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O TRABALHO DE CAMPO NO PRESÍDIO MILITAR DA PMCE

Direção Tenente Izáias

O TRABALHO DE CAMPO NO PRESÍDIO MILITAR DA PMCE

4.1 – A entrada em campo: fazendo contatos e construindo redes de confiança

A pesquisa de campo é uma via de duas mãos, de fluxo contínuo em que pesquisador e pesquisado se beneficiam mutuamente, uma vez que nos tornamos valiosos para eles (sujeitos da pesquisa) e, em muitos casos, amigos que partilham as mais variadas questões, tornando visível a produção de autoconfiança. É preciso haver, na pesquisa antropológica, o gerenciamento de benefícios materiais e simbólicos tanto para o pesquisador quanto para o interlocutor da pesquisa como forma de produção de conhecimento, cuja veracidade se assenta nesse fluxo permanente de informações entre os elementos constituintes dessa empreitada científica. O fato é que a pesquisa em Ciências Sociais é produzida a partir de contatos diretos e, em muitos casos, íntimos, que podem modificar a vida daqueles que participam deles e, nesse sentido, cabe ao pesquisador um suporte ético capaz de amenizar as perturbações causadas pela pesquisa (GEERTZ, 2001).

Tomo esse enunciado acima como marco etnográfico de minhas visitas ao presídio da Polícia Militar do Estado do Ceará. Em minha primeira visita, tive a oportunidade de realizar uma entrevista de aproximadamente duas horas com Pedro (sargento/reformado). A atitude solícita expressada pelo entrevistado me rendeu muitos momentos de conversas que se aglutinaram em torno das práticas ilegais da atividade policial e acerca do funcionamento daquela instituição prisional onde nos encontrávamos. Isso me fisgou a atenção, uma vez que tudo aquilo para mim se apresentava como novidade e criou um certo grau de estranhamento que me possibilitou uma rápida leitura reflexiva daquela situação de pesquisa, visto que a observação etnográfica é responsável por uma produção intensa de vigilância epistêmica que assegura a consumação de um relativismo metodológico durante o trabalho de campo, melhor dizendo, ―uma vez que tenhamos alguma compreensão sociológica da relação

entre pesquisadores e sujeitos potenciais de estudo, talvez possamos elaborar métodos analiticamente apropriados de ganhar acesso aos grupos em estudo‖ (BECKER, 1997, p 37).

Assim, em sua cela68, diferenciada das restantes pelo tamanho e localização, sentado em uma das quatro cadeiras de plásticos que rodeavam a mesa (também de plástico), Pedro explicou-me como sua vida policial se vinculou ao mundo do crime. Falou-me também da vida prisional, composta por dois momentos: um ainda ligado ao mundo do crime e o outro relacionado à conversão religiosa e o consequente trabalho religioso que realiza naquele local69. Tomando a primeira visita como marco da construção de uma rede relacional entre pesquisador e interlocutor da pesquisa, abriu-se para mim a oportunidade de continuar as visitas a Pedro e, por conseguinte, realizar algumas entrevistas com outros policiais que se enquadravam no perfil procurado. Desse modo, ao finalizar a entrevista, mas ainda naquele momento em que jorra simpatia de ambas as partes e no calor da tessitura do diálogo, consegui ressaltar a necessidade de retornar em outros dias de visitas a fim de conhecer melhor o próprio entrevistado, os outros presos e a dinâmica daquele ambiente prisional militar. Assim, foi me dado por Pedro um aval, feito em forma de convite, para continuar minha pesquisa com ele e com os outros presos.

Os horizontes de possibilidades lançados pela permissão concedida por Pedro, que se tornaria o interlocutor principal de minha pesquisa, foram fundamentais para atingir o objetivo básico prescrito no trabalho de campo, que de acordo com Guber (2004, p. 85) é:

Congruente con el doble propósito de la investigación y consiste en recabar información y material empírico que permita especificar problemáticas teóricas (lo general en su singularidad), reconstruir la organización y la lógica propias de los grupos sociales (la perspectiva del actor como expresión de la diversidad); reformular el propio modelo teórico, a partir de la lógica reconstruida de lo social (categorías teóricas en relación con categorías sociales o folk)

68 Realizei no anterior uma descrição arquitetônica do presídio e de suas celas prisionais. 69

Dedico o capítulo seguinte à análise da história de vida de Pedro: sua trajetória policial no mundo do crime e a vida prisional e os trabalhos religiosos no presídio.

