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CAPÍTULO II REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

8. TRATAMENTO DA DAC

Considerando as particularidades da DAC e tendo o intuito de maximizar os benefícios da terapêutica e diminuir os seus custos e efeito adversos, atualmente é recomendada uma terapêutica multimodal. Os objetivos principais da terapêutica são: identificação e evicção de fatores desencadeadores de crises; otimização da condição e higiene da pele e pelo; controlo e redução do prurido e das lesões cutâneas; implementação de estratégias preventivas de recidiva dos sinais clínicos (Olivry et al., 2010; Olivry et al., 2015).

8.1 MANEIO DE CRISES AGUDAS NA DAC

Várias medidas devem ser tomadas nestas situações, no entanto, a identificação e evicção de fatores desencadeadores de crises deverá ser das mais precocemente adotadas. Das causas conhecidas com capacidade de despoletar agudizações encontra-se: a exposição a alergénios ambientais (ex: ácaros domésticos do pó), a ingestão de determinados alimentos ou a picada de pulgas ou outros insetos. Deste modo, é importante a identificação e, se possível, a eliminação do contacto com estes alergénios (Olivry et al., 2015). As infeções bacterianas ou fúngicas da pele (incluindo ouvido) são eventos que comumente conduzem também a agudização da sintomatologia. Isto faz com que possa ser necessário o recurso a antimicrobianos tópicos e/ou sistémicos (Olivry et al., 2015).

No tratamento de crises agudas da DAC é igualmente importante melhorar a higiene e cuidado da pele e pelo, sendo aconselhado o banho com um champô não irritante/emoliente, pois estes aparentam conduzir a melhorias das lesões cutâneas e do nível de prurido (Olivry et al., 2015).

Uma das ferramentas mais frequentemente utilizadas no combate à redução do prurido e melhoria das lesões cutâneas são os agentes farmacológicos, nomeadamente os glucocorticoides (tópicos ou orais) e o oclacitinib (Olivry et al., 2015). Os glucocorticoides tópicos são especialmente importantes no tratamento de lesões localizadas, durante curtos períodos de tempo. É crucial ter presente a possibilidade de atrofia cutânea induzida por estes aquando de uma utilização prolongada no tempo (Olivry et al., 2015). Um estudo datado de 2012 conclui que o aceponato de hidrocortisona (AHC), na forma de spray, permitia uma melhoria nos sinais clínicos e da função da barreira cutânea em exemplares com DAC (Nam et al., 2012). Relativamente à utilização fármacos com via de administração per os, tanto os glucocorticoides orais (ex: prednisona, prednisolona) como o oclacitinib podem ser utilizados em crises agudas de DAC, pois conduzem a rápidas melhorias dos sinais clínicos, controlando e reduzindo as lesões cutâneas e o prurido. (Olivry et al., 2015).

8.2 TRATAMENTO NA DAC CRÓNICA

No tratamento da DAC crónica, a identificação e evicção dos fatores despoletantes de crises continua a ter um papel preponderante (Olivry et al., 2015). Aos exemplares que apresentem sintomatologia perene é aconselhada a realização de uma dieta de eliminação, seguida de testes de provocação. Isto é particularmente importante visto estas situações poderem estar associadas à DA induzida por alimentos (Olivry et al., 2015). Com o intuito de evitar a exposição a pulgas, é aconselhado a implementação de um programa de controlo destas com uma duração anual. Relativamente aos ácaros domésticos, uma atuação igualmente importante consiste na implementação de medidas de controlo destes, visto serem a principal fonte de alergénios para cães com DA (Olivry et al., 2015). Com o propósito de identificar os alergénios a que o animal se encontra sensibilizado é recomendada a realização de testes alergológicos. Isto não só permite a realização de uma imunoterapia alergénio-específica como também possibilita a implementação de medidas diretas de evicção aos alergénios a que o animal se encontre sensibilizado (Olivry et al., 2015). Por último, outra medida igualmente determinante na evicção de fatores desencadeadores de crises consiste na avaliação da resposta à terapêutica antimicrobiana em situações de sobrecrescimento ou infeção cutânea (Olivry et al., 2015). Após confirmação do diagnóstico de uma destas situações, o clínico deverá recorrer à utilização de agentes antimicrobianos, tópicos ou sistémicos (Olivry et al., 2015). Na eventualidade da piodermite ter uma génese bacteriana, a terapêutica dependerá da profundida e grau de extensão da mesma. Os tratamentos tópicos devem ser preferencialmente escolhidos em detrimento dos sistémicos. Especificando, os tratamentos tópicos podem incluir o uso de antissépticos, como a clorhexidina, e de antibióticos tópicos como a bacitracina. Se o tratamento requerer o uso de um antibiótico sistémico, a escolha deste dependerá do historial da piodermite, do agente bacteriano e da sua sensibilidade, sendo os antibióticos de primeira linha: a clindamicina, lincomicina, cefalosporinas de primeira geração (ex: cefalexina) ou amoxicilina com ácido clavulânico (Spohr et al., 2009; Hillier et al., 2014). Já para o tratamento de crises, despoletadas ou exacerbadas, por Malassezia spp. o tratamento pode incluir a utilização de fármacos como o itraconazol ou o miconazol (Olivry et al., 2015).

