito dinâmico do psiquismo.

Na época em que iniciou o estudo do material acumulado, Freud deu-se conta da necessidade de criar um esboço auxiliar para tom ar compreensível ou estruturar a sua teoria, e ao mesmo tempo manter uma ordem na investigação. Criou para isso a metapsicologia, estru­ tura hipotética, que lhe serviu para ir colocando num conjunto coor­ denado os diversos elementos estruturais da sua teoria.

Como não podia encontrar ou explicar a origem dos sintomas neuróticos sem conjeturar uma função determinada que se cumpriria num sistema espacial, realizou tal estruturação e concebeu esse espa­ ço em que atuariam dinamicamente as diferentes forças psíquicas. À primeira vista, isso parece algo fantasioso; mas é preciso lembrar que a maioria das teorias científicas sempre tem algo de fantástico, que é necessário e pode manter-se quando reúne condições que per­ mitam conciliar as exigências práticas com os resultados da expe­ riência. Basta, como exemplo, mencionar o caso da teoria da imuni­ dade de Ehrlich.

O sistema metapsicológico teórico de Freud cumpre esses requi­ sitos. E uma topografia hipotética do aparelho psíquico, mas neste caso hipotético não quer dizer — e nem sequer se concebe essa possi­ bilidade — que a psique esteja dividida em três planos delimitados com maior ou menor rigor. Deve-se considerar que são forças, inves timentos energéticos que se deslocam de certa forma, que têm um

tipo de vibração específico e que vão todas estruturar os três sistemas que Freud denominou e dividiu topograficamente em Inconsciente,

Pré-consciente e Consciente, cada um deles com características deter­

minadas. Dentro desses três campos de limites imprecisos conside­ ra-se a existência de três instâncias ou localizações, que atuam em planos distintos e adquirem as características próprias desse nível da atividade psíquica: o id, o ego e o superego.

O ego, por exemplo, tem uma parte dentro do consciente, mas

atinge o pré-consciente e o inconsciente. O id, em compensação, está totalmente situado no inconsciente e é regido pelas leis desse sistema. Em suma, são campos de limites imprecisos, nebulosos, que têm zonas fronteiriças comuns.

O sistema inconsciente

O conceito de inconsciente é, em sua maior parte, teórico, no sentido de que nunca foi observado diretamente. Mas ao mesmo

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T O P O G R A F I A D O A P A R E L H O PSÍQUICO ]<■)

S'CTFMAS DF BIBLIOTECAS tempo é empírico, pelo fato de representar uma inferência imprcs cindível para explicar, de maneira lógica e sistemática, um grande número de observações. O estudo dos conteúdos do inconsciente permite, por outro lado, explicar e demonstrar que os atos mentais e sociais têm uma causa definida, obedecem a um propósito e são emocionalmente lógicos, mesmo que, de um ponto de vista intelec­ tual, aparentemente não seja assim.

Será difícil, portanto, dar uma definição categórica de algo cuja natureza se desconhece intimamente e cujo conhecimento só se pode obter de forma indireta, mediante os dados que nos são fornecidos pelos sonhos, os atos falhos, os testes projetivos, como o de Rors- chach, o Szondi, o Teste de Apercepção Temática (TAT) de Murrey e, sobretudo, a história dos sintomas neuróticos e psicóticos. Pratica­

mente se conhece o inconsciente em sua expressão consciente.

Os psicanalistas não são os únicos que admitem a existência de um inconsciente; muitos filósofos e psicólogos também o conce­ bem. Theodor Lipps afirmou que o inconsciente deve ser considerado a base universal da vida psíquica. Malebranche deduzia a incons­ ciência originária de numerosas representações da impossibilidade de apercepção simultânea. Johannes Friedrich Herbart entende por representação inconsciente toda aquela que se dá além do limiar da consciência; e, para Edward von Hartmann, os fenômenos psíqui­ cos inconscientes não se encontram submetidos a nenhuma regra da experiência, são sempre o “eterno inconsciente” , de existência isolada, com propriedades completamente transcendentes, não aces­ síveis à comprovação experimental.

