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1. INTRODUÇÃO

2.3. Transferência de Tecnologia

A tecnologia é ―um conjunto de conhecimentos científicos, empíricos e indutivos, que podem alterar um produto, o processo de produção e o de comercialização desse produto‖ (BARRETO, 1995, p. 5). Ela consiste em dois componentes principais: um componente físico que abrange itens como produtos, ferramentas, equipamentos, plantas, técnicas e processos; e um componente informativo que consiste em know-how, gestão, marketing, produção, controle de qualidade, confiabilidade, mão de obra qualificada e áreas funcionais (KUMAR, KUMAR e PERSAUD, 1999). A Tecnologia e conhecimento tecnológico são considerados ―componentes essenciais de desenvolvimento que podem, se bem usados, assegurar à humanidade a mais alta qualidade de vida em termos de produção de riqueza, de poder e de domínio da natureza‖ (CYSNE, 2005, p. 59).

A principal finalidade de uma tecnologia e sua adoção é melhorar o bem estar dos sujeitos, por meio da modificação de uma determinada realidade em que estes se encontram inseridos. Argumenta também que, quando a tecnologia atinge seu objetivo, está ocorrendo a inovação tecnológica e esta se dá independente da tecnologia possuir ou não alto nível de sofisticação ou novidade (BARRETO, 1995). Spence (1994) apud Cysne (2005) também corrobora com essa visão, ao destacar que, quando se fala em inovação, está se referindo a algo que as pessoas, as empresas ou o sistema social percebem como novo. A inovação tecnológica, a tecnologia e a criação, constituem os mecanismos de desenvolvimento econômico, de forma que o sucesso da inovação depende da capacidade de autores como pesquisadores, organizações e governo, de desenvolver e aplicar novos conhecimentos (CYSNE, 2005). Segundo a autora, a transferência tecnológica entre organizações ou indivíduos, se caracteriza como a parte mais crítica do processo de inovação tecnológica.

2.3.1 Definição de Transferência de Tecnologia

A TT é o movimento da tecnologia de um lugar para o outro, por exemplo, entre organizações, entre universidade e organização ou de um país para o outro (SOLO e ROGERS, 1972 apud VASCONCELLOS, 2008; BESSANT e RUSH, 1993). Ela pode ser vista também como ―a transferência de informação tecnológica possível de gerar transformação em determinado espaço de determinada realidade‖ (BARRETO, 1995, p. 5). Para Braga Jr., Pio e Antunes (2009), a TT é a tradução e a transferência do conhecimento

técnico, envolvidos no desenvolvimento de novos produtos ou processos e ocorre entre as organizações. Já a Association of University Technology Managers (AUTM, 2014), define Transferência de Tecnologia (TT) como o processo de transferência de descobertas científicas de uma organização para outra com a finalidade de um maior desenvolvimento e comercialização.

Cysne (2005, p. 65-66) indica que uma definição de TT tem significado ―um processo de transferência de descobertas científicas e tecnologias desenvolvidas em projetos acadêmicos ou em laboratórios ou agências governamentais, para a comunidade industrial e não governamental‖. A autora ainda ressalta que a TT inclui a disseminação de informações através de consultorias, do treinamento, das feiras científicas, tecnológicas e comerciais, dos seminários, cursos, workshops e das publicações de pesquisa.

Conforme Kumar; Kumar e Persaud (1999), a TT pode ser utilizada como uma ferramenta, na tentativa de duas organizações buscarem um objetivo comum, gerando como resultado uma satisfação entre as partes. Ainda, segundo estes, a TT se dá através do compartilhamento de uma invenção ou inovação e, geralmente, vêm como um pacote que inclui hardware, software, plantas, projetos, especificações, serviços de apoio, conhecimento técnico e gerencial, intercâmbio de pessoal, formação, informação sobre a utilização e manutenção, e os direitos e privilégios em relação ao uso da tecnologia.

A TT pode ocorrer por meio de vários canais e modos de organização formal e informal, por exemplo, acordos técnicos, contratos de investimento, licenciamentos, etc. envolvendo governos, universidades, empresas e indivíduos (KUMAR, KUMAR e PERSAUD, 1999).

Historicamente, a TT ocorria nas universidades por meio das publicações, da formação do aluno e da realização de conferências e workshops. Atualmente a transferência de tecnologia está sendo estimulada a ocorrer através de propriedades intelectuais, licenciamento de patentes, criação de empresas start-ups, incubadoras de empresas e parques tecnológicos, permitindo uma nova dimensão educativa e oferecendo oportunidades de pesquisa adicionais para professores e estudantes (ALGIERI, AQUINO e SUCCURRO, 2013).

Uma das metas da transferência de tecnologia é resolver problemas cotidianos de uma forma mais moderna, prática, rápida e eficiente ou de propiciar a incorporação das técnicas como um modo (aceito) de desenvolver funções rotineiras (CYSNE, 2005). Segundo a AUTM (2014), o processo de TT geralmente inclui duas etapas: a identificação de novas tecnologias e; a proteção de tecnologias através dos direitos de propriedade intelectual.

Geralmente a TT ocorre entre ICTs e o setor industrial, porque apesar do conhecimento ou uma tecnologia ou processo tecnológico ocorrer dentro das instituições de pesquisa e universidades, a inovação tecnológica só se consolida quando aplicada e disseminada pela industrial, de forma a alcançar a sociedade (QUINTELLA e TORRES, 2012).

