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Tráfico de Crianças e a Problemática da Criança Talibé na Guiné-Bissau

2.3. Fatores Cultural e a Problemática da Criança “talibé” (criança em movimento), na GB

2.3.2. Tráfico de Crianças e a Problemática da Criança Talibé na Guiné-Bissau

A Comunidade Internacional e os Estados em particular têm tomado várias medidas para garantir a dignidade da pessoa humana. Mas apesar dos esforços, ela continua sendo objeto de grandes atentados e flagrantes violações no mundo e também no continente africano. Pelo que, os respetivos Estados devem e urgentemente redobrar esforços para garantir o comprimento dos Direitos Humanos, uma vez que se trata de uma das principais metas para o cumprimento dos objetivos para o desenvolvimento do milénio.

O fenómeno mundial de TSH à qual a Guiné-Bissau não está imune, requer do Estado a definição de um quadro normativo capaz de prevenir e reprimir tal prática criminosa, que põe em causa os direitos fundamentais das pessoas, em particular das mulheres e das crianças. Na Guiné-Bissau, o tráfico de crianças é sinónimo do fenómeno talibeslimo (criança talibé,

criança em movimento), que significa “criança do Corão”. Este tipo de prática é centenária,

tendo em conta as ligações histórico-culturais com os países da sub-região, em especial com o Senegal, a Guiné-Conacri a Gâmbia e Mali. Mensalmente, cerca de duzentas crianças são retiradas do território nacional51. Estas movimentações de crianças para fora do país foram dando margens e deixando cada vez mais indícios de crime que por sua vez, suscitou o interesse da Organização Nacional Pioneira no âmbito da Promoção dos Direitos da Criança, AMIC (Associação dos Amigos das Crianças). As fortes suspeitas fizeram com que em 2005, a AMIC iniciasse diligências que permitissem cingir em aspetos concretos, relativamente às crianças vulneráveis no contexto transnacional, e que podem ser vítimas ou não do tráfico.

(…) nesta data (2005), começamos a observar fortes movimentações não só ao

nível nacional como também ao nível transnacional, sobretudo para os países vizinhos. É uma

48 *SEN, Amartya 2000. “Desenvolvimento Como Liberdade” 49

*BAUMAN, Zygmunt 2001.“ Modernidade Líquida” (publicada em 2000 e lançada oficialmente em

2001). Ver: http://www.ambito-

juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9917 50

*OIT (2009), Documento de trabalho, p.10.

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situação que choca e muito, principalmente quando se trata de crianças de tenra idades que são obrigadas a passar maior parte do seu tempo na rua (…)

As várias ações empreendidas a favor da promoção dos direitos da criança deram lugar, entre outras medidas, ao estudo sobre “Tráfico de crianças ao nível da África Ocidental”, realizado pela UNICEF-GB juntamente com o Instituto de criança de Roma em 2000. O estudo revela que 30% das crianças mendigas (pedintes), na grande região do Dakar no Senegal, são de origem guineense52. Ainda segundo Laudolino Medina (AMIC), estabeleceu-se uma amostra onde cerca de sete mil crianças revelam ser originárias da Guiné-Bissau. O envio destas crianças se deve, entre outras razões, à falta de condições socioeconómicas, á falta de recursos por parte das famílias e ao fraco nível do sistema educativo nacional por um lado originado pela pobreza e por outro, pela constante instabilidade político-militar vivida no país ao longo de décadas. Segundo o estudo da UNICEF Islândia (2010), “o pouco apoio garantido pelo governo não

permite a resolução dos problemas de muitas pessoas, fazendo com estas se sintam abandonadas e esquecidas”. Por isso, muitas famílias vêem-se obrigadas a enviam suas

crianças para o exterior, na expetativa de as garantir um futuro melhor.

As causas e as motivações que influenciam ao Tráfico de Seres Humanos, concretamente das crianças na GB caraterizam-se da seguinte maneira:

Figura 3:III- Pirâmide invertida das causas e motivações do tráfico de crianças na GB

1) “Talibelismo”: princípios da religião muçulmana, baseados nos estudos/aprendizagem do “alcorão”.

2) “Abandono do Lar”: o pai

abandona a família, a mãe ou da própria criança.

3) “Pobreza”: agravada devido

aos constantes golpes de Estado.

Fonte: elaborada pela autora (04/2012), com base no estudo do caso (UNICEF, 2010).

A princípio, uma criança talibé não é uma criança traficada. Mas chega a sê-la, devido aos contornos da situação enfrentada já do país do destino, aquando da violação de todos os princípios do “Talibelismo”. Essas crianças na Guiné conhecidas como crianças “talibés”, são enviadas pelos pais educadores para o ensino/aprendizagem do “Corão”, na maioria dos casos nos países vizinhos da sub-região, concretamente no Senegal, Gâmbia e Guiné-Conacri, e onde por vezes acabam nas ruas das grandes cidades pedindo esmolas. Noutras situações, estas crianças caem nas explorações laborais (trabalho infantil), exploração sexual (JAKOBSEN, 2002), entre outras, caraterizadas como as piores formas do tráfico.

O talibelismo para além da pobreza, cultura e religião, é também influenciado na sua grande parte pelo “abandono do lar”, em três dimensões:

Abandono da família pelo pai, devido à elevada taxa de desemprego no país e as

dificuldades que o impedem de garantir as condições necessárias à sua família;

O abandono da família por parte da mãe, devido ao fim de um casamento eu relação,

deixando os filhos sem proteção e cuidados de uma mãe.

52 Entrevista com Laudolino Medina, Secretário Executivo da AMIC-GB. Bissau: Janeiro de 2012.

Talibebelismo

Abandono

do

Lar

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O abandono a família pelo próprio filho, influenciado pelo êxodo rural e pela procura

de melhores condições de vida na cidade.

Todas essas fragilidades que afetam as famílias guineenses, acabam por recair sobre o Estado, devido a situação de pobreza em que se encontra o país agravada pelos sucessivos levantamentos militares, desde 1998. Segundo Emanuel Fernandes (Ponto Focal da CNLCTSH 2012), a ausência do Estado nas zonas rurais faz com que verifica muitas deslocações do campo para a cidade, e ainda com que os pais fujam das suas responsabilidades para com as famílias, muita das vezes não porque querem mas sim, porque são obrigados pela situação e porque não estão em condições de responder as exigências mundiais. Essa real exploração do trabalho infantil deve ser combatida e eliminada pelo Estado juntamente com os seus parceiros no que toca a sensibilização das famílias e das comunidades.