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4. Análise e Discussão dos Resultados da Pesquisa

4.1 Ponte dos Carvalhos pelo Indicador de Desenvolvimento Humano (IDHM)

4.1.3 Trabalho

Em 2010, 8.055 da população de 18 anos ou mais de idade era economicamente ativa em Ponte dos Carvalhos, 2.485 da população no mesmo ano era economicamente ativa desocupada, enquanto 2.807 era considerada economicamente inativa. Ou seja, 60,4 % da população de 18 ou anos ou mais estavam trabalhando, seja remunerado, não remunerado, por

conta própria ou como um empregador, 18,6 % não possuíam emprego mas estavam aptas a

trabalhar (estavam em busca de trabalho) já 21% da população estavam à margem do

mercado, aquelas que não possuem idade, interesse ou condições de exercer algum ofício.

Figura 6- Composição da população de 18 anos ou mais

Fonte: PNUD; IPEA; Fundação José Pinheiro; Censo 2010.

Quanto aos dados da posição dos ocupados, a figura 7 mostra que em 2010, 62% dos ocupados na UDH Ponte dos Carvalhos possuíam carteira de trabalho assinada, e 18,4% dos trabalhadores estão ocupados sem carteira assinada, ou seja, estão em situação de vulnerabilidade, pois não são asseguradas pelo sistema de previdência social. Já em nível estadual, o gráfico mostra que apenas 37% dos ocupados possuem carteira assinada. Embora o grau percentual dos empregados ‘’ formais’’ seja superior ao grau dos ‘’ informais’’, torna-se relevante um aprofundamento maior quanto às causas que levam ao crescimento da economia informal no lócus em estudo, tendo em vista a possibilidade de essas pessoas ficarem expostas à precariedade das relações de trabalhos e fora de qualquer proteção social.

Figura 7- Composição da população de 18 anos ou mais

Fonte: PNUD; IPEA; Fundação José Pinheiro; Censo 2010.

Buscando entender ainda o mercado de trabalho em Ponte dos Carvalhos, destacamos alguns indicadores referentes ao setor em que a população está inserida. Na figura 8 são destacados cinco setores: agropecuário, serviços, comércio construção e indústria de transformação. Em 2010, na UDH, cerca de 37% da população de 18 anos ou mais estava inserida no setor de serviços, 21% na indústria de transformação, 14% no setor de construção, 12% no comércio e apenas 2% no setor agropecuário.

Figura 8- Trabalho – setor

É notório a diminuição dos trabalhadores no âmbito fabril e o crescimento dos assalariados no setor de serviços no Brasil. A industrialização e urbanização provocaram um acréscimo da força de trabalho nas atividades terciárias, principalmente nos ramos que exigem menor qualificação. O importante crescimento desse setor é resultado do modo de organização que tem como característica a flexibilização produtiva, no qual as empresas buscam enxugar ao máximo seus custos, por meio da terceirização.

Com as flexibilizações do mercado de trabalho a força de trabalho se torna mais barata, pois utilizam-se trabalhadores contratados temporariamente e precariamente os quais num período de crescimento da economia são exauridos em longas jornadas para atender a níveis altíssimos de produtividade, para num momento de recessão, voltarem a condição de desempregados. E com o desemprego estrutural fica mais difícil de tais trabalhadores voltarem a ter empregos estáveis.

Ademais, para Alves (2014), o que continua sendo estratégica para a acumulação do capital é a flexibilidade de mercadoria-força de trabalho, isto é, aquela flexibilidade relativa à legislação e regulamentação social e sindical. No caso do Brasil, o autor ressalta que existe uma flexibilidade estrutural do trabalho, que contribuiu historicamente para a vigência da superexploração da força de trabalho, modo histórico particular de consumo da força de trabalho no País. Por outro lado, ela decorre da oferta abundante de força de trabalho, que prolifera nas regiões metropolitanas permeada de ocupações informais e empregos ilegais. A figura 9 ilustra o impacto desta flexibilização do trabalho, onde no estado de Pernambuco mais de 45% da população de 18 anos ou mais não possuía ensino fundamental completo e que, em 2010, estava em ocupação informal, em Ponte dos Carvalhos esse percentual era de 41,27%, acima do grau de informalidade presente no município do Cabo de Santo Agostinho, que representava nesta mesma época 37,24%.

Figura 9- % de pessoas de 18 anos ou mais sem fundamental completo e em ocupação informal

Fonte: Fonte: PNUD; IPEA; Fundação José Pinheiro; Censo 2010.

Terceirização e informalidade podem ser consideradas duas formas de um processo de flexibilização do trabalho. A primeira, está inserida em um contexto em que há uma transferência de parte da produção (atividades-meio) para outras empresas, de forma que a empresa principal possa concentrar-se na sua atividade-fim, que é a produção numa única e específica atividade. De acordo com Oltramari e Piccinini (2006), as negociações pró- terceirização seguem modelos de cooperação e são baseadas em contratos jurídicos nos quais tempo, quantidade e qualidade são delineados de forma consensual entre as partes, mas com vantagens maiores para as contratantes do que para as contratadas.

No entanto, a terceirização, em sua concepção, tem uma dimensão dominantemente econômica, a qual visa à redução de custos, com a consequente desumanização da relação. Enquanto uma técnica, considera-se como acrítica e despreocupada com os fins. Segue a lógica instrumentalista do mercado e o ritmo acelerado do progresso e da inovação, deixando para traz, nessa pressa, os valores humanistas do trabalho. Por isso, nada traz de novo em termos de cooperação, solidariedade, confiança e outras formas de convivência humana que levem a auto atualização dos funcionários, fugindo à impessoalidade do mercado e seus determinantes puramente econômico-financeiros (RUSSO e LEITÃO, 2006).

Por outro lado, Menezes e Dedecca (2012) garantem que a estrutura ocupacional da informalidade é complexa e heterogênea, mas, pelo menos para muitas pessoas, ela oferece muitas possibilidades. É natural, portanto que muitos indivíduos prefiram ficar na informalidade, exatamente porque aí encontram suas melhores oportunidades de trabalho e renda; outros tantos, por não disporem dos requisitos necessários ao mercado formal, acabam ficando na informalidade por absoluta falta de alternativa. Mas, cabe destacar que a informalidade traz em seu escopo a ausência dos direitos trabalhistas, figurado essencialmente pelo não registro nos órgãos competentes e pela não contribuição à previdência social. A não contribuição à previdência é a síntese da perda de direitos de muitas pessoas. Dessa forma, ‘’ as pessoas ficam expostas a uma precariedade da relação de trabalho, podendo a enfrentar graves problemas econômicos no final de suas vidas profissionais, já que não serão cobertos pelo sistema de previdência social’’ (MENEZES e DEDECCA, 2012, p. 12).

Pode-se considerar que a reestruturação produtiva tem se caracterizado como um processo com grande impacto no mundo do trabalho, uma vez que as empresas reduziram o quadro de trabalhadores e o mercado de trabalho vai perdendo a capacidade de gerar novos empregos, à medida que são afastados, esses trabalhadores tornam se precarizados. Por outro lado, pode-se considerar que emprego até cresceu, no entanto, com baixos salários. A especialização e os trabalhadores bem qualificados é um privilégio para uma minoria. Para Netto (2012), o chamado mercado de trabalho vem sendo radicalmente reestruturado — e todas as inovações levam à precarização das condições de vida da massa dos vendedores de força de trabalho: a ordem do capital é hoje, reconhecidamente, a ordem do desemprego e da informalidade.

4.2 O Centro de Referência de Assistência Social em Ponte dos