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1 INTRODUÇÃO

4.7 Tráfico Interno de Pessoa para Fim de Exploração Sexual

O sexto crime a ser analisado recebe o nomen iuris de “Tráfico interno de pessoa para fim de exploração sexual”, o qual está tipificado no art. 231-A do Código Penal. Inicialmente, leia-se o texto constante no mencionado dispositivo legal:

Art. 231-A. Promover ou facilitar o deslocamento de alguém dentro do território nacional para o exercício da prostituição ou outra forma de exploração sexual: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

§ 1o Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar, vender ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la.

§ 2o A pena é aumentada da metade se: I - a vítima é menor de 18 (dezoito) anos;

II - a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato;

III - se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; ou

IV - há emprego de violência, grave ameaça ou fraude.

§ 3o Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa.

Quanto ao tipo penal em tela vale plenamente o dito no tópico anterior com a ressalva que, aqui, o deslocamento territorial dá-se dentro da República Federativa do Brasil.

5 Necessidade da Ocorrência de Abolitio Criminis.

Diante de todas as considerações, urge a necessidade de o legislador se utilizar do instituto daAbolitio criminis.

Discorrendo sobre o indigitado instituto jurídico penal, Prado (2002, p. 634):

Perfaz-se a abolitio criminis quando a lei posterior não mais tipifica como delito fato anteriormente previsto como ilícito penal. Ou seja, com o advento da lei nova a conduta perde sua característica de ilicitude penal, extinguindo-se a punibilidade (art. 107, III, CP). A lei posterior mais benigna (Lex mitior) retroage para alcançar inclusive fatos definitivamente julgados (art. 2º, CP). Assim, são afastados por completo os efeitos penais da condenação, persistindo unicamente os efeitos civis.

O comentário do autor coaduna-se com a idéia de que a lei penal não retroage, a não ser que seja para beneficiar o réu.

Vejamos a redação dos artigos citados por Prado (2002, p. 634):

Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.

Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica- se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.

Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:

III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;

Assim, com boa vontade política, os nossos legisladores, ao contrário da injustificável inflação legislativa penal que costumam fazer, podem fazer valer os princípios da dogmática jurídica penal e extirpar os crimes que, em sua essência, envolvem a mediação da prática sexual.

Uma vez feito isso, a lex mitior beneficiaria quem deseja empreender nesse ramo bem como quem está sendo indiciado, processado ou mesmo condenado por crimes cominados em época ultrapassada.

Destarte, é preciso a abolição dos crimes comentados no presente trabalho para que não haja um descompasso da lei com a realidade.

6 CONCLUSÃO

Inicialmente, cumpre destacar que os tipos penais trazidos à baila, além de serem aceitos pela sociedade com naturalidade, não deveriam existir tais como são apresentados no Código Penal, uma vez que deve-se respeitar a liberdade individual de as pessoas fazerem o que entendem lhes ser interessante.

Existem até mesmo pessoas que não sabem que tais mediações sexuais são consideradas ilícitos penais.

A propósito, alguém já viu propagandas, no jornal, de matadores de aluguel, por exemplo?

A resposta invariavelmente é negativa. Agora, já de pessoas que promovem encontros sexuais, certamente já. Diante disso, o princípio da adequação social é plenamente aplicável ao caso.

Percebe-se que a crítica do presente trabalho é, diante dos princípios da intervenção mínima e da adequação social, de que o Estado não pode se imiscuir na relação entre particulares, maiores e capazes, que desejam contratar para a consecução de um fim, a saber, realização da prática sexual.

Em não havendo liberdade, convoca-se o Direito Penal para atuar. Só assim justifica-se sua intervenção, a qual deve ser mínima. Caso contrário, ela será “inadequada” e “não recomendável”.

Se na situação acima defendemos isso, a fortiori não se justifica a punição quando ocorre tão somente a mediação sem se falar em lucro.

Com base em todo o desenvolvido no presente trabalho, outra não seria a conclusão: é forçosa a necessidade da ocorrência do instituto da abolitio criminis dos crimes relacionados à mediação da prática sexual face o reconhecimento da não compatibilidade dos crimes de mediação à prostituição com a Constituição brasileira, com a consequente necessidade da descriminalização do lenocínio em face da indevida ingerência estatal na liberdade dos indivíduos.

REFERÊNCIAS

BITENCOURT, Cezar Roberto. Código Penal Comentado. São Paulo: Saraiva, 2002.

______. Tratado de Direito Penal - Vol. 1 - Parte Geral. 4ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

DIAS, Maria Berenice. Liberdade Sexual e Direitos Humanos. Disponível em

http://www.mariaberenice.com.br/uploads/16_-_liberdade_sexual_e_direitos_humanos.pdf. Acesso em 3 de maio de 2014.

GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal - Parte especial - Vol. III. 8ª Ed. Niterói, Rio de Janeiro: Editora Impetus, 2011.

______. Curso de Direito Penal - Parte Geral - Vol. I. 11ª Ed. São Paulo: Editora Impetus, 2009.

MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 26ª Ed.. São Paulo: Editora Atlas, 2010.

NUCCI, Guilherme de Souza. Princípios Constitucionais Penais e Processuais Penais. 2ª Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012.

______. Prostituição, Lenocínio e Tráfico de Pessoas: Aspectos Constitucionais e Penais. 1ª Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014.

PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro - Parte Geral. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.

ROSAS, João Cardoso (Org.). Manual de Filosofia Política.Coimbra: Almedina, 2013. Disponível em http://books.google.com.br/books?hl=pt-

BR&lr=&id=3ASxPgKMbE4C&oi=fnd&pg=PT4&dq=libertarismo+crimes&ots=VxLIfMzJ O0&sig=b219z2ciaWe3ouXCmX91FBldq6o#v=onepage&q=libertarismo%20crimes&f=false . Acesso em 7 de maio de 2014.

TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios Básicos de Direito Penal. – 5ª Ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2002.

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