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Os pesticidas são substâncias químicas produzidas com a finalidade de controlar doenças ou matar plantas daninhas e insetos que possam possibilitar um risco à produção das culturas. Para tal, devem possuir em sua estrutura química alguma característica que reflita numa determinada atividade biológica. Ao serem aplicadas nas culturas todas as moléculas de pesticidas farão parte do ambiente, mesmo após terem realizado a função para qual foram sintetizadas, permanecendo seu efeito biológico em ambientes como solo e água.

O destino de um pesticida pode ser conhecido desde que saibamos como e onde ele entrou no solo, por quanto tempo ele permanece no solo e para onde ele vai. Para dar melhor entendimento na tentativa de responder esses questionamentos, processos como retenção, transformação e transporte devem ser esclarecidos, o que não é muito fácil, pelo fato desses processos ocorrerem de forma simultânea e em diferentes intensidades de acordo com o tipo de pesticida, solo e fatores climáticos.

A retenção “segura” a molécula, impedindo-a de se mover e de manifestar sua ação no ambiente. Nesse sentido, desempenha um papel importante na segurança ambiental. A retenção, definida como adsorção pode ocorrer por troca de ligantes, ligações covalentes, ligações de hidrogênio e ligações iônicas. A adsorção pode também ser física, onde a energia de ligação é muito baixa. Está incluída nesta categoria a força de van der Waals e a troca iônica. Entre as propriedades do adsorvente que influenciam a adsorção/dessorção a área superficial específica é importante, uma vez que as reações de adsorção ocorrem nas superfícies dos adsorventes, destacando-se nesse caso os colóides orgânicos e minerais. Assim, os colóides minerais e orgânicos estão ligados à permanência de moléculas químicas no solo, bem como sua lixiviação ou transferência por deflúvio superficial, devido esse tamanho de partículas serem preferencialmente transportados pela erosão.

O processo de transformação pode acarretar em mudanças, nas moléculas originais dos pesticidas e determinar o tempo e a intensidade com que isso pode ocorrer. A transformação ou degradação quebra as moléculas dos pesticidas em moléculas menores, de forma biótica ou abiótica, tornando- as menos tóxica que as moléculas originais, o que não é uma regra, podendo algumas moléculas quebradas serem mais tóxicas que as originais. Quando as moléculas não são degradadas, a interação com os colóides dos solos torna-se de significativa importância, devido o transporte dessas partículas pelo processo erosivo, acentuado em solos mal manejados, tornar-se veículo de transferência dessas moléculas dos solos para ambientes aquáticos.

O processo de transporte de pesticidas que ocorre por fluxo de massa é atribuído por forças que distribuem o pesticida em solução, como partículas suspensas em solução ou como um complexo solo-pesticida. Geralmente há uma correlação inversa entre a adsorção e o movimento de pesticidas no solo, o que não altera ou elimina a quantidade disponível para o transporte, pois a erosão está diretamente correlacionada à quantidade de pesticida transportado, uma vez que a adsorção/dessorção ocorre principalmente nas partículas coloidais.

O adsortivo, como as moléculas de pesticidas, possui propriedades que podem influenciar a adsorção/dessorção pelos colóides dos solos, dentre as quais se destacam solubilidade em água, pressão de vapor, capacidade de partição etanol-água (Kow), reatividade ou meio de vida (T1/2) e o coeficiente de

adsorção à matéria orgânica (Koc).

A solubilidade em água é um dos mais importantes parâmetros que afeta o destino e transporte de pesticidas no solo. Pesticidas altamente solúveis são facilmente e rapidamente distribuídos no ciclo hidrológico. A pressão de vapor mede a tendência de volatilização de um pesticida em seu estado normal puro (sólido ou líquido). Pesticidas mais voláteis tendem a persistir menos tempo no ambiente, portanto menor o seu efeito no solo. O coeficiente de partição octanol-água é definido como a relação da concentração de um pesticida na fase de n-octanol saturado em água e sua concentração na fase aquosa em n-

octanol. Esse coeficiente está relacionado com a solubilidade em água, com os coeficientes de sorção solo/sedimento. Os pesticidas com valores de Kow elevados (maior que log Kow=4,0) são fortemente, porém reversivelmente, presos aos materiais lipídicos, com grande potencial de bioacumulação em tecidos gordurosos, e em materiais orgânicos estabilizados como as substancias húmicas. Nos valores a Kow baixos (menores que log Kow=1,0) os pesticidas são pouco atraídos aos materiais lipídicos e naturalmente mais solúveis em água e possuem fatores de bioacumulação para a vida aquática pequenas. A reatividade é a capacidade da molécula do pesticida solver uma reação química e se transformar em outro(s) produto(s). Assim sendo, a meia vida de um pesticida é o tempo que a molécula original mantém sua atividade no solo meio. O Koc mede a capacidade de sorção dos pesticidas pelo conteúdo de carbono orgânico no solo. Assim, quanto maior o Koc maior a capacidade do pesticida ligar-se ao carbono orgânico, diminuindo sua mobilidade na forma solúvel, ficando o transporte de partículas orgânicas pelo deflúvio superficial a grande responsável pela capacidade de um dado pesticida atingir os mananciais aquáticos.

Os princípios ativos imidacloprid, atrazina, simazina e clomazone (clorpirifós, flumetralin e iprodione) possuem as seguintes características.

Valores das propriedades físico-químicas dos pesticidas estudados

Agrotóxico molecular Fórmula Atividade

Coefifiente adsorção à matéria orgânica mg L-1 Solubilidade em água mg L-1 Coeficiente de partição etanol / água Pressão de vapor Tempo de meia vida (T1/2) Dias Imidacloprid C9H10ClN5O2 Inseticida 3,71 610 3,7 1,0 x 10-7 48 - 120 Atrazina C8H14N5Cl Herbicida 316,22 33 316, 2 0,00003 146 Simazina C7H12ClN5 Herbicida 125,89 6,2 125,9 294 10-6 110

Clomazone C12H14ClNO2 Herbicida 316,22 1100 316,2 0,0192 15 - 40

Clorpirifos C9H11Cl3NO3PS Inseticida 50118,72 1,4 50118,7 0,0027 60 - 120 Flumetralin C16H12ClF4N3O4 Regulador de crescimento 0,07 -- 3,2 x 10 -2 90-180 Iprodione C13H13Cl2N3O3 Fungicida 1000 13 1000 5,00 10-7 --

10. ESTUDO IV: CONTAMINAÇÃO DE ÁGUAS SUPERFICIAIS POR