Apesar de o inconsciente ser comumente admitido, o seu con­ ceito continua obscuro para a maioria (Dalbiez).

O conceito psicanalítico de inconsciente difere daquele dos auto­ res citados anteriormente, que atribuem a ele um sentido negativo e designam por esse nome tudo o que não é consciente. Daí nasce o termo subconsciente, derivado do conceito de que tudo o que não é consciente é algo sub consciente, que está por baixo, que é inferior. Para a psicanálise, o termo subconsciente não é correto: “sub” é uma desvalorização. O inconsciente, para a psicanálise, é psiquica­ mente positivo, é um sistema em constante evolução e investido de energia psíquica. Segundo o conceito de Freud, o inconsciente não é o contrário do consciente, como dizia Lipps, nem é o consciente

degradé ou latente, a que os filósofos da introspecção e da intuição

hesitam em conceder a categoria de psíquico. Pelo contrário, é o grau preparatório do consciente e, ainda mais exatamente, é o vertia deiro psiquismo, o psiquismo real (Freud).

As experiências hipnóticas “A ” e “B ” de Bernheim tinham per­ mitido demonstrar, antes do advento da teoria e do método psicana- líticos, a existência de um inconsciente. O cumprimento da ordem pós-hipnótica e sua racionalização permitem ver, de forma experi­ mental, que existe um inconsciente, um elemento que atua por baixo da consciência, mas que é capaz de mobilizar o sujeito sem que este perceba a origem de sua decisão.

Em seu livro A cura pelo espírito Stefan Zweig deu um exemplo extremamente claro de que compreendeu o que Freud expressou:

“O inconsciente não é em absoluto o resíduo da alma, mas, pelo contrário, sua matéria-prima, da qual só uma porção mínima alcança a superfície iluminada da consciência; mas a parte principal, chamada inconsciente, que não se manifesta, nem por isso está morta ou privada de dinamismo. Dotada de vida e ação influi de modo efetivo sobre os nossos pensamentos e sentimentos, representando o setor mais plástico de nossa existência psíquica. Por isso, quem em toda decisão não leva em conta o querer inconsciente comete um erro, pois exclui de seus cálculos o elemento principal de nossas tensões internas; equivoca-se grosseiramente, como se equivocaria quem avaliasse a força de um iceberg considerando somente a parte que emerge da água. O seu verdadeiro volume fica abaixo dela.” 1

A existência do inconsciente pode estabelecer-se pelo conteúdo e pelo modo de atuar. Nos conteúdos, devem-se considerar os equiva­

lentes instintivos e as representações de fatos, objetos e órgãos.

Entende-se por equivalente instintivo a manifestação psíquica externa de um instinto que se expressa por modificações motoras e secretórias que são vividas como emoções 2. Isso quer dizer que existem no inconsciente elementos instintivos que só se apresentam

1. É necessário fazer um esclarecimento referente ao papel representado pelo in­ consciente ou, mais exatamente, o processo primário na atuação do sujeito. A ação e persistência do processo primário é supervalorizada por alguns, pois consideram que os “normais" ou aqueles pacientes com vários anos de psicanálise continuam dominados por atuações que correspondem ao processo primário. O que se deve ter presente é que, depois de uma análise extensa e considerando o exemplo de Stefan Zweig, a parte submersa do iceberg continua mas já não deve ter o volume do início, ou seja, na medida em que o ego amadurece e adquire um sentido de realidade, o pensamento racional de associação horizontal passa a predominar. A partir de então, o sujeito já não deve atuar totalmente regido pelas leis do processo primário; nessas condições, pode-se sustentar, isso sim, que existe um certo grau de livre arbítrio que, embora não seja total, como alguns pretendem, tem uma vigência que não é desprezível.

