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trabalho da professora

No documento Professoras e sindicato (1988-1998) (páginas 127-172)

A professora, como parte integrante da categoria que vive do trabalho, está exposta às vicissitudes da estrutura de organização do capital mercantilizado e sofre diante do descompasso entre capital e trabalho. A flexibilidade alcança a escola e faz com que ela amolde-se às novas necessidadês de produção fabril.

Além da flexibilização, a professora acha-se sujeita a uma jornada intensa, pois deve completar e cumprir sua carga horária, mesmo que para isto ministre duas, três ou mais disciplinas em diversas escolas.

Na escola, uma vez que as horas extras da professora não são pagas, ela busca uma recompensa econômica, trabalhando

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mais horas em duas ou três escolas, com mais de uma disciplina e, muitas vezes, nos três périodes.

No magistério público estadual a carga de trabalho efetiva-se da seguinte forma:

Quadro 5. Carga horária de trabalho do magistério público

MÍNIMO^ MAXIMO

CARGA HORÁRIA SEMANAL H. ATIVIDADE

10 horas 08 aulas 0 2 aulas 10 aulas

20 horas 16 aulas 04 aulas 20 aulas

30 horas 26 aulas 06 aulas 30 aulas

40 horas 32 aulas 08 aulas 40 aulas

Fonte: Estatuto do Magistério Estadual

Na pesquisa, realizada junto . às professoras dos municipios envolvidos, constatamos que, 35,1%, trabalham sessenta horas semanais e as horas despendidas com a preparação do conteúdo - horas atividades previstas em lei -, são insuficientes.

Embora uma professora não possa ser contratada ou nomeada por mais de quarenta horas na mesma unidade escolar, 34% delas têm contrato de 60 horas semanais. Isto implica afirmar que, para uma carga horária de quarenta horas semanais, a professora deveria ganhar o equivalente a mais vinte horas

o mínimo colocado é o que a professora obrigatoriamente tem que trabalhar, dentro do regime de sua contratação. E quando ultrapassa este mínimo, a professora ganha um incentivo salarial pela aula ministrada excedente de sua carga prevista.

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para preparo, correção e leitura, substituindo assim a

jornada intensa de sessenta horas a que está sujeita, o que envolveria a contratação de mais uma professora.

□ C h o r a s B 3 0 horas D 4 0 horas Q 5 0 horas □ 6 0 horas □ Não respondeu

34%

1 6 %

Gráfico 6. Hora de Trabalho das Professoras. Fonte: Rosa, J.B. Professoras e sindicato 1988 -1998. Dez. 2000

A precarização do trabalhador, organizada a partir da não consideração da pessoa humana, destrói o ser trabalhador na sua essência, fazendo dele uma peça de m ^ o b r a no circuito capitalista. A manipulação do trabalhador é geral, ele passa a omitir sua identidade, não tem escolha, é lom tercerizado sem retorno e com retrocesso humanitário.

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No livro: "Os sentidos do trabalho", (Antunes, 1999) assinala para a crise enfrentada nesta época de predominio da precarização.

"1) há uma crise estrutural do capital ou um efeito depressivo profundo que acentua seus traços destrutivos (...);

2) deu-se o fim da experiência pós- capitalista da URSS e dos paises do Leste Europeu, a partir do qual parcelas importantes da esquerda acentuaram ainda mais seu processo de social- democratização (...);

3) esse processo se efetivou num momento em que a própria social-democracia também vivenciava uma situação critica;

4) Expandia-se fortemente o projeto econômico, social e politico neoliberal. Tudo isso acabou por afetar fortemente o mundo do trabalho, em várias dimensões. (Antunes, 1999 p. 189).

A ruptura das possibilidades sociais e a interdição para os trabalhadores coloca-os diante de um contingente de ameaças constantes.

