• Nenhum resultado encontrado

O trabalho da enfermeira: considerando as unidades de produção de serviços do hospital com maior especificidade.

2.2 O TRABALHO DA ENFERMEIRA

2.2.1 O trabalho da enfermeira: considerando as unidades de produção de serviços do hospital com maior especificidade.

O hospital é uma organização que se caracteriza pela sua complexidade, dentre outras razões por reunir diversas unidades de produção de serviços. Muitos destes serviços destacam-se por apresentar características peculiares no que tange ao elevado grau de especialização, destinada à prestação da assistência a pacientes críticos, com elevado potencial para a desestabilização clínica.

A unidade de terapia intensiva (UTI) é um dos setores mais especializados dentro de uma organização hospitalar e destina-se à prestação de assistência de alta complexidade. Dotada de recursos tecnológicos variados tem por objetivo proporcionar, em maior escala, condições de sobrevida aos clientes/pacientes que por alguma razão exijam vigilância mais apurada ou apresentem-se em estado crítico, ou seja, com risco de morte.

O trabalho da enfermeira se insere nesta unidade, com o objetivo de atender às demandas específicas do setor e que não se relacionam apenas aos processos de gerenciamento da unidade. Uma peculiaridade da UTI, por tratar-se de um setor altamente especializado, é a exigência da participação direta da enfermeira nos procedimentos assistenciais mais complexos.

Além de exercer com maior freqüência as atividades de supervisão e capacitação dos profissionais da equipe de enfermagem, a enfermeira precisa estar capacitada para o manuseio dos inúmeros equipamentos, assim como para a interpretação dos dados produzidos por estes equipamentos, considerando-se que este é o espaço hospitalar que mais demanda a utilização da tecnologia dura.

Dessa forma ressalte-se o que diz Barreto (2009, p. 30):

[...] o enfermeiro intensivista plantonista tem como objetivo central, o cuidado direto ao cliente crítico, necessitando, para tanto, de um suporte administrativo. Entendendo que deve haver uma estrutura para que o profissional consiga exercer as atividades-fim, relacionadas ao cuidado direto. É necessário, portanto, um enfermeiro diarista, que tenha como objetivo as atividades-meio, relacionadas ao cuidado indireto, referente à organização, estrutura da unidade, previsão e provisão de materiais permanentes e de consumo. Assim, o enfermeiro plantonista poderá distribuir em suas 12 horas de trabalho, a avaliação das necessidades para prestar um cuidado de qualidade.

Outro serviço altamente especializado é a Central de Material e Esterilização (CME), vale ressaltar que se trata de uma unidade de elevado grau de complexidade, no que concerne à necessidade de domínio dos complexos e inalteráveis fluxos que orientam o seu funcionamento. Também se destacam as especificidades relativas aos equipamentos, materiais, substâncias químicas e diferenciadas técnicas utilizadas com o objetivo de dar conta das diversas etapas que, em cadeia, vão compondo os processos inerentes ao setor e que exigem uma gama significativa de conhecimentos e saberes especializados.

Saliente-se que a CME e as unidades produtoras de serviços estabelecem uma relação de interdependência, conforme Aguiar e Silva (2008, p. 378), e que a qualidade da assistência prestada nesses setores tem relação direta com os produtos fornecidos pela CME, sem os quais não seria possível garantir os cuidados adequados à clientela.

Com este objetivo o trabalho desempenhado pela enfermeira dentro da CME compõe- se de atividades que se relacionam ao planejamento da unidade e que abrangem a seleção dos recursos materiais e profissionais e, ainda, as atividades de educação em serviço. Estas atribuições têm como finalidades, respectivamente, qualificar o produto do trabalho e as trabalhadoras de saúde envolvidas nas atividades inerentes ao setor.

A enfermeira articula e se responsabiliza pelas ações de coordenação, orientação e supervisão, em todas as etapas do reprocessamento dos produtos, e pelas atividades de interface. Dessa forma ela se relaciona tanto com as unidades consumidoras, como com os fornecedores internos e externos dos materiais necessários à produção, participando dos

processos de avaliação, escolha e aquisição de produtos e insumos, e com os prestadores de serviços que realizam a manutenção e aferição dos equipamentos do setor.

Para Bartolomei e Lacerda (2006, p. 416) a prática tradicional e dominante da enfermeira volta-se tanto para o cuidado do ambiente, ou seja, cuidado indireto, quanto do paciente, compreendido como cuidado direto. Nesse sentido o trabalho na CME se situaria na primeira situação sendo, portanto, caracteristicamente, cuidado indireto, pois, não ocorre no espaço intercessor trabalhador/usuário, o espaço da tecnologia leve e de característica transformadora.

No tocante ao trabalho da enfermeira no centro cirúrgico a Associação Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico (SOBECC), enfatiza que “[...] o enfermeiro é o profissional habilitado para gerenciar as necessidades que envolvem o ato anestésico-cirúrgico em todas as suas etapas” (SOBECC, 2009, p. 123).

Destaque-se que o posicionamento da SOBECC ao reconhecer que deve existir distinção entre a enfermeira assistencial e a enfermeira coordenadora do setor é absolutamente pertinente. Gomes (2009) reafirma esta compreensão reforçando que a composição do trabalho de cada uma destas profissionais no exercício cotidiano de suas funções no centro cirúrgico deverá ser feita a partir desta diferenciação.

[...] a enfermeira assistencial seja especialista na área de conhecimento dada suas múltiplas responsabilidades. Realizar plano de cuidados de enfermagem, supervisionar a assistência cirúrgica e as ações da equipe de enfermagem, conferir os materiais necessários ao procedimento cirúrgico, orientar na montagem e desmontagem da sala cirúrgica, recepcionar e acompanhar o paciente até a sala, realizar sua inspeção física, posicionar o paciente, colaborar com o ato anestésico, certificar-se do correto posicionamento dos equipamentos médicos, checar resultados de exames transoperatórios, registrar evoluções e cuidados de enfermagem em impresso próprio, realizar curativos, encaminhar o paciente à sala de recuperação pós-anestésica, compõem em sua maioria, as atividades sob a responsabilidade do enfermeiro assistencial (SOBECC, 2009, p.125-126).

Desta forma para atuar na assistência direta no centro cirúrgico a enfermeira deverá especializar-se em sua área de conhecimento e a enfermeira coordenadora nas “atividades técnico-administrativas, atividades assistenciais e atividades de administração de pessoal” (SOBECC, 2009, p.123) objetivando o gerenciamento da unidade.

Esta recomendação reforça a idéia de que atividades assistenciais diretas e atividades gerenciais devem ser realizadas por profissionais distintas e salienta a necessidade da especialização como forma de qualificar a prática profissional.

3 METODOLOGIA

Este capítulo apresentará o tipo do estudo, suas participantes, procedimentos da pesquisa, planos de análise e princípios éticos da pesquisa.