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Este capítulo tem como objetivo analisar a educação superior que se empreendeu na FUNESA, no período de 1990 a 2006, quando a antiga FUNEC mantenedora da Faculdade de Formação de Professores de Arapiraca, foi estadualizada. A fim de alcançar meu objetivo, o texto seguirá a seguinte linha de raciocínio: parte de uma reflexão sobre o contexto econômico, político e social do município de Arapiraca,chegando ao projeto de criação, desenvolvimento, formas de gestão,e sua transformação em fundação universidade assumida pelo Estado; descortina sua nova experiência envolta na crise fiscal do Estado sofrendo os efeitos mais perversos dessa crise, principalmente com o programa de desligamento voluntário – PDV, cujo desenrolar significará um ponto de singularidade em sua história, e por último, abordará os limites e desafios que a instituição terá de enfrentar neste século XXI.

Para dar conta do objeto de estudo a que me propus desde o início desse trabalho, e com muito cuidado para não cometer algum tipo de “paroquialismo”, todo meu esforço na análise da trajetória desta instituição foi em conciliar “lugar” (território de Arapiraca) e “tempo”(social), como elementos propiciadores do desenvolvimento da sociedade, com a conseqüente necessidade de sincronização da conduta humana no território.(Elias, 1989,p.84) Para isso procurei ver se nos diferentes momentos que antecederam a criação dessa instituição e durante seu desenvolvimento até sua transformação em FUNESA - depois UNEAL: por isso a problemática da educação neste município também assume traços específicos, vindo a refletir-se na estrutura e funcionamento da IES.

Para reconstruir a história do ensino superior a partir do nascimento da Faculdade de Formação de Professores de Arapiraca em 1970, sua expansão,nas

83 décadas de 1980 e 1990, e nesta última década,quando já ampliada, a transformação de “faculdade isoladas”, em Fundação Universidade Estadual de Alagoas,em 1995 até chegar em 2006, quando a FUNESA é transformada por credenciamento do MEC/CEE-AL em “ente universidade”, são cerca de 30 anos, vivenciando uma intensa experiência de ação docente, e parte deste período, atuei como gestora acadêmica, vinha percebendo durante todo esse tempo que a FUNESA caminhava a passos largos para a adaptação aos preceitos ideológicos neoliberais, adotando modelos de gestão e de ensino dissociados da pesquisa e da extensão.Assim, para a construção do conhecimento histórico desta instituição, e pára ajudar-me a responder às perguntas formuladas no início dessa dissertação, tornou-se importante o uso da Memória e da História Oral, principalmente pela importância a elas atribuídas pela historiografia,a partir da década de 1980 e pelo que elas podem representar para a compreensão do passado .Portanto, neste capítulo objetiva-se dar ênfase sobre a utilização da memória como ferramenta indispensável e criteriosa, isto é, como “propriedade de conservar certas informações”( LE GOFF, 2004) e que pode servir de auxílio à construção do conhecimento histórico, ao lado da, história oral que se constitui em uma possibilidade efetiva de produção de um vasto campo documental.

Halbwachs( 1975 ) considera a memória importante para a reconstrução histórico-social de uma instituição, principalmente quando os documentos nos faltam. Na nossa memória (minha e do grupo mais antigo da FUNESA) permanecem presentes as lembranças de uma seqüência de acontecimentos importantes desta instituição, de modo que a ausência de alguns documentos, principalmente do final da década de 1990,com o desmoronamento da instituição provocado pela crise fiscal do Estado e pelo PDV, não se constituirá em impedimento para reconstruir sua história, até porque, segundo este autor,

A história não é todo o passado, mas também não é tudo aquilo que resta do passado. Ou, se o quisermos, ao lado de uma história escrita, há uma história viva que se perpetua ou se renova através do tempo e onde é possível encontrar um grande número dessas correntes antigas que haviam desaparecido somente na aparência (HALBWACHS, 1975, p.67).

84 É com esse entendimento que a escrita dessa história adquire relevância em nossa instituição, uma vez que ela servirá de “ponte entre o passado e o presente”, e para “restabelecer essa continuidade interrompida” (p.81). É esse passado vivido na instituição, bem mais importante para esse momento do que o passado aprendido pela história escrita, sobre o qual poderá mais tarde apoiar-se sua memória. E, mesmo que quiséssemos recorrer à história da FUNESA, nossas tentativas poderiam ser frustradas, por não haver muitos escritos sobre ela,a não ser alguns registros de ordem quantitativa e em documentos oficiais ,como veremos mais adiante neste trabalho,porque de outra ordem só começaram a aparecer a partir de 2002-2003, mesmo assim, não tratam da história da instituição. É por isso que Halbwachs (1975) vai além da formação da memória, e nos leva às lembranças a partir da convivência em grupo, ajudando-nos a reconstruir essa história. Na sua compreensão:

a lembrança é em larga medida uma construção do passado com ajuda de dados emprestados do presente, e além disso, preparada por outras reconstruções feitas em épocas anteriores e de onde a imagem de outrora manifestou-se já bem alterada.( p.71)

Nesse sentido, as lembranças que repousam, pelo menos em parte, nos depoimentos de alguns dos nossos colegas professores e aquelas que existem na memória do meu próprio passado, tanto como docente, quanto como gestora acadêmica (por um bom período), são condições para manter viva essa história em nossa memória. Esta, por certo, será a única forma de salvar nossas lembranças.Por isso, grande parte das narrativas aqui apresentadas a respeito da FUNESA constitui conteúdo de minha memória e da memória de muitos daqueles que comigo estiveram e ainda estão participando dessa construção histórico-social.

3.1. Quadro Econômico, Político e Social de Arapiraca

A história da educação desse município relaciona-se com a história da formação da sociedade arapiraquense e pode ser considerada como fator de transição, em que a tradição e a modernidade são responsáveis pela formação de

85 um espaço indefinido, qualificado por Carneiro (2004) como “rurbano18”. Na verdade,

o panorama desse município desenhado por Nardi (2004, p. 27-28) apresenta uma forte urbanização (82%), em relação a outros municípios da Região Fumageira de Arapiraca (RFA).

Tabela 4 - População Urbana e Rural na Região Fumageira de Arapiraca - 2000