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2.1 Empreendedorismo e empreendedor

2.1.6 Trabalhos empíricos sobre comportamento empreendedor

Devido à clara contribuição do empreendedorismo para a economia mundial, o assunto tem despertado o interesse da comunidade acadêmica para o desenvolvimento de estudos sob as mais diversas áreas de conhecimento, tais como a Economia, a Psicologia, a Sociologia e a Administração, dentre outros (FILION, 1999). Nesse sentido, um dos principais temas e um dos mais estudados ligados ao estudo do empreendedorismo é o comportamento empreendedor (FILION, 1999; BRANCHER; OLIVEIRA; RONCON, 2012). De forma a realizar uma pesquisa sobre os diversos trabalhos acadêmicos realizados sobre comportamento empreendedor no Brasil e no mundo, foram utilizadas as bases de dados nacionais da ANPAD (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração), SPELL (Scientific Periodicals Electronic Library), que agrega as principais publicações de artigos científicos em Administração no Brasil, BDTD (Biblioteca Digital de Teses e Dissertações) e SciELO (Scientific Electronic Library Online) para buscas sobre trabalhos relacionados ao comportamento empreendedor. Inicialmente, foram considerados apenas os casos em que a expressão aparecia no título dos artigos. Na pesquisa nacional, quando os resultados da busca se mostraram demasiadamente restritos, considerou-se, também, a incidência dos termos no resumo.

Já a base de dados internacional utilizada foi a Emerald Insight, pois agrega periódicos de grande importância para a temática pesquisada. A pesquisa internacional apresentou um grande número de resultados e por isso foram aplicados filtros de busca, tais como trabalhos publicados entre os anos de 2007 e 2014, com incidência do termo

“Entrepreneurial Behaviour” no título e no abstract, filtros escolhidos por conveniência do pesquisador.

Em ambas as buscas foram considerados somente estudos empíricos em que a unidade de análise fosse o indivíduo, pois, pelo fato deste trabalho contemplar uma pesquisa de campo com sujeitos e não com empresas, acredita-se que os artigos que contenham evidências empíricas podem oferecer contribuições valiosas para conclusão desta etapa. Também foram excluídos trabalhos que apenas citavam o comportamento empreendedor mas não o desenvolviam nos testes empíricos e discussões realizadas, pois oferecem pouca ou nenhuma informação relevante para este estudo.

Algumas pesquisas investigaram o comportamento empreendedor em uma dada amostra. Faleiro et al (2006), em pesquisa com 291 empreendedores de micro e pequenas empresas no Rio Grande do Sul, tomando por base a Teoria Visionária de Filion, constatou que os empreendedores possuem todas as características que o construto teórico demonstrou. O estudo de Bauer e Rodrigues (2001), que utiliza modelo de Timmons, realizado através de entrevista com 25 empreendedores, apontou que os empresários do ramo pesquisado possuem as CCEs demonstradas por essa teoria. Já a pesquisa que utiliza modelo de Carland e Carland, aplicada por Chaves Junior, Cavalcanti e Barbosa (2014) no setor de administração hospitalar através de estudo multicaso, revelou que os indivíduos pesquisados, em sua maioria profissionais sem formação específica para a gestão, apresentam baixos índices de características comportamentais empreendedoras.

Há pesquisas que trazem o comportamento empreendedor em diferentes contextos como as organizações criminosas (SMITH, 2009), as mulheres árabes empreendedoras (AHMAD, 2011), ou o setor público (ZAMPETAKIS; MOUSTAKIS, 2007).

