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Certa vez, nos primeiros anos do século XX, o imigrante Mathias Haas e seu pai, Anton Haas, foram procurados para esculpir a lápide de uma criança. Eles já realizavam pequenos trabalhos em arenito, como pedras de amolar, mas pela primeira vez alguém solicitou um trabalho no ramo funerário, o que viria a ser a especialidade de sua oficina e futura empresa.57

A necessidade de sepultar um filho e o desejo de marcar o lugar de seu sepultamento fez surgir a empresa funerária da família Haas. A morte, fonte de trabalho para Mathias e sua família, era uma realidade assídua no cotidiano deles e dos demais imigrantes recém-chegados ao sul do Brasil, sendo possível afirmar que “podem ser considerados ‘sobreviventes’ muitos descendentes de imigrantes alemães que atingiram a idade adulta, em função das altas taxas de mortalidade infantil da época” (grifo do autor).58

A morte que frequentemente atingia os moradores da recém- inaugurada colônia de Hamonia, atual Ibirama, deu novo rumo aos negócio de Mathias. Ele, poucos anos antes de receber o pedido para fazer a lápide, havia partido de Strassburg com destino ao sul do Brasil junto com o pai, Anton Haas, mestre canteiro, nascido em Oberweier no ano de 1864, a mãe chamada Monika Haas e os irmãos, dentre eles, Anton, Joseph e Berta.59 Fixou-se no Vale do Itajaí, em Santa Catarina,

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HAAS, Rolf Mathias. Entrevista cedida a Elisiana Trilha Castro. Blumenau, 2 de maio de 2011.

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BLUME, Sandro. Morte e morrer nas colônias alemãs do rio grande do

sul: recortes do cotidiano. 2010, 290 p. Dissertação (Mestrado em História),

Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Rio Grande do Sul, 2010. Disponível em: <http://bdtd.unisinos.br/tde_arquivos/8/TDE-2011-03-16T132038Z- 1351/Publico/SandroBlumeHistoria.pdf>. Acesso em 4 abr. 2012, p. 267. 59Original: “Im Jahre 1904, 19. Februar, wannderten meine Eltern von Strassburg nach Kolonie Hansa/Blumenau/Santa Catharina/Brasilien aus: die Überfahrt dauerte 3 Wochen, von Hamburg bis Paranaguá, nach Rio de Janeiro kamen wir nicht: in São Francisco waren wir ausgeschifft”. HAAS, Mathias. Famillienchronik geschrieben von Mathias Haas, 09/08/1937 (Crônica familiar escrita por Mathias Haas). Gedenken über Vergangenes und Gegenwärtiges - Deutschland/Blumenau/Brasilien (Memórias sobre o passado e o presente - Alemanha/Blumenau/Brasil). In: Gedenkbuch und werdegang von

primeiramente na cidade de Ibirama e depois na cidade de Blumenau. Nesta última, constitui uma numerosa família e montou sua marmoraria.

A história de sua vida e empresa é contada, inicialmente, por meio de suas autobiografias e duas delas estão destacadas a seguir. O livro principal, conhecido como diário e intitulado “Gedenkbuch und werdegang von Marmoraria Haas - Livro de Memórias e Trajetória da Marmoraria Haas”, foi escrito perto de completar seus 50 anos, em fins da década de 1930. Junto à capa, presente na Figura 2, está uma de suas primeiras páginas onde vemos a escrita cursiva.

Figura 2 - Capa e página de Gedenkbuch und werdegang von Marmoraria Haas

Fonte: Acervo Família Haas

O outro escrito intitulado “Interessant und lehrreich Eindrücke Mathias Haas Werdegang Erlebnisse - Reisen 1904 - 1954 - Interessantes e instrutivas impressões sobre a carreira de Mathias Haas - Experiências de viagem 1904 - 1954” (Figura 3) é da década de 1950. Aos escritos de Mathias somam-se os depoimentos de seu neto Rolf e de seu bisneto Ronald para contar a história.

Marmoraria Haas. (Livro de Memórias e Trajetória da Marmoraria Haas - Alemanha-Brasil). Acervo Particular Família Haas, Blumenau, 1937, p. 13.