"No final da década de 1980, já começam os primeiros sintomas de uma crise que vai se instalar na próxima década. 0 capital respondeu a crise capitalista com um processo mundial de reestruturação produtiva, não existe nenhum pais hoje, que não tenha vivenciado a chamada reestruturação produtiva. Do Japão ao Peru, da Alemanha aos Estados Unidos, do Brasil à Argentina, a reestruturação produtiva iniciou-se nos paises centrais, ou seja, Japão, Europa e Estados Unidos, ela chega digamos assim na América

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Latina, na metade dos anos 80, e no Brasil no inicio dos anos 90. Mas isso é quando chega para valer, porque antes já havia indicios, incipientes, apontando para a reestruturação produtiva, no governo de Sarney. A relativa hegemonia do capital se chamou de projeto neoliberal. E eu entendo que o neliberalismo e a reestruturação produtiva são os braços de um mesmo corpo. 0 projeto neoliberal, defendido por economistas ultra-conservadores, defende a privatização o fim da regulação da economia, e elege o sindicalismo como inimigo número um do capitalismo, porque ele atrapalha o capitalismo.(...) 0 neoliberalismo começou no Brasil não com Sarney, mas começou efetivamente com o governo Collor. A vitória de Collor sobre Lula, foi uma vitória do projeto neoliberal contra a vitória do projeto democrático. A reestrutura produtiva no Brasil, chama-se enxugar organizacional e mutação tecnológica produtiva, mudanças tecnoprodutivas. No caso do governo FHC, em termos de projeto neoliberal, o seu governo fez em quatro anos (1994 - 1998), o que Thatcher, fez em doze anos na Inglaterra, dados de uma Revista Britânica, não são dados da esquerda. Os reflexos deste projeto para o Brasil: recessão, desemprego, tercerização, precarização, desregulamentação, politica de ' amor ao FMI, o ideário do neolilberalismo é a privatização é o que importa. (pedágio, energia, saúde, educação...), prevê um pais todo privado". (Antunes, palestra proferida em Florianópolis em 1999).

É neste cenário de lutas sociais que o sindicalismo se apresenta ora como ofensiva, (desenho da década de 1980), ora como defensiva, (desenho da década de 1990).

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Quando observamos ,o número de empregados concentrados no ABC paulista, na década de oitenta, e o teor das suas greves e reivindicações percebemos que na década seguinte a diminuição do número de trabalhadores das metalúrgicas, das montadoras, dos bancos e de outros postos de trabalho, reflete a precarização à nossa frente.

"... Enquanto os grandes conglomerados financeiros privados crescem em poderio econômico, o número de bancários no Pais caiu de aproximadamente 800 mil no final dos anos 80 para cerca de 463 mil em dezembro de 1997, segundo dados do Dieese. (...) Neste novo espaço, a grande quantidade de escriturários e caixas que ali desenvolviam suas atividades vai dando lugar a um número restrito de gerentes e assessores especializados em mercado financeiro" (Aued, 1999, p. 161).

0 desafio continua. É preciso entender a classe dos trabalhadores hoje, como sendo constituida pelo conjunto, envolvendo os precarizados e os estáveis, os públicos e os privados, os desocupados e os tercerizados e os que se encontram em um processo alternativo de sobrevivência: aqueles que vivem sob condições de trabalho desregulamentado. Portanto além da precarização (1980), a ocupação feminina deixa de ser uma especialidade de alguns setores produtivos apenas, como por exemplo o de prestação de serviços e passa a ser absorvida pelo grande capital em todos os setores. Assim

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a mulher também entra no trabalho precarizado, principalmente, porque ocupa postos de trabalho por tempo determinado:

"(...) tem-se o aumento expressivo do trabalho feminino no mundo do trabalho, tanto na indústria quanto especialmente no setor de serviços. A classe trabalhadora sempre foi tanto masculina quanto feminina. Só que a produção está se alterando muito. Na Inglaterra por exemplo, hoje o número de mulheres que trabalham é maior que o de homens que trabalham. Em vários países europeus, cerca de 40, e 50% ou mais da força de trabalho é feminina. Inclusive porque quanto mais se ampliam os trabalhos part time, mais a força de trabalho feminina preenche esse universo (...) .

E se a classe trabalhadora é tanto masculina quanto feminina, o socialismo não será uma construção só da classe trabalhadora masculina. Os sindicatos classistas também não poderão ser sindicatos só de homens-trabalhadores; a emancipação do gênero humano em relação às formas de opressão do capital, que não sabemos serem centrais, decisivas, mescla-se a outras formas e opressão. Além das formas de opressão de classe, dadas pelo sistema do capital, a opressão de gênero tem uma existência que é pré- capitalista, que permanece sob o capitalismo e que terá vida pós- capitalismo, se essa forma de opressão não for radicalmente eliminada das relações entre os seres sociais, entre os homens e as mulheres. A emancipação frente ao capital e a emancipação do gênero, são momentos constitutivos do processo de emancipação do gênero humano frente a todas as formas de opressão e

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dominação. Assim como a rebeldia dos negros contra o racismo dos brancos, a luta dos trabalhadores imigrantes contra o nacionalismo xenófobo, dos homossexuais contra discriminação sexual, entre as tantas clivagens que oprimem o ser social hoje. Eu diria que para pensar a questão da emancipação humana e da luta central contra o capital, esses elementos que estou expondo são decisivos. São, portanto, múltiplas as lutas emancipatórias" (Antunes, 1999, p. 202 - 203) .