2. McDougall assim define emoção: “Concomitante consciente dos impulsos instintivos em plena atuação."

TOPOGRAFIA DO APARELHO PSÍQUICO 41 como tais quando traduzidos para o consciente. Um impulso amoroso aparece com todas as modificações motoras e secretoras, e é vivido como uma emoção. Um impulso agressivo é traduzido e vivido como uma emoção colérica. De acordo com a definição de Freud, os equi­

valentes instintivos seriam as emoções, o elemento que é possível

captar através das modificações da parte formal do sujeito, e que são expressões do que está acontecendo em seu inconsciente.

Ao modo de atuar do inconsciente dá-se o nome de processo

primário por ser a primeira forma de atuação, a mais primitiva do

psiquismo. Deve-se levar em conta o fato de a teoria psicanalítica considerar que os processos psíquicos são essencialmente inconscien­ tes e que antes de chegarem a ser conscientes devem sofrer um com­ plicado processo, que tem suas leis determinantes, regras de gramá­ tica especial e lógica primitiva que regem esse sistema, e que neste caso são as do processo primário.

O sistema pré-consciente também tem suas formas de atuação, denominadas processos secundários.

No processo primário devem-se considerar os elementos que atuam, levando-se em conta que no aparelho psíquico o que chega a ser consciente provém do inconsciente. Ou seja, existe uma dinâ­ mica que, como tal, deve ter regras que a regulem.

No inconsciente devem ser considerados os seguintes mecanismos: a) deslocamento, b) condensação, c) projeção e d) identificação. Estes são os elementos, entre outros, que se encontram no processo primário.

O deslocamento consiste na mobilização e mudança de lugar de uma carga psíquica, um deslocamento da importância de uma unidade para outra. Assim, num sonho pode aparecer um elemento que tem uma determinada carga e que a transfere para outro. Esse fenômeno produz-se geralmente na histeria de angústia, isto é, nas fobias e na neurose obsessiva. Nesta última, costuma haver um deslo­ camento para o pequeno, para o menos importante, o que leva a pessoa que tem um certo ressentimento contra outra não a agredir diretamente, mas à agressão indireta, dirigida contra o menor. Se é seu vizinho por exemplo, talvez discuta com ele dizendo-lhe que a vereda de sua casa está irregular. Realiza um deslocamento do objeto X que quer agredir para a parte mais afastada e insignificante relacionada com esse objeto, ainda que a sua atitude se dirija, na realidade, contra o vizinho, pessoalmente.

A condensação consiste na união de vários elementos separados que têm uma certa afinidade; quer dizer, os traços ou objetos A, B, C e D condensam-se num novo e único composto de A + B + C + D. E o que ocorre nos sonhos, onde é possível que apareçam num só indiví­

duo características de vários personagens distintos: a cor dos olhos de A, os cabelos de B, a forma de andar de C e a indumentária de D.

A condensação é característica da histeria de conversação, na qual um sintoma pode ser a condensação de energia psíquica de vários elementos. Um vômito histérico pode condensar várias situações si­ multaneamente. Pode ser, em primeiro lugar, um desejo de gravidez, em seguida o desejo de praticar felação e, por último, a repugnância que essa mesma fantasia produz. Todas essas situações se condensam num só sintoma, que, como em todos os casos, terá um elemento que é a expressão da condensação. Todo sintoma está plurideter- minado por diversos afetos que se expressam condensados através daquele. Esse complexo mecanismo ocorre integralmente no incons­ ciente e é regido pelo processo primário que regula a atividade de todo neurótico ou psicótico.

A projeção produz-se geralmente na paranóia, em que o sujeito projeta seus impulsos agressivos sobre outro ou outros, e depois sente-se perseguido e acossado por esses mesmos impulsos que ele projetou.

A identificação ou transferência da ênfase do objeto para o sujei­ to constitui uma manifestação psíquica geral. Diz Nunberg: “Em todo momento nos identificamos com alguém.” Mediante esse pro­ cesso, uma pessoa considera-se, em certa medida, semelhante a outra, o menino copia o modo de agir do pai, e esse processo de identificação parece ser a possibilidade de uma mútua compreensão humana.

