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TOTAIS ANUAIS LINHA E

No documento MARIA OLINDA COSTA SANTOS CARREIRA (páginas 173-188)

Capítulo II – O cenário do município estudado

TOTAIS ANUAIS LINHA E

Fonte: Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, www.cptm.sp.gov.br - ouvidoria, consulta em maio de 2005.

Nota-se aumento diário do número de passageiros a partir de março de 2005, nas duas estações ferroviárias da CPTM em Ferraz de Vasconcelos.

Andere (1997) em seu estudo fala do perfil dos meninos e meninas que trabalhavam nos trens da CPTM – linha Mogi/Roosevelt, em meados dos anos 90:

(...) o perfil de MT [meninos que trabalham] que surge em nossas observações, é o de um menino com cerca de 15 anos, que reside nos bairros servidos pela ferrovia, trabalha de 9 a 12 horas em média por dia, percebendo por este trabalho de R$ 10,00 [dez reais] a R$ 20,00 [vinte reais] por dia. Estuda na rede pública, mas sofre constantes reprovações e provavelmente abandonará os estudos antes de concluir o 1º Grau (...)

O maior número de meninos que vendia mercadorias dentro do trem, eram procedentes de Guaianazes, (59), Suzano, (45), Itaquaquecetuba, (37), Itaquera, (16), Artur Alvim, (16), Poá, (12) e Ferraz, (12) , Itaim Paulista, e Parada XV de Novembro (12). Identifica-se um maior número de meninos do bairro limite entre o município de São Paulo e Ferraz, seguido de municípios que apresentavam desenvolvimento econômico melhor se comparado a Ferraz, e Itaquaquecetuba, outro município da região do Alto do Tietê. Nesse período, o número de adolescentes moradores de Ferraz que trabalhavam no trem estava abaixo da média dos demais locais

Se nos anos 50 as vias férreas foram instrumentos da expansão industrial, agora, elas transportam a maioria da população que vai trabalhar fora da cidade. Sobre isso fala um ferrazense:

Esse nome, cidade-dormitório, desagrada, porque uns acham que é cidade que dorme muito. E outros acham que morar em cidade-dormitório não é muito bom também (...) Porque ali [no trem também] é o lugar que você tem para os momentos de encontro, [conversar] que é uma hora daqui até São Paulo. agora dificultou um pouco, porque agora tem que fazer baldeação [em Guaianazes]. A discussão fica (...) [interrompida] é, aí muda de parceiros! É, no trem se conversa muito da questão política. Os trem sai muito cheio daí. E chega cheio. O trem das seis (...) tem o grupo das seis e (...) Aí os caras se encontram. Antigamente eles se encontravam pra terminar a discussão no campo de futebol. Como o

campo de futebol foi cortado, então acabou o lazer. [Assim o trem é um instrumento de conversa] A sede do partido né!

O fato de Ferraz ser cidade dormitório causa estranheza aos moradores mais antigos, mas essa tendência já estava indicada. Uma sobre os passageiros na estação dos trens em 1946, já revelava a tendência da cidade vir a tornar-se cidade-dormitório.

Estudo de Barban (2003) demonstra que o fenômeno de expulsão de camadas populares mais pobres para áreas limites da cidade de São Paulo, também ocorreu no Grajaú e em outros bairros da Região Sul de São Paulo. Nessa localidade, a área de mananciais se transformou na principal alternativa de moradia para as camadas mais pobres, era o espaço disponível para ocupações, loteamentos a baixo preço e muitas vezes por meio de corretores ou grileiros, que vendiam a terra para uns, enquanto instigavam a invasão por outros, expondo à toda sorte de demandas uma população desinformada.

As várias formas de ocupação para moradia por parte de camadas populares pobres repercutiram também na rede de ensino, conforme depoimento da Diretora da escola:

A escola não comportava mais alunos. Eu cheguei a trabalhar com uma classe, com cinqüenta e dois alunos numa única sala. E não parava de chegar criança. Pra área escolar [foi mais forte] na década de setenta e oitenta. Já noventa foi se estabilizando.

