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No estudo sobre o Brasil, Haller e Saraiva (1991) encontraram que de 1973 para 1982 há uma grande tendência do status familiar ser transmitido via educação do indivíduo. Este achado fortalece a hipótese de Sorokin que os critérios de estratificação mudam, mas a fluidez não. A modernização levou a um aumento do efeito da escolaridade, mas isso não significou uma mudança nos padrões de estratificação, já que os estratos superiores na hierarquia social monopolizam os níveis mais altos da educação de qualidade. O efeito do status familiar é mais indireto sobre o status sócio- ocupacional do indivíduo, ou seja, dá-se por meio do acesso privilegiado no sistema educacional.

Pastore (1979) também analisou o Brasil buscando entender algumas relações entre mobilidade e desenvolvimento social. O autor pretendeu avaliar o impacto de fatores estruturais e individuais na mobilidade social, além de isolar os efeitos líquidos de cada uma dessas variáveis na determinação do status sócio-econômico dos indivíduos, chefes de família, homens, no Brasil, em 1973. Para tal, o autor usou uma escala de status socioeconômico desenvolvida por Nelson Valle Silva. Para o segundo objetivo, aplicou-se o modelo de regressão linear múltipla, no qual a variável

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dependente foi o status socioeconômico e as variáveis independentes foram: status ocupacional paterno, a ocupação inicial do indivíduo, escolaridade, idade, idade ao quadrado e migração.

O autor encontra que as variáveis de background (status do pai, status inicial e migração) tem pouca importância na determinação do status atual do indivíduo, enquanto as variáveis individuais (educação e idade) apresentaram uma contribuição muito grande à variação do status. Este resultado poderia sugerir a passagem de critérios atribuídos para critérios adquiridos na determinação da aquisição de status. Entretanto, o segundo modelo aplicado pelo autor (modelo de trajetória), que buscava captar os efeitos diretos e indiretos da herança familiar, revelou que a maior parte do efeito do status paterno é exercida via educação e status inicial do indivíduo.

Pastore aplica aqui o modelo de Blau e Duncan, referenciando essa teoria. Mesmo tendo encontrado os efeitos indiretos do status paterno, o autor não evidencia este resultado, acreditando que o Brasil seguiria a tendência exposta pela teoria da modernização. Isso porque analisa os grupos etários separadamente e encontra que a influência do status do pai via educação mantém-se mais proeminente em todas as faixas etárias, mas foi bem mais alta nas coortes mais antigas. Entretanto, o autor comete um erro de análise porque compara coeficientes padronizados das coortes, que são influenciados pelo tamanho da população.

Este erro também foi cometido por Haller e Saraiva (1991), comparando os dados brasileiros de 1973 e 1982, quando encontraram que a transmissão do componente de status é maior para as mulheres do que para os homens. Estudos posteriores, utilizando para comparação temporal dos coeficientes não-padronizados da regressão, encontraram resultado oposto.

Scalon (1999) mostra que a chances relativas de mobilidade para as classes mais privilegiadas não são distribuídas igualmente para indivíduos com origem nas diversas

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classes sociais segundo o sexo, ou seja, a estrutura de classes no Brasil é extremamente rígida. Mas essa rigidez está muito mais marcada pelas origens de classe do que pelo sexo do indivíduo, homens e mulheres possuem desigualdade de acesso ou oportunidade semelhante.

Ribeiro (2007) faz uma análise macrossociológica das desigualdades de condições de vida e oportunidades de mobilidade social entre onze classes no período de 1973 a 1996 no Brasil, no qual deu-se o estabelecimento da sociedade industrial, tendo como pano de fundo a teoria de Florestan Fernandes sobre o regime de classes das sociedades industriais periféricas. O autor encontra que a estrutura de classes brasileira, no período analisado, possui uma continuidade no tamanho relativo das classes, apesar do declínio do trabalho rural e, em geral, os dados sobre mobilidade total, vertical e chances agregadas mostram continuidade de 1973 a 1996, ou seja, não houve mudanças significativas na estrutura agregada de oportunidades de mobilidade no período analisado. Mas também Ribeiro observa uma pequena diminuição na desigualdade de oportunidades (ou aumento da fluidez social) entre 1973 e 1996.

Ribeiro e Scalon (2001) encontram que a rápida e recente industrialização no Brasil teve impactos significativos nos padrões de mobilidade absoluta e na composição de origem das classes sociais, indicando alta mobilidade do meio rural para o urbano e baixa reprodução nas classes urbanas, uma vez que há grande transferência de mão-de- obra com origem rural para outras classes. Já as chances relativas de mobilidade, fluidez social, aumentaram ao longo dos anos analisados (1973 a 1996), não confirmando a hipótese da constância de fluidez, conhecida como hipótese de FHJ (Featherman, Hauser e Jones, 1975 apud Ribeiro e Scalon, 2001). Os autores concluem que os padrões de mobilidade absoluta no Brasil são típicos de países que passaram por uma industrialização recente, tais como a Hungria, Irlanda e Polônia. Já as taxas relativas no Brasil diferem das taxas destes e de outros países analisados (Inglaterra, França,

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Alemanha, Japão, Estados Unidos, Suécia, Irlanda do Norte, Escócia e Austrália) porque indicam aumento da fluidez social, apesar de ser um país caracterizado por extrema desigualdade de oportunidades.

Helal (2008) encontra que as variáveis ligadas à origem social dos indivíduos possuem importância persistente no processo de estratificação social no setor público, o que pode ser explicado em alguma medida pela capacidade da elite se reproduzir, garantindo privilégios aos seus descendentes, principalmente, via educação ou pelo próprio caráter híbrido da formação social nacional, que permite e favorece a convivência de elementos meritocráticos e não-meritocráticos na estrutura social.

Vilela (2008) investiga o efeito da origem sobre o status ocupacional dos imigrantes internacionais no Brasil e encontra que o fato de ser migrante é relevante para a determinação de rendimentos e alocação de status, como prevê a tese do capital humano. Além disso, a autora confirma a hipótese de que os imigrantes (exceto os uruguaios) estão em vantagens na sociedade hospedeira.

Neves et alli (2007) investigam como o processo de realização de status ocupacional dá-se entre as regiões e setores econômicos no Brasil ao longo do tempo (de 1973 a 1996), partindo do pressuposto que a segmentação por esses dois elementos são fatores estruturais importantes no processo de realização de status. Os autores encontram que, com exceção de 1996, não há menor transmissão de status no setor industrial comparado aos setores de serviços e da administração pública, nem menor transmissão de status nas regiões mais desenvolvidas (sul e sudeste), assim como não há decréscimo dos padrões de transmissão ao longo do tempo.

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