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CAPÍTULO II-PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS NA ELABORAÇÃO DO

2.1 Trajeto metodológico

O método selecionou textos que permitissem o exame da construção do sujeito-leitor. Primeiramente, focamos em projetos de leitura e, no decorrer das buscas, no espaço cibernético, conseguimos selecionar materialidades linguísticas que circulam em sites de igrejas, editoras, portal de vendas empresariais, do Ministério da Cultura e de jornais eletrônicos, consequentemente, adotamos os procedimentos de uma pesquisa documental.

A pesquisa documental recorre a fontes mais diversificadas e dispersas, sem tratamento analítico, tais como: tabelas estatísticas, jornais, revistas, relatórios, documentos oficiais, cartas, filmes, fotografias, pinturas, tapeçarias, relatórios de empresas, vídeos de programas de televisão, etc. (FONSECA, 2002, p. 32).

A pesquisa foi elaborada através da descrição e compreensão das peças selecionadas. Com base em teóricos da AD, especificamente, Pêcheux e Orlandi, montamos um dispositivo teórico que deu sustentação às análises realizadas.

Os procedimentos na construção do corpus estão alinhavados com o Modelo Clássico de Exposição de Estudos (MCEE)- cuja autoria é de Bernardo-Santos (2016).O MCEE faz referência a uma proposta de estudo que pretende avançar cronologicamente nos estudos sobre os instrumentos linguísticos no Brasil (gramáticas e dicionários impressos e digitais) filiados às políticas públicas de redemocratização. Seguindo a perspectiva teórica desse modelo, consideramos os projetos de leitura enquanto instrumentos linguísticos inscritos nas instâncias ideológicas do discurso. Esse modelo aborda o funcionamento da textualidade escrita, visto que opera com a categoria região/território e ressalta o estudo da textualidade na relação com a exterioridade.

Segundo Bernardo-Santos (2014, p.11), “diante de um texto, seja qual for sua dimensão, devemos reconhecer em sua materialidade relações de sentidos deslizando entre regiões e em cada uma delas temos posições/vozes específicas em construção”. Nessa direção, traçamos as regiões periféricas e centrais dos textos, trazendo para análise aspectos que estão nas microrregiões do texto.

Para a AD, o texto é um objeto linguístico-histórico que se desenvolve de múltiplas formas, nesse sentido, articulamos o estudo da constituição do sujeito-leitor com o MCEE, por considerarmos que a metodologia empregada nesse modelo corresponde aos objetivos de compreensão da historicidade dos arquivos através do Quadro de Documentação da Gramatização Brasileira (QDGB) e do Quadro de Referências para Análise- (QRA). Para Bernardo-Santos (2016), o QDGB faz a classificação dos instrumentos linguísticos em acadêmicos, profissionalizantes, religiosos, escolares, turísticos etc. Enquanto isso, o QRA orienta um percurso teórico considerando as especificidades dos instrumentos linguísticos por intermédio das seguintes dimensões: documental, histórica, discursiva e a do ensino.

Nesta seção, registramos o conceito dicionarizado do termo leitor, de acordo com os dicionários Michaelis6, Aurélio7 e o dicionário de Charaudeau e Maingueneau (2016)8 , como

6No dicionário Michaelis[online]. Disponível em<http://michaelis.uol.com.br/busca? r=0&f=0&t=0&palavra=leitor>. Que ou aquele que lê,

habitualmente, alguma publicação periódica (livro, jornal, revista etc.); que ou aquele que, em editoras, companhias teatrais etc., lê e avalia os originais enviados pelos autores e emite parecer a respeito de seu conteúdo e da viabilidade comercial de sua publicação ou encenação; diz-se de ou membro da Igreja católica cuja função consiste em fazer a leitura dos textos da Sagrada Escritura.

7No dicionário Aurélio [online]. Disponível em <https://dicionariodoaurelio.com/leitor >. Registram-se as seguintes acepções para a palavra

leitor: Pessoa que lê um livro, um jornal, revista etc.; aquele que faz profissão de ler em voz alta diante de outras pessoas. Colaborador que lê os manuscritos enviados a um editor; Professor de nacionalidade estrangeira, encarregado, numa universidade, de exercícios práticos sobre a língua do seu país de origem. Aparelho que permite reproduzir sons registrados ou informações codificadas e registradas em suporte magnético ou eletrônico; Máquina ou dispositivo que permite a introdução de dados num computador a partir de um disco, de uma banda magnética, de uma fita de papel perfurado, etc. Aquele que recebeu a segunda das quatro ordens menores da hierarquia eclesiástica.

8De acordo com o dicionário Análise de Discurso ( CHARAUDEAU, P.; MAINGUENEAU, D., 2016) , no quadro da teoria da literatura,

“leitor” é utilizado como conceito que fundo a análise, em particular, das condições de recepção de uma obra, na medida em que ela se inscreve no horizonte de expectativa de um leitorado (...) a partir do leitor surgem as avaliações de uma obra; Em análise de discurso, o lugar do leitor

uma maneira de expor o uso corrente da palavra leitor. Salientamos que tais acepções remetem aos sentidos instaurados nas práticas sociais e, concomitantemente, apontamos a relevância de ressignificação do estudo das diferentes posições desse sujeito-leitor, na atualidade, através dos resultados obtidos no capítulo analítico.

Na seção metodológica, enquanto a primeira etapa da pesquisa abrangeu a descrição dos dispositivos teóricos, a segunda etapa referiu-se à descrição das materialidades linguísticas, observando a textualização dos sentidos com base nas condições de produção. Abordamos a forma sujeito-leitor com base nas instâncias ideológicas do discurso, assim como preconiza Nunes (2003).

A análise de discurso é uma disciplina que não apresenta uma fórmula metodológica, visto que, ao se deparar com os elementos constitutivos do dispositivo teórico, já se encontram os primeiros procedimentos metodológicos. Orlandi (2015) destaca que na AD o percurso metodológico se constitui por etapas, sendo assim, cabe ao primeiro gesto de interpretação construir o corpus, em seguida, detectar a passagem da superfície linguística (texto) para o objeto discursivo. Para a autora, o objeto discursivo resulta do acesso do analista ao processo discursivo, consequentemente, é possível compreender esses processos, através do jogo ideológico que atravessa a constituição dos sujeitos e de seus diferentes efeitos de sentido.

Diante da proposta de estudarmos a constituição do sujeito-leitor em diferentes materialidades, também analisamos as condições determinantes do discurso, as particularidades daquela produção e os efeitos de sentido que se estabelecem entre a teoria e o objeto de análise. Em cada instância ideológica, observamos o funcionamento das regiões do discurso. Desse modo, para explicitarmos como se deu o percurso metodológico, apresentaremos no próximo tópico como se deu a construção do corpus.