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Transcrição da Entrevista ao Entrevistado A10 (Formadora de CE e CP)

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Relativamente às medidas governamentais, elas são sempre medidas, a questão é a forma como nós a potencializamos, não é? Na realidade parece-me ser uma medida extremamente importante. Eu fui trabalhadora-estudante durante muito tempo, inicialmente trabalhadora e depois estudante e, como tal, enquanto pessoa que abandonou, enquanto (corrige) abandonou o processo educativo um bocadinho cedo e voltou mais tarde, não é, ao mesmo, é óbvio que dou todo o mérito às pessoas que adquirem competências na área do mundo do trabalho. Por isso, a medida governamental, enquanto medida, parece-me correta, parece-me totalmente ajustado, até porque era uma forma de também recuperar algum atraso de parte de Portugal, não é? Foi uma aposta há 25 anos atrás, foi uma aposta que eu vejo como certa. Mas na aposta na entrada das multinacionais, o que trouxe potencial, competências, oriundas de outras empresas, de outros países e, como tal, as pessoas tiveram oportunidade de crescer muito cedo dentro das empresas, ter formação dentro das empresas e não tanto junto à escola. Por isso, foi uma forma a meu ver correta de aproveitar esse potencial, essa medida.

Quais são os pontos fortes, segundo a sua experiência no terreno, da estrutura global da medida Novas Oportunidades.

Os pontos fortes são efetivamente as equipas dos próprios centros de Novas Oportunidades, pessoas extremamente dedicadas. É óbvio que depois a relação que elas estabelecem com os adultos dá a oportunidade de converter conhecimentos e competências em conteúdos de significação, as pessoas têm oportunidade para refletir sobre. Isso é, a meu ver, o ponto mais forte desta medida, porque, efetivamente, quando as pessoas cessam o processo, concluem de que aprenderam com o processo a refletir sobre a sua própria vida, por isso é o ponto forte.

E os pontos fracos da estrutura global da medida Novas Oportunidades?

O ponto fraco parece-me ser a imposição de objetivos, não é? O que implica uma pressão excessiva na parte das equipas formadoras da certificação, visando a certificação, o que parece-me ser dos pontos mais fracos.

Qual a utilidade da iniciativa Novas Oportunidades?

A iniciativa das Novas Oportunidades, no meu ponto de vista, a principal utilidade é contribuir para o crescimento das pessoas, isto no sentido de proporcionar momentos de reflexão em que, tal como eu já disse, não me querendo repetir, em que as pessoas tenham a oportunidade de refletir sobre as suas experiências adquiridas e nesses momentos de reflexão e de integração de conteúdos diversos e segundo orientações, as pessoas poderão contribuir para uma sociedade mais competitiva, no futuro próximo, espero eu.

Quais as aprendizagens que o programa Novas Oportunidades potencializa?

As Novas Oportunidades é um programa de auto referencialidade, isto é, o adulto é orientado a procurar as suas próprias experiências e nas próprias experiências, ao refletir nelas, adquire outras potencialidades. Por isso as aprendizagens, a aprendizagem central, é com base na reflexão, na investigação, na pesquisa e tornando as aprendizagens significativas a partir do momento, sendo que elas são consideradas ou tomadas como cerne de investigação as próprias experiências das pessoas.

No seu ponto de vista, quais as lógicas de formação inerentes às Novas Oportunidades?

A lógica de formação que eu acredito estar na base desta iniciativa é na formação contínua, isto é, não há um contexto específico de aprendizagem. A escola não é contexto único de aprendizagem. As pessoas podem aprender no contexto de trabalho e devem voltar, sempre que necessário, do

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contexto de trabalho novamente para os contextos de aprendizagem formal e depois voltar (pausa) e devem integrar, é sempre uma perspetiva holística, não é, devem integrar sempre aquilo sobre qual pensam, sobre qual sentem, por isso a lógica é sempre uma lógica de integração. Integração dos sentimentos das pessoas, da capacidade de cada um, de pensar na capacidade de cada um, de investigar e de se sentir enquanto ser parte de um todo muito maior do que ele, que é a própria sociedade.