Esse primeiro contato com Pedro assegurou-me, por certo, aquilo que Cicourel (1990, p. 89) coloca como a importância de ser fazer bons contatos iniciais. Não basta realizar ótimos contatos em campo, é preciso assegurar que eles exerçam poder em seus ambientes, seja na forma de capital social ou político, uma vez que ―estas pessoas podem ser homens com status na hierarquia de poder ou pessoas em posições informais que impõem respeito‖. É verdade que não tinha conhecimento do papel de destaque de Pedro na teia de sociabilidade constituída no cotidiano daquela instituição, mas depreendia que aquele personagem, possivelmente, seria um interlocutor-chave para minha pesquisa, devido ao fato de que seu histórico o credenciava para isso70.

A necessidade de consumir o lugar, expressão que ganha destaque na antropologia atual, serve de porta de entrada para a construção de estratégias etnográficas focalizadas na cumplicidade entre observador e observado. No primeiro momento, me tornei um consumidor assíduo daquele ambiente prisional. O desejo de ―estar lá‖, para utilizar uma expressão de Geertz (2001), em campo, conversando com os presos-policiais e simultaneamente apreendendo a dinâmica daquele contexto, veio- me como responsabilidade primeira de meu trabalho como pesquisador. Assim, constituí um eu-etnógrafo que se colocava em cena como uma figura respaldada pelo lugar exterior, capaz de manter um grau de distanciamento plausível para consolidar a empreitada científica assumida por mim. Suscitam-me, nesse momento, as contribuições de Clifford (2008, p. 41) sobre a compreensão que devemos incorporar sobre os trabalhos de vertentes etnográficas:

Torna-se necessário conceber a etnografia não como a experiência e a interpretação de uma ‗outra‘ realidade circunscrita, mas sim como uma negociação construtiva envolvendo pelo menos dois – e muitas vezes mais – sujeitos conscientes e politicamente significativos.

Em face dessa prerrogativa de tomar a etnografia como uma relação balizada pela lógica da negociação, adotei um ―eu pesquisador‖ conveniente com a

70 Pedro tornara-se um preso conhecido dentro da instituição pelo seu carisma, sua disponibilidade em

atender às demandas advindas do ―mundo lá fora‖, como me informou em um dos vários momentos que conversamos sobre sua relação com os outros presos e com pessoas que solicitavam um encontro com ele por intermédio das associações de policiais militares ou membros de alguma igreja evangélica. Outro ponto que merece destaque no quesito de escolha de Pedro como meu interlocutor principal é sua história criminal dentro e fora da polícia, que disponibilizo no próximo capítulo.

situação de pesquisa: sempre solícito às demandas enunciadas pelos presos71, ouvia-as e orientava sobre algumas tomadas de decisões, outras, simplesmente, salientava que não estava ao meu alcance, mas que de alguma forma traria alguma resposta na visita seguinte. A partir dessa relação, constituí um olhar etnográfico com o objetivo de ampliar o funcionamento de minhas faculdades mentais, uma vez que:

Trata-se de uma visibilidade não apenas óptica, mas também tátil, olfativa, auditiva e gustativa que nos conduz a deixar de opor o ‗diante‘ e o ‗atrás‘, o ‗fora‘ e o ‗dentro‘, para compreender a natureza dos laços que ligam um ‗diante‘ que nós incorporamos e um ‗atrás‘ a partir do qual se efetua a atividade sensitiva assim como a intelectual (LAPLANTINE, 2004, p. 20).

