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CAPÍTULO 3 METODOLOGIA

3.2. Tratamento de dados

De modo a avaliar o conforto térmico, as temperaturas interiores foram analisadas pela temperatura interior média na habitação e pela percentagem de registos nos quais foram medidas temperaturas interiores superiores a um valor absoluto.

Um problema central ao utilizar este indicador é decidir que limite de temperaturas utilizar. Boardman afirma que a temperatura necessária para atingir um conforto adequado são “21ºC para a sala de estar e 18ºC para o resto das divisões”. Este limite é utilizado nos modelos da Inglaterra, País de Gales e Irlanda no Norte e tem como base o relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS). A Escócia utiliza um limite ligeiramente superior, 23ºC para a sala de estar para agregados com idosos, doentes ou deficientes. No entanto, os limites 18ºC e 21ºC não são aceites por todos como um limite correto, havendo algum debate sobre o que contistitui uma temperatura interna adequada. Como Healy afirma “várias variáveis fisiológicas, psicológicas e ambientais têm impacto na percepção humana de conforto térmico”.

No entanto, tendo em conta esta bibliografia e o facto de no REH indicar a temperatura limite de 18ºC, optou-se por este valor como limite mínimo de conforto.

Como foi referido anteriormente, as temperaturas não foram resgistadas ao mesmo tempo, criando uma desigualdade na facilidade de atingir o conforto. De modo a desvanecer esta desigualdade, não foram consideradas as temperaturas do ar interior que estivessem confortáveis quando no exterior a temperatura estivesse acima de 15ºC.

Pobreza energética

Para calcular a pobreza energética tentou-se aplicar mais do que um método, de modo a verificar qual o que se relaciona melhor com os dados do conforto térmico. Como foi referido anteriormente abrem-se dois caminhos, utilização métricas baseadas na despesa e ainda métodos obtidos por consenso.

Método baseado na despesa

A utilização deste método implica o conhecimento da despesa de energia, do rendimento e de limites.

Limites

Tendo em conta os dados disponíveis e o objetivo do estudo, o indicador de 10% torna-se inadequado, visto que, como foi referido anteriormente, este número foi estabelecido para uma sociedade diferente deste estudo e por ser correspondente à energia total dispendida (iluminação, cozinha, arrefecimento, etc.), dados esses que não são possíveis de calcular.

No entanto, a metodologia que esteve na base deste indicador pode ser replicada. Isto é, utilizar o dobro da mediana da razão entre o que é necessário dispender em aquecimento para estar em conforto e o seu rendimento.

𝐼𝑚𝑝𝑎𝑐𝑡𝑜 =𝐸𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑛𝑒𝑐𝑒𝑠𝑠á𝑟𝑖𝑎 𝑒𝑚 𝑎𝑞𝑢𝑒𝑐𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑐𝑜𝑛𝑓𝑜𝑟𝑡𝑜 × 𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑑𝑎 𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎

30 ▪ 𝐼𝑚𝑝𝑎𝑐𝑡𝑜 [%]

▪ 𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑑𝑎 𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 [€/kWh] ▪ 𝑅𝑒𝑛𝑑𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑜 𝑎𝑔𝑟𝑒𝑔𝑎𝑑𝑜 [€]

𝐸𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑛𝑒𝑐𝑒𝑠𝑠á𝑟𝑖𝑎 𝑒𝑚 𝑎𝑞𝑢𝑒𝑐𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑐𝑜𝑛𝑓𝑜𝑟𝑡𝑜 [𝑘𝑊ℎ]

Utilizando como base os dados dos inquiridos, calculou-se que a mediana do impacto do aquecimento no rendimento da população estudada era cerca de 1%. Logo, o dobro, corresponde a 2%, valor utilizado como limite de pobreza energética.

O método do LIHC foi também trabalhado segundo os dados disponíveis. Como tal foi necessário estabelecer os limites de rendimento e custo. O limite de custo, tal como foi definido por Hills [23], foi estabelecido como a mediana do custo equivalente dos inquiridos. O limite de rendimento foi estabelecido como 60% da mediana do rendimento equivalente, mais o custo de equivalente de cada agregado.

Rendimentos e despesa energética

Para conhecer os rendimentos e a despesa energética foram usados os seguintes métodos.

O rendimento médio mensal líquido foi obtido através de uma pergunta no inquérito e posteriormente multiplicado por 14 meses iii, para obter o rendimento anual.

Para o cálculo da despesa de energia, optou-se por utilizar a energia necessária para manter um nível adequado de conforto no inverno. Utilizar as necessidades é a abordagem mais correta tendo em conta os indicadores mostrados no subcapítulo 1.2., onde ficou sublinhado que em Portugal as temperaturas no interior das habitações são baixas no Inverno e a utilização de meios de aquecimento ser abaixo do que a legislação considera como necessária para estar em conforto.

A medição exata das necessidades das habitações estudadas seria de difícil execução, pois implicaria pedir informações de uma complexidade demasiado elevada aos inquiridos. No entanto, é possