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Transcrição integral da entrevista E1

No documento O terapeuta da fala em contexto escolar (páginas 160-166)

Tabela 43 - Informações sobre a entrevista a E1 Intervenientes E: entrevistador

e: entrevistado Data da entrevista 28-05-2017 Duração da entrevista 00:10:00

Transcrição integral da entrevista a E1

E: Pronta? e: Sim.

E: Tens a certeza? e: Sim, à vontade.

E: Então, antes de mais, devo-te informar que todas as informações são confidenciais e que servem única e exclusivamente para fins académicos.

e: Sim.

E: Não existem respostas certas nem respostas erradas… Pois trata-se de uma entrevista sobre a atuação de um terapeuta da fala e as suas opiniões sobre o trabalho desenvolvido em contexto escolar. Preciso de saber que idade tens?

e: 26.

E: Há quanto tempo trabalhas em contexto escolar? e: Fez três anos em abril.

E: E em que regime de contratação? Público ou privado? e: Privado.

E: Privado. Quantos alunos acompanhas mais ou menos, se tiveres uma ideia, o número de horas?

e: Faço 35 horas por semana, mas acompanho 40 crianças.

E: Uau. Então, pronto, consideras que é prioritário a avaliação dos potenciais, das expectativas, das necessidades do aluno em contexto escolar?

148 e: Sim.

E: Existe algum contexto que deva ser prioritário na tua opinião e na tua prática? e: Não, acho que devemos avaliar os contextos todos em que a criança está inserida.

E: Por exemplo?

e: Familiar e escolar, pelo menos são aqueles que eu avalio em primeiro lugar. Mas a criança é um todo não é, então, todos os contextos são importantes.

E: Ainda em relação à avaliação, costumas avaliar por referência à CIF?

e: Não avaliava inicialmente porque ninguém me convocava para as reuniões [um um] mas ultimamente começaram já a ver que o terapeuta da fala é importante numa equipa multidisciplinar e então, agora começaram a convidar-me e já… avaliei pelo menos três crianças.

E: Por referência à CIF? e: Sim.

E: E quais são as reais vantagens nesta avaliação?

e: Falamos todos a mesma língua. O médico percebe, o professor percebe, e etecetera.

E: Ok. Na possibilidade de alterar a CIF para melhor, o que é que achas que poderia ser alterado?

e: Ser mais pormenorizado. Eu já tive crianças que têm alterações de consciência fonológica e isso leva a alterações de leitura e escrita e isso não está descrito, por exemplo, na CIF, e é muito geral.

E: E então, qual seria a maior lacuna na CIF referente ao processo avaliativo do terapeuta da fala?

e: Pronto, é exatamente isso.

E: É exatamente? Que outros materiais de avaliação costumas utilizar?

e: Utilizo o TAV, a GOL-E, a ACCLE e depois informalmente descrição de imagem… discurso espontâneo…

149 E: Costumas avaliar primeiro com esses materiais que referiste, não é, TAV, GOL- E e só depois passar para a CIF, ou fazes ao contrário, primeiro avalias com os parâmetros da CIF e depois a…?

e: Não, primeiro as minhas provas…

E: Exatamente.

e: E depois é que avalio…

E: Transpões para a CIF? e: Sim, sim, sim, sim.

E: Exatamente. Consideras ter condições escolares adequadas para realizar as tuas sessões?

e: Não [risos]

E: Em que condições trabalhas e o que é que podia ser melhor?

e: Em termos de espaço físico, há situações em que trabalho no refeitório, há situações em que trabalho em salas com outro técnico, [um um] professor de educação especial, ou professor de língua não materna, e então isso causa algum constrangimento… e pronto.

[risos]

E: O que é que podia ser melhor? O que é que seria o ideal?

e: Ter salas… [mais o quê?] só para mim, com um espelhozinho e com uma mesinha e com…

E: Cadeirinha. e: Certo.

E: Tapete.

e: Pronto. Exatamente. [risos]

E: Quanto tempo achas que deve durar uma sessão para que seja realizado um trabalho completo?

e: Depende da criança.

150 e: As minhas sessões são de 45 minutos. Há crianças de pré-escolar que não aguentam os 45, portanto, faço meia-hora e vou aumentando se vir que ela já vai aguentando. Por norma faço 45 minutos… no máximo uma hora.

E: Portanto, tens, foste tu que definiste esse tempo que consideras que é o adequado? e: Sim, eu defini esse tempo, sou eu que defino o meu horário, portanto.

