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Em relação à pesquisa empírica, o primeiro passo consistiu em conversa informal com um servidor da SDR da Prefeitura (órgão gestor do assentamento), para explicar os objetivos da pesquisa e obter informações a respeito do assentamento e contato das lideranças. Posteriormente, no dia 23 de agosto de 2014 fez-se a primeira visita ao assentamento para conhecer a área e apresentar-se ao presidente da Associação, como também, para marcar reunião com os assentados, para explicitação dos objetivos do trabalho e dos instrumentos de investigação, com vistas à obtenção da autorização prévia para a participação dos sujeitos na pesquisa. Em seguida, formalizou-se processo junto ao Comitê de Ética da Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Piauí (UFPI), obtendo-se parecer aprovativo (nº 983.678) para realizar a pesquisa.

O trabalho de campo foi efetivado entre outubro de 2014 e junho de 2015 por meio de observação participante, embasada na concepção de Minayo (2007), com foco na observação e na interpretação da realidade vivenciada no Assentamento Rural Campestre Norte, sob os âmbitos social, econômico, político/institucional e ambiental. Além da aplicação de entrevistas e questionários, cujos fatos foram registrados em diário de campo e através de levantamento fotográfico, empreendido durante as visitas ao assentamento.

Nessa perspectiva, nas várias visitas vivenciou-se o cotidiano do assentamento, como também, em outubro de 2014, acompanhou-se a colheita de cana-de-açúcar (etapas de queima,

corte e carregamento da cana-de-açúcar), quando a pesquisadora permaneceu por dois dias consecutivos no assentamento, hospedando-se na casa de uma assentada; e em maio de 2015, participou e colaborou com a organização do Dia de Campo no assentamento, que teve como tema o aprimoramento de técnicas de produção da cana-de-açúcar, realizado pela extensão universitária do curso de agronomia da UFPI. Deste modo, a convivência constante com os assentados, principalmente, com aqueles que gerenciam o projeto produtivo de cana-de-açúcar no assentamento, possibilitou oportunidades para compreender aspectos importantes da realidade presenciada.

Referente aos instrumentos de pesquisa, destaca-se a aplicação de oito entrevistas não- diretivas com pessoas-chave, em consonância com Thiollent (1987), selecionadas por meio da técnica de “bola de neve”, com o fito de reconstituir a história do assentamento, entender o modo de vida do lugar e o processo de criação do projeto produtivo de cana-de-açúcar no assentamento. Deste modo, salienta-se que, as entrevistas foram iniciadas com um tema geral e sem estruturação de problema, o que provocou diálogos longos com os sujeitos, proporcionando o aprofundamento de diversas questões.

Destarte, através da técnica da “bola de neve”, partiu-se de um servidor da Prefeitura/SDR, que colaborou com a criação do assentamento e indicou duas pessoas, o presidente da Associação e uma assentada (moradora antiga do imóvel), que se envolveu desde o início da criação do assentamento. O atual presidente apontou mais três pessoas, os dois ex- presidentes da Associação, que acompanharam a formação do assentamento e do projeto de cana-de-açúcar e um assentado, que atuou diretamente no projeto. O assentado sugeriu o agrônomo responsável pela implantação do projeto de cana-de-açúcar e que prestava assessoria técnica ao assentamento, e este indicou o ex-superintendente da SDR (atualmente servidor do INCRA), que implantou o assentamento.

No diário de campo33 (agenda da pesquisadora) registrou-se as entrevistas com os

pesquisados, relatou-se os acontecimentos, percepções, informações complementares dos entrevistados nos momentos de conversas durante cafés da manhã, lanches de tarde na sede da Associação, almoços e caminhadas pelas ruas do assentamento.

Também, realizou-se duas entrevistas semiestruturadas (APÊNDICE A), “a partir de um pequeno número de perguntas abertas” (THIOLLENT, 1987, p.35), com o diretor geral da Comvap e com um gerente do setor agrícola da empresa, em fevereiro de 2015, para

33 O diário de campo constitui elemento de registro sistemático da memória do pesquisador, ideal para relatar o

cotidiano da pesquisa através de detalhes como acontecimentos, impressões, estranhamentos, discussões e conversas que possam subsidiá-lo em suas futuras análises (WHITAKER, 2002).

levantamento dos dados relativos à produção canavieira da Usina e para compreender a relação da empresa com a associação do assentamento (APRACCAN).