Figura 3 - Capa e páginas de Interessant und lehrreich Eindrücke

Fonte: Acervo Família Haas

Mathias dedicou-se a guardar suas impressões, memórias e também seus poemas, em vários escritos. O Gedenkbuch und werdegang von Marmoraria Haas é chamado de “diário” pela família, mas não podemos afirmar que os dois supracitados foram frutos de uma escrita assídua. São autobiografias ou memórias de si, em outra definição e podemos acrescentar que pertencem ao gênero literário confessional, pelo “fato de haver uma identidade entre autor, narrador e personagem”.60

Os escritos de Mathias falam de sua vida, de sua

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BATISTA, Patrícia Pereira. Do diário ao blog confessional: continuidade ou o surgimento de uma nova prática?. In: II SEMINÁRIO INTERNO DOS ALUNOS DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO

empresa e para a historiadora Maria Teresa Ramos Cunha, tais escritos autobiográficos, que por muito tempo permaneceram resguardados em baús, guardam “em folhas amarelecidas pela passagem do tempo, idéias, saberes, valores, acontecimentos e dizeres: representações de um outro tempo, elevando a significados/produzindo sentidos à ordem do existente”.61

As memórias de Mathias estão divididas entre: a rotina empresarial que trata dos trabalhos realizados, clientes atendidos, concorrências, lista de bens, preços de produtos e a rotina familiar, com relatos sobre os filhos, a importância da esposa, dos momentos de lazer e a paixão pela música. A escrita, por vezes, fragmenta-se e dá espaço a fotos e observações sobre viagens e paisagens. É o que pode ser visto no Gedenkbuch und werdegang von Marmoraria Haas. As fotografias ajudam a contar parte da história de Mathias, de sua família e empresa, como está na Figura 4.

Nas histórias que estão em seus cadernos e folhas avulsas, Mathias conta que eles zarparam para a província de Santa Catarina em 19 de fevereiro de 1904, desembarcando em terras brasileiras no auge do verão. Aportaram em São Francisco do Sul, dali seguiram até Itajaí e, posteriormente, em direção a atual cidade de Ibirama. Em seu diário, ele descreve a travessia e as primeiras impressões sobre a chegada ao novo lar:

Passada a terrível viagem, a cabine feito cova abafada, cheia de pobreza, miséria e fedor. A nova terra cumprimentamos onde leite e mel correm. Mas logo ela se revelou em miséria e morte. És tu a felicidade que nos chamaste? Mas nunca houve um retorno ao que era! Somente arbustos, florestas e pântanos sombrios, cheios de espinhos e taquaras/bambus, úmido e sem brilho. Alguns valentes sucumbiram no corte das árvores enquanto outros a febre e a fraqueza levou. Outros

DA UERJ, 2008, Rio de Janeiro. Anais do II Seminário Interno dos alunos do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UERJ, 2008. v. 1. p. 105-118.

Disponível em:

<http://www.contemporanea.uerj.br/pdf/ed_11ex/07_PatriciaBATISTA_IISemi narioPPGCOM.pdf> Acesso em: 14 jul. 2011, p. 105.

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CUNHA, Maria Teresa Ramos. Do Baú ao Arquivo: Escritas de si, escritas do outro. Patrimônio e Memória (UNESP. Online), v. 3, p. 1-18, 2007.

Disponível em: <http://pem.assis.unesp.br/index.php/pem/article/view/8/8>. Acesso em: 18 fev. 2012, p. 54.

ainda foram picados por cobras. Muitos morreram sob as flechas dos bugres. Olhando em retrospecto podemos dizer com orgulho: “Nada nos foi presenteado” (grifo do autor).62

