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Transdisciplinaridade é um conceito da autoria de Jean Piaget, que assume um papel relevante em discussões e investigações sobre educação, devido à necessidade de cooperação entre as diversas componentes que permitem a aquisição de conhecimento.

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A transdisciplinaridade assume especial relevância na intervenção precoce ao reduzir a fragmentação de serviços e consequentemente as dificuldades de comunicação entre os diversos intervenientes.

Segundo King et al (2009), o serviço transdisciplinar é definido como partilha de funções que atravessa fronteiras disciplinares para que a comunicação, interação e cooperação sejam maximizados entre membros da equipa. Desta forma o que carateriza o serviço transdisciplinar é a coordenação dos diversos membros, articulando conhecimentos com um objetivo comum.

O facto de uma Equipa Local ser constituída por pessoas com experiências profissionais anteriores muito diferentes implica que as suas perspetivas e expectativas também assumirão um caráter muito diversificado.

Para Franco (2007) a divergência de perspetivas poderá ser propício para um clima de competição. No entanto, se a abordagem for de colaboração, a individualidade de cada técnico acrescentará valor à equipa permitindo a concretização de boas práticas em Intervenção Precoce.

A transdisciplinaridade coloca desafios aos profissionais, podendo levar a sentimentos de insegurança ao diminuir a definição de papéis, obrigando a (King et al, 2009), a estabelecer uma relação de confiança entre os membros de equipa que promova a partilha de conhecimentos e estratégias.

Para Franco (2007), as competências exigidas a cada profissional, ultrapassam largamente os conhecimentos específicos de cada área disciplinar. Cada técnico tem responsabilidades pessoais que deverão ser traduzidas em enriquecimento e expansão de pensamentos, diálogo, interação e reflexão conjuntas. Desta forma, cada elemento deverá ter conhecimentos sólidos relacionados com a sua própria formação, mas também ser capaz de compreender e integrar conhecimentos e competências relacionadas com as áreas profissionais dos outros membros da equipa. As características pessoais exigidas por esta forma de trabalhar são abertura em relação ao conhecimento, a capacidade de trabalhar de forma colaborativa, assim como capacidade

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de comunicação, resolução de conflitos, negociação, flexibilidade, aceitação das opiniões dos outros.

Segundo a perspetiva de Pereiro (1996), o modelo transdisciplinar é uma necessidade, devido à complexidade e multiplicidade das variáveis presentes. Refere ainda que “A importância deste trabalho em equipa e a parceria, contrapõem-se às sobreposições, às lacunas, e às compensações que advêm do reconhecimento da ineficácia das ações segmentarizadas” (Pereiro, 1996).

Mais tarde, King et al. (2009, p. 215) referem que:

“As competências requisitadas para a transdisciplinaridade vão muito para além de competências específicas de conhecimentos e estratégias. Incluem qualidades pessoais como a empatia, auto reflexão, controlo emocional, sensibilidade, autenticidade, saber ouvir, facilitar estratégias e comunicações”

Na intervenção precoce é comum a família contactar apenas com o docente de Intervenção Precoce, no entanto está a ser acompanhada por toda a equipa, constituindo ela própria parte integrante da equipa transdisciplinar. Este apoio indireto é fornecido à família através do gestor de caso que está comummente em contacto com a restante equipa e que o orienta para uma atuação mais direcionada e adequada.

“As vantagens de um serviço transdisciplinar incluem a eficiência de um serviço com maior rentabilidade de recursos; menos instruções e directrizes para as famílias; uma intervenção mais coerente e holística. No entanto, estas vantagens ainda não foram exaustivamente estudadas e como tal, investigações empíricas sobre a transdisciplinaridade são muito necessárias” (King et al, 2009, p. 211).

Nem sempre a abordagem transdisciplinar consegue responder às necessidades de todas as famílias, sendo necessário, por vezes, o recurso a outras abordagens e serviços.

Atualmente parece consensual assumir que as práticas de Intervenção Precoce na Infância assentam em contribuições que ultrapassam as barreiras disciplinares. Assim, a transdisciplinaridade atribui à Intervenção Precoce uma metodologia de trabalho mais

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inclusiva e integradora (Franco, 2007). Esta abordagem transdisciplinar pressupõe a existência de uma equipa coesa e dinâmica, pautada pela corresponsabilidade de todos os seus elementos nas tomadas de decisão e avaliações bem como pelo suporte recíproco e partilha de informações e conhecimentos. Ao mesmo tempo, a equipa

deverá focar-se essencialmente nas necessidades das pessoas e não nos conhecimentos e especializações dos técnicos (Franco, 2007, p. 119):

“A abordagem transdisciplinar é mais do que uma forma de organização de equipa. Permite cuidar da criança (e família) como uma globalidade, indo ao encontro desta criança complexa, com o seu contexto. Pretende e permite cuidar da criança no seu todo, criança-família-contexto porquanto desenvolve uma atitude face aos determinantes da intervenção que assume uma perspectiva global, sistémica, contextual ou ecológica da Pessoa”.

Ainda segundo (Franco, 2007, p. 120) :

“Permite também ultrapassar as limitações da formação disciplinar, para melhor saber responder às necessidades reais da criança. Ultrapassa os limites do saber disciplinar na medida em que exige que os técnicos tenham uma atitude de partilha face aos seus próprios saberes, de disponibilidade para dar e receber informação, o que coloca exigências ao nível da utilização de uma linguagem, terminologia e conceitos que possam ser partilhados por toda a equipa e pelas próprias famílias. Isso passa também pela atitude face à comunicação e transferência de conhecimentos e competências. Essa é sem dúvida a atitude fundamental do funcionamento transdisciplinar: exige um posicionamento de aceitação, receptividade e valorização perante o saber do outro.”

Devido à sua recente implementação, a transdisciplinaridade ainda não originou resultados concretos e visíveis. No entanto prevê-se que esta exigirá do futuro uma reinvenção das práticas intelectuais e científicas e que poderá levar ao fim da disciplina e da especialidade, dando lugar a uma nova forma mais globalizante e coletiva do conhecimento.

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Capítulo

7 - Ideias sobre o perfil e o papel do Docente de Intervenção

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