Trabalho e Estudo

O quadrante de trabalhos e/ou estudos totalizaram 39 membros de todos os mapas, sendo 28 relações atribuídas enquanto significativas, quatro fragilizadas e sete rompidas. Dois participantes não inseriram pessoas neste quadrante - Sam e Potter. Dentre os membros referidos neste quadrante estão os amigos do trabalho,

chefe, amigos da escola ou da faculdade/curso técnico, professores e colegas do teatro.

Destaca-se que sete dos participantes concluíram o ensino médio (Lipe, Duda, Dakota, Sam, Potter, Chanel e Paulo Gustavo); dois não concluíram o ensino médio e não estão estudando atualmente (Afrodite e Normal); um está cursando o ensino fundamental (Deturpado) e dois estão cursando o ensino superior (Cálculos e Biologia). Com relação ao mercado de trabalho, sete participantes estão trabalhando (Lipe, Dakota, Afrodite, Cálculos, Chanel, Biologia e Paulo Gustavo), quatro não trabalham (Duda, Normal, Sam e Deturpado) e um está afastado do trabalho por comprometimento em sua saúde mental (Potter).

Com relação às ocupações dos participantes, um deles trabalha como ator (Dakota), dois trabalham em um escritório (Biologia e Chanel), uma no telemarketing (Lipe), um como gerente de estoque (Cálculos), um em uma loja de alimentação do shopping (Afrodite) e um trabalha em uma loja de rações (Paulo Gustavo). Todos estes participantes relataram ter uma boa relação em seus empregos, com relações significativas com os colegas de trabalho e chefes.

Em dois mapas (Sam e Potter), não foram inseridas nenhuma pessoa neste quadrante, no entanto, ambos relataram que em suas trajetórias escolares, recebiam o apoio dos professores, coordenadores e diretores da escola em situações de violência.

[...] eu conversava com várias professoras minhas, conversei com a diretora, conversava bastante com a diretora [quando sofria alguma violência na escola]. (Sam)

Os professores me apoiavam, bastante, e eu para não fugir das coisas eu pegava e ia estudar, então eu usava o estudo muitas vezes para poder fugir dos outros alunos que me faziam mal! (Potter)

Alguns Mapas de Redes apresentaram-se amplos e com relações significativas neste quadrante, outros foram constituídos por apenas uma ou duas relações significativas, ou ainda por relações fragilizadas ou rompidas.

O mapa de ‘Biologia’ (Figura 8) apresenta cinco relações significativas e íntimas e quatro relações fragilizadas, e em contato social neste quadrante.

Figura 8 - Mapa de Redes de Biologia.

Fonte: Dados coletados pela autora (2016).

De acordo com o jovem, os membros componentes deste quadrante são; seu chefe, seus colegas de trabalho e da faculdade, os quais fornecem apoio emocional e são guias cognitivos e de conselho.

[...] trabalho também num local que o dono é gay, então tem dois funcionários que também são gays e uma que está no nosso meio, então não tem problema nenhum, a gente se apoia. (Biologia)

Porque aqui eu coloquei amigos de trabalho, porque são dois que são bem amigos, e tem na faculdade também, que eu fiz bastante amizade, com duas eu confio [...] e essas aqui [relações fragilizadas] são da faculdade que a gente já discutiu, então não tem mais aquela mesma amizade! (Biologia)

Destaca-se que novamente a composição na rede social, de pessoas que possuem a mesma orientação sexual, facilita a constituição de relações significativas, com a fluidez do apoio social.

Já o mapa de ‘Deturpado’ (Figura 9) apresenta-se reduzido e fragilizado neste quadrante, com apenas uma relação significativa e com contato social, uma relação

significativa com o professor de artes, porém, apenas enquanto conhecido e relações rompidas com as amigas de sala de aula.

Figura 9 - Mapa de Redes de Deturpado.

Fonte: Dados coletados pela autora (2016)

Destaca-se que a figura do professor foi citada por dois adolescentes enquanto fornecedor de apoio social, pelo ‘Deturpado’, como representado na figura 9 e no mapa de ‘Cálculos’, representado na figura 3.

Para ‘Cálculos’, o professor foi considerado enquanto pai, pois fornece apoio emocional, bem como guia cognitivo e de conselhos.

[...] eu tenho esse professor que ele é demais. Tudo eu converso com ele, ele me apoia, assim, demais, não deixa nada que me abale, ele é um pai também, considero meu pai mesmo, me aconselha demais. (Cálculos)

Ao considerar que a escola é um dos importantes espaços de sociabilidade dos adolescentes e jovens, os membros que a compõem – alunos, professores, coordenadores e diretores, podem potencializar a vulnerabilidade ou a proteção

daqueles que dissidem das normas sexuais e de gênero.

Muitos estudos apontam a escola como uma instituição de vigilância e disciplinamento dos corpos, por meio dos vários tipos de violências que acontecem em seu interior (FRANÇA; CASTRO; FERRARI, 2014; LOURO, 2014; SILVA JUNIOR; FERNANDES; FAUSTINO, 2016).

De acordo com Louro (2014), a escola é uma instituição que desde seus primórdios produz diferenças e desigualdades, com uma lógica binária de segregação, separando meninos e meninas, protestantes e católicos, ricos e pobres, bem como legitimando a violência em seu interior, principalmente, contra aqueles que possuem marcadores sociais da diferença.

Diante disso, apesar dos professores aparecerem enquanto figuras importantes, fornecedoras de apoio social, as narrativas dos adolescentes e jovens não apontaram para o espaço escolar enquanto promotor de debates sobre as diferenças e de combate à violência.

Nesse aspecto, ressalta-se que os profissionais que constituem a escola precisam estar preparados para o debate coletivo, questionando as normas e suas consequentes sanções, problematizando os discursos e as relações de poder que estão arraigadas nos pressupostos da heteronormatividade, e que se efetivam na prática escolar, para tanto; faz-se necessário reconhecer as diferenças – sua construção histórica e cultural afim de transformar o espaço escolar em um local democrático e que garanta a cidadania de todos que ali estão (BALIEIRO; RISK, 2014).

Com disso, percebe-se que este quadrante apesar de ter sua maior composição com relações significativas e íntimas, indicando alta densidade, ainda apresenta-se com tamanho pequeno, para a maioria dos participantes ou a inexistência de membros, para dois participantes, com dispersão entre os membros e relações fragilizadas ou rompidas, demonstrando fragilidade no fornecimento do apoio social.