Figura 4 - Coletânea de páginas de Gedenkbuch und werdegang von Marmoraria Haas

Fonte: Acervo Família Haas

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Original: “Vorbei die schreckliche Fahrt, der Schiffsraum wie ein muffiges Grab voll Elend, Not und Gestank. Das neue Land haben wir gegrüsst wo doch Milch und Honig fliesst. Doch bald sah es aus wie Not und Tod Bist du das Glück das uns rief? Doch es gab nimmer ein Zurück! Nur düsters Dickicht und Wald und Sumpf, voll Dornen und Rohr, Fieberdünste, schwül und dumpf. Manchen Wackeren der Baum erschlug der andere vom Fieber krank u. siech. Oder einer starb an Giftschlangen-Stich. Mehrere verstarben durch des Bugers- Pfeil. Wenn man so zurück denkt kann man wohl sagen: Mit Stolz: uns wurde nichts geschenkt”. HAAS, Mathias. Biografie. Lebenslauf und Betätigung von Mathias Haas: 1887-1955. Deutschland-Stammesheimat / Brasilien- Wahlheimat (Biografia: Currículo e ocupações de Mathias Haas: 1887-1955. Alemanha-Pátria Mãe / Brasil-Pátria Adotiva). In: Interessant und lehrreich Eindrücke Mathias Haas Werdegang Erlebnisse = Reisen 1904 - 1954 (Interessantes e instrutivas impressões sobre a carreira de Mathias Haas = Experiências de viagem 1904 - 1954). Acervo Particular Família Haas, Blumenau, 1955, p. 3.

De suas anotações surgem detalhes sobre sua vida antes de rumar para o Brasil no vapor de nome Argentina. Nascido em 1º de dezembro de 1887 em Baden na Alemanha, Mathias relembra a vida nos primeiros anos na propriedade da família:

De quando tinha 3 a 4 anos, tenho em minha memória que os meus pais possuíam casa e propriedade com: dois cavalos, duas vacas, vários porcos, galinhas, etc. Sem esquecer a cabra, da qual era tirado o leite que me nutriu, já que minha mãe estava severamente adoentada.63

Em fins do século XIX, eles viviam em uma pequena vila, na região de Baden, onde a maioria dos moradores eram arrendatários de terra, que passavam por dificuldades, sem conseguir solo disponível para trabalhar.64 Na Alemanha, o seu pai dedicava-se a produção de esculturas com oficina e pedreira própria em um barranco repleto de nogueiras, castanheiras e videiras.65 A lida começava cedo e Mathias descreve que:

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Original: “Es blieb in Erinnerung von meinen 3. bis 4. Lebensjahr: meine Eltern besassen Haus und Hof, zwei Pferde, zwei Kühe, einige Schweine, Hühner usw. Nicht zu vergessen eine Ziege von dessen Milch ich ernährt wurde, da meine Mutter schwer erkrankt war”. HAAS, Mathias. Famillienchronik geschrieben von Mathias Haas, 09/08/1937 (Crônica familiar escrita por Mathias Haas). Gedenken über Vergangenes und Gegenwärtiges - Deutschland/Blumenau/Brasilien (Memórias sobre o passado e o presente - Alemanha/Blumenau/Brasil). In: Gedenkbuch und werdegang von Marmoraria Haas. (Livro de Memórias e Trajetória da Marmoraria Haas - Alemanha-Brasil). Acervo Particular Família Haas, Blumenau, 1937, p. 11. 64

HAAS, Rolf Mathias. Entrevista cedida a Elisiana Trilha Castro. Blumenau, 2 de maio de 2011.

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Original: “Mein Vater betrieb eine Steinhauer-Werkstatt mit dazu sässigen Steinbruch. Im Steinbruch war eine Schlucht bewachsen mit grossen Nuss- und Kastanienbäumen, der Rest war mit Reben bepflanzt”. HAAS, Mathias. Famillienchronik geschrieben von Mathias Haas, 09/08/1937 (Crônica familiar escrita por Mathias Haas). Gedenken über Vergangenes und Gegenwärtiges - Deutschland/Blumenau/Brasilien (Memórias sobre o passado e o presente - Alemanha/Blumenau/Brasil). In: Gedenkbuch und werdegang von Marmoraria Haas. (Livro de Memórias e Trajetória da Marmoraria Haas - Alemanha-Brasil). Acervo Particular Família Haas, Blumenau, 1937, p. 11.

