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Tratamento e análise dos dados

No documento Casais biculturais: um estudo exploratório (páginas 34-37)

Prosseguindo-se objectivos de tratamento e de análise de dados, realizou-se, nos dois momentos de investigação, a transcrição de cada uma das entrevistas (anexo 3). Os dados foram, em seguida, sujeitos a procedimentos de análise de conteúdo, definida por Bardin (1988) como “um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens” (p. 42). A autora desvincula-se das técnicas obsessivamente objectivas que marcaram a primeira metade do século XX. Ao definir desta forma a análise de conteúdo, a autora considera que, no decorrer das décadas de 1950 e de 1960, se dá uma libertação desta técnica da objectividade clássica, integrando-se, na sua utilização, a compreensão clínica. Podendo extrair das comunicações “estruturas

traduzíveis em modelos”, para além de utilizar o cálculo de frequências, a análise de conteúdo constitui-se como uma “hermenêutica controlada”, uma “tarefa paciente de desocultação”, oscilando entre a objectividade e a subjectividade (Bardin, 1988, p.9). Na sua essência, a análise de conteúdo permite dela retirar compreensões e significações não consideradas numa leitura a priori, no que se refere às comunicações (com a análise descritiva) e inferências relativas às suas condições de produção.

A função da análise de conteúdo é dupla: a função heurística, que enriquece a tentativa exploratória, e a função de confirmação ou infirmação de hipóteses. L’Écuyer (1990), após uma revisão das etapas de análise propostas por um vasto grupo de autores importantes na análise de conteúdo (Mucchielli; Bardin; D’Unrug; Clapier-Valladon; Van Kaam; Giorgi), apresenta um “modelo geral”, constituído por seis etapas: leituras preliminares e estabelecimento de uma lista de enunciados (1); escolha e definição das unidades de classificação (2); processos de categorização e de classificação (3); quantificação e tratamento estatístico (4); descrição científica (5) e interpretação dos resultados (6).

Tendo presente a literatura existente sobre possíveis procedimentos a adoptar, a análise que efectuámos baseou-se sobretudo em Bardin (1988) e L’Écuyer (1990) e seguiu quatro etapas que passamos a apresentar e descrever.

Etapa 1 – Leituras Preliminares

Esta etapa inicia-se com a leitura por inteiro de todo o material disponível (L’Écuyer, 1990), fase a que Bardin (1988) se refere como “leitura flutuante”, na qual o analista apreende as características básicas do material a analisar, impregnando-se de impressões e orientações.

Repetindo-se a leitura, são identificadas ideias-chave das entrevistas, referidas por Bardin (1988) como “ideias força”, inventariando-se expressões e frases que ilustrem e clarifiquem o seu sentido significante.

São ainda seleccionadas as “unidades de significação”, ou seja, partes em que o texto é separado com vista à descoberta da sua significação profunda por classificação e que, relativamente aos objectivos da análise, devem possuir em si mesmas um sentido completo. De acordo com L’Écuyer (1990), a “unidade de sentido” é mais adequada a uma análise qualitativa de conteúdos e a “unidade de numeração” mais adequada à comparação entre grupos. Desta forma, para a análise do presente estudo adoptou-se como unidade de significação a “unidade de sentido”, sendo o texto partido em partes que têm em si um sentido global unitário, sentido esse que pode ser esclarecido através de partes de texto distantes que fazem também parte dessa unidade de sentido.

Etapa 2 – Processo de Categorização e Classificação

Este processo tem como finalidade a definição e enunciação das categorias de análise do discurso dos entrevistados, procurando-se agrupar as unidades de significação por analogia de sentido. Desta forma, os enunciados cujo sentido se aproxima são agrupados em categorias, conjuntos ou temas, de forma a evidenciar-se a significação profunda dos discursos em estudo.

Uma categoria é a representação de uma classe de significados que detém um sentido que é comum aos vários enunciados que lhe correspondem. À categoria é, geralmente, dado um título, que tem em conta esses aspectos em comum.

O objectivo da categorização, de acordo com Bardin (1988), é o fornecimento de uma representação simplificada de dados brutos através da sua condensação. L’Écuyer (1990) a isto acresce que as categorias devem ser diferentes o suficiente para que evitem sobrepor-se e devem ser definidas de modo a não existirem dúvidas relativamente à pertença deste ou daquele enunciado.

Etapa 3 – Descrição Qualitativa.

Esta etapa consiste na descrição das particularidades específicas dos vários entrevistados reagrupados sob cada uma das categorias. Nela se evidenciam relações de significados no interior de uma categoria e entre categorias.

Etapa 4 – Interpretação e discussão dos resultados

De acordo com L’Écuyer (1990), a interpretação e discussão dos resultados de uma análise de conteúdo pode ser realizada de três formas diferentes: pode ser tirada directamente da análise qualitativa; pode ir para além dos dados, recorrendo-se, então, a uma interpretação simbólica; e/ou pode ser feita por referência a conceitos e modelos teóricos. O mesmo autor refere que, no primeiro caso, a interpretação dá origem a temas centrais ou tipologias que podem incluir a referência a constructos teóricos.

Interessa explicitar que a análise teve características diferentes nos dois momentos de investigação, tendo-se em conta que no primeiro predominou a sua função heurística e no segundo a sua função de validação de resultados emergentes do primeiro momento. A análise das entrevistas do segundo momento da pesquisa realizou-se em dois registos: um de cariz dedutivo, onde os discursos foram categorizadosem função dos blocos presentes no guião do segundo momento, de forma a poderem-se confrontar descrições do segundo momento com as interpretações do primeiro; outro de cariz indutivo, relativo à análise de informação nova (segundo objectivo perseguido).

No documento Casais biculturais: um estudo exploratório (páginas 34-37)

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