É preciso ressaltar que, a partir de minha inserção em campo, todos os presos e os policiais da portaria tinham ciência de minha condição de pesquisador da Universidade Federal do Ceará. Isso posto, tornei-me conhecido e respaldado pelas credenciais da Universidade, fato que me deu mais abertura para conversar com alguns presos com o imprescindível intermédio de Pedro. Por outro lado, esse distintivo que me identificou como pesquisador da UFC, quiçá, me fechou algumas portas, visto que alguns daqueles presos me olhavam de soslaio, fingindo ignorar minha presença naquele ambiente. É preciso, de fato, se deixar ser conhecido para que suas explicações encontrem um lugar de aceitação dentro das tramas relacionais dos sujeitos da pesquisa, isto é, ―uma vez que seja conhecido, e uma vez que se saiba a seu respeito em sua condição anterior, surgem poucas dúvidas quanto à sua confiabilidade. Provavelmente é prudente revelar seus propósitos de pesquisa, porque suas perguntas provavelmente exigirão alguma explicação‖ (BECKER, 1997, p. 155).

Minhas relações com Pedro estavam se consolidando progressivamente. No segundo encontro, tive a oportunidade de entabular uma longa conversa com ele, centralizada especialmente nos assuntos relacionados à condição familiar e às perspectivas para o futuro ―pós-cadeia‖. Disponibilizo uma sinopse desta conversa como forma de exemplificar a constituição de minha relação de proximidade e intimidade com meu interlocutor:

71

Em alguns momentos, fui consultado sobre questões judiciais além de ser dar orientações sobrea escrita de história de vida de dois presos.

Na entrada me identifiquei e disse aos policiais de plantão que tinha uma visita com o cabo José e que meu nome constava na lista de visita de Pedro. Como os procedimentos foram realizados, me direcionei à cela de Pedro com o objetivo de que ele me levasse ao encontro de José para a realização da entrevista. Pedro, muito amigável, me conduziu ao quarto do cabo, que ainda estava em processo de higienização corporal e se preparando para o café da manhã, que foi feito às pressas. Nesse ínterim, fiquei esperando-o, juntamente com Pedro, em um banco em frente à cela de José, conversando sobre política, drogas e outros assuntos que surgiam. Nessa conversa, ele expôs seus desejos de criar uma clínica para recuperação de drogados e que, para isso, estava negociando uma fazenda no município de Irauçuba com um colega empresário, para o qual fez segurança privada no passado. Segundo Pedro, o empresário era seu amigo e iria ceder a fazenda para ele montar sua clínica de recuperação de drogados. A espera durou aproximadamente dez minutos que foram importantes para mim, devido ao fato de ter dialogado mais com Pedro, que me apresentou bastantes elementos etnográficos para os primeiros momentos da pesquisa. (diário de campo de 18 de julho de 2012).

A cada discurso enunciado por Pedro, adotei uma postura relacional na qual me permitia assegurar uma condição momentânea de proximidade e distanciamento, pois sempre tentava mediar sua fala de modo a parecer concordar com ele (pois a concordância fingida tornou-se o meio mais curto de esquivar-se de discussões, das quais nada poderia servir para minha pesquisa) e não ir de encontro a seu discurso. Esse movimento, uma espécie de mecanismo cognitivo que é acionado por alguns pesquisadores, facilitou e me permitiu construir táticas de entabular longas conversas com Pedro, uma vez que ele geralmente direcionava suas falas para expressar suas questões religiosas que, geralmente, tangenciavam assuntos referentes à família, à polícia militar e à convivência prisional e ao mundo do crime. Resgato as afirmativas de Guber (2004, p. 130) sobre como se opera a transformação de um indivíduo em um informante, como título de ilustração: ―un individuo se transforma en informante al entrar en relación con el investigador. Esta relación es social y se concreta en situaciones específicas; por eso, el informante suministra información condicionada por su experiencia histórica, por la posición social que ocupa y por la situación de encuentro con el investigador‖.