A precarização acontece quando a máquina passa a dominar a vontade humana e a limitar os movimentos, gerando um ser repetitivo em seus gestos e limitado em sua visão, pois o seu mundo é o espaço da máquina.

Diante de tal situação, o trabalhador sente-se limitado em suas escolhas, em suas opções, pois o compromisso que esta situação de desempenho gera é absoluto, caso contrário existem outros tantos que estão dispostos a submeter-se a tal precarização.

0 inexorável disso tudo é o problema sociológico causado pelo desemprego. A sociedade passa a ser questionada na mais profunda instância de sua identidade - a negação do emprego que significa a rejeição de uma pré-disposição humana - a fonte de realização da acumulação capitalista. Esta realidade assume um sentido de degeneração causado pela abrangência de uma situação dramática, atingindo a sociedade- em sua

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capilaridade, sem que escape um quantum sequer desta mórbida realidade.

Se de um lado, a realidade econômica é bastante negativa, causando o estranhamento das próprias relações sociais, de outro, esta precarização alarga a capacidade de suportar o aniquilamento social.

0 grau de tolerância verifica-se quando são construidas formas alternativas de sobrevivência, baseadas na solidariedade, que saem da orla econômica lucrativa e entram na perspectiva de um projeto societal incluidor, orientado por configurações humanizadas.

A ofensiva é expandir os mercados produtores com a presença de trabalhadores precarizados, sem qualquer forma de organização, direitos e garantias sociais.

"Entendo que, neste último fenômeno, incidam mudanças culturais significativas

a 'dessindicalização' a que hoje assistimos não responde apenas a um processo estritamente econômico. 0 afluxo, ao mercado de trabalho, de um novo tipo de trabalhador condiciona ou subtancialmente a perda de força e vigor do movimento sindical tradicional. Tais mudanças culturais têm muito a ver com mudanças relevantes na estrutura de classe dos paises euro-ocidentais e mesmo dos Estados Unidos da América. Quero somente sinalizar, aqui, que desde os anos sessenta (recorde-se o emblema parisiense de maio de 68 e suas outras

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expressões, seja no movimento operário italiano, seja nos campi universitários americanos) ocorrem mudanças ponderáveis no perfil das camadas trabalhadoras do capitalismo avançado, que repercutiram efetivamente na estrutura de classe"

(Sader & Gentili, 1995, p. 30).

Em üma sociedade sem paradigmas circunscritos, a barbárie toma conta, invade corpos e pensamentos humanos, tornando o estranho natural, os seres coisas e a sociedade um aglomerado fadado a morrer no campo da disputa por algo que deveria ser a superação da espécie humana - a luta pelas necessidades básicas.

"Não é por acaso que a emersão e a vigência da ofensiva neoliberal coincidem com aquilo que muitos de nós julgávamos superado na cultura ocidental. Para dizer de forma sintética: a ofensiva neoliberal tem sido, no plano social, simétrica á barbarização da vida societária. Penso que há um limite, pelos padrões civilizacionais já alcançados, para a instauração dessa barbárie na vida cotidiana de grandes massas

(especialmente grandes agregados urbanos) .(...).

Há algum tempo, não muito, quando participava de debates como o que travamos aqui, assalta-me a sensação de que estava a ler ao contrário a abertura do Manifesto do Partido Comunista - ou seja, eu tinha a impressão de que o fantasma que batia á porta era o capitalismo. Quase no meio da década de noventa, parece que não se trata mais de fantasma; o capitalismo, revigorado pelo neoliberalismo, dá a impressão de estar

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mais vivo do que nunca. Nem por isso, porém, eu penso que a partida esteja encerrada. Recuso-me a crer _ e atenção: não por um ato de fé ou por principismo, mas pela convicção teórica e prática, fundada no que sabemos acerca da história dos homens -, recuso-me a crer que este quadro de aparente 'fim da história' dessa hegemonia neoliberal seja algo definitivamente duradouro. Estou convencido - teórica e praticamente - de que há tendências objetivas que põem em xeque a possibilidade de um grande futuro para o neoliberalismo" (Sader & Gentili, 1995, p. 32 - 33) .