Essa realidade encontra confirmação no estudo de Brant et al. (1989). Além dos bairros da capital, os municípios da Região Metropolitana que mais cresceram foram os menos dotados de equipamentos públicos, o que os tornava incapazes de atender a toda a demanda. Na pesquisa, o depoimento abaixo, evidenciou uma alta demanda escolar:

Houve uma solução. Não pedagógica, mas a criança foi assistida nas salas de aula, superlotando as salas, conseqüentemente não houve qualidade de trabalho. Isso também foi fator que coincidiu com o fator

educacional do país. Porque na [década] de setenta, houve uma grande mudança a nível de legislação, a lei 5692.

A área da educação, segundo a depoente, passou por uma fase em que vários elementos contribuíram para um desgaste educacional:

[Tem a legislação que] norteou a educação no País na década de setenta, entramos num período também da democratização da escola pública, onde todos tinham acesso à escola. Foi quando realmente as camadas mais populares começaram efetivamente [a ter], acesso à escola. Então quer dizer, foi um movimento que a cidade sofreu muito pelos dois fatores.Tanto a cidade cresceu populacionalmente, [pois] havia esse crescimento por causa dos loteamentos, das invasões, mas também a população começa a acordar que tem que colocar os filhos na escola. Então houve assim, um sofrimento, um desgaste educacional muito grande na cidade porque não havia vaga para todas as crianças. Então se correu atrás (...) Então a solução foi inchar as escolas.

Identificamos nesses depoimentos que o crescimento da cidade gerou demandas para as quais ela não estava preparada para atender, como é o caso do déficit da rede escolar no período mencionado. Isso, juntamente com o fato de a cidade não ter infra-estrutura e empregos para essa nova população que chegava. Assim como em Ferraz, situações semelhantes ocorreram em bairros da periferia do município de São Paulo e em algumas cidades do seu entorno.

Bem, nasci na cidade, meu pai era farmacêutico e foi uma das pessoas que trabalhou pela emancipação administrativa da cidade, ele já havia sido vereador, na ocasião em que Ferraz era distrito de Poá. Ele foi candidato a primeiro prefeito da cidade de Ferraz, embora não tenha ganho (...) Era muito comum, as pessoas da cidade, na ocasião, estarem lutando pra melhoria da cidade. Recordo bem do primeiro posto de saúde que foi instalado, das quermesses da Igreja pra construção da matriz (...) Então eu vivenciei toda essa situação de crescimento da cidade. Fui aluna da primeira escola estadual de Ferraz (...), que hoje é onde é a Câmara Municipal. Fui inclusive no lançamento da pedra fundamental, da escola que hoje é o (...) Couto Rosa, que foi doado pelo pai do ex-prefeito (...) Então todo esse crescimento lento, eu fui acompanhando como criança. Isso foi fazendo parte da minha vida. A minha história, está diretamente

relacionada com a história da cidade. E depois de adulta já vim atuar na área de educação sempre na cidade de Ferraz (...) Então alfabetizei muitas crianças nesse município, formei alguns professores desse (...) Então quer dizer, a minha vida foi plantada aqui na cidade (...) Se a minha cidade é aqui, embora feia, bonita, próspera ou não, eu tenho que dar a minha cota de participação aqui. E é o que eu tenho feito.

A transição da cidade da uva e a saída dos agricultores

Sobre a união entre várias nacionalidades e a transição da cidade, uma, ferrazense da área da educação comenta:

É interessante que todos se uniam, pra trabalhar pelo bem comum da cidade. Eles não se fechavam em clãs, não. Todos vieram para contribuir pro desenvolvimento da cidade (...) [vieram outros moradores], sim, nós fomos sentindo. [Mas] eu gostaria de salientar também as primeiras festas da uva que nós tivemos, que foram assim muito (...) Marcantes para cidade pra população (...) [Mas depois mudou] (...) nas últimas festas que nós tivemos, inclusive neste ano, nós tivemos que comprar uva pra que a festa fosse realizada no município. E essa diluição da colônia japonesa foi acontecendo em virtude da terra, uma série de coisas. Foram aparecendo momentos mais lucrativos, oportunidades (...) o grosso da uva era do plantio dos japoneses, que migraram da cidade (...) Isso foi acontecendo (...) Começo da década de setenta. Eles foram mudando e hoje é uma pena, as chácaras abandonadas, O prefeito (...) tem um projeto de tentar resgatar, mesmo o (...) [da Adav] (...) Ele tem um projeto de tentar restaurar alguma coisa (...) [não sei se] há viabilidade, ou não? Mas ela foi se diluindo porquê a uva foi indo embora, conseqüentemente os japoneses também. Os italianos não foram passando pra gerações esse amor pelo cultivo, então eles foram loteando parte das chácaras deles, Então a parte da uva com os italianos também foi desaparecendo. Os alemães, a indústria que era o que movimentava Ferraz, também foi passando pra filhos, netos, já não com tanta vibração e com o acompanhamento tecnológico que foi acontecendo na industria. Então isso também foi um ponto a colônia alemã foi perdendo um pouco aquele vigor. Os armênios tinham muitas chácaras, mas também os filhos foram se casando (...)Tomando outras opções, talvez. Só que isso é natural do desenvolvimento da história da humanidade: as mudanças. Mas eles poderiam ter partido pra outras opções de vida profissional, mas continuar