Tanto a identificação como a projeção constituem modos de deslo­ camento. Na identificação, ele se faz de um objeto para o sujeito, en­ quanto que na projeção se faz do sujeito para o objeto. Se uma pessoa sonha que João caiu da ponte, terá todas as sensações inerentes à queda. Em outros termos, uma ameba incorpora um pedaço de carmim e se tinge. A projeção é o contrário. O sujeito que sente medo no sonho não o vive como coisa própria mas no episódio onírico haverá um outro personagem que viverá um estado de medo. Na realidade, o que se produz é um deslocamento da carga psíquica do sujeito para o objeto. Na paranóia, a pessoa projeta sua agressividade, mas também o faz com outros afetos, sem se dar conta de que a essência de tudo está nela. Um exemplo é o caso do menino que, diante da jaula dos leões no zoológico, diz: “Vamos embora, vovô, porque você está com medo.”

Características do inconsciente

O inconsciente tem seus modos próprios de atuar, que consti­ tuem em conjunto o processo primário. São eles:

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a) ausência de cronologia;

b) ausência de conceito de contradição; c) linguagem simbólica;

d) igualdade de valores para a realidade interna e a externa, ou supremacia da primeira;

e) predomínio do princípio do prazer.

a) No inconsciente a cronologia não existe, e tampouco nos so­ nhos. Na vivência onírica podem ocorrer casos em que o tempo e o espaço estejam totalmente ausentes. Carecendo de sentido cronoló­ gico, o inconsciente não reconhece passado nem futuro, mas apenas um presente 3. Todas as tendências são vividas pelo inconsciente no tempo atual, inclusive quando se referem ao passado ou ao futuro. Os acontecimentos mais longínquos continuam atuando no incons­ ciente de um modo invariável, com tanta atualidade como se tivessem acabado de ocorrer. Um paciente de 35 anos lutava inconsciente­ mente e com grande tenacidade contra a autoridade paterna, apesar de seu pai ter falecido quando ele tinha apenas 8 anos de idade.

b) O inconsciente também não tem um conceito definido de con­ tradição. Não faz qualquer reparo à coexistência de eventos antité- ticos; seus elementos não estão coordenados e as contradições ocor­ rem simultaneamente, mantendo sua plena valência, sem se excluírem, mesmo que sejam de sinais contrários. Podem existir ao mesmo tem ­ po um sim e um não... Se na máquina de escrever batermos duas teclas sim ultaneam ente, ambas chegarão juntas à guia que norm al­ mente faz com que um tipo pressione a fita e deixe sua marca impressa. Mas, nesse caso, as duas teclas se chocarão ao entrarem na guia, e nem uma nem outra conseguirá imprimir-se no papel, pois não terão respeitado uma ordem preestabelecida. No incons­ ciente, porém, tudo se desenvolveria de modo que ambos os tipos tivessem acesso ao papel, imprimindo simultaneamente letras e palavras de sinais e valores contrários. Um amor e um ódio. Inconscientemente podem-se viver ao mesmo tempo sentimentos de ódio e de amor, sem que um desloque ou anule o outro, nem mesmo parcialmente.

O inconsciente também não sabe dizer não e quando necessita dar uma negativa deve enunciá-la recorrendo a outros elementos.

3. Essa modificação do sentido do tempo observa-se também nas experiências

realizadas com mescalina e L .S .D ., pois a intoxicação produz um predomínio do processo primário.

Talvez a uma anestesia, se o que ele quer é não sentir; a uma paralisia, se o que deseja é: “ não quero” .

c) Quando o inconsciente tem que dizer, expressa-o em forma arcaica, utilizando símbolos. (Veremos isto em maior detalhe ao estu­ darmos o processo de elaboração de sonhos, pp. 113-4.) Uma paciente sonha que comprou um sorvete, que o saboreia com deleite, e quando sua boca se enche de creme de chantilly derretido sente grande pra­ zer. O significado do sonho é evidente mas a tradução se fez através de símbolos.

