• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II – CONDICIONANTES TECNOLÓGICAS , VIRTUALIZAÇÃO E O

2.2 A virtualização na perspectiva de Pierre Lévy e o processo ensino-

2.2.1 Três vias para a virtualização

(buscando os elementos fundamentais da virtualização)

A busca por elementos para o desenvolvimento de modelos análiticos acerca dos processos de virtualização que ocorrem no seio das relações sociais, é de importância vital para a compreensão e proposições de utilização das TIC nos ambientes escolares. Perseguindo um núcleo invariável que possa servir como uma receita do virtual, Lévy monta uma estrutura analítica alicerçada em vias que

29 Ver: Johnson, Steven. Cultura da Interface: como o computador transforma nossa maneira

de criar e comunicar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. Ver também: Lévy, Pierre. As Tecnologias da Inteligência. Rio de Janeiro: Ed. 34,1993.

historicamente dão significação sociológica aos processos de virtualiação - o trívio dos signos, o trívio das coisas e o trívio dos seres.

A hipótese de Lévy (1996, p.82) “é que as operações gramaticais,

dialéticas e retóricas, chaves da capacidade virtualizante da linguagem, caracterizam igualmente a técnica e a complexidade dos relacionamentos”. Essa

hipótese é articuladora dos signos, através da linguagem; das coisas, através da técnica e dos seres, através dos relacionamentos.

Assim, o trívio dos signos, o trívio das coisas e o trivio dos seres, são analisados através dos elementos fundamentais da linguagem – a gramática, a dialética e a retórica-, buscando evidenciar a existência de processos virtuais na operação de cada uma dessas três vias.

Associando as três vias - a gramática, a dialética e a retórica - aos signos, o processo de virtualização transcorre através de uma função gramatical que tem como resultante a assimilação de estruturas de significação das linguagens oral e escrita que é o saber ler e escrever corretamente. Esse saber ler e escrever é potencializador do diálogo, que por sua vez é o campo da ordenação semântica, que viabiliza a argumentação, ou seja, estabelece um processo dialético. “A dialética

conecta um sistema de signos e um mundo objetivo, colocado pelos interlocutores em posição de mediador” (LÉVY, 1996, p.82).

A retórica como a arte do convencimento através da ação sobre os outros e o mundo, com o auxilio dos signos, seria um meio de representação do estado das coisas e de transformação do mesmo. “A linguagem só alça vôo no estágio retórico.

Então ela se alimenta de sua própria atividade, impõe suas finalidades e reinventa o mundo” (LÉVY, 1996, p.82).

Quando na perspectiva de Lévy, a gramática, a dialética e a retórica são associadas às coisas - ou artefatos técnicos-, a gramática estará relacionada com os gestos elementares responsáveis pelas ações que dão forma a aplicabilidade dos artefatos em uma dada situação. Para além da representação gestual, a gramática associada às coisas, poderá a partir da combinação modular de materiais, estabelecer uma gama de novas finalidades.

A gramática técnica não diz respeito apenas aos gestos, mas também a módulos materiais elementares que podem ser combinados para compor gamas de artefatos ou de ferramentas. A título de exemplo, o mesmo cabo pode servir à montagem de uma pá ou de uma picareta, e tijolos idênticos podem ser usados na construção de casas muito diversas (LÉVY, 1996, p. 83-84).

Por sua vez a dialética, associada às coisas, tem na substituição a sua justificativa nesse modelo analítico. Já que para Lévy (1996, p.84),

“ uma dialética das coisas parece problemática. A linguagem refere- se ao mundo real, permite produzir proposições verdadeiras ou falsas, suscita emoções ou idéias. Em suma, ela significa. Em troca, a técnica parece pertencer a uma outra ordem que não a da significação: a da ação eficaz, da operacionalidade. A linguagem provoca estado mentais, a ferramenta desloca matéria”.

A substituição, que justifica a associação da dialética às coisas, ocorre quando um dispositivo técnico faz-se valer por outro dispositivo não técnico ou de menor complexidade. Lévy (1996, p.84), apresenta os seguintes exemplos:

o sistema moderno de água corrente em todos os andares substitui o balde que vai à fonte. A fonte instalada na praça, por sua vez, substitui a caminhada até a nascente ou o rio. As torneiras da cozinha e do banheiro ‘denotam’ a ‘significação’ seguinte: você não mais trazer a água do poço ou alugar o serviço de um carregador”.

Finalmente a retórica associada às coisas, justifica-se com a capacidade de apropriação de artefatos para a criação de novos fins. Como “os fins de beber

água ou de ir à aldeia vizinha [que] permanecendo inalterados, as técnicas de adução de água ou do velocípede serve para atingi-los mais depressa e com menor custo” (LÉVY, 1996, P.85).

O trívio associado aos seres, justifica-se analiticamente, pela complexidade dos relacionamentos.

A gramática, nessa proposição, é o campo organizador simbólico, entre outras formulações, dos contratos sociais, políticos, religiosos ou morais. A partir

dos elementos de base vão ser elaboradas uma quantidade infinita de seqüências de interações, uma espécie de texto ou de hipertexto relacional (LÉVY, 1996, p.87).

Enquanto que a dialética assume, nesse contexto, um sentido geral de complexidade relacional e comportamental associada à uma dialética ética. A

retórica por sua vez está associada à constatação do “crescimento de um universo

relacional autônomo nos planos, legal, institucional, político, comercial, moral e religioso” (LÉVY, p.87).

Esse trabalho apropriou-se das teorizações de Lévy que relacionam as funções gramatical, dialética e retórica, da linguagem, com a virtualidade, objetivando relacioná-las com as formas de apropriação das TIC no processo ensino- aprendizagem, buscando o sentido e o significado da aplicação das potencialidades dessas tecnologias no espaço escolar. Assim, as TIC foram consideradas como organizadoras de um campo comunicacional, semântico e relacional, gerador de símbolos e signos que permeiam as relações sociais e institucionais atuais. “A

informática é a mais virtualizante das técnicas por ser também a mais gramaticalizante (LÉVY, 1996, p.88).

A dialética e a retórica, quando foram aqui relacionadas com o processo ensino-aprendizagem escolar, operaram como divisores de águas, onde de um lado está a Escola, legitimada historicamente com seus métodos, técnicas e recursos instrucionais convencionais e, do outro, uma Escola envolvida num universo permeado pelas TIC com seu manancial de potencialidades e possibilidades.

2.2.2 A ferramenta e a espiral levyniana

A relação homem-ferramenta, na ótica levyniana, é um processo dialético que ganha sentido com a identificação das funções físicas ou mentais (teclar, pegar,

Documentos relacionados