Diante do quadro de reciclagem constante do capitalismo para continuar marginalizando milhões de pessoas, substanciados pelos teóricos do próprio capital, intelectuais responsáveis para ' (re)orientar o caminho da exploração, usam mecanismos condizentes com os novos desafios para continuar a delimitar os desejos, sonhos e aspirações humanas baseadas no consumismo e na futilidade.

Da parte da classe trabalhadora é importante que os intelectuais orgânicos^^ possam restabelecer a perspectiva de vida naqueles que são as vanguardas do sistema produtivo. É preciso que os trabalhadores possam acreditar na

No sentido gramsciano, aqueles que se valem de seus conhecimentos para forçar a elevação da cultura das massas, auxiliando no sentido de sair do mundo desumano da exploração. Os trabalhadores podendo contar com pessoas identificadas com os anseios da classe trabalhadora, abrindo possibilidades de viver uma nova prá x i s .

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subpolitica^®, desenvolvendo formas alternativas das propostas pelo mundo do consumismo, pelas leis da vantagem absoluta e pelas regras dos mais fortes.

Termo utilizado por Beker, no sentido dos individuos voltarem-se para a sociedade novamente, fazendo jus aos direitos de sociabilidade humana.

CONSIDERAÇÕES FIN A IS

0 período de finalizações^^ (do milênio, do século, da década) apresenta dois aspectos: do ponto de vista cronológico: tudo continua exatamente igual; do ponto de vista relacional: o "fim" é só o começo.

A invenção das finalizações ocorre mais para desmotivar as formas alternativas de organização, do que para ressignificar o caminhos das lutas sociais - lutas do sindicalismo, do movimento de bairro, dos sem teto, dos sem terra, da saúde, da educação e de tantas outras formas de organizações existentes.

"Atualmente, nas ciências sociais, assim como no próprio mundo social, estamos diante de uma nova agenda. Vivemos, como todos sabem, em uma época de finalizações. Antes de tudo, há o final não somente de um século, mas de um milênio: algo que não tem conteúdo, e que é totalmente arbitrário - uma data em um calendário -, tem tal poder de reificação que nos mantém escravizados. O fin de siècle tornou-se amplamente identificado com sentimentos de desorientação e mal-estar, a tal ponto que se pode conjeturar se toda essa conversa de finalizações, como o fim da modernidade - ou o fim da história - simplesmente reflete esses sentimentos. Sem dúvida, de certa maneira isso é verdade. Mas é claro que não é tudo. Estamos em um período de evidente transição - e o 'nós' aqui não se refere apenas ao Ocidente, mas ao mundo como um todo"(Giddens, 1997, p. 73) .

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Há assim um novo desafio a ser enfrentado, do mesmo modo que no passado tantos outros se apresentaram. Neste jogo, precisa ser liberada uma nova carta e não a "última cartada", pois, quando um termina o outro começa, o campeonato continua. Desta forma acaba ocorrendo uma forte precarização^®, em função das regras determinadas pelos que estão à frente do jogo, que favorecem muito mais os capitalistas do que os trabalhadores.

A exemplo desse campeonato nacional, no plano mundial, existem as mesmas disputas, em alguns momentos há indicios de possibilidades concretas, em outros há aparência de jogo perdido; o resultado é a continuidade da disputa até que outra modalidade se estabeleça.

"Estamos no início de uma nova era, caracterizada por grandes inseguranças, crise permanente e ausência de qualquer tipo de status quo [...] Devemos compreender que nos encontramos numa daquelas crises da história mundial que Jakob Burckhardt descreveu. Não é menos significativa que a de depois de 1945, embora as condições iniciais para superá- la pareçam melhores hoje. Não há potências vitoriosas nem derrotadas hoje, nem mesmo na Europa Oriental(...).

o termo precarização/precarizado é extraido da lógica utilizada por Antunes, no sentido de significar uma classe trabalhadora fragmentada, heterogeneizada, complexificada, qualificação de alguns ramos e desqualificação de outros. Trabalhador polivalente e multifuncional.

