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O trabalho com os conteúdos das disciplinas e sua relação com a Educação Ambiental

O passado não é o antecedente do presente, é a sua fonte.

A TEORIA REQUERIDA PELA PESQUISA: O PROJETO VEREDAS APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

3.8 O trabalho com os conteúdos das disciplinas e sua relação com a Educação Ambiental

docente.

[...] a cursista no seu currículo ela tinha todos as matérias, os conteúdos e objetivos pré-definidos dentro do Veredas e a educação ambiental ela entrava em todos os momentos, então desde o começo do curso, desde os primeiros contatos que era aquela história toda da antropologia e educação, da história, da dimensão ambiental eu busquei colocar em todos os módulos e componentes curriculares. Há uma oposição dentro da educação ambiental entre os autores que defendem uma criação de uma disciplina educação ambiental específica e outros autores que defendem que a educação ambiental não pode ser uma disciplina, que ela tem que ser um tema transversal. Eu sou dos que compactuam a transversalidade da educação ambiental, ela tem que passar em todos os currículos e não ser uma disciplina específica. Existe tantos riscos em uma opção ou outra, na transversalidade há o risco de ela esvaziar um pouco dentro dos diversos conteúdos, ela perder um pouco com o esvaziamento. Mas o risco menor ela corre porque ela fica isolada como uma disciplina específica ela corre um risco muito grande também porque vai reproduzir vários conteúdos que poderiam ser tão bem trabalhados nas outras disciplinas, ou seja, eu acho que dentro da educação ambiental ela tem que seguir no currículo de um curso, seja qual ele for, olhando o curso de formação de professores a educação ambiental tem que ser um componente, uma dimensão, o ambiente e a relação dos seres humanos com o meio ambiente, entendendo o ser humano dentro do meio ambiente ela tem que ser uma dimensão presente em todas as disciplinas.

3.8 O trabalho com os conteúdos das disciplinas e sua relação com a Educação Ambiental

Um ponto de partida para quem se propõe trabalhar Educação Ambiental refere- se aos conteúdos: não existe um conteúdo único, mas sim uma pluralidade de conteúdos, motivo pelo qual a professora deverá estar atenta à faixa etária de seus alunos e ao local em que esses alunos estão inseridos ao contexto.

Esse local deverá ser problematizado, ser objeto de curiosidade desses alunos, na busca de alternativas para propor caminhos, perspectivas de resolução das questões que são apontadas como problema. Nessa questão professores e alunos deverão ser parceiros (FAZENDA, 2006).

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997, p. 57), “mais do que um elenco de conteúdos, o tema Meio Ambiente consiste em oferecer aos alunos

instrumentos que lhes possibilitem posicionar-se em relação às questões ambientais”. Reigota (2009) nos diz que, embora não seja priorizada a memorização de conceitos, alguns precisam ser do conhecimento dos alunos, a exemplo de fotossíntese e cadeia alimentar, o que contribuirá para facilitar o processo ensino-aprendizagem, em diferentes áreas da ciência.

Questionadas sobre como trabalham os conteúdos das disciplinas voltados para a Educação Ambiental, todas disseram que trabalham de forma interdisciplinar e quatro delas explicitaram que desenvolvem projetos. A professora Maria coloca em evidência que ela se vale da interdisciplinaridade para trabalhar Educação Ambiental e o faz por meio de atividades diversificadas em todas as disciplinas. Ela se utiliza do desenvolvimento de Projetos, uma metodologia adequada para se trabalhar Educação Ambiental, uma vez que há o envolvimento de toda a escola, aqui entendida como pais, estudantes, professores e funcionários (REIGOTA, 2009).

Procuro trabalhar os conteúdos de forma interdisciplinar, através de textos, poemas, gráficos, mostrando, por exemplo, o tempo que cada objeto leva para se decompor na natureza. Através de brincadeiras, montagem de murais, passeios em ambientes ao redor da escola para ver como as pessoas estão tratando o ambiente onde vivem e relacionar com o mundo. Fazer pesquisas através de questionários para serem debatidos para assim mudar comportamentos e atitudes. Tive o prazer de trabalhar projetos que envolveram toda a escola,

com o ‘Caminho das Águas’. (Professora Maria)

Entre as professoras há, em seus discursos, uma clareza quanto a tratar as questões ambientais de forma interdisciplinar, o que se observa também nestes depoimentos.

Procuro relacionar a Educação Ambiental aos conteúdos das diversas disciplinas através de atividades diversificadas e em todas as disciplinas. Por exemplo, no Projeto Tempo Integral é desenvolvido o Projeto Horta Escolar. Com os alunos buscamos soluções de horário para regar as plantas de modo que haja economia de água, como plantar em menos espaço, como preparar adubo orgânico. Existe

envolvimento de todas as disciplinas neste trabalho. (Professora

Mariana)

Quando estava em sala de aula, gostava de trabalhar o desmatamento com peças teatrais montadas em consonância com geografia, história, ciências, português, artes... A questão do lixo com Projetos de conscientização de toda comunidade escolar (Projetos da Escola). Procurava sempre um trabalho interdisciplinar. Principalmente após

Observamos que as temáticas dos Projetos são compatíveis com as necessidades detectadas na comunidade, o que propicia que essas temáticas sejam incorporadas ao currículo escolar local (CASTRO; SPAZZIANI; SANTOS, 2010). A tutora Angélica nos fala como ela realiza esse trabalho.