2.3.2 A Transferência de Tecnologia entre Universidade e Indústria

O conhecimento é tido como a matéria prima da universidade, que existe para servir a sociedade e contribuir para o desenvolvimento, de modo que seus principais objetivos são formar profissionais qualificados e desenvolver tecnologia, atendendo à sociedade e às necessidades do processo de industrialização do país (QUINTELLA e TORRES, 2012).

Uma vez que uma tecnologia ou um processo é desenvolvido, é preciso realizar a TT para a empresa (QUINTELLA e TORRES, 2012). Estabelecer uma cooperação entre as universidades e o setor produtivo pode auxiliar na busca de novas invenções, estimular o desenvolvimento de inovações e transferência de tecnologias (NIEDERGASSEL e LEKER, 2010 apud SILVA, KOVALESKI e GAIA, 2013),

O intercâmbio de ideias, habilidades, experiência (know-how) e conhecimento entre a base de ciência e a indústria, no contexto da TT é visto como uma parte vital da missão da pesquisa em uma organização e, assim, a TT tende a assegurar o retorno econômico e os investimentos em pesquisa e desenvolvimento (CYSNE, 2005). Porém, a autora ressalta que ―o conhecimento produzido por universidades e laboratórios de pesquisa é registrado com um formato e linguagem difíceis para as empresas decodificarem de modo a absorverem e utilizarem‖, se caracterizando como uma grave limitação para a TT (CYSNE, 2005, p. 69). Por isso, se destaca a necessidade de empresas realizarem investimentos e desenvolver estratégias e programas de educação e de desenvolvimento de habilidades, para transformar uma tecnologia em inovação. Ainda conforme a autora, uma estratégia que pode ser utilizada para que o conhecimento codificado se torne mais fácil de ser absorvido e, assim, mais útil às empresas, seria incluir na infraestrutura necessária para a TT, serviços de informação para dar suporte às atividades de TT e de informação científica e tecnológica.

Também são facilitadores no processo de TT: a existência dos NITs; a disponibilidade de recursos em projetos que contemplam a parceria universidade-empresas; as chances criadas pela LIT e a Lei do Bem; o fortalecimento de uma cultura voltada para TT por parte das empresas; as adequações jurídicas das universidades para dar suporte aos pesquisadores na parceria com empresas; centros de pesquisa cooperativa de universidade-

indústria, parques de P&D e incubadoras de empresas (LINK, SIEGEL e BOZEMAN, 2006; CARVALHO e CUNHA, 2013).

Já González-Pernía, Kuechle e Peña-Legazkue (2013) asseguram que a infraestrutura tecnológica proporcionada pela universidade, associada à qualidade do seu corpo docente e redes relacionadas com a indústria e outros parceiros acadêmicos, parecem ser críticos na transferência de novas tecnologias para as empresas. Os autores defendem que a experiência da equipe dos escritórios de transferência de tecnologia, a existência de parques tecnológicos onde a universidade está localizada e o conhecimento acumulado via patentes, são fundamentais para aumentar os licenciamentos entre universidades e empresas.

No Brasil, os escritórios de transferência de tecnologia, conhecidos atualmente como NITs (Núcleos de Inovação Tecnológica) são o organismos responsáveis pela TT entre ICTs e empresa e foram criados para promover um ambiente favorável a parcerias estratégicas entre as universidades, institutos tecnológicos e empresas (QUINTELLA e TORRES, 2012).

Sobre as tentativas de TT entre laboratório ou universidade e o setor industrial, Cysne (2005, p. 70) destaca que este se refere a um processo que envolve organizações e profissionais-chave em cada organização, como, por exemplo, ―a própria instituição de pesquisa, um ou mais organizações usuárias durante o desenvolvimento e teste do produto, uma agência de transferência, uma agência de fomento pública, um receptor para a manufatura e uma agência de fomento privada‖.

Resumidamente, a interação entre a universidade e a indústria necessita da construção de pontes que favoreçam a ligação entre os dois setores, de forma que o serviço de informação caracteriza-se como um caminho desse entrosamento (CYSNE, 2005).

Siegel et. al. (2003) apud Fujino e Stal (2007) elencaram as principais recomendações que devem ser adotadas pela universidade para facilitar o processo de transferência de tecnologia para as empresas:

a) Ampliar o conhecimento sobre as necessidades das empresas que podem vir a comercializar sua tecnologia,

b) Estar ciente dos custos para transformar uma invenção em inovação e de que boas invenções podem ser um fracasso comercial,

c) Compartilhar os objetivos e as metas em uma parceria,

d) Promover maior flexibilidade, por parte da universidade, no processo de negociação do licenciamento,

e) Adotar políticas e procedimentos mais racionais e flexíveis nos contratos de negociação para transferência de tecnologia,

f) Contratar pessoas com habilidade em marketing e maior experiência na área de negócios,

g) Adoção de remuneração por incentivos aos membros dos escritórios de TT, para estimular a eficiência dos escritórios.

h) Disponibilizar mais recursos para os escritórios, principalmente para formação de equipes com pessoal qualificado para atividades de marketing,

i) Estabelecer a TT como prioridade e destacar um líder para estabelecer os objetivos e as metas a serem alcançadas,

j) Além de realizar contratos de licenciamento e os royalties, outras vantagens devem ser observadas pelos pesquisadores e administradores das universidades, como os relacionamentos, redes sociais e de trabalho que incluem o setor privado e que possibilitam novas formas de aprendizado para os pesquisadores.