na cidade. E isso não ocorreu. À medida que eles foram progredindo profissionalmente, economicamente, eles foram deixando a cidade. Este é até um ponto de interrogação. Por quê?

Nesta fase de transição de Ferraz, Brant (1989) aponta transformações nas atividades da indústria. Perderam expressão as indústrias produtoras de bens não-duráveis de consumo final, com características mais tradicionais do ponto de vista tecnológico, anos 70 e 80. Outros grupos industriais mais modernos passaram a ter um peso maior no mesmo período. Espacialmente, esse movimento da indústria paulista repercutiu sobre o significado econômico da região metropolitana. Assim:

(...) a Capital do Estado perdeu sua posição relativa na geração de renda e no pessoal ocupado do setor industrial. Isto pode significar o início de um processo de “reversão da polarização” metropolitana. Trata-se, a rigor, de um transbordamento da malha urbana sediada na Capital, fazendo com que os municípios localizados até 150 km² da mesma, sofram um rápido processo de crescimento. (BRANT et al. 1989, p. 26).

Uma depoente da área da educação procura encontrar razões para as transformações de Ferraz:

Algumas coisas a gente sabe, Falta de boas estradas, de um bom acesso. Falta de um acesso. Houve um período da cidade, de industrialização, isso já na década de setenta, que havia um crescimento pra industrialização. E depois esse crescimento (...) [houve um esvaziamento]. Exatamente. Decresceu. Por quê? Problema também de acesso. Então esse foi um fator que realmente atrapalhou muito a cidade. E geograficamente, ela está num local meio encravado. Como a cidade não foi crescendo de forma projetada, os governantes não perceberam isso. Eles deveriam ter detectado esse problema e achar saídas. Hoje, com o desenvolvimento tecnológico, você pode construir cidades aonde você quiser. A engenharia e outras fontes de recursos, são inesgotáveis. Então esse foi um dos fatores que levou ao esvaziamento dessas pessoas que gostam da cidade, que tem vínculos com a cidade, mas por questões práticas, da praticidade da vida, tiveram que ir abandonando a cidade.

Durante o período em que permanecemos em Ferraz, reiteradamente ouvimos a expressão “amor à cidade”. Esta era falada, mais que isso, proclamada. Referiram que os gestores municipais nesse período de transição, não manifestaram de forma eficiente “amor à cidade”, na forma como a administraram.

O “amor à cidade” aparecia de forma constante nas conversas e nos eventos de Ferraz. Por outro lado,consideravam que os que chegaram, não tem raízes na cidade, o que significava que podia estar faltando o “amor destes à cidade”, como o das gerações anteriores.

Na nossa observação e conversa com moradores, lideranças, grupos comunitários, profissionais, a conversa girava também a respeito da cidade. E em seguida, vinha a minha justificativa do estudo sobre Ferraz, à qual eu acrescentava que na minha análise, a cidade era muito acolhedora. Mas por outro lado, ouvia exclamações: não agüentamos ouvir mais falar da pobreza de Ferraz!

Um dos filhos da geração de imigrantes locais considera que:

A máquina administrativa não tinha uma coordenação política edeixou um vazio na cidade. Os interesses foram outros. No cultivo da uva e de macieiras, com o falecimento dos velhos, houve um esvaziamento das chácaras e os mais jovens nem sempre permaneciam na cidade e daí começaram as invasões. Faltou interesse em planejar a cidade nesse período de transição, do orgulho da cidade com o pioneirismo da uva Itália, para o novo perfil de moradores vindos da expansão da periferia de São Paulo.Os dados críticos da administração desse período contribuíram para a desintegração da cidade. Por exemplo, as nascentes não foram preservadas e as ocupações desordenadas foram contribuindo para a queda de Ferraz.