Os espaços fronteiriços que me obrigavam a manter uma relação distanciada foram superados, porque transferi um grau de confiabilidade construído a partir da maneira como iniciei minha relação com Pedro: relatei os objetivos iniciais de

minha pesquisa naquela instituição, constituí um canal simétrico de diálogo e procurei, por via das dúvidas, sempre me portar como uma pessoa simples e humilde nas relações e conversas com ele e com os outros presos72, visto que ―el investigador no puede eludir su propio bagaje, sino modificarlo progresivamente en su relación reflexiva con el campo y los informantes‖ (GUBER, 2004, p. 132). Na verdade, procurei as vias informais de contatos, uma vez que ―o uso de canais não-formais tem a vantagem óbvia de permitir explorar-se áreas as quais altas autoridades poderiam colocar restrições" (CICOUREL, 1990, p. 104).

Ao fim do segundo encontro, parecia-me que conseguira solidificar uma parceria, uma intermediação central para minhas futuras entrevistas. Como contrapartida, uma vez que a pesquisa etnográfica se configura a partir de atos relacionais fortemente balizados pela lógica da dádiva (cf. MAUSS, 2005), Pedro solicitou-me o empréstimo de alguns livros para complementar sua leitura sobre Filosofia e Sociologia que iniciara e viu em mim uma possibilidade de tomar de empréstimo meus livros73. Assim, como corolário, atingi um patamar elevado de empatia para garantir novas investidas etnográficas sobre aquele contexto e seus indivíduos.

4.2 – Na cela construindo amizade: de um entrevistador a um visitador

Foi em uma espécie de sala improvisada da cela de Pedro, em uma mesa de plástico que dei início a um processo de interação social que me oportunizou solidificar laços de solidariedade que beiraram as relações de amizade. Essa forma de me socializar com Pedro em seu quarto prisional torna-se um ponto modal para a compreensão de como funciona as engrenagens das sociabilidades naquele ambiente. Tendo em vista

72 A simetria na pesquisa de campo é um elemento fundamental para a construção de vias e artérias que

possibilitem um fluxo contínuo de informações. O saber escutar o outro, a preocupação e a atenção dada aos sujeitos da pesquisa são proposições centrais nos estudos orientados por metodologias multifocalizadas.

73 A relação orientada pela lógica da dádiva assegurou-me a consolidação de vínculos forte com Pedro.

Esse acordo tácito de empréstimo de livros estreitou os laços que construía com meu interlocutor, uma vez que perdurou um ano essa relação gestada pelo princípio da reciprocidade, quando presenteie-o com quatro livros que estavam em suas mãos desde o início dos empréstimos.

isso, é preciso ressaltar como decorreu minha relação de proximidade com Pedro. Como relatei anteriormente, em seguida à primeira visita, Pedro se prontificou a convidar outros presos para que eu realizasse entrevistas com eles. Nas primeiras visitas, geralmente, tinha que ligar com antecedência de dois dias para que ele colocasse meu nome na sua lista de visitas para ter acesso às dependências do presídio. Um fato notório que me aconteceu deu-se na terceira visita, após ter me comunicado com ele para que meu nome figurasse na referida lista. Assim, me desloquei para aquela instituição prisional a fim de realizar mais uma entrevista com um preso-policial que Pedro tinha conseguido convencê-lo a participar de minha pesquisa. No entanto, ao chegar à portaria do presídio, fui informado pelos policiais que estavam de plantão naquela manhã que meu nome não constava na lista de visitantes de Pedro. Solicitei aos policiais que verificassem se meu nome não poderia estar na lista do preso que realizaria a entrevista e recebi novamente mais uma negativa. Após esse momento, um dos policiais pediu para eu averiguar se Pedro não se encontrava em sua cela. Dirigi-me ao local (fica próximo à portaria) e constatei a ausência de meu intermediador e, dessa maneira, tive que esperar aproximadamente meia hora pela sua presença junto àquela portaria. Nesse ínterim, o preso que me concederia a entrevista passou pela portaria e se direcionou até onde eu estava a fim de me informar que ocorreu uma falha de comunicação referente à responsabilidade de colocar meu nome na lista de visita. Essa displicência foi motivada por alguns problemas de ordem pessoal que o fizera esquecer essa competência dada a ele por Pedro, que o tinha pedido para colocar meu nome em sua lista de visitantes. Isso estabelecido, ele me pediu desculpas por aquelas circunstâncias e que se prontificava a colocar meu nome na lista para a próxima visita, que aconteceria no domingo. Ao mesmo tempo em que conversava com aquele preso, que me fora apresentado por Pedro no primeiro dia de minha incursão ao presídio, refletia sobre como iria aprofundar minhas relações com os presos daquele local e como poderia construir mecanismos que me auxiliassem na consolidação de vínculos de confiança com eles e com Pedro. Sobre a relação entre pesquisador e interlocutores da pesquisa, Guber (2004, p. 132) salienta que:

