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CAPÍTULO 3 ANÁLISES TEÓRICAS

3.4 TRABALHO PEDAGÓGICO E EDUCAÇÃO DO CAMPO

Educação e trabalho são atividades essencialmente humanas, “significa que, rigorosamente falando, apenas o ser humano trabalha e educa” (SAVIANI, 2007, p. 152). Entendemos a escola apenas como um dos espaços e tempos de aprendizagens. O homem necessita produzir a sua existência e no ato mesmo da produção, forma-se a si mesmo.

A origem da palavra escola significa lugar do ócio, tempo livre, e é nela que se inicia o processo de institucionalização da educação. Ao mesmo tempo em que surge a sociedade de classes e o aprofundamento da divisão social do trabalho. A nova forma de produção também determina uma nova forma de organização das relações sociais e a predominância da cidade sobre o campo.

O trato com o conhecimento para o desenvolvimento de funções psicológicas superiores, pelo acesso aos bens historicamente produzidos, é uma das responsabilidades da escola. No entanto, essa responsabilidade encontra-se determinada pela formação econômica. No capitalismo, a escola assume a função de

perpetuar a reprodução da força de trabalho que está estruturada em relações de produção capitalista, ou seja, onde o trabalho humano está subsumido aos interesses do capital. (SILVA, 2010, p. 84)

Portanto, estamos tratando da escola capitalista, que se encontra permeada por determinações históricas da sua própria constituição como instituição, e é um espaço em disputa, do qual a classe trabalhadora não pode abrir mão.

O trabalho pedagógico do qual estamos tratando, não está desvinculado do trabalho como categoria fundante do ser humano. Entretanto, esse é um tipo de trabalho que está ligado, sobretudo a educação.

Ao referirmo-nos ao trabalho pedagógico o fazemos na perspectiva apontada por SAVIANI (2003), FREITAS (2002) e KUENZER (1997, 2002), que é o processo pelo qual um determinado projeto de educação materializa-se através da atividade práxica de educadores e educandos organizados em relações determinadas, entre si e entre o todo social. (TITTON, 2006, p. 27)

É um tipo de trabalho não material, onde o produto não se separa do ato de produção, conforme Saviani (1984, p. 1) o “ato de produção e ato de consumo se imbricam”. Paro (2002, p. 33) também afirma que “no processo de trabalho pedagógico, o produto não se separa da produção”.

Conforme Frizzo (2013, p. 177) “o produto de toda a atividade pedagógica desenvolvida na escola é o conhecimento”. Ferreira (s/d, online) também traz em seu conceito de trabalho pedagógico, a produção de conhecimento.

Em suma, trabalho pedagógico é a produção do conhecimento, mediante crenças e aportes teórico-metodológicos escolhidos pelos sujeitos, que acontece em contextos sociais e políticos os quais contribuem direta ou indiretamente. Diretamente, porque perpassam o trabalho pedagógico. Indiretamente, quando não são explícitos, todavia, todo trabalho pedagógico é intencional, político e, de algum modo, revela as relações de poderes que nele interferem.

Podemos encontrar em outra referencia a questão da produção do conhecimento, pois segundo este autor: “A finalidade da Organização do Trabalho Pedagógico deve ser a produção de conhecimento (não necessariamente original), por meio do trabalho com valor social não do ‘trabalho do faz de conta, artificial’” (FREITAS, 1995, p. 100).

A forma predominante de educação, em nossa sociedade é a escolar, de tal forma que se confunde educação como sinônimo de escola, mesmo que saibamos que a educação é muito mais ampla. O trabalho pedagógico em questão aqui é o que se desenvolve nessa

instituição, e este não fica alheio ao processo de produção ora vigente, o do sistema capitalista.

Isso faz com que esse trabalho, o pedagógico, assuma formas cada vez mais fragmentadas, aligeiradas, flexibilizadas, da mesma forma que o trabalho alienado se expressa na sua forma mais perversa e desumana na atual sociedade. Quando o trabalho pedagógico se apresenta dessa forma, ele não tem a categoria trabalho material como princípio educativo.

Freitas (1995) nos apresenta uma sistematização onde o trabalho material seja principio educativo (trabalho socialmente útil, concreto), professores e alunos vão restabelecer a práxis (a unidade teoria/prática). Onde não existam maneiras diferentes de se relacionar com o conhecimento, quando se é oriundo de uma classe social diferente.

Segundo Machado (2003, p. 246), o trabalho pedagógico pode ser descrito como:

[...] é o modo de organização que a escola assume na tarefa de pensar e produzir as relações de saber entre sujeitos e o mundo concreto, o mundo do trabalho socialmente produtivo. O trabalho pedagógico se apresenta como condição de sustentação das relações estabelecidas entre os sujeitos que integram o universo escolar, que apesar de contraditórias e conflitantes são marcadas por algumas regularidades (Freitas 1995). Compõem a categoria trabalho pedagógico: os objetivos, as metodologias, os conteúdos, os recursos e materiais didáticos, a avaliação, e as relações pedagógicas.

Sendo a escola, um lugar social de mediação, e de formação humana, temos o trabalho pedagógico em ação cotidianamente sendo realizado, entretanto nem sempre planejado e gestado coletivamente. Tal dificuldade não é mera coincidência, na fase atual do capitalismo, é também fruto de múltiplas determinações, construídas historicamente e elaboradas socialmente, até mesmo na própria constituição da instituição escola.

Dessa forma, este estudo procura compreender como se constitui o trabalho pedagógico enquanto teoria pedagógica, nessa realidade, que embora seja da escola pública como um todo, pois faz parte de uma rede, neste caso a rede estadual, esta inserida em um contexto diferente da escola localizada no âmbito urbano. “Portanto, se a ligação da escola é com a vida, entendida como atividade humana criativa, é claro que a vida no campo não é a mesma vida da cidade. Os sujeitos do campo são diferentes dos sujeitos da cidade” (FREITAS, 2011, p 158).

A predominância da cidade sobre o campo permanece nos dias de hoje, já que a maior parte da população encontra-se concentrada residindo em áreas urbanas. A combinação do modelo de produção capitalista baseado no agronegócio e esse movimento migratório em direção à cidade, também repercute no fechamento de escolas do campo.