Para esta depoente muitos mudaram da cidade:

(...) pelo fator de segurança. Porque pelo grande crescimento da população menos abastada e tal, também não só na cidade, mas na

região, [houve], um crescimento da marginalidade, da violência. Então as pessoas, pra preservar suas famílias e outros aspectos de segurança, eles voltaram a estar residindo fora, tendo negócio na cidade, mas não morando na cidade. E a mesma questão também, no caso do abandono de algumas chácaras. Houve muito vandalismo nas chácaras.

Outra percepção sentida na nossa observação decorre dos é o comentários que são feitos sobre os ex-moradores que saíram, mas mantém comércio na cidade. Há manifestações de uma certa mágoa, de abandono, de orfandade. Referem que algumas famílias tradicionais tem casa aqui, “mas não dormem aqui em Ferraz”.

Há um sentimento latente de abandono, de crítica ao fato deles terem se ausentado de Ferraz. Pois, os que ficaram lutam pra preservar, para resgatar a história, lembrar do auge do pioneirismo da uva, da indústria, das festas, recordar o passado e tentar transportar as coisas gratificantes para o hoje. E o percebido é a existência de uma rede de sociabilidade.

(...) era uma cidade agrícola a industrial no caso da [empresa alemã], na década de quarenta, cinqüenta, sessenta ela foi uma das maiores firmas de lixa da América Latina. Eu imagino o potencial que ela era. Depois nos anos setenta veio a decadência, porque os irmãos Ghotthard, vieram morrendo. Então quando começou a queda de Ferraz realmente? A partir de setenta. Porque as pessoas da [s] família [s] de Ferraz que nasceram aqui ou eram daqui na década de trinta, que tinham coração acima de tudo, vieram falecendo. Uma geração que foi morrendo rápido e não houve seqüência de liderança. Aí começou [a vir?] dirigentes de outros lugares do Brasil, na década de oitenta e noventa, que estão em Ferraz há vinte anos. Eles tomaram conta da cidade de uma certa forma e a cidade perdeu aquela característica de cidade bonita, limpa. Aqui a cidade era um brinco! As cento e cinqüenta chácaras produtoras de uva itália, pêssegos e frutas, eram uma mais bonita que a outra. Abasteciam o mercado da Cantareira. uva Iália só tinha em Ferraz. [Então] a economia era na uva e na indústria. Duas empresas. Eram imbatíveis. Eram muito grandes. Volta cinqüenta, sessenta anos atrás (...) Oh, o tamanho que elas são hoje, já eram (...) Pra época eram muito grandes.

Quando começou a decadência em setenta, oitenta, [na fábrica] ficaram na faixa de cem funcionários e depois foi caindo. Na década de oitenta e noventa foi uma queda enorme. Começaram a melhorar de oito anos pra cá. Principalmente a Ghotthard, que não está mais na família (...) Da uva quem é mais antigo e que está em Ferraz hoje [estão] e desde mil oitocentos e noventa e cinco, é a família Paganucci. A agricultura declinou sim. Extinguiu-se totalmente. Tudo começou assim, a partir de mil novecentos e setenta e cinco, ou até mesmo mil novecentos e oitenta, começou [aram], as grandes invasões de área no extremo leste. Invasões de terra na região de Guaianazes e Itaim Paulista. Como Ferraz é vizinho com o Itaim Paulista e Guaianazes, acabou ficando um escudo de invasão pra Poá e pra Suzano. Eles não tiveram esse problema. Então tudo que foi invasão de terra do extremo leste, acabou entrando emFerraz. O que aconteceu? Essas grandes invasões, ficaram vizinhas das plantações de uva itália. O que aconteceu de mil novecentos e oitenta pra cá? Começou a ficar inviável colher a uva itália, por excesso de roubo. Começou por aí. À noite roubavam as uvas, quebravam os pés de uva. Entravam vinte, trinta moleques e arrancavam os pés, quebravam os galhos. Isso em oitenta. O que aconteceu em oitenta e três, oitenta e quatro? Começou o grande auge da produção de uva Itália de nossa cidade irmã (...) A cidade de São Miguel Arcanjo. Por que? Eles começaram com a uva itália lá em mil novecentos e cinqüenta e sete. Aqui em Ferraz o Sr (...) Ensinou a família (...) e eles foram para São Miguel Arcanjo.