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0 breve século XX acabou em problemas para os quais ninguém tinha, nem dizia ter, soluções. Enquanto tateavam o caminho para o terceiro milênio em meio ao nevoeiro global que os cercava, os cidadãos do fin-de-siècle só sabiam ao certo que acabara uma era da história. E muito pouco mais" (Hobsbawm, 1995, p. 537) .

A realidade em termos nacionais e internacionais, no finai' do século e do milênio, aponta para a diminuição dos postos de trabalho e o aumento do desemprego. Vivemos assim numa sociedade marcada profundamente por uma espécie de epidemia generalizada que invade e corrói o tecido social.

A precarização do trabalho deixa marcas indeléveis. Por conta disso há ausência da sociabilidade e as famílias são invadidas na essência de suas vidas pela doença "do não ter", alterando a motivação para o existir humano.

Os estilhaços do neoliberalismo^® atingem a maior parcela da sociedade, protegendo uns poucos, e marcando a maioria

"Nestes dias do Congresso fala-se constantemente em globalização e na sua importância e repercussão inevitável na educação escolar. Assinalou- se que a globalização é, principalmente, econômica, ou seja, que as relações econômicas tornaram-se determinantes na cultura atual, na exata proporção em que a produção e o consumo de bens, materiais ou não, superam os limites da circulação regional e nacional, e se instalaram num plano supra ou transnacional. Tal mundialidade mostra-se mais forte e evidente quando se fala de um capitalismo financeiro (mais de 90%, no dizer de economistas, do capital vem sendo aplicado na especulação, e não na produção e no consumo, (...) hoje 358 pessoas dispõe, de mais bens do que 45% da humanidade, ou seja do que mais de dois bilhões e trezentos mil seres humanos, ou que apenas cerca de duzentas empresas administram hoje mais de 30% da produção de bens mundiais. Enquanto isso, reconhece- se que o desemprego e a diminuição dos salários e dos direitos dos trabalhadores, mantida a lógica vigente, serão inevitavelmente cada vez maiores. (...) A ideologia neoliberal insiste em que não há alternativa.

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pelos sinais negativos, hematomas que penetram o núcleo do ser humano, provocando conseqüências que só a história poderá

(re)dimensionar.

"Provavelmente nenhuma sabedoria convencional conseguiu um predominio tão abrangente desde o inicio do século como o neoliberal hoje. Este fenômeno chama-se hegemonia, ainda que, naturalmente, milhões de pessoas não acreditem êm suas receitas e resistam a seus regimes. A tarefa de seus opositores é a de oferecer .outras receitas e preparar outros regimes. Apenas não há como prever quando ou onde vão surgir. Historicamente, o momento de virada de uma onda é uma surpresa" (Sader & Gentili, 1995, p. 23) .

0 descompasso provocado pelo sistema excludente é visivel tanto no setor econômico como no social, com reflexos em todas as demais áreas da vida social. 0 econômico é atingido pelo ângulo da concentração da riqueza, desse ponto vista tal situação contempla uma pequena parcela de privilegiados, uma ilha de grandes consumidores, cujo futuro deve ser ameaçado por uma enchente de despossuidos, lavando toda a ilha com a água produzida na fonte da miséria. A propagação das ondas neoliberais ao encontrar a margem do lago capitalista será o inicio do fim.

pois há uma natureza humana que não o permite" (Assmann, s/d m i m e o ) . Ver a esse respeito a Agenda 21.

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É no refluxo destas ondas que deverá ser contemplado um processo diferente deste que vem sendo observado ao longo dos anos de exclusão social, exclusão da possibilidade do ser humano garantir o seu mais significativo direito - o da vida através de seu trabalho.

Socialmente, este sistema cada vez mais produz desigualdade, produz uma sociedade faminta e seres sem a menor chance de consumir as inventivas produzidas pelo outro pólo do sistema. Rabiscando assim uma história manchada pela destruição da vida humana, da natureza e das possibilidades alternativas de sonhos diferentes dos colocados pela hegemonia dominante.

A problemática advinda desses dois pólos, o econômico e o social, contamina todos os demais segmentos sociais, como a cultura, a educação, a política, a habitação e a saúde. Isso porque é uma corrente onde os elos que se cruzam, acabam reforçando ou enfraquecendo o outro, gerando uma sociedade estruturada ou esfacelada.

Amiúde esta realidade negativa é retro-alimentada pela desativação de postos de trabalho, pela eliminação de profissões, pela descaracterização do poder das organizações

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