Um ponto incontornável no maneio da DAC crónica consiste na otimização da higiene e cuidado da pele e pelo. Banhos semanais com um champô não irritante e água tépida aparentam ser benéficos. Consoante as caraterísticas da pele dos cães atópicos, deve de ser escolhido o tipo de champô mais adequado. Os champôs hidratantes são importantes graças ao seu efeito calmante, no entanto pode ser igualmente vantajoso a utilização de champôs com propriedades anti seborreicas ou antissépticas (Olivry et al., 2015). A suplementação com ácidos gordos essenciais (AGE), via oral ou em formulações tópicas, aparenta ser benéfica,

ajudando a normalizar os defeitos existentes na barreira lipídica do extrato córneo, providenciando ligeiros benefícios na redução dos sinais clínicos (Olivry et al., 2015).

Os agentes farmacológicos também podem ser utilizados na redução do prurido e controlo das lesões cutâneas em situações cronicidade. Relativamente à terapêutica tópica, pode-se recorrer à utilização de glucocorticoides ou de tacrolimus. Sabendo do risco de desenvolvimento de atrofia cutânea por uso prolongado de glucocorticoides tópicos, a sua forma de utilização mais segura implica uma fase de indução com aplicação diária da formulação, seguida da sua utilização intermitente. Destaca-se a segurança de utilização do tacrolimus em animais que apresentem atrofia cutânea visível (Olivry et al., 2015).

Nos casos com lesões mais graves e/ou generalizadas, à terapêutica tópica pode ser associado o uso de imunomoduladores farmacológicos orais, nomeadamente os glucocorticoides (ex: prednisona, prednisolona), a ciclosporina A, o oclacitinib entre outros. Embora a ciclosporina A tenha um tempo alargado até que os seus efeitos comecem a ser notórios, esta pode ser associada aos glucocorticoides orais, permitindo deste modo uma melhoria rápida da sintomatologia (Olivry et al., 2015). É importante referir que os fármacos de administração oral supracitados não devem de ser administrados concomitantemente a longo prazo, por risco de imunossupressão grave e desenvolvimento de infeções. No entanto, parece ser possível diminuir a sua dose e/ou frequência de administração se, paralelamente, for realizada uma imunoterapia alergénio-específica ou usados champôs hidrantes ou suplementos de AGE (Olivry et al., 2015).

8.3 TERAPÊUTICA PREVENTIVA DE RECIDIVAS NA DAC

A aplicação de um spray tópico de AHC a 0,0584% poderá ser utilizado enquanto terapêutica proactiva, pois demonstrou ser bem tolerado e eficaz na prevenção da recorrência de novas crises (Lourenço et al., 2016).

A imunoterapia alergénio-específica pode ser utilizada em conjunto com todas as diferentes terapêuticas supracitadas, sendo caraterizada como uma das abordagens base no tratamento da DAC. Atualmente consiste ainda no único tratamento que tem a potencialidade de modificar ou reverter, pelo menos parcialmente, os eventos que estão na génese da DAC, conduzindo a um alívio dos sinais clínicos e prevenindo a progressão da doença (DeBoer, 2017).

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