La relación entre investigador e informantes no es una simple herramienta que permite acceder a información (como se supone desde la afirmación de que la presencia directa garantiza una información más veraz y genuina), sino que es la instancia misma del

conocimiento. En el marco de una concepción reflexiva del trabajo de campo, el proceso de selección de los informantes y el mantenimiento de la relación con ellos no sólo son medios de obtención de material empírico, sino también una parte fundamental del momento de la producción de datos.

No desenrolar do evento, ao fim de meia hora, Pedro apareceu, tomando ciência da situação, e numa conversa afastada dos policiais que se encontravam na portaria, me orientou a ir ao segundo andar do prédio pedir uma autorização ao oficial (cuja patente era de tenente) responsável administrativamente pelo presídio. Obstinado pela sensação de experimentar aquela dinâmica que me aparecia, conduzi-me à repartição onde ficava a direção prisional, a fim de interpelar o diretor se havia possibilidade de realizar aquela visita, uma vez que meu nome não constava na lista de visitantes. Ouvi do referido diretor um parecer negativo em relação à minha entrada no presídio, devido ao fato de que alguns presos ultrapassavam o número máximo de visitantes (oficialmente é permitida a visita de cinco pessoas por dia de visitação) e constantemente quebravam as normas legais vigentes daquela instituição. Ao conversar com o tenente e observar que minha presença naquela sala estava se configurando como uma ―afronta dos presos‖ para com sua autoridade policial, em razão do fato de que sua postura gestual e o modo como se direcionou a mim denotou certa inquietação, refleti que naquele momento, possivelmente, poderia ter feito algo que traria consequências negativas para meu trabalho de campo naquela instituição. Essa situação me levou a refletir sobre as limitações postas e as capacidades disponíveis nos trabalhos de campo socioantropológicos, especialmente aquele que começara a realizar. Sobre essa importante reflexão, Guber (2001, p.100) frisa que ―la capacidad inconmensurable de la herramienta/investigador reside en la conciencia de sus propias limitaciones, pues su poder de adecuación no es universal a todos los requerimientos‖.

Ao retornar daquele evento, que produzira em mim sentimentos de frustação, fui recebido por Pedro, que justificou a atitude ―negativa‖ do diretor, ressaltando precisamente o fato de que ultimamente estava ocorrendo o aumento significativo de práticas ilegais dentro do presídio. Nas palavras de Pedro: ―irmão, o pessoal lá de cima não deixou tu entrar porque os meninos estão vacilando aqui dentro, fica tudo aí com celular dando bobeira, uns fica usando drogas ilícitas e outros álcool e trazendo as amantes pra cá e isso chega na boca do diretor‖ (sic) (anotações de campo).

Assim, ao fim da conversa, concluía que aquela visita fora malograda graças às imprevisibilidades das forças que dinamizam as relações sociais. Ilustro esse momento com mais detalhes a partir do diário de campo de primeiro de agosto de 2012:

Cheguei ao presídio militar na quarta-feira, dia marcado para a conversa. Dois dias antes, Pedro havia me ligado para ratificar a visita, assim como lembrar-me dos livros que ele desejava ler. Então, no dia e horário das visitas aos preso-policiais, dirigi-me àquelas dependências a fim de realizar duas atividades importantes para minha pesquisa: o empréstimo dos livros para o sargento e a entrevista com o soldado Francisco. Todavia, para minha surpresa, ao me apresentar para os policiais responsáveis pela segurança dos preso-policiais, constatei que me nome não estava inserido na lista de visita. Nesse momento, um dos quatro policiais permitiu que eu me deslocasse até a