Capítulo II – Imparidades em Inventários
2. Tratamento contabilístico dos Inventários
A NCRF 18 - Inventários, do SNC, tem como objetivo prescrever o tratamento dos
inventários e tem por base a norma internacional IAS 2- Inventories. Ao longo deste
capítulo foram utilizados os conceitos previstos na NCRF 18, no entanto, podem ser
encontrados os mesmos conceitos na IAS 2, uma vez que as duas normas são exatamente
iguais.
Segundo Lopes de Sá (1995), inventário é a verificação ou existência de um componente
patrimonial. O parágrafo 6 da NCRF 18 define inventários (existências) como ativos:
a) Detidos para venda no decurso ordinário da atividade empresarial;
b) No processo de produção para tal venda; ou
c) Na forma de materiais ou consumíveis a serem aplicados no processo de produção
ou na prestação de serviços.
A NCRF 18 aplica-se a todos os inventários que não sejam produção em curso proveniente
de contratos de construção, instrumentos financeiros e ativos biológicos relacionados com
a atividade agrícola. Os inventários englobam bens comprados e detidos para revenda
(mercadorias, terrenos e outras propriedades), bens acabados produzidos ou trabalhos em
curso que estejam a ser produzidos pela entidade. Estes devem ser reconhecidos segundo o
parágrafo 87 da Estrutura Conceptual que refere que um ativo é reconhecido no balanço
quando for provável que os benefícios económicos futuros fluam para a entidade e o ativo
tenha um custo ou um valor que possa ser mensurado com a fiabilidade.
Os inventários devem permanecer no ativo até ao reconhecimento do rédito, ou seja, até
que sejam vendidos. Isto, sem prejuízo dos inventários poderem ser abatidos ou
consumidos pelo próprio sujeito passivo. Quando os inventários são vendidos, a sua
quantia escriturada deve ser reconhecida como um gasto do período em que ocorra o
respetivo rédito. Qualquer ajustamento dos inventários para o Valor Realizável Líquido
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(VRL) e qualquer reversão do ajustamento também deve ser considerado, no período em
que ocorra, como um gasto ou rendimento respetivamente (NCRF 18, parágrafo 34).
Para relevar os inventários utilizam-se contas das classes 3, 6 e 7:
Figura 3- Contas do SNC utilizadas para classificar os Inventários
Fonte: Elaboração própria
Segundo o parágrafo 9 da NCRF 18, os inventários devem ser mensurados pelo custo ou
VRL, dos dois o mais baixo. Normalmente os inventários são mensurados pelo custo, no
entanto, se estes estiverem danificados, se se tornarem total ou parcialmente obsoletos, se
os preços de venda diminuírem ou se aumentarem os custos que a entidade prevê suportar,
o custo dos inventários pode não ser recuperado tendo de ser mensurado pelo VRL. A
prática de reduzir o custo dos inventários (write down) para o VRL é consistente com o
ponto de vista de que os ativos não devem ser escriturados por quantias superiores àquelas
que previsivelmente resultariam da sua venda ou uso. (NCRF 18, parágrafo 28).
O custo dos inventários deve incluir todos os custos de compra, custos de conversão e
outros custos incorridos para colocar os inventários no seu local e na sua condição atual
(NCRF 18, parágrafo 10). O VRL é o preço de venda estimado no decurso ordinário da
atividade empresarial menos os custos estimados de acabamento e os custos estimados
necessários para efetuar a venda. É portanto a quantia líquida que uma entidade espera
realizar com a venda do inventário. (NCRF 18, parágrafo 6-7)
As empresas devem portanto avaliar com regularidade os seus inventários de modo a
mensurá-los com fiabilidade.
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Relativamente ao método de custeio das saídas de inventários (no momento do
consumo/venda) o SNC (parágrafos 23-27 da NCRF 18) permite a adoção das seguintes
fórmulas de custeio:
Identificação Especifica: o inventário é valorizado pelo preço efetivamente
pago, incluindo todos os encargos que lhe sejam diretamente atribuíveis. Por ser
de difícil aplicação apenas é adotado em alguns setores de atividade em que são
tratados artigos de elevado valor;
FIFO (First-In First-Out): neste método as primeiras unidades a entrar são as
primeiras a sair, ou seja, o inventário final é valorizado pelo preço mais recente;
Custo Médio Ponderado: o inventário é valorizado a partir da média
ponderada do preço de compra e do valor dos stocks em armazém.
Uma entidade deve usar a mesma fórmula de custeio para os inventários de natureza e uso
similar. Nos inventários de diferente natureza e uso pode-se justificar o uso de diferentes
fórmulas de custeio (NCRF 18, parágrafo 25).
A movimentação das contas de inventários tem como propósito conhecer o valor dos
stocks da empresa e apurar os custos dos produtos vendidos e consumidos.
Para o registo dos inventários podem ser utilizados dois sistemas: o Sistema de Inventário
Permanente (SIP) ou o Sistema de Inventário Intermitente (SII). O SIP é o sistema que
permite, através do registo contabilístico, determinar em qualquer momento o valor dos
stocks em armazém e apurar os resultados obtidos nas vendas ou na produção. Segundo
Borges (2007, p.463), “como o nome indica, através deste sistema é possível determinar
permanentemente o valor dos stocks em armazém e apurar em qualquer momento os
resultados obtidos nas vendas ou na produção. Para tal, existem dois tipos de contas: conta
ou contas que nos deem a conhecer permanentemente o valor dos stocks da empresa e
conta ou contas do custo dos produtos vendidos ou consumidos para nos dar a conhecer,
também permanentemente, o custo das vendas ou produção, apurando-se a partir do valor
de venda ou de produção o respetivo resultado.” Com o SII o valor do stock só é apurado
periodicamente através da inventariação física diretamente no armazém.O artigo 12º do
Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de julho (que assimila a nova diretiva contabilística)
indica as empresas que estão sujeitas ao SIP.
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No documento
a evolução do seu reconhecimento nas empresas portuguesas
(páginas 38-41)