O comportamento empreendedor também é investigado a partir de óticas, tais como:

 Financeira: encontra uma influência positiva do comportamento empreendedor e das capacidades organizacionais na variação do desempenho estratégico (MACIEL, 2009); relaciona o comportamento empreendedor, lócus de controle e desempenho organizacional (MACIEL; CAMARGO, 2009); encontra uma correlação fraca entre o comportamento empreendedor e o desempenho organizacional (SCHIMIDT; BOHNEMBERGER, 2009);

 Liderança: busca identificar os comportamentos de liderança adotados pelos empreendedores para promover as mudanças organizacionais para consolidar e desenvolver seus empreendimentos (ARMOND; NASSIF, 2009)

 Ensino empreendedor: utiliza a mensuração da alteração do comportamento empreendedor como ferramenta de avaliação de ensino (ARAUJO et al, 2012; ROCHA; FREITAS, 2014); avalia programas de educação empreendedora que utilizam o comportamento empreendedor, que se mostraram bem-sucedidos (ALPERSTEDT; DANTAS, 2007), coloca as CCEs como principal tema desenvolvido pela educação empreendedora em âmbito nacional e internacional (ZAMBON, 2014) e desenvolve

modelos de aprendizagem empresarial baseados em aprendizagem de comportamentos empreendedores (MAN, 2012)

 Intraempreendedorismo: demonstra forte correlação entre os constructos do comportamento empreendedor e do intraempreendedorismo (LANA et al, 2013).

 Inovação: através de estudo de caso com 3 empresas em que foi constatada a associação entre a adoção de gestão inovadora e as características comportamentais de seus fundadores (CARVALHO; FERREIRA; NEVES, 2004), relaciona alto desempenho e alto grau de inovação ao maior nível de orientação para o mercado, consequencia de um perfil empreendedor (GONÇALVES FILHO; VEIT; MONTEIRO, 2013), através de estudo qualitativo realizado por entrevistas, demonstra a relação entre fortes atitudes empreendedoras e o desenvolvimento de produtos e serviços inovadores (MEDEIROS, 2012), através de estudo de caso, em que não há similaridades significativas entre as características comportamentais dos indivíduos empreendedores e os extremamente inovadores (SANDBERG; HURMERINTA; ZETTINIG, 2013)

 Cultura: na pesquisa realizada por De Vries (2012), através de um estudo de caso com empreendedores indianos que abriram negócios na Nova Zelândia, em que demonstra que as características culturais do país em que o indivíduo está atuando influenciam no desenvolvimento de certas CCEs.

 Recursos Humanos: através de survey com 333 executivos indianos, verificou-se que a satisfação no trabalho pode ser uma significante preditor do comportamento empreendedor (SANGAR; RANGNEKAR, 2014).

Outras óticas também foram utilizadas para analisar as características comportamentais empreendedoras, tais como a comparação com a tomada de decisão (LENGLER, 2008), a comparação das CCEs entre diferentes grupos, tais como empreendedores sociais e privados, não encontrando diferenças estatisticamente significativas (FEGER et al, 2008) e a elaboração de instrumento para mensuração do comportamento empreendedor (LAU et al, 2012).

Essa pluralidade pode ser vista de forma positiva, pois demonstra que diversos construtos têm sido utilizados para explicar e correlacionar o comportamento empreendedor. Por outro lado, isso acaba gerando evidências da fragmentação teórica do campo, o que foi evidenciado na busca realizada pela pesquisadora, na medida em que a expressão

‘comportamento empreendedor’ foi utilizada em contextos em que não estava evidenciada por

um referencial teórico consistente.

Na pesquisa realizada pela pesquisadora também pode-se encontrar o construto

“Comportamento Empreendedor” sob outras denoninações tais como perfil (SCHMIDT;

DREHER, 2008; SCHIMIDT; BOHNENBERGER, 2009; ROCHA; FREITAS, 2014), potencial (NASCIMENTO JR; DANTAS; SANTOS, 2005) ou atitudes empreendedoras (LOPER JR; SOUZA, 2005; SIQUEIRA et al, 2014). Isso demonstra a confusão conceitual do construto, comprovando a necessidade de uma proposição taxonômica que unifique as pesquisas nessa área.

Os estudos acadêmicos sobre comportamento empreendedor buscam encontrar um perfil de empreendedor bem-sucedido e/ou a partir disso, relacioná-lo com outros conceitos. Sendo as características comportamentais empreendedoras um dos aspectos importantes para que as empresas, principalmente as micro e pequenas, obtenham sucesso, a próxima seção tratará sobre como definir o que é sucesso para essas empresas.