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3.1 Direito Autoral Internacional: aspectos históricos

3.1.3 Tratados Internacionais de Direito Autoral

Durante o período colonial no início do século XIX era comum as colônias de países como França, Inglaterra e Holanda copiarem os estatutos de direitos autorais de suas metrópoles e traduzirem palavra por palavra para suas próprias leis (STORY, 2009, p. 11-12).

Os países do hemisfério sul continuaram a copiar as leis dos países do hemisfério norte até a metade do século XX. Story (2009, p. 11-12) destaca que esta “importação” das legislações dos países colonizadores, inicialmente foi imposta, sem o consentimento dos países colonizados. Desta forma, observa-se que as leis de direito autoral dos países do hemisfério sul foram profundamente influenciadas por seus colonizadores.

Em 09 de setembro de 1886, vários países se reuniram em Berna, na Suíça, a fim de proporem uma regulamentação mínima, geral e internacional, para a proteção das obras científicas, literárias e artísticas de seus autores. Assim, realizou-se a primeira Convenção Internacional sobre o direito autoral, que serviu como embrião de todas as legislações nacionais a

partir daí existentes. No entendimento da Convenção de Berna, o direito autoral prescindia do registro da obra, visto que a obra já era protegida desde a sua criação (ABRÃO, 2002, p. 31).

Berna também versou sobre os prazos mínimos de proteção das obras intelectuais, isto é, estipulou o prazo de cinqüenta anos após a morte do titular de direito autoral. Também contemplou os direitos morais do autor, ou seja, o direito de ser reconhecido como criador de uma determinada obra (ABRÃO, 2002, p. 45).

A Convenção de Berna foi administrada e secretariada pela OMPI. Salienta-se que até a Convenção de Berna, os tratados internacionais eram de cunho eminentemente político e militar. Portanto, Berna foi o primeiro tratado a abordar um assunto de caráter jurídico (ABRÃO, 2002, p. 43-46). Cabe destacar que a Convenção de Berna não considerou as peculiaridades de cada país, antes estabeleceu uma série de padrões “mínimos” para que todos os países signatários os seguissem.

Durante a década de 1950, os Estados Unidos e a França se enfrentaram em nível internacional por conta das divergências no entendimento do que era o direito autoral. De um lado os Estados Unidos, uma potência em ascensão política e econômica no pós-guerra, e cujos entendimentos do que era o direito autoral não estavam de acordo com os princípios estabelecidos pela Convenção de Berna, pois a legislação norte-americana enfatizava a obra e não a pessoa do autor, conseqüentemente, enfatizava o aspecto essencialmente econômico do direito autoral. Do outro lado estava a França, amparada pela Convenção de Berna, que consagrava os direitos de autor em detrimento dos direitos dos difusores da obra (ABRÃO, 2002, p. 32).

Devido às incompatibilidades das legislações já existentes, em 1952 surgiu uma nova convenção, conhecida como Convenção Universal de Genebra. Esta reuniu os mesmos países da Convenção de Berna, mais os Estados Unidos, com o propósito de adequar os sistemas voltados prioritariamente para as obras com aqueles que conferiam os direitos de caráter pessoal aos autores. Segundo Abrão (2002, p. 32-33), pode-se afirmar que, de fato, o propósito da Convenção Universal de Genebra foi adequar a comunidade internacional à lei norte-americana.

A grande maioria das nações no mundo aderiu aos dois entendimentos do que é o direito autoral. Da mescla das duas vertentes surgiram as mais diversas leis de direito autoral no mundo, dentre as quais se encontra a legislação brasileira (ABRÃO, 2002, p. 33).

Em 1971, seguiram-se outras duas convenções em Roma para tratar dos chamados direitos conexos. A primeira, conhecida como “Convenção Fonogramas”, ocorreu em 29 de

outubro de 1971, em que se buscava combater a crescente pirataria de discos e fitas. A segunda, conhecida como “Convenção Satélites”, buscava conter a facilidade com que eram captadas e distribuídas as estações não-autorizadas dos sinais através de cabos (ABRÃO, 2002, p. 48).

Embora alguns princípios da Convenção de Berna estejam valendo até os dias de hoje, com o passar do tempo, os debates contemplados nos Tratados de Berna e Genebra foram se tornando obsoletos diante da nova realidade do comércio mundial de marcas e do crescimento da indústria da difusão cultural (ABRÃO, 2002, p. 49).

Nesta perspectiva, em 1986 deu-se início à Rodada Uruguai, com término em 1994, que culminou com a criação da Organização Mundial do Comércio (OMC). Esta passou a operar em duas vertentes, uma destinada à regulação do comércio internacional de bens materiais por meio do General Agreement on Tariffs and Trade (GATT), e a outra destinada à regulação do comércio internacional dos bens imateriais por meio do Acordo Relativo aos Aspectos da Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (ADPIC) ou, como é conhecido em inglês, Agreement on Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights (TRIPS) (ABRÃO, 2002, p. 49).

O Acordo TRIPS é um tipo de estabelecimento de um padrão mínimo de regras de proteção à propriedade intelectual. A criação do Acordo TRIPS foi conseqüência de um grande trabalho organizativo das indústrias da cultura (cinema, música e livro) dos Estados Unidos, da indústria de software e jogos eletrônicos do Japão, da indústria automobilística e da indústria de fármacos global. O acordo TRIPS deu novos direitos legais aos titulares de direito autoral, tais como a inclusão de novas categorias de proteção dos trabalhos e a restrição da utilização de tais trabalhos por parte dos usuários (DIREITO AUTORAL EM DEBATE, 2010, p. 7; STORY, 2009, p. 46).

O Acordo TRIPS foi, ainda, responsável por consolidar a concepção de propriedade intelectual que vigora hoje na maior parte dos países do globo. Nesta perspectiva, Abrão (2002, p. 33-34) afirma que a passagem dos direitos de autor para uma categoria maior chamada de propriedade intelectual está muito mais vinculada ao plano internacional da OMC, do que dos costumes internos de cada país.

Story (2009, p. 45) ressalta que as leis de direito autoral são aparentemente supremas e independentes. Entretanto, um conjunto de acordos internacionais, tratados e convenções estabelecem uma estrutura em que todos os países do globo devem cumprir.

Não significa que todas as leis de direito autoral no mundo sejam homogêneas, existem características peculiares a cada país que os tratados internacionais não contemplam. Entretanto, os tratados internacionais objetivaram regular as leis de direito autoral de cada país, estabelecendo para isto padrões mínimos. O Brasil, como grande parte das nações no mundo, não está alheio ao cumprimento de tais padrões, conforme explicitado a seguir.