Toda madrugada, às 3h30min - 4h00min, minha mãe seguia de carroça (puxada por uma vaca), em direção ao campo, onde colhia trevos, tarefa na qual eu, geralmente, a acompanhava, sentado no alto do monte de capim, à época com 4 anos de idade. Após a ordenha eu recebia minha caneca de leite. Café eu fui conhecer somente aos doze anos.66

Apesar das dificuldades, Mathias considerava boa, a condição financeira da família até seus seis anos de idade. Posteriormente, por conta de especulações mal sucedidas e outros maus negócios, seus pais perderam casa e eles se mudaram para Karlsruhe, também em Baden, onde seu pai trabalhou como canteiro até 1895, ano que nasceu sua irmã Bertha.67 Ali viveram por cerca de cinco anos, depois passaram por Bühl e Kehl e anos mais tarde, Mathias ainda guardava pequenas recordações desse período, trazendo “na memória, a imagem da velha ponte elevadiça” 68

sobre o rio Reno.

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Original: “Des morgens in der frühe, um 3,30-4,00 Uhr fuhr meine Mutter mit dem Wagen, eine Kuh vorgespannt, ins Feld um Klee zu mähen, wozu ich meistens mitgenommen wurde um hoch oben auf dem Futter zu thronen, da war ich 4 Jahre alt. Als gemolken war, erhielt ich meine Tasse Milch; Kaffee habe ich erst kennengelernt im zwölften Lebensjahr”. HAAS, Mathias. Famillienchronik geschrieben von Mathias Haas, 09/08/1937 (Crônica familiar escrita por Mathias Haas). Gedenken über Vergangenes und Gegenwärtiges - Deutschland/Blumenau/Brasilien (Memórias sobre o passado e o presente - Alemanha/Blumenau/Brasil). In: Gedenkbuch und werdegang von Marmoraria Haas. (Livro de Memórias e Trajetória da Marmoraria Haas - Alemanha-Brasil). Acervo Particular Família Haas, Blumenau, 1937, p. 11. 67

Original: “Bis zu meinen 5-6.Lebensjahr war alles schön und wir waren ja reich (?). Durch Fehlschlagen des Steinbruchs verkehrte Spekulation, usw. verloren meine Eltern Haus und Hof. Nun gings los nach Karlsruhe-Residenz im Grossherzogstum Baden. Da arbeitete mein Vater als Steinmetz im Jahre 1895. [...] im Jahre 1895 ist meine Schwester Bertha Haas geboren”. HAAS, Mathias. Famillienchronik geschrieben von Mathias Haas, 09/08/1937 (Crônica familiar escrita por Mathias Haas). Gedenken über Vergangenes und Gegenwärtiges - Deutschland/Blumenau/Brasilien (Memórias sobre o passado e o presente - Alemanha/Blumenau/Brasil). In: Gedenkbuch und werdegang von Marmoraria Haas. (Livro de Memórias e Trajetória da Marmoraria Haas - Alemanha-Brasil). Acervo Particular Família Haas, Blumenau, 1937, p. 12 e 13. 68

Original: “Die alte Schiffsbrücke ist mir noch gut in Erinnerung”. HAAS, Mathias. Famillienchronik geschrieben von Mathias Haas, 09/08/1937 (Crônica

Ele tinha grande paixão por música, mas nunca teve um instrumento. Frequentou a escola elementar em Strassburg e se formou em 18 de março de 1902, sendo o único aluno católico em uma classe de luteranos. Depois frequentou a escola de formação profissional e estagiou como aprendiz de escultor na empresa Polenz & Bauer, conforme está a seguir:

In der Stadt Strassburg in E. besuchte ich die Elementar-Schule und erhielt im Jahre 1902 am 18. März meine Schulentlassung-Reifezeugnigs. Hernach besuchte die gewerbliche Fortbildunsschule und trat bei Polenz und Bauer als Steinmetzlehrling ins Geschäft ein. In meiner Jugend hatte immer grosse Vorliebe für Musik, jedoch habe nie ein eigenes Instrument bekommen können.69