O período de expansão da viticultura e da competitividade assim é visto:

Só que em oitenta, oitenta e dois, começou a grande plantação, a grande quantidade de plantio da uva em São Miguel. O que aconteceu? Entraram no mercado em grande quantidade! Então os preços que eram praticados lá no quilo de uva de venda, quando começaram a vender no Ceasa, Ferraz não dava conta, Aqui era só vinte, trinta produtores. [Em] oitenta e cinco já estava caindo. [E lá] já estavam em trezentas famílias produzindo. Hoje são novecentas famílias que plantam uva itália lá (...) e a primeira festa da uva deles foi em mil novecentos e oitenta e quatro. A de Ferraz a primeira festa da uva, foi em sessenta e dois. Então o que aconteceu em oitenta e três? A grande produção de São Miguel Arcanjo, a crise do governo do Sarney, aquele problema do cruzado que foi terrível (...) E em noventa e um, a crise do (...) Collor de Melo, quando arruinou a economia de vez. Então o que aconteceu (...) os japoneses já haviam sofrido com a

crise do Sarney, com a crise de São Miguel Arcanjo, pela alta produção, e em noventa e um, já tinha mais invasão de terra em Ferraz, mais problema de ocupação de terra e problema financeiro que se agravou por causa do governo Collor (...) Aí acabaram inviabilizando e cortaram tudo fora.

Com isso, acelerou-se a fase de declínio:

A uva tália sempre predominante, [com] maior quantidade de família dos japoneses no plantio. Tinha grandes plantadores de alta qualidade. Os italianos e uma família Húngara também. Os japoneses que sobraram agora, um ou outro da época do Sr. (...) estão com oitenta, oitenta e cinco anos (...) A maioria está morando num asilo aqui em Ferraz, [outros] foram embora. Quando veio a crise do Sarney, uma parte dos filhos deles, ou dos sobrinhos, já não quiseram mais a agricultura. Como estava muito crítico o Brasil, que saiu aquela fama na época (...) Vamos abandonar o Brasil, porque aqui não tem mais o que fazer (...) Todos esses japoneses (...) foram embora pro Japão. Houve uma migração muito grande de brasileiros em mil novecentos e oitenta e cinco e oitenta e oito. Uma grande migração, foram embora por Japão. Então, eles sem os filhos não conseguiriam mais tocar a uva Itália. Então já não tinham ninguém do lado, o que aconteceu? Acabaram de cortar os pés de uva a médio prazo (...) e muitos acabaram virando horta.

Moradora por quatro décadas em Ferraz, presidente da OAB, fala das mudanças:

Quem iniciou os loteamentos com lotes pequenos (...) foi o Ângelo Castelo [gestão 1978-1982 e 1889-1992], Nós tínhamos um prefeito que era um senhor prefeito, até porque era uma pessoa culta, formado, que se chama Makoto Iguchi, tinha amor a essa cidade (...) Esse prefeito foi o melhor prefeito que Ferraz teve. Depois dele o Ângelo, que permitiu o loteamento de cinco por vinte [metros] Ele permitiu (...) ele aprovou na lei do zoneamento o lote de cento e vinte e cinco metros. [Anteriormente um terreno] aqui era no mínimo de duzentos e cinqüenta metros. A partir daí começou (...) Foi na segunda gestão dele, anos noventa.

Pelo depoimento percebemos que popularizou a forma de loteamentos e agregado a isto ocorreu um outro fator, conforme declara a presidente da OAB:

A cidade começou a crescer desordenadamente, (...) começaram a arrasar os mananciais, começaram a vir os oportunistas, o CDHU,65 aí se você for verificar, quarenta por cento dos moradores, são oportunistas que compram, põem outras pessoas só porque é barato (...) Eles não tem nenhum compromisso com a cidade. Nem com a cidade e nem com os moradores antigos (...)

A tentativa de resistir e encaminhar estratégias de sobrevida para continuar o plantio da uva, ainda durou um tempo:

Em outubro de dois mil e um, eu fiz uma carta denúncia para Câmara Municipal e Prefeitura, alertando que em Ferraz, Poá e Suzano tinha sobrado só os últimos dez produtores de uva tália. E eles deveriam ser atendidos com algum subsídio, pra que essas dez chácaras mantivessem

No documento MARIA OLINDA COSTA SANTOS CARREIRA (páginas 173-188)