E: Ok. Do teu ponto de vista, o que é que é necessário para existir sucesso na concretização no plano de intervenção?

e: Primeiro, dar uma continuidade do nosso trabalho nos vários contextos, seja em contexto de sala de aula, seja em casa… [um um] E muitas vezes esse trabalho que nós realizamos é só cingido àquela hora [àquela hora] da sessão e não, pronto, não é, não dá uma continuidade nos outros contextos da vida da criança e isso interfere muito com o processo de intervenção.

E: Então, seria essencial uma participação mais ativa da família? e: Sim, sim, sim, sim.

E: Mais importante se calhar até do que o próprio professor? Equiparado?

e: Sim, sim. É importante os dois não é, mas… até porque o professor ‘tá mais tempo com a criança [um um] do que até os próprios pais, não é? Mas não há um acompanhamento da parte da família, na maior parte dos casos, não digo que são todos não é…

E: Sim, sim.

e: Mas na maior parte dos casos não há um acompanhamento da família, nem sequer me procuram para saber como é que a criança está, o que é que eu ‘tou a trabalhar. Às vezes sou sempre eu que ligo à família, às vezes os trabalhos de casa não vêm feitos, a maior parte das vezes, e portanto, não há este acompanhamento…

E: Regular?

e: Regular, sim, sim, sim.

E: Trabalhas com necessidades educativas especiais? e: Sim.

151 e: Não.

E: O que é que poderia ser alterado para que fosse mais adequado?

e: Preparar as escolas, um, com recursos que… conseguissem dar resposta a isso não é, porque neste momento não há, nem sequer pessoas qualificadas para trabalhar com crianças com as necessidades educativas especiais. As crianças estão efetivamente inseridas numa turma regular, mas sem ter qualquer tipo de apoio, sem ‘tarem a adquirir qualquer tipo de competências porque estão simplesmente lá. Uma turma regular, a ouvir os outros, coisas que não lhes interessam e que eles não percebem nada e é essa a inclusão que temos. [risos]

E: Nesse sentido, achas que a criação de unidades de apoio ao ensino é benéfica para os alunos com necessidades educativas especiais?

e: Sim.

E:Porquê?

e: Pelo menos tinham alguém especializado a trabalhar com eles, as competências que eles deveriam desenvolver, a par da escola que efetivamente não estão a trabalhar nada, não é. [um um]

E: Na tua prática profissional é frequente retirares os alunos da sala de aula para fazeres a sessão?

e: Sempre.

E: Qual é a tua opinião enquanto técnica em relação a isso? Concordas?

e: Eu acho que sim. Não consigo estar numa sala de aula [um um] a trabalhar com a criança, a trabalhar sons imaginemos, com aquela interferência da professora a trabalhar com as outras crianças, não é. Então, tiro-os sempre da sala, vou para uma sala à parte, ou para onde conseguir ter lugar. [risos]

E: Sim. E os professores, em relação a essa retirada dos alunos, como é que têm reagido?

e: Normalmente não se opõem, até porque eu tenho que ir buscá-los em horário escolar, o meu horário é esse e ninguém se opõe. A única questão que eles colocam é, às vezes, quando os miúdos têm testes, ou quando têm aulas de inglês ou assim alguma atividade,

152 que não convém eles faltarem. Tirando isso, eu vou buscá-los e não há qualquer impedimento dessa parte.

E: Consideras benéfico a criança permanecer o tempo todo na sala de aula?

e: Depende… do que estiver a fazer. [risos] Não é? Acho que, se se retirarem da sala de aula e esse tempo que retiram é dedicado a trabalhar competências não é, por exemplo, da terapia da fala, da educação especial, ou seja do que for, que vão trabalhar competências que eles efetivamente precisam de desenvolver, não sei porque não. Uma vez que em sala de aula se calhar não estão a fazer nada.

E: Enquanto terapeuta da fala, quais são as práticas inclusivas a que recorres? e: Eu não recorro a nenhuma. Não consigo fazer a questão de… um… a funcionalidade na comunidade e essas questões não é fácil na prática, no meu dia-a-dia, fazer isso, portanto, não utilizo nenhuma.

E: De um modo geral, considerando o processo inclusivo como o conheces, nas tuas escolas, nos teus agrupamentos, consideras que esse processo é benéfico para o desenvolvimento das competências ou dos conhecimentos do aluno?

e: Não.

E: Porquê?

e: Pelas questões que já referi. Ele em sala de aula não está, ‘tá incluído numa turma regular mas não está a trabalhar as competências, não está a adquirir nada porque… são questões que ao nível dele, não é, não estão adequadas e portanto…

E: Está a marcar presença?

e: Exatamente. Está a marcar presença, é isso mesmo.

E: [risos] Está feito. Obrigada. e: De nada. Sempre às ordens.

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No documento O terapeuta da fala em contexto escolar (páginas 160-166)

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