• Nenhum resultado encontrado

4 MATERIALIDADE COMO ESSÊNCIA DA ARQUITETURA

4.4 O toque e a narrativa do detalhe

A pele lê a textura, o peso, a densidade e a temperatura da matéria. A superfície de um velho objeto, polido até a perfeição pela ferramenta de um artesão e pelas mãos assíduas de seus usuários, seduz nossas mãos a acariciá-lo (PALLASMAA, 2011, p.53).

Quando a materialidade dos detalhes que conformam um ambiente torna-se evidente a experiência sensorial é intensificada e envolve os usuários em dimensões emotivas e experienciais. Para Williams e Tsien a primazia do toque é cada vez mais presente quando eles desenvolvem espaços que resultam de um trabalho minucioso, no qual é respeitada a relação do caráter dos materiais, tornando-os algo significativo. No Museu da Barnes a exploração de texturas, cores, opacidade e brilho se mostram características fenomenológicas.

O toque e a narrativa do detalhe estão presentes nesta obra notabilizando o espaço, a luz, a cor e a geometria, tornando o detalhe e o material uma experiência contínua, separáveis em termos de projetos, mas homogêneos no campo da percepção.

A “sensoriedade” que os materiais podem transmitir à arquitetura se revela em fortalecimento da nossa experiência cotidiana. O encontro do objeto com o corpo do usuário é, sem dúvida, algo mais relevante do que meramente a estética visual do projeto. As texturas advindas das paredes que foram anteriormente esculpidas e a junção de painéis de arte, feitos com lã, são elementos táteis instintivos e indutores, que possibilitam uma proximidade e intimidade para uma carícia ou toque.

As mãos são os olhos do escultor; mas elas também são órgãos para o pensamento, como sugere Heidegger: “[a] essência das mãos jamais pode ser determinada ou explicada, pois são um órgão que pode agarrar [...] Cada movimento da mão em cada uma de suas tarefas se dá por meio do pensamento, cada toque da mão permanece naquele elemento [...]” (HEIDEGGER, [1977], IN PALLASMAA, 2011, p.53)

Fig 108 – Detalhe dos painéis internos esculpidos a mão. Fonte: Fernando Diniz Moreira

Existe uma série de detalhes nos quais é possível perceber a intenção dos autores de reforçar esse entendimento de tátil, aquilo que tem a ver com o sentido que nos permite sentir através do toque, através do contato com a pele. Pele que nos possibilita envolver, sentir e trabalhar com uma intimidade direta com a matéria. Através das mãos podemos sentir, no produzir do TWBT, uma arquitetura de cunho artesanal.

nossas obras, e perceber que são as mãos que guardam a vida e são instrumentos para os prédios. É com o interior que nos preocupamos mais. No fim, acreditamos que arquitetura tem a ver com as coisas em que tocamos que amamos. – Tod Williams e Billie Tsien

Williams e Tsien pregam uma honestidade no trato do revestimento e dos materiais,os quais devem ter suas qualidades expostas e valorizadas.

Fig 109 – Detalhe africano esculpido em porta de madeira. Fonte: A autora.

Fig 110 – Imagem da construção. Fonte: Tod Williams and Billie Tsien, The Architecture of barnes Foundation, ed. Octavia Giovaninni Torelli ( New York: Skira Rizzoli, 2012).

Fig 111 – Imagem da construção. Fonte: Tod Williams and Billie Tsien, The Architecture of barnes Foundation, ed. Octavia Giovaninni Torelli ( New York: Skira Rizzoli, 2012). (112)

Fig 112 – Imagem da construção. Fonte: Tod Williams and Billie Tsien, The Architecture of barnes Foundation, ed. Octavia Giovaninni Torelli ( New York: Skira Rizzoli, 2012). (120)

Fig113 – Espaço contemplativo e leitura (detalhe do encontro dos materiais). Fonte: Fernando Diniz Moreira.

Fig114 – Detalhes com mote africano, piso e portas. Fonte: twbt.com

Além de possuirem características estéticas e artística, estes painéis utilizados por Williams e Tsien no Barnes são também fontes de absorção acústica em áreas predominantemente sólidas.

Williams e Tsien também utilizam uma técnica semelhante de painéis artísticos e acústicos no David Ruberstein Atrium Lincon Center.

Fig 115 - David Rubenstein Atrium at Lincoln Center, 2009, New York, NY. Fonte: A autora e o twbt.com

Pode-se pensar a arquitetura como algo constituído por uma experiência e não como uma aparência, os elemento que compõe o Barnes, são esseciais para a interação com o corpo e para a experiência do lugar arquitetônico.

Todas as formas de arte – como a escultura, a pintura, a música, o cinema e a arquitetura – são modos específicos de pensar. Elas representam formas de pensamento sensorial e corporificado característico de cada meio artístico. (PALLASMAA, 2013,p.17).

A crença na essencialidade corpórea e na potencialidade dos materiais é manifestada em diversos pontos da arquitetura do edifício. A capacidade de manipular habilmente os materiais, de maneira que ajudem a definir a estrutura da construção em termos visuais,

constrói essa materialidade corpórea, madura e sensitiva.

A arquitetura também é um produto das mãos sábias. As mãos tomam a dimensão física e material do pensamento e as tornam em uma imagem concreta (PALLASMAA, 2013,p.17).

A sensação tátil nos conecta com o tempo e com a tradição. A decisão por utilizar o tema das peças africana sem diversos elementos estimula o entendimento e evidencia a criatividade gerada na junção de vários materiais simples, porém utilizados num harmonioso processo criativo. Para compor o piso do salão contemplativo e os tecidos de forração dos mobiliários o escritório utilizou-se, novamente, de um padrão dos tecidos africanos.

A atenção aos detalhes e a articulação dos materiais tradicionais e contemporâneos através de soluções plasticamente ricas e de fácil execução estão presentes de forma cuidadosa e despretensiosa.

Esta atenção à minúcia materializa, por vezes, uma unicidade que nos faz entender que o produto não poderiam ser realizados de outra maneira para que se obtivesse este resultado. Algo na linha do que promulgava Alberti, quando escrevia que “A Beleza, em si, estaria na harmonia entre todas as partes do edifício, de forma que nada pudesse ser retirado ou adicionado à sua concepção sem prejuízo evidente à composição”.

Qualquer que seja o material que usamos para fazer um edifício, estamos fundamentalmente interessados em um encontro particular entre aquele e o edifício. O material está ali para definir o edifício, mas o edifício está em igual medida determinado a fazer visível o material (Tod Williams).

A propósito da atenção aos detalhes e da articulação e composição de materiais, muitos são os projetos de Williams e Tsien que compartilham das soluções plásticas desenvolvidas de modo cuidadoso e singular. Para ilustrar outro projeto com esse viés do toque e a narrativa do detalhe, eis algumas imagens do Cranbrook natatorium.

131

Fig 116 - Mosaico de imagens, mostrando etalhe da paginação dos revestimentos e junções dos materiais. Cranbrook Schools, Bloomfield Hills, MI.

desenvolvidas de modo cuidadoso e singular. Para ilustrar outro projeto com esse

viés do toque e a narrativa do detalhe, eis algumas imagens do Cranbrook natatorium.

Fig 117 - Mosaico de imagens, mostrando etalhe da paginação dos revestimentos e junções dos materiais. Cranbrook Schools, Bloomfield Hills, MI.

Documentos relacionados