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Esta seção apresenta a trajetória profissional dos acadêmicos, destacando quando começaram a trabalhar, assim como as atividades realizadas, a quantidade de horas trabalhadas e a percepção dos alunos sobre as oportunidades no mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, verificou-se o que consideram importante para o processo de inserção neste mercado.

O gráfico 19 apresenta o percentual de acadêmicos que exercem atividades remuneradas, 96%, caracterizando um público de trabalhadores-estudantes e estudantes- trabalhadores que conciliam as atividades de trabalho e de estudo. Entre os que exercem atividades remuneradas, 86,1% são efetivos e apenas 13,9% são estagiários.

96,0

4,0 1

sim não

Gráfico 19 – Atividade remunerada Fonte: Pesquisa aplicada.

A forma pela qual o acadêmico se mantém economicamente, no período de formação universitária, e as relações de dependência geradas para tal situação são baseadas em três categorias propostas por Romanelli (1994): estudante em tempo integral, o estudante- trabalhador e o trabalhador-estudante. Conhecer o acadêmico implica considerar essas diferenças que influenciam o seu cotidiano nas relações estabelecidas entre família x estudo x trabalho.

O estudante em tempo integral é mantido totalmente pela família, podendo dedicar-se somente ao estudo. O projeto e as condições familiares o diferenciam, pois garantem-lhe a escolarização prolongada, sem maiores preocupações.

O estudante-trabalhador ou, literalmente, o estudante que trabalha, continua sendo em parte mantido pela família. O trabalhador-estudante diferencia-se do anterior por não depender financeiramente da família, mas, pelo contrário, colabora para o orçamento doméstico. A família não dispõe de recursos para mantê-lo ou, então, não considera ou prioriza esse investimento na escolarização. Sendo assim, estudar é um projeto que depende unicamente da sua disposição pessoal, de suas aspirações e recursos financeiros, embora, às vezes, venha acompanhado de incentivo da família.

Observa-se que o acadêmico aqui estudado insere-se nas categorias estudante- trabalhador e, principalmente, trabalhador-estudante, para o qual a sua atividade profissional é muito importante, e o estudo, uma contingência, na medida em que pode contribuir (e é a expectativa) para a melhoria das condições de trabalho e de remuneração. O estudante- trabalhador, estagiário ou efetivo não tem um envolvimento tão significativo com o seu

emprego ou atividade, pois o considera provisório, tendo em vista que o futuro profissional seria planejado a partir da qualificação obtida na Universidade

Essas diferenças em graus de envolvimento do estudante com o estudo e com o trabalho, propostas por Romanelli (1994), são reflexões iniciais, que não podem ser generalizadas e afirmadas categoricamente que o estudante-trabalhador esteja ancorado no estudo e que o trabalhador-estudante tenha como âncora o trabalho. Pode-se, sem dúvida, afirmar que o trabalho é parte constitutiva da caracterização e da identidade desses acadêmicos do ensino superior noturno.

Quanto ao segmento de atuação, o grande destaque ficou para serviços (42%), seguido pelo comércio (29,2%). Os segmentos consultoria e outros ficaram com 13,2% e destaca-se o reduzido número de acadêmicos que atua na indústria (2,4%). No item “outros”, observou-se dificuldade de se classificarem os segmentos, sendo citados pelos acadêmicos, turismo, hotelaria, construção civil, saúde, “bicos” ou vendas.

42,0 13,2 2,4 29,2 13,2 serviços consultoria indústria comércio outro

Gráfico 20 – Segmento de atuação Fonte: Pesquisa aplicada.

Observou-se, conforme a tabela 18, um leve destaque para a função de analista, assistente e auxiliar (27,2%), função que parece ser condizente com a faixa etária dos acadêmicos e a situação de estarem em início de carreira. Pode-se constatar um percentual de 11,3% de filhos do sócio ou do proprietário da empresa, assim como 10,3 % sendo os proprietários ou os sócios. Nesta questão, alguns acadêmicos também encontraram dificuldade de classificação (11,3%), destacando como outros, professora, corretora, secretária, representante comercial, vendedora, por exemplo.