Mathias relatou que foi em Estrasburgo, na Alsácia, onde aprendeu o ofício da cantaria.70 Em seu diário ele colocou fotos da empresa Polenz & Bauer, com datas de 1901-1904, o que indica que ele deve ter trabalhado ali próximo a sua vinda para o Brasil. Sobre a folha branca do caderno, as fotos mostram a rotina da empresa (Figura 5) e

familiar escrita por Mathias Haas). Gedenken über Vergangenes und Gegenwärtiges - Deutschland/Blumenau/Brasilien (Memórias sobre o passado e o presente - Alemanha/Blumenau/Brasil). In: Gedenkbuch und werdegang von Marmoraria Haas. (Livro de Memórias e Trajetória da Marmoraria Haas - Alemanha-Brasil). Acervo Particular Família Haas, Blumenau, 1937, p. 13 A. 69

Tradução: “Em Strassburg freqüentei a escola elementar, onde me formei em 18 de março de 1902. Depois freqüentei a escola de formação profissional e estagiei como aprendiz de canteiro na empresa Polenz &Bauer.

Na minha juventude eu tinha grande paixão por música, mas nunca tive a oportunidade de possuir um instrumento”. HAAS, Mathias. Famillienchronik geschrieben von Mathias Haas, 09/08/1937 (Crônica familiar escrita por Mathias Haas). Gedenken über Vergangenes und Gegenwärtiges - Deutschland/Blumenau/Brasilien (Memórias sobre o passado e o presente - Alemanha/Blumenau/Brasil). In: Gedenkbuch und werdegang von Marmoraria Haas. (Livro de Memórias e Trajetória da Marmoraria Haas - Alemanha-Brasil). Acervo Particular Família Haas, Blumenau, 1937.

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Original: “In Strassburg im Elsass erlernte ich das Steinmetzhandwerk”. HAAS, Mathias. Lebenslauf und werdegang von Marmoraria Haas (Currículo e trajetória da Marmoraria Haas). Acervo Particular Família Haas, Blumenau, s/d, p. 1.

pode-se observar o trabalho em esculturas (Figura 6). Nestas últimas, os funcionários estão esculpindo alegorias, anjos e um Cristo, o que indica que Mathias teve contato com a produção de esculturas sacras e, até mesmo, ornamentos tumulares, apesar de não termos comprovação da realização de trabalhos em arquitetura funerária, quando vivia na Alemanha.

Figura 5 - Polenz & Bauer

Fonte: Acervo Família Haas

Em um cartão comemorativo (Figura 7) feito por Mathias em 1942, pela passagem de seus 40 anos de profissão e inserido em seu diário, ele registra a data de 1902 como o início de sua carreira profissional, mesmo ano que trabalhou na Polenz & Bauer. Nas fotografias, em preto e branco do cartão, Mathias aparece em dois momentos, em 1902 e 1942, junto a paisagens de Blumenau e a imagem da sede da empresa em Blumenau. Esses temas, juntamente com a família, ele iria priorizar em diferentes impressos que fez ao longo de sua carreira. Nesse cartão destacado na Figura 7 Mathias saúda a todos com os dizeres em alemão: “Gruss aus Blumenau / SteimetzBetrieb /

Friedhofskunst: Cordiais saudações de Blumenau / Empresa de cantaria / Arte cemiterial”.

Figura 6 - Polenz & Bauer

Fonte: Acervo Família Haas

Figura 7 - Cartão comemorativo profissional de Mathias

Ainda na Alemanha, Mathias chega a sua adolescência e sua família, sem encontrar boas condições de trabalho e diante das dificuldades pelas quais passava o velho continente, decide deixar o país. Aos 17 anos, Mathias ruma para o Brasil e enfrenta uma travessia de Hamburgo até Paranaguá que durou três semanas, sem aportar no Rio de Janeiro. Ao desembarcar no porto de São Francisco do Sul, Mathias e sua família receberam uma refeição de batata com sardinhas.71 Na sua narrativa estão outros pormenores desses primeiros momentos no Brasil: Às 10h de 19/03/1904 chegamos a Blumenau. No Hotel Holetz nos foi servido um jantar: pão com lingüiça de fígado; e depois disso dormimos no chão. As 4 horas da manhã seguimos a pé e de carroça, sob chuva torrencial, em direção a Hansa Hamonia. No Warnow (Indaial) almoçamos e em Aquidaban-Ribeirão dos Bugres nós jantamos. Mulheres e crianças viajavam na carroça. Vez por outra todos eram obrigados a desembarcar e ajudar a empurrar.72