Qual a valorização social das Novas Oportunidades?

É a integração social como um todo. Este para mim é o maior contributo das Novas Oportunidades, é valorizar a unidade da experiência de cada um, isto é, cada experiência do ser humano é uma experiência de potencial que deve ser aproveitada, teve ser entendida enquanto tal e potencializada. E de que forma é que os outros valorizam, isto é se valorizam, as Novas Oportunidades?

Nós, infelizmente, temos uma sociedade que em termos de herança, foi-nos deixada uma herança de que existia uma classe elitista separada de uma classe trabalhadora e como tal ainda reside essa divisão, essa hierarquia no inconsciente coletivo, é normal que as pessoas não percebam como é que se pode potencializar os conhecimentos adquiridos no mercado de trabalho, não é? Por isso, poderá haver uma certa desconfiança, um desconforto, mas nada que valha ser muito considerado, a meu ver.

Na mesma lógica, de que modo é que, enquanto formadora que trabalha diretamente num Centro de Novas Oportunidades, valoriza esta medida?

Bom, no seguimento de tudo o que já foi dito, de tudo o que eu já falei, é óbvio que para mim é de extrema importância esta medida e ela é, até pela minha experiência, do meu percurso enquanto pessoa não é, mais do que enquanto profissional, ela é uma medida totalmente (pausa) que encontra bases e que tem todo o seu potencial, deve ser valorizada e, sinceramente, vejo com grande potencial esta medida, este projeto.

Qual a função de um formador de Cidadania e Empregabilidade (ensino básico) e Cidadania e Profissionalidade (ensino secundário), no âmbito dos processos RVCC?

A função essencial é a de integração de todos os conhecimentos em prol de um objetivo maior que é de uma sociedade mais justa, por isso, verificar de uma forma transversal qual a perspetiva adotada, as intencionalidades, a natureza das próprias intencionalidades, a capacidade de cada ser humano, de cada formando ou de cada candidato de se auto avaliar e de se refletir no sentido de um crescimento sempre maior e de uma capacidade sempre maior de integração de todos os elementos, visando, tal como eu já disse, um objetivo maior que é uma sociedade cada vez mais justa.

Segundo a sua experiência, como perspetivam os adultos a pertinência da área de competência chave de Cidadania e Empregabilidade (ensino básico) e Cidadania e Profissionalidade (ensino secundário), durante os processos de RVCC?

Eu acho que os adultos consideram esta área à semelhança de outras áreas, como igualmente interessante, é óbvio que têm sempre uma maior dificuldade em relação a STC devido à sua especificidade. Efetivamente é nesta área que eles se sentem mais humanos e dão mais de si enquanto seres humanos e, como tal, é todo o potencial de todo o ser humano, isto é, é algo que se encontra em todo o ser humano, independentemente da sua natureza ou da sua ideologia todo o ser humano tem este potencial intrínseco e no momento em que é convidado a refletir sobre, se descobre como ser humano e vejo com igual pertinência e acho que à semelhança das outras, mas

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acho que efetivamente todo o adulto se sente mais humano depois de refletir nas questões que usualmente são colocadas neste âmbito.

E qual o feedback deles no final do processo?

O feedback é sempre o de vitória, não é? É um processo moroso, é um processo de trabalho, é um processo, por vezes, doloroso, porque voltar a revisitar o passado nem sempre é fácil, em que as pessoas têm de percorrer as suas memórias e dar-lhes sentido, mas é um processo de catarse em que eles chegam ao fim e sentem que conseguiram dar sentido à sua vida e da qual extraíram o máximo de potencialidades pelas experiências, mesmo aquelas que não foram as mais positivas. Por isso, é o feedback que eu usualmente recebo dos adultos.

175 APÊNDICE (DVD em anexo)