Tabela 18 – Nível do cargo Nível do Cargo Estagiário 12,7 Trainee 2,3 Analista/assistente/auxiliar 27,2 Supervisão/coordenação 9,9 Presidência/vice-presidência 0,5 Filho do sócio ou proprietário 11,3

Consultor/assessor 3,8 Gerência Jr. 2,3 Gerência média 8,0 Direção/superintendência 0,5 Proprietário/sócio 10,3 Outro 11,3 Total 100,0

Dois aspectos apresentados a seguir, carga horária de trabalho semanal (gráfico 21) e idade em que começou a trabalhar (Tabela 19) corroboram a característica de acadêmico trabalhador. O número de 40 horas semanais trabalhadas, ou mais, despontou como a grande maioria (83,4%) e sinaliza para uma realidade com a qual a Universidade disputa espaço – o tempo excessivo de trabalho presente na agenda dos acadêmicos.

6,9 9,7

83,4

20h 30h

40h ou mais

Gráfico 21 – Carga horária semanal de trabalho Fonte: Pesquisa aplicada.

Essa extensa jornada de trabalho (40 horas ou mais) exige do acadêmico uma gestão do tempo, uma adequação do tempo individual ao tempo institucional para o cumprimento das responsabilidades. A tabela 19 mostra que este acadêmico aprendeu, vem administrando e conciliando trabalho e estudo desde a adolescência, pois o percentual de acadêmicos que começaram a trabalhar antes dos 16 anos é alto, 58,1%, e, se somado aos que começaram a trabalhar entre 16 e 18 anos (27,6%), atinge-se um percentual de 85,6% dos acadêmicos que começaram a trabalhar antes dos 18 anos.

Tabela 19 – Ingresso no mercado de trabalho

Idade que começou a trabalhar

Antes dos 16 anos 58,1 Entre 16 e 18 anos 27,5 Entre 18 e 20 anos 11,3 Entre 20 e 22 anos 2,7 Com mais de 22 anos 0,5

Total 100,0

Um aspecto interessante identificado, na Tabela 20, que traz à discussão o papel do capital social, evidencia as indicações para as oportunidades de emprego que somam 66,9%, considerando indicações de familiares e amigos de familiares. Surpreendeu a baixa participação da Universidade neste espaço de inserção e de oportunidades ao mercado de trabalho.

Tabela 20 – Oportunidades no mercado de trabalho

Como surgiram as oportunidades no mercado de trabalho?

Anúncio em jornais 12,8

Anúncios em murais da Universidade 0,5

Indicações de colegas de Universidade 2,7

Indicações de outros colegas 12,8

Indicações de familiares 34,8

Indicações de amigos de familiares 32,1

Indicações de professores da própria Universidade 1,1

Outro 3,2

Total 100,0

Fonte: Pesquisa aplicada.

O predomínio das indicações de familiares, amigos de familiares, de outros colegas mostra a importância do capital social. Bourdieu (1999) destaca que a cumplicidade de classe de estudantes provenientes da mesma origem social, ou dos mesmos estratos, funda- se em critérios personalistas que se convertem em poderoso instrumento de acesso a empregos. Aspecto também pontuado por Da Matta (1985) como prática comum na vida brasileira, e como não poderia deixar de ser, presente em cidades do interior. Estes resultados parecem colocar em segundo plano a competência do candidato, privilegiando a origem social e indicações. A Universidade tem um papel muito “tímido”, quase insignificante neste contexto de ser um local de procura por candidatos, diante do papel das relações sociais já estabelecidas. Observam-se iniciativas isoladas da comunidade empresarial em ir ao encontro da Universidade para buscar profissionais qualificados, pois são poucos os empresários que contatam gestores acadêmicos, solicitando indicações de estudantes para determinadas vagas mais difíceis de preencher, por exigirem maior qualificação.

A tabela 21 apresenta a mediana12 para os níveis de importância, pois o questionário solicitava uma escala ordinária, referente ao que se considerava mais importante no processo de busca por uma posição no mercado de trabalho (Apêndice A, questão 70).

Tabela 21 – Mediana para os níveis de importância

Característi- cas pessoais Desenvolvi- mento de competên- cias técnicas Estar na Universi- dade Experiência Domínio de idiomas Conheci- mento de informática Mediana 3,00 3,00 5,00 3,00 6,00 5,00 Total Mediana Agrupada 3,00 3,08 4,76 3,02 5,62 5,01

Fonte: Pesquisa aplicada.

Quanto mais altas as medianas, mais importante o indicador. Observa-se, assim, a importância dada ao processo de busca por uma posição no mercado de trabalho para o domínio de idiomas em primeiro lugar, estar na Universidade e conhecimento de informática. O estar na Universidade, valor capital como credencial de acesso ao mercado de trabalho, assim como o domínio de códigos e ferramentas, como idiomas e informática.

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