• Nenhum resultado encontrado

Capítulo II – Processo especial de impugnação do despedimento coletivo

2. Tramitação do processo – aspetos gerais

A ação de impugnação do despedimento coletivo encontra-se regulada no art. 388.º do CT e arts. 156.º a 161.º do CPT e é uma ação com caráter urgente, nos termos do art. 26.º, n.º 1, alínea d), do CPT, tendo como consequência que os seus prazos correm em férias segundo o art. 138.º, n.º 1, do CPC90.

Ao processo especial são aplicadas subsidiariamente as regras do processo laboral comum, assim como as regras gerais do processo civil declarativo.

Este processo especial é utilizado pelo trabalhador que tenha como objetivo a declaração da ilicitude ou irregularidade do despedimento coletivo nos termos dos arts. 381.º a 383.º do CT.

Quanto ao procedimento em si, o trabalhador91 tem o prazo de seis meses a contar da data da cessação do contrato para intentar esta ação de impugnação, nos termos do art. 388.º, n.º 2, do CT.

Acontece que, no mesmo momento de impugnação, recai sobre o trabalhador a obrigação de devolver a compensação que este haja recebido do empregador por causa do despedimento. Só feita essa devolução, a ação poderá prosseguir92.

3 - Além do mais, a natureza imperativa do regime do despedimento coletivo e da declaração da respectiva ilicitude, bem como a específica índole alimentar dos créditos laborais por constituírem frequentemente a única fonte de rendimentos do trabalhador e sua família, que levou o legislador a prever a sua proteção reforçada, sempre os tornariam inconciliáveis com a natureza extrajudicial e economicista do plano de revitalização (PER) e com o escasso controlo judicial a que está sujeito.”

Informação consultada in: http://www.cgtp.pt/sitio-dos-direitos/jurisprudencia/tribunais-da-relacao/8887-tribunal-decreta-que-o-per-

nao-extingue-accoes-de-impugnacao-de-despedimento-coletivo .

90 Sobre esta questão, MONTEIRO, João in “O controlo jurisdicional do despedimento colectivo. Breves considerações”, Prontuário

do Direito do Trabalho (2009), nº84, pp. 227-228, clarifica que existe uma parte, quase dominante na jurisprudência que tem entendido que “não obstante os prazos processuais nos processos urgentes não se suspenderem durante o período das férias judiciais, os correspectivos actos processuais só devem ser praticados em férias nas situações em que esteja concretamente demonstrado que os mesmos se destinam a evitar dano irreparável, caso contrário esses actos podem ser praticados no primeiro dia útil seguinte às férias (…). Esta posição tem merecido um acolhimento quase unanime por parte dos nossos tribunais, verificando-se na prática que, em regra, no decurso das férias judiciais nem sempre as acções de impugnação de despedimento colectivo são tramitadas ou praticados actos processuais inseridos na sua marcha”. Em sentido contrário o autor faz apenas referência ao acórdão do STJ de 09-01-2008, que

pode ser consultado em:

http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/092fd6edaaa35c9b802573d700352640?OpenDocument e conclui

que “atenta a natureza urgente da acção de impugnação de despedimento colectivo todos os actos processuais – das partes, dos magistrados e da secretaria – inseridos na sua marcha, cujos prazos terminem em dias que correspondam às férias judiciais, devem ser obrigatoriamente praticados no decurso dessas mesmas férias, não devendo, pois, diferir-se o momento da sua prática para o primeiro dia útil subsequente a esse período”.

91 Embora o despedimento seja coletivo, o direito de ação é individual. Neste sentido: MONTEIRO, Luís Miguel, quando refere que “o trabalhador – cada um dos trabalhadores – cujo contrato de trabalho cessou por declaração do empregador proferida no âmbito de procedimento formalmente havido como de despedimento colectivo (…) é titular do direito de acção” in “Processo de impugnação de despedimento colectivo”, in: Estudos do Instituto do Direito do Trabalho, Vol. V, Almedina, Coimbra, 2007, p.78.

92 Os problemas associados à devolução da compensação serão tratados de seguida devido à sua controvérsia na doutrina (v. pp. 37 e ss.)

36

Quanto à competência territorial, como regra geral, é competente para julgar este tipo de ação o tribunal do local do estabelecimento da prestação de trabalho93.

Em termos de tramitação, depois de apresentada a petição inicial, segue-se a citação do Réu/entidade empregadora, tendo este 15 dias para contestar e juntar os documentos comprovativos do cumprimento das formalidades de despedimento, que tenham sido apontadas pelo trabalhador na petição inicial como ausentes ou deficientes. Na contestação o Réu deve requerer o chamamento para intervenção dos restantes trabalhadores que tenham sido abrangidos pelo despedimento coletivo nos termos do art. 156.º, n.º 3, do CPT.

Terminada a fase dos articulados, entra em ação o papel do assessor, cuja função segue o regime da perícia presente no art. 468.º do CPC e no final apresenta o seu relatório que contêm o parecer emitido pelo mesmo sobre os factos que fundamentam o despedimento segundo o art. 158.º, n.º 1, do CPC94.

Posteriormente, é marcada a audiência preliminar prevista no art. 160º do CPT que segue o art. 591.º do CPC e visa uma decisão quanto ao cumprimento das formalidades do despedimento coletivo e quanto ao procedimento ou não dos fundamentos invocados para o despedimento coletivo.

Esta audiência preliminar serve de certa forma para o tribunal obter as informações que necessita das partes.

Na opinião de Albino Mendes Baptista, “a realização de uma audiência preliminar, parece-nos ter inteira justificação, atenta a especial dificuldade da apreciação judicial de uma matéria que se prende com critérios de gestão empresarial. (…) Efectivamente, a realidade empresarial e a realidade jurídica têm lógicas bem diferentes. Assim sendo, é de privilegiar este importante espaço de diálogo e de cooperação. O tribunal terá uma oportunidade também privilegiada de colher informações, de acompanhar o exercício do contraditório, permitindo-lhe apreender, em concreto, os

93 A questão da competência territorial será igualmente tratada adiante, tendo em conta que existem algumas exceções e situações de desvios à regra (v. pp. 49 e ss.)

94 O papel do assessor nesta ação reveste grande importância, e por tal motivo, será por nós posteriormente objeto de estudo mais detalhado (v. pp. 60 e ss.)

37

critérios de gestão empresarial adoptados. Em suma, a decisão judicial será certamente mais adequada à especial dificuldade do objecto do litígio”95.

Caso o processo não termine com o despacho saneador e havendo alguma questão a discutir ainda, terá de ser realizado julgamento que pode ser marcado separadamente com referência a cada um dos trabalhadores, segundo as regras do processo comum, seguindo-se os demais trâmites legais de acordo com as regras do processo comum, arts. 51.º e ss. do CPT ex-vi art. 161.º do CPT.

No final, teremos uma decisão no sentido de considerar o despedimento lícito ou ilícito96.