Outrossim, procedeu-se a análise de conteúdo das entrevistas para explicar o significado de materiais textuais extraídos do diário de campo e das entrevistas para interpretação teórica das categorias e associação com o problema de pesquisa.

Enfatiza-se que, as fotografias do acervo da pesquisa foram utilizadas para ilustrar as análises qualitativas deste trabalho, além de serem cedidas à associação, para compor a memória do assentamento.

Ademais, usou-se o método estatístico (HÜHNE, 1988) para proceder a caracterização socioeconômica e política/institucional das famílias assentadas. A delimitação da amostra, embasou-se no critério probabilístico (APPOLINÁRIO, 2006), apoiado no universo de 180 famílias cadastradas e residentes no assentamento, com erro máximo estatisticamente calculado de 5,0%, abrangendo 124 famílias34.

Para levantamento dos dados quantitativos, aplicou-se, inicialmente, questionário pré- teste (formulário no APÊNDICE B) com 10% da amostra, a fim de corrigir inconsistências e dubiedades; e, posteriormente, o formulário definitivo (APÊNDICE C) com 124 famílias, ambos contendo questões fechadas e abertas, relativamente aos condicionantes sociais, econômicos e político/institucionais do assentamento, de acordo com Oliveira (2014), além de questões relativas ao projeto de cana-de-açúcar no assentamento.

Ressalta-se que, as famílias pesquisadas no pré-teste participaram igualmente do questionário definitivo de forma voluntária. Logo, realizou-se a pesquisa com 141 titulares dos lotes cadastrados na Relação de Beneficiários (RB), sendo 101 mulheres e 40 homens, revelando a predominância de mulheres como respondentes da pesquisa; menciona-se que, 15 casais titulares dos lotes responderam conjuntamente a pesquisa.

Cabe destacar que, o questionário foi aplicado geralmente na sala ou no “puxadinho” na frente das residências, construído pelos próprios assentados e quando o assentado declarou que possuía criação de animais, pedia-se para conhecer o lote e registrar por meio da fotografia.

Em relação à identificação dos entrevistados, adotou-se o termo “entrevistado”, com referência às oito entrevistas não-diretivas e às duas entrevistas semiestruturadas realizadas; e “assentado rural”, para citar os comentários dos assentados relatados durante a aplicação dos

34 Em função da especificidade das famílias rurais no contexto de assentamentos de reforma agrária, nesta

investigação, adotou-se como família, um grupo familiar vinculado a uma residência, que mantém relações de consumo e trocas ou trabalho, com parentesco entre si, sem pressupor a composição interna das unidades, na perspectiva proposta por Almeida (2006).

formulários. Assim, as entrevistas e os formulários foram numerados para preservar a identidade dos participantes na pesquisa, em consonância com as recomendações do CEP da UFPI.

Posteriormente, tabularam-se os formulários em planilhas Excel, com o propósito de consolidar os dados coletados, estruturadas em conformidade com a sequência das perguntas no formulário. Para a análise quantitativa dos dados, utilizou-se a estatística descritiva, conforme Fonseca e Martins (1996), por meio das distribuições de frequências, que permitem a organização e visualização dos dados de acordo com a ocorrência e através de representações gráficas.

Acrescenta-se que, a pesquisa abrangeu levantamento documental junto ao INCRA e PMT/SDR, que se constituem nos órgãos gestores do assentamento, para coleta do processo de formalização e reconhecimento do assentamento rural, incluindo Carta de Adesão do PCA, cadastro resumido no Sistema de Informações de Projetos de Reforma Agrária (SIPRA), planta do imóvel, projeto de viabilidade do PCA, Portaria de criação do projeto, RB e estatuto de fundação da associação. Na associação de produtores do assentamento (APRACCAN) obteve- se o PDA, Plano de Recuperação do Assentamento (PRA) e o Projeto Produtivo de Financiamento. Cabe destacar a utilização do documento intitulado Dossiê COMVAP: uma história de suor e sangue, elaborado pela equipe do Centro Piauiense de Ação Cultural (CEPAC), que relata sobre a instalação da Usina Comvap no estado do Piauí. Realça-se que, tais documentos foram fundamentais para o conhecimento prévio sobre a realidade do assentamento, auxiliando na condução do trabalho de campo.

Ademais, a pesquisa configurou uma investigação experimental, em função da realização de ensaios das amostras de solo retiradas no campo agrícola do assentamento para proceder a análise de indicadores químicos, físicos e biológicos de qualidade do solo.