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Original: “die Überfahrt dauerte 3 Wochen, von Hamburg bis Paranaguá, nach Rio de Janeiro kamen wir nicht: in São Francisco waren wir ausgeschifft, da staunten wir über die Grösse des Schiffes “Argentina”, so hiess unser Dampfer. Da gab es Kartoffeln und Heringe in Hülle und Fülle, was in Deutschland ärmere Leute immer assen, ist hier immer noch eine Delikatesse?”. HAAS, Mathias. Famillienchronik geschrieben von Mathias Haas, 09/08/1937 (Crônica familiar escrita por Mathias Haas). Gedenken über Vergangenes und Gegenwärtiges - Deutschland/Blumenau/Brasilien (Memórias sobre o passado e o presente - Alemanha/Blumenau/Brasil). In: Gedenkbuch und werdegang von Marmoraria Haas. (Livro de Memórias e Trajetória da Marmoraria Haas - Alemanha-Brasil). Acervo Particular Família Haas, Blumenau, 1937, p. 13 72

Original: “Am 19/3/1904 abends um 10. Uhr Ankunft in Blumenau. Im Hotel Holetz bekamen wir Abendbrot: eine Leberwurst und ein Stück Brot, dann schlafen auf den Fussboden: Früh morgens, 4 Uhr ging es per Fuss und Wagen bei strömenden Regen ab, Richtung Hansa-Hamonia: in Warnow Mittag, in Aquidaban-Bugabach Abendrot. Frauen und Kinder konnten fahren, stellenweise musste abgestiegen werden” . HAAS, Mathias. Famillienchronik geschrieben von Mathias Haas, 09/08/1937 (Crônica familiar escrita por Mathias Haas). Gedenken über Vergangenes und Gegenwärtiges - Deutschland/Blumenau/Brasilien (Memórias sobre o passado e o presente - Alemanha/Blumenau/Brasil). In: Gedenkbuch und werdegang von

Como as carroças emperravam, de vez em quando, a viagem era interrompida. A chuva torrencial foi companheira na jornada e, na memória de nosso narrador, ficou gravada “a romântica visão do morro do Cocho, com suas incontáveis quedas d’água”73, onde ele alvejou “pela primeira vez um pequeno ‘crocodilo’, que pelas dimensões não passava de um lagarto bem crescido”.74 Durante três dias percorreram cerca de 100 km até o seu destino final.

Em Nova Bremen, que hoje pertence ao município de Ibirama, ele vendeu seu relógio de bolso com o intuito de adquirir uma canoa para transportar a bagagem pelo rio. No meio da floresta deram início à instalação da colônia que contava com alguns poucos moradores, em uma rotina de trabalho que incluía o embate constante com indígenas.75 Em seu diário, ele registra que tempos antes da sua chegada “Um

Marmoraria Haas. (Livro de Memórias e Trajetória da Marmoraria Haas - Alemanha-Brasil). Acervo Particular Família Haas, Blumenau, 1937, p. 13. 73

Original: “In steter Erinnerung blieb mir der höchst romantische Cocho-Berg mit seinen zahlreichen Quellen”. HAAS, Mathias. Famillienchronik geschrieben von Mathias Haas, 09/08/1937 (Crônica familiar escrita por Mathias Haas). Gedenken über Vergangenes und Gegenwärtiges - Deutschland/Blumenau/Brasilien (Memórias sobre o passado e o presente - Alemanha/Blumenau/Brasil). In: Gedenkbuch und werdegang von Marmoraria Haas. (Livro de Memórias e Trajetória da Marmoraria Haas - Alemanha-Brasil). Acervo Particular Família Haas, Blumenau, 1937, p. 14A. 74

Ibid. Original: “Hier schuss ich das erste “Krokodil”, es war natürlich nur eine grosse Eidechse” HAAS, Mathias. Famillienchronik geschrieben von Mathias Haas, 09/08/1937 (Crônica familiar escrita por Mathias Haas). Gedenken über Vergangenes und Gegenwärtiges - Deutschland/Blumenau/Brasilien (Memórias sobre o passado e o presente - Alemanha/Blumenau/Brasil). In: Gedenkbuch und werdegang von

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