d) A realidade interna nos psicóticos e neuróticos tem tanto va­ lor ou mais do que a realidade externa. O psicótico que vive a fanta­ sia de ser mulher tem nela algo que é tanto ou mais válido do que sua personalidade real. Portanto, é perfeitamente natural que atue como tal. Também o psicótico que se crê milionário vive uma realidade interna mais válida do que a externa; está convencido de que comprou todos os rios e campos do país e, num gesto de genero­ sidade, que nele é autêntico, presenteia um amigo com duas fazendas e um outro com um rio inteiro. Isso parece engraçado, mas, para o homem cuja ação psíquica está condicionada pelo processo primário, é algo tão sério e tão concreto quanto seria para um homem normal.

e) O homem normal aprende a esperar e a acomodar-se a fim de conseguir a satisfação dos instintos; em contrapartida, o neurótico e o psicótico, que se encontram dominados pelo processo primário, não podem suportar o desprazer, pois as tendências do inconsciente buscam sua satisfação, sem preocupar-se com as conseqüências que ela possa apresentar. Esse imperativo constitui o que sé denomina o predomínio do princípio de prazer. Existe nesse plano do aparelho psíquico um caráter peremptório, que é uma qualidade geral dos instintos e constitui a essência deles.

Dentro do sistema inconsciente é necessário levar em conta uma porção, uma parte dele, que se encontra integrada por elementos de uma natureza tal que, se chegassem a ser conscientes, apresen­ tariam notáveis diferenças em relação aos demais. Esses elementos diferentes, que não têm livre acesso ao sistema consciente, consti­ tuem o que se denomina inconsciente reprimido.

Portanto, no inconsciente podem ser consideradas, hipotetica­ mente, uma parte composta por elementos que se encontram tempo­ rariamente nele e estão, por conseguinte, submetidos às suas leis, mas que podem a qualquer momento tornar-se conscientes; e uma parte cujos elementos não podem aflorar ao consciente mas chegam, mesmo assim, a produzir determinados efeitos por vias indiretas, alcançando a consciência sob forma de sintomas ou sonhos. Todo

TOPOGRAFIA DO APARELHO PSÍQUICO 45 o reprimido tem que permanecer inconsciente mas não lorma por si só todo o conteúdo desse sistema. O reprimido é, portanto, uma parte do inconsciente, o inconsciente reprimido, segundo Freud.

De acordo com o sistema hipotético, o id em sua totalidade c parle do ego e do superego encontram-se dentro do sistema inconsciente.

Antes que Freud fixasse as normas do método psicanalítico era difí­ cil penetrar no inconsciente; agora, os meios para fazê-lo encontram-se ao alcance de qualquer pessoa preparada na técnica psicanalítica. Mas é preciso saber buscar. O estudante que vê pela primeira vez um prepa­ rado no microscópio, ou detém-se diante de uma radiografia, poderá tirar poucas conclusões. O que vir lhe parecerá nebuloso, confuso; mas com o tempo, e mediante o uso de lentes mais fracas e radiografias menos complexas, aprenderá qual é o valor do que tem à sua frente. Por analo­ gia, quando se “olha” pela primeira vez dentro do sistema inconsciente, pouco ou nada se consegue ver, mas depois, com a técnica adequada e a prática necessária, o irreconhecível se destaca com nitidez.

Assim, Dalbiez disse que, “para muitos, a psicanálise é apenas uma filosofia e, portanto, julgam-se no direito de discuti-la de um modo puramente dialético, sem recorrer à experiência. É surpreen­ dente que haja médicos, cuja formação deveria afastar de um tão grave erro de método, que publicam trabalhos críticos sobre a psica­ nálise nos quais não figura nenhuma observação pessoal, e que pare­ cem nem suspeitar da necessidade de comprovação experimental. Para criticá-la, é necessário começar por refazer suas experiências, considerando no entanto que, se nada começa sem ela, também nada termina somente pela experiência” .

O sistema pré-consciente

Na topografia hipotética do aparelho psíquico, criada por Freud, o sistema pré-consciente está situado entre o consciente e o incons­ ciente. O seu conteúdo está integrado, em parte, por elementos em

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