• Nenhum resultado encontrado

Trabalhos anteriores e enquadramento geológico regional

1. Localização geográfica e organização do território

2.1. Trabalhos anteriores e enquadramento geológico regional

A Ilha de Timor está localizada no sul do Arco de Banda fazendo parte da actual zona de colisão entre a margem norte da Austrália e os arcos insulares asiáticos (Figura 11). A sua estrutura e evolução é considerada como um exemplo de colisão activa arco- continente, que não é só de interesse local, mas também no estudo de modelos de antigas zonas de colisão análogas (Charlton et al., 1991). No entanto, Timor-Leste é ainda muito pouco conhecido geologicamente.

O primeiro estudo geológico conhecido em Timor-Leste foi realizado por Hirschi (1907). Estudos posteriores, principalmente relacionados com a exploração de petróleo realizaram-se durante a primeira metade do século XX, nomeadamente por F. Weber, em 1910/1911 (Charlton et al., 2002). Os estudos de referência com cartografia geológica são os de Audley-Charles (1965, 1968), Leme (1963, 1968) e Leme & Coelho

Benjamim Hopffer Martins # 38343 19 (1962), que retomaram os trabalhos iniciados e anteriormente realizados por Grunau (1953, 1957) e Gageonnet & Lemoine (1957, 1958). A investigação geológica realizada em Timor-Leste pela “University of London Southeast Asia Research Group” foi interrompida durante o período de ocupação indonésia, embora tenham sido publicados documentos científicos durante este período, com base no trabalho de campo realizado anteriormente (Barber & Audley-Charles, 1976; Barber et al., 1977; Barber et al., 1986; Berry & Grady, 1981; Berry & McDougall, 1986; Charlton et al., 1991).

Figura 11 - Localização da ilha de Timor em relação ao Arco de Banda, Austrália e

Plataforma da Sunda (Eurásia): as ilhas vulcânicas do arco (a preto); ilhas do arco exterior (cinzento escuro); plataforma continental australiana (ponteado); plataforma continental de Sunda (tracejado) (Charlton, 1991).

Durante o período de anexação, foi realizado pouco trabalho geológico de campo, exceptuando os trabalhos realizados por Harris e os seus colegas de trabalho (Harris, 1991; Hunter, 1993; Prasetyadi, 1995; Prasetyadi & Harris, 1996; Harris et al., 1998), Reed et al., (1996) e pelo “Indonesian Geological Research and Development

Centre”, Bandung, que publicou os mapas geológicos de Díli, Baucau e de Timor-Leste

na escala de 1:250.000, com base no mapa geológico de Audley-Charles (1968), e alguns trabalhos adicionais de campo.

Benjamim Hopffer Martins # 38343 20 Nos últimos anos, foram realizados importantes estudos geológicos em Timor- Leste (Harris & Long, 2000; Charlton, 2001, 2002; Charlton et al., 2002) vocacionados, em geral, para evolução tectónica do território.

Timor tem sido frequentemente descrito em termos de elementos estruturais para-autóctones, alóctones e autóctones (Charlton, 1991), representados na Figura 12.

Figura 12 - Mapa estrutural de Timor. O complexo de Bobonaro aflora principalmente

nas áreas assinaladas como para-autóctones, mas também localmente no alóctone. Adaptado de Audley-Charles (1968) e Rosidi (1981), com dados adicionais de Kenyon (1974); Berry & Grady (1981) e Bird et al., (1989).

2.1.1. Sistema para-autóctone

O sistema para-autóctone de Timor é o maior componente da ilha, maioritariamente de idade permo-triássica e, em geral, associado com material da margem do continente australiano, carreado no sentido da Austrália durante a colisão arco-continente. Integram-no as formações de Maubisse e Aileu, constituindo a primeira, uma sequência pérmica predominantemente calcária, que aflora amplamente na ilha de Timor, enquanto que, a Formação de Aileu é restrita ao canto NW de Timor- Leste. Audley-Charles & Harris (1990) e outros (Crostella & Powell, 1976; Grady & Berry, 1977; Chamalaun & Grady, 1978; Hamilton, 1979, etc.) indicam que a Formação

Benjamim Hopffer Martins # 38343 21 de Maubisse, segundo a sua localização paleogeográfica teve origem na margem continental australiana e manteve-se localizada no seu flanco noroeste até à colisão arco-continente no Neogénico. As relações litotectónicas entre as formações pérmicas de Maubisse e de Aileu, estratigraficamente associadas, são ainda mal conhecidas e definidas.

