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Transformações Urbanísticas da bacia do rio Cuiá e as Áreas Verdes

Até a década de 1980, a urbanização do setor sul-sudeste foi impulsionada, principalmente, pela política de implantação de conjuntos habitacionais e abertura de eixos viários, financiados com recursos do Governo Federal. A década de 1990 foi marcada pelo surgimento dos loteamentos de propriedade privada, a proliferação de novos conjuntos habitacionais e a expansão dos conjuntos existentes.

No ano de 1988, foi implantado na bacia do rio Cuiá, no seu alto curso, o Conjunto Água Fria; no médio curso, o Loteamento Laranjeiras e no baixo curso, o Conjunto Muçum Magro, em Paratibe e o loteamento Barra de Gramame. Os loteamentos citado foram implantados sem nenhuma infraestrutura básica, tendo os moradores que arcar com as primeiras benfeitorias, como o abastecimento d’água, a compra de postes, e as ligações domiciliares de energia que, até então, só utilizavam ligações clandestinas (LAVIERI & LAVIERI, 1999).

No início da década de 1990, foram implantados, no alto curso do rio Cuiá, os loteamentos Walfredo Guedes Pereira, João Paulo II e o Planalto da Boa Esperança. O uso e ocupação do solo dessas áreas ocorreram de forma lenta, devido à carência de infraestrutura e a ausência de políticas públicas de habitação social. As unidades construídas seguiam a tipologia residencial uni-familiar, a maioria com um pavimento (Diretoria de Geoprocessamento/PMJP, 2013).

Quanto à contribuição dos loteamentos implantados na bacia do rio Cuiá, para a dispersão do tecido da cidade de João Pessoa, Gomes (2006, p.35) cita que:

A expansão da cidade de João Pessoa através da criação de loteamentos na periferia da cidade foi uma prática fundamental para o processo de ampliação do tecido urbano; a exemplo dos loteamentos: Quadramares I, Walfredo Guedes Pereira e Planalto da Boa Esperança. Estes foram surgindo através da iniciativa privada, mas, sobretudo se enquadrando dentro das especificidades da Lei do uso e parcelamento do solo urbano e do Código de Urbanismo da cidade de João Pessoa.

A configuração espacial da bacia do rio Cuiá, no fim dos anos de 1990, já estava caracterizada pela expansão dos conjuntos habitacionais e a presença dos novos loteamentos que ocupavam áreas próximas das margens do rio Cuiá, invadindo a sua Zona Especial de Preservação – ZEP (figura 11).

Figura 11 - Configuração espacial do Setor Sul-Sudeste, João Pessoa-PB, 1998.

Fonte: Silveira, 2011.

No ano de 2000, inicia-se uma nova configuração de ocupação no setor sul- sudeste, com a implantação de condomínios e edifícios de uso residencial de 3 (três) pavimentos com pilotis e 4 (quatro) pavimentos sem pilotis (figura 12). Essa mudança tipológica de uso residencial uni-familiar para multi-familiar, segue o que ocorreu em outras partes da cidade, devido à diminuição da oferta de vazios urbanos e o boom imobiliário. Este período foi marcado pelo processo de verticalização e aumento do adensamento populacional no entorno da bacia do rio Cuiá.

O processo de aumento da densidade populacional causou impactos ambientais negativos na bacia do rio Cuiá, além da supressão da vegetação, impermeabilização do solo e contaminação dos lençóis subterrâneos, a diminuição do perímetro da Zona Especial de Preservação - ZEP.

Figura 12 - Trecho da várzea do rio Cuiá (primeiro plano) e a verticalização dos prédios na

margem direita do rio (segundo plano) - Bairro Valentina de Figueiredo II, João Pessoa-PB. Foto: Anjos, 2013.

Sousa Filho (2010) ao mapear o uso e ocupação do solo na bacia do rio Cuiá, ano de referência 2008 (mapa13), revelou que a maior parte do território da bacia (60%) já se encontrava urbanizada ou em processo de urbanização.

Grande parte da área verde que cobria o solo da bacia do rio Cuiá foi suprimida dando lugar à área urbanizada (mapa 13), restando, praticamente, a vegetação que Sousa Filho (2010) nomeou de “mata”, localizada nas várzeas do rio principal. A “mata” a que o autor se refere é denominada no Macrozoneamento do Plano Diretor (Lei nº 03/1992) de João Pessoa como Zona Especial de Preservação – ZEP.

Mapa 13- Uso e ocupação do solo da bacia do rio Cuiá, João Pessoa-PB, 2008.

Devido ao fato da bacia do rio Cuiá, ter sido até pouco tempo área rural da cidade, mesmo com o acelerado processo de urbanização, a região ainda mantém, principalmente, nas margens dos rios, atividades voltadas para o setor primário (figura 13).

Figura 13 - Loteamento Parque do Sol, João Pessoa-PB. À esquerda, habitações

multifamiliar e em primeiro plano, propriedade com atividade rural, área de pastagem. Foto: Anjos, 2013.

Com base na distribuição espacial dos alvarás de construção, emitidos pela Prefeitura de João Pessoa, entre janeiro de 2010 e junho de 2013 (mapa 14), acredita-se que o ritmo de crescimento e dispersão da cidade, no sentido sul- sudeste e, consequentemente, na bacia do rio Cuiá, continuará ocorrendo nos próximos anos e, de forma acelerada.

A maioria das áreas que receberam alvarás para construção, no período acima citado, concentra-se na porção sul da bacia do rio Cuiá (mapa 14). A área de referência, conforme o Plano Diretor da Cidade (Lei n° 03/1993), é constituída, em sua maior parte, por zonas que possuem restrições de ocupação, seja por se tratarem de ambientes de preservação ambiental ou pela carência de infraestrutura básica. A distribuição espacial dos alvarás de construção demonstra uma tendência de maior espraiamento em direção às áreas periféricas da cidade, visto que, a maioria dos alvarás concedidos foi para construções no bairro de Gramame, situado no limite da cidade com o município do Conde.

Mapa 14 - Distribuição de Alvarás de Construção por bairro de João Pessoa-PB, de janeiro/2010 a junho/2013.

Fonte: Secretaria de Planejamento/PMJP, 2013.

O elevado número de alvarás concedidos, autorizando construções na bacia do rio Cuiá, demonstra que o poder público admite a transformação de áreas ambientalmente frágeis da região em assentamentos humanos, atendendo principalmente, aos anseios do capital. Desta forma, o poder público, mesmo com os instrumentos para a gestão urbana constantes no Plano Diretor, não evitou o espraiamento do tecido urbano e a degradação das áreas verdes.

Os ambientes frágeis da bacia do rio Cuiá, em sua maioria, são áreas verdes que, segundo o Plano Municipal de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica de João Pessoa (PMCRMA, 2012) compõe o estoque de áreas prioritárias para recuperação e preservação do bioma da Mata Atlântica da cidade.

CAPÍTULO III

POLÍTICAS PÚBLICAS E PRESERVAÇÃO: A SITUAÇÃO DAS ÁREAS VERDES DA CIDADE DE JOÃO PESSOA