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Traçando o perfil dos professores: a condição de sujeito

CAPÍTULO IV – DIALOGANDO COM A REALIDADE

4.1. Traçando o perfil dos professores: a condição de sujeito

Para conhecer o perfil do professor que procura a formação para pesquisa e continua atuando na educação básica, tivemos como referência as seguintes questões norteadoras: Que

33 A definição dos participantes da pesquisa se deu a partir de um amplo período de busca pelas escolas que apresentavam em seu quadro mestres e doutores. Ao visitarmos mais de 80 escolas, constatamos que alguns profissionais da educação pertenciam à instituição, porém não estavam na sala de aula, ou muitos já haviam saído da SEEDF ou mudado sua lotação. Dessa forma, automaticamente foram descartados por não se encaixarem no objeto da pesquisa. Apresentamos a proposta de pesquisa a 76 professores, esses aceitaram participar. No entanto, 52 sujeitos foram os que deram a devolutiva com a participação do questionário.

motivos o professor tem para buscar a formação stricto sensu? Onde cursou o programa stricto sensu? Que temas foram pesquisados? A formação stricto sensu contribui para sua atuação? Está satisfeito com a profissão? Quais as aspirações profissionais? Onde trabalha?

O professor é aqui entendido como um homem/mulher determinado por um momento histórico, pertencente a uma sociedade concreta e contraditória, e ainda um ser individual, com sua subjetividade, com uma história de vida, tudo isso interferindo no desempenho do seu papel como professor.

Ao analisar a profissão docente, é preciso considerar os aspectos singulares e universais desenvolvidos a partir das transformações históricas. Os singulares são marcados pelas representações de mundo, identidade pessoal, conflitos e ideologias e os universais estão presentes no status científico ético da categoria profissional (SOUZA,1993). Para Luckás (1970) o singular só existe relacionado ao universal, e este por sua vez, está envolvido por todos os objetos singulares, porque esses objetos atendem às necessidades humanas de sua época.

Ao resgatar a história da profissionalização docente, Nóvoa (1992, 1997) traz uma grande contribuição de que os estudos da profissão são marcados por uma separação entre o eu pessoal e o eu profissional. O autor salienta a influência da individualidade e isso traz uma nova perspectiva para a formação de professores.

Pensando que para se tornar professor participamos de um processo plural, procuraremos delinear o perfil dos sujeitos participantes da pesquisa abordando aspectos de cunho individual e social, como, sexo, idade, estado civil e número de filhos.

Na tabela 2 podemos observar que a informação da idade dos professores com mestrado/doutorado que atuam na educação básica publica no DF aponta para um processo crescente na relação faixa etária, atuação docente e formação stricto sensu. Os professores pesquisados apresentam maior frequência na faixa de mais de 45 anos, representando 44% dos sujeitos da pesquisa.

Os dados relativos à média de mestres e doutores no Brasil revelam que em 2008, a maioria de homens e mulheres ocupava a faixa dos 43-46 anos (CAPES, 2011). Essa média de idade, assim como a média encontrada entre os professores do DF, aponta para uma formação pós-graduada longa e tardia no Brasil. Esse processo tardio se justifica por algumas razões, tais como a dificuldade de se realizar a formação continuada, afinal, faltam incentivos por parte de políticas, faltam condições para se investir na formação, falta tempo, principalmente para as mulheres, com bastante representatividade na docência e que precisam

administrar sua dupla jornada (trabalho e casa). Parece haver também a necessidade do amadurecimento da carreira para a busca da formação stricto sensu.

Tabela 2 - Idade dos sujeitos pesquisados

Anos Freqüência Porcentagem

menos de 24 anos 0 0%

25 a 35 13 25%

36 a 45 16 31%

mais de 45 23 44%

Total 52 100%

Fonte: Barreiros, pesquisa de mestrado, 2012.