Por exemplo, a história, ela sempre foi a disciplina que eu mais me dediquei aqui na universidade, vou ensinar história, como eu ensino história para as crianças, história do Brasil, do mundo, dos homens e das mulheres? Eu sempre busquei a dimensão ambiental e ela está fora dos guias curriculares, livros didáticos, muito pouco presente. Você fala o homem transforma a natureza, pronto, acabou a dimensão ambiental. Então na verdade o que eu busquei muito, sempre busquei, é buscar uma história ambiental, uma memória do ambiente, a água tem uma memória, o ambiente tem uma memória, muitas vezes processos humanos de construção da própria sociedade e da civilização que a gente está nela hoje, ela tem uma destruição ambiental muito grande. Essa dimensão ambiental está fora, muito ausente, e eu busquei mais ainda no começo do doutorado envolver muito com a disciplina “História Ambiental” que é a história do ambiente, então eu acho que essa dimensão ambiental dentro da história ela se fez presente assim, em buscar o ambiente dentro dos outros componentes curriculares também. O ambiente ele não é só um substrato onde a ação humana acontece, ele faz parte da ação humana, então ele não é só o lugar onde estamos vivendo, pisando. Dentro do português, por exemplo, era muito tranquilo a gente buscar essa dimensão, a geografia muito explícita, a ciência muito explícita e eu sempre procurei fazer essa vinculação de diversas formas. Posso dar vários exemplos, como na história e geografia, dentro da perspectiva da arte e do lúdico, aquela história, uma brincadeira que tem aí que dá um verdadeiro projeto pedagógico: A casinha da vovó/Cercadinha de cipó/O café ta demorando/Com certeza não tem pó. Essa brincadeira de roda. Então você tem aí uma dimensão ambiental muito forte. “A casinha da vovó”, que dimensão ambiental é essa? “Cercadinha de cipó”, o que é cipó? Hoje em dia como se faz isso? Antigamente era cercado com cipó? “O café ta demorando”, você pode trabalhar a industrialização toda, o processo, o tempo do café, desde o tempo de plantar e colher o café, o tempo de fazer o café, antigamente o que você tinha que fazer? Hoje você tem cafeteira elétrica que faz o café em dois minutos. Ferver a água, ferver o coador de pano, botar no mancebo esperar o café ser coado. Tem toda uma dimensão ambiental que você pode trabalhar e que é uma dimensão social também, uma dimensão socioambiental. ‘Com certeza não tem pó’. Que significa isso? Pode trabalhar o processo de industrialização, trabalhar o conteúdo industrialização através dessa brincadeira.

Encontram-se nas falas das professoras menções a trabalhos realizados por meio de atividades com artes, como peças teatrais e a leitura de poesias. Essas formas de trabalhar Educação Ambiental vão ao encontro de Carvalho (2011, p. 132), quando nos diz que “um conhecimento importante que também devemos considerar nos caminhos

híbridos da EA é o proveniente da sensibilidade artística. Poesias e manifestações artísticas locais ou universais são sempre bem-vindas na prática da EA, para instigar outras sintonias com a realidade”. São estes os depoimentos das professoras explicitando que se utilizam desses recursos:

[...] gostava de trabalhar o desmatamento com peças teatrais. (Professora Luciana).

Posso pedir que confeccionem cartazes de advertência para o uso consciente dos recursos naturais e trabalho, então, com artes (Professora Marta).

Para Freire (2002, p. 80), “há uma relação entre a alegria necessária à atividade educativa e a esperança. A esperança de que professor e alunos juntos podemos aprender, ensinar, inquietar-nos, produzir e juntos igualmente resistir aos obstáculos à nossa alegria”. Não é por acaso que esse autor nos diz que para ensinar se faz necessária a alegria e a esperança

Isso nos reporta a um componente curricular do Projeto Veredas, denominado Atividades Culturais. Havia, no âmbito daquela formação, um esforço grande por levar os professores a se interessarem por temas como literatura, teatro, cinema, rádio e televisão. Durante a formação dos estudantes desse Projeto foram proporcionados vários momentos em que estes temas foram tratados. As universidades foram incentivadas pela equipe gestora do Projeto a planejarem atividades especialmente voltadas para essa formação.

A proposta pedagógica do Veredas inclui, entre seus objetivos, a ampliação dos horizontes culturais dos professores cursistas e o estímulo a uma permanente participação deles em eventos culturais e educacionais. Pretendia-se que as professoras cursistas fossem estimuladas a participar de programas culturais, de debates de questões conjunturais relevantes do momento, de eventos artísticos e culturais relacionados a literatura, cinema, teatro, artes plásticas, música, dança, rádio e televisão (MIRANDA; SALGADO; AMARAL, 2013, p. 133).

Segundo Reigota (2008), além da Pedagogia de Projetos, história de vida é uma metodologia que tem se mostrado adequada ao trabalho com Educação Ambiental. Dentre os depoimentos, selecionamos dois que colocam à mostra como as professoras tem se utilizado desta metodologia:

Como trabalho com alguns alunos que moram na zona rural, dá pra trocar experiências, pois eles tem uma participação muito favorável e

os outros se sentem envolvidos com as suas histórias (Professora Aparecida).

Sempre procuro levar meus alunos a conhecer pessoas idosas na nossa comunidade, que viveram suas vidas dedicando e cuidando do

meio onde vivem com carinho e dedicação (Professora Marta).

Como se vê, são muitos os caminhos, metodologias a serem utilizadas. A opção por uma delas vai estar embasada na criatividade da professora, na caracterização dos alunos, no contexto e nos desafios a que professores e alunos se propõem (REIGOTA, 2009).

3.9 Formação profissional para trabalhar com Educação Ambiental e sua