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2.2 Governança corporativa

2.2.3 Mecanismos de governança corporativa

2.2.3.6 Transparência

Informação precisa, acessível, oportuna, completa e transparente é um dos princípios mais significativos da governança corporativa e refere-se à divulgação das informações econômico-financeiras pelas empresas, como forma de promover maior confiabilidade aos investidores. De acordo com o código de melhores práticas de governança corporativa do IBGC (IBGC, 2009), a transparência não deve se restringir apenas às informações econômico- financeiras, mas a todos os aspectos que orientam a ação gerencial e que resultem em criação de valor.

Para Wong (2009, p. 2-3), com este mecanismo, as empresas buscam: (a) fornecer informações suficientes e oportunas sobre o desempenho das empresas, as perspectivas e os riscos a fim de facilitar as decisões de investimento pelas empresas; (b) padronizar as informações, e assim permitir a comparação de resultados de diferentes empresas; (c)equalizar o acesso à informação entre insiders e outsiders e; (d)gerenciar conflitos de interesses entre os proprietários, a gestão e os stakholders.

Apesar da clara ligação entre transparência e governança corporativa, as discussões estão muito mais centradas no benefício da redução da assimetria da informação que ela provoca sobre o custo do capital, barateando-o. A transparência, contudo, implica custos e benefícios. Os custos surgem porque os executivos têm de ser compensados pelo aumento do risco implícito de suas carreiras, com níveis mais elevados de divulgação, bem como os custos incrementais que promoverão tentando distorcer informações em equilíbrio. Os benefícios, por sua vez, refletem o fato de que informações mais precisas sobre o desempenho permitem que os conselhos tomem melhores decisões sobre seus executivos (HERMALIN; WEISBACH, 2007).

Hermalin e Weisbach (2007) acreditam que as reformas que visam aumentar a transparência podem reduzir os lucros das firmas, elevar a remuneração dos executivos, e de forma ineficiente aumentar a taxa de rotatividade de CEOs. Consideram, ainda, a possibilidade de os executivos tomarem medidas para aumentar a transparência, incentivados pelas preocupações de carreira e resultando em distorção da informação, e consequente redução do lucro.

Correia (2008) acredita que a redução da assimetria da informação, proporcionada pela qualidade das informações financeiras publicadas, promove a redução dos conflitos de interesse e, por isso, a transparência das informações publicadas pode ser considerada como um importante mecanismo de governança.

Hsu et al. (2006) investigaram os efeitos da governança na eficiência das empresas e concluíram que naquelas em que havia maior transparência havia também maior eficiência. Chung, Elder e Kim (2010) analisaram a relação empírica entre governança corporativa e liquidez das ações no mercado norte-americano e sugeriram que uma GC eficaz melhora a transparência financeira e operacional o que, por sua vez, diminui as assimetrias de informação entre insiders e investidores externos, bem como entre as demais partes interessadas.

Os vários escândalos contábeis internacionais envolvendo o report das informações financeiras no início desse milênio (casos da Parmalat, Enron, Worldcomm, etc.), levaram os reguladores e as instituições do mercado de capitais a buscar uma melhora nos padrões de governança corporativa. Em nível internacional, uma grande contribuição a esse mecanismo de governança corporativa veio com a publicação em 2002 da Lei Sarbanes-Oxley, nos Estados Unidos, regulando a relação das companhias com as empresas de auditorias e exigindo relatórios detalhados, cujo objetivo principal foi restabelecer o nível de confiança nas informações geradas pelas empresas e, assim, aumentar a proteção dos acionistas (PEIXOTO, 2012; CAIXE, 2012).

Norwani, Mohamad e Chek (2011) citam exemplos da implementação de regras e regulamentos de GC no mundo, tais como: no Reino Unido foi produzido o Relatório Cadbury, no Canadá, o Dey Report, na França o Relatório Vienot, na Espanha, o Relatório Olivencia, The King’s Report na África do Sul, Princípios e Diretrizes de governança corporativa na Nova Zelândia e o Código Cromme na Alemanha. Para Bhagat e Bolton (2009), o objetivo da maioria destes regulamentos era melhorar os ambientes de governança das empresas.

Uma das dimensões da transparência pode ser expressa pela adoção do serviço de auditoria independente. Bortolon, Sarlo e Santos (2013) acreditam que a auditoria independente é a solução para aumentar a transparência na relação gestor-investidor, uma vez que são os auditores que atestam para os acionistas e os demais stakeholders que os relatórios financeiros da empresa são precisos e verdadeiros.

Dechow e Schrand (2004) constatam que as auditorias realizadas pelas grandes empresas são consideradas de melhor qualidade do que as realizadas por outros auditores menos reconhecidos. Da mesma forma, Carvalhal-da-Silva e Leal (2005) afirmam que optar por uma empresa de auditoria com reputação global provoca um aumento na transparência.

Michaely e Shaw (1995) analisaram os efeitos da reputação das empresas de auditoria sobre a Oferta Pública Inicial de empresas e como elas podem impactar na percepção do mercado com relação ao preço. Concluíram que: (1) auditores mais prestigiados estão associados com IPOs que parecem menos arriscados, a priori; (2) o mercado percebe como

menos arriscados os IPOs que são associados com os auditores mais prestigiados, e; (3) o desempenho de longo prazo das IPOs está relacionado com o prestígio do auditor empregado. Segundo Ahmad et al. (2003), as principais firmas de auditoria (KPMG, PriceWaterhouseCoopers, Deloitte ToucheTohmatsu e Ernest&Young), que pertencem ao grupo denominado Big Four, não estão dispostas a se associar com clientes cujos níveis de evidenciação sejam baixos. Para Khanchel (2007), a seleção de auditores com reputação global (as Big Four), pode indicar melhores práticas de divulgação e transparência.

Vários estudos têm utilizado esta informação como variável proxy para determinar o nível de transparência praticado pelas empresas. Carvalhal-da-Silva e Leal (2005), Ramos e Martinez (2006), Almeida et al. (2010), Rover, Tomazzia e Murcia (2012), Kent, Routledge e Stewart (2010), Vieira et al. (2011), Cunha e Politelo (2013) são alguns desses estudos.

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