Essa representatividade feminina se confirma com a tabela 3 que apresenta a feminização do trabalho docente, mostrando que os sujeitos participantes da pesquisa, professores mestres e doutores da SEEDF, são na sua maioria mulheres. Segundo Hypolito (1997) as relações de classe e de gênero devem fazer parte das análises interpretativas do trabalho docente. Essa pesquisa vem reafirmar que este trabalhador não é qualquer trabalhador. É um trabalhador sexuado: é mulher trabalhadora. O processo de feminização mudou o perfil do professor do ensino fundamental. À medida que o ensino se expande, com o desenvolvimento do capitalismo, passa a ser exercida fundamentalmente por mulheres. Isso aconteceu em detrimento de múltiplos fatores relacionados com a condição sóciocultural da mulher, com a ideia da domesticidade, com a falsa identidade entre o trabalho de ensinar e as habilidades femininas e com o ideário do sacerdócio e da vocação, dentre outros.

A feminização produz marcas o que não é somente uma questão numérica, mas na caracterização da profissão, nas formas de ensino, na representação social, marcas produzidas até mesmo pela dominação sofrida historicamente pela mulher em outros campos. A formação no mestrado e doutorado, muitas vezes tardia, quando associada à autonomia intelectual e profissional acaba dando um sentido especial para esse grupo de mulheres.

Terminar o mestrado, como eu já tinha dito questão da satisfação pessoal, foi assim muito gratificante, não pelo título em si, mas é você ficar satisfeita com você mesmo. De você ter vencido esse desafio dando aula, porque nem todo mundo consegue se afastar do trabalho, eu só consegui o afastamento no último semestre. Então, 3 semestres foi mestrado trabalhando e só depois para fechar o curso foi que consegui afastamento. Então, não deixa de ser um grande desafio. Então assim, você também não é só trabalho ou estudo, você é também família. Então, quando você pensa que você terminou um mestrado, trabalhando, cuidando de uma casa, cuidando de três filhos, quer dizer, é uma satisfação muito grande (Professora 4, entrevista, 2012).

A análise não tira o sentido também especial e surpreendente de 37% de homens atuando na educação básica e com formação stricto sensu, o que indica mudanças na organização da profissão e da sociedade. Essa representação masculina, em sua maioria, é professor do ensino médio e segunda fase do ensino fundamental, com formação em áreas como biologia, história, física, química, matemática. Dos professores homens participantes da pesquisa, cerca de 68% possuem formação em áreas exatas e científicas. Apenas 32% fizeram cursos na área de humanas, como história, geografia e artes, confirmando assim, que a maioria dos docentes homens procura áreas específicas, sendo poucos atuantes na educação infantil, bem como, primeira fase do ensino fundamental.

Tabela 3 - Sexo dos sujeitos pesquisados

Sexo Frequência Porcentagem

Feminino 33 63%

Masculino 19 37%

Total 52 100%

Fonte: Barreiros, pesquisa de mestrado, 2012.

A tabela 4 traz o perfil profissional dos professores mestres e doutores que atuam na rede de educação básica publica no DF quanto a questão dos relacionamentos pessoais. Os dados apontam estar em consonância com o movimento da sociedade moderna: apenas 58% dos professores pesquisados se declararam casados. A média nacional de docentes que se nomeiam casados é de 55,1% (UNESCO, 2004).

Tabela 4 – Proporção de professores segundo o estado civil

Estado civil Frequência Porcentagem

Casado (a) 30 58%

Solteiro (a) 10 19%

Divorciado (a) 6 12%

Viúvo (a) 1 2%

Outro 5 10%

Fonte: Barreiros, pesquisa de mestrado, 2012.

Ao delinear o perfil dos sujeitos da pesquisa, os atributos abordados apontam para um professor com formação stricto sensu que atua na rede publica do DF, com mais de 45 anos, a maioria do sexo feminino, mas com uma boa expressividade masculina e que já viveram um relacionamento estável. Essa caracterização dos professores pesquisados permite perceber algumas especificidades e continuidades da profissão, como a constatação de que primeiro os sujeitos da pesquisa constituem família e depois vão procurar algum programa de pós- graduação. Isso explica o baixo número de solteiros na pesquisa. Além disso, essa caracterização fornece dados gerais que facilitam uma primeira aproximação do universo dos professores e da relação com a formação stricto sensu e o trabalho docente, provocando indagações sobre a perspectiva profissional, as motivações de buscar essa formação, dentre outras.