Segundo Charlton (1991), também a sequência da Formação de Aitutu (Triássico) constituída por xistos argilosos e calcários, e da Formação de Wailuli (Jurássico) constituída por xistos argilosos, calcários, margas, siltes e arenitos, são ambas, elementos da sucessão para-autóctone da margem continental australiana. Barber, Audley-Charles & Carter (1977) associam igualmente ao sistema para- autóctone, a Formação de Cribas, sequência pérmica constituída por xistos argilosos micáceos, siltíticos e calcários.

O complexo de Lolotoi (pré-Pérmico), formado por rochas sedimentares e eruptivas de baixo grau de metamorfismo, é também considerado por Charlton (2002), do sistema para-autóctone, como parte do soco continental australiano envolvido no complexo de colisão arco-continente, por carreamento profundo, representando o soco pré-colisão do arco externo de Banda.

2.1.2. Sistema alóctone

Segundo Audley-Charles (1986) o sistema alóctone compreende uma série de “nappes” complexos com deslocamento para Sul e originados na zona de subducção como parte do arco externo de Banda. O alóctone de Timor inclui a Formação de Ainaro Gravels (Pliocénico e Pleistocénico), constituída por conglomerado, cascalho e areia, a Formação Vulcânica de Barique (Oligocénico), constituída por tufos, brechas vulcânicas, basaltos e conglomerado, e a Formação de Cablac (Miocénico) predominantemente calcária (Audley-Charles, 1968, 1986; Audley-Charles & Carter, 1972; Barber & Audley-Charles, 1976; Carter et al., 1976; Haile et al., 1979; Earle 1981; Rosidi et al., 1981; Harris, 1989; Tobing, 1989; Charlton et al., 1991). Estas unidades pertencem a uma sequência estratigráfica completamente distinta da sequência do para-autóctone de Timor.

O Complexo de Bobonaro ou Bobonaro Scaly Clay (Audley-Charles, 1965, 1968) ou Complexo de Bobonaro (Rosidi et al., 1981) é interpretado como um depósito olistostroma fazendo parte do sistema alóctone. Com base na idade dos clastos inclusos,

Benjamim Hopffer Martins # 38343 22 mais recentes (Miocénico inferior) e na idade dos mais antigos sedimentos sobrejacentes (Formação de Viqueque do Miocénico superior), a idade do olistostroma Bobonaro Scaly Caly foi determinada como Miocénico Médio ou possivelmente Miocénico Superior. É sobretudo nas proximidades dos Calcários de “fato” (Leme, 1968) do Grupo de Ossu-Baguia e na Costa Sul, onde se apresenta com maior espessura.

2.1.3. Sistema autóctone

O autóctone de Timor, segundo Audley-Charles (1968) compreende formações do Cretácico superior a recentes:

• Formação Waibua e Calcário de Boralo, do Cretácico superior, a primeira constituída por radioloritos, xistos argilosos, chertes e calcilutitos, a segunda por calcilutitos, biocalcarenitos e chertes;

• Formação de Viqueque (Miocénico superior), constituída por conglomerados basais, arenitos, siltitos, argilitos, margas e calcretos;

• Calcário de Lari Guti (Miocénico);

• Depósitos detríticos pliocénicos deltaico-marinhos, pouco significativos em extensão geográfica, predominantemente conglomeráticos (Conglomerados de Dilor) ou lutíticos cascalhentos com clastos grosseiros (“Seketo Block Clay”);

• Unidades do Pleistocénico a recentes, de recifes de coral emersos (Calcário de Baucau), calcário lacustre (Calcário de Poros) e aluviões costeiras (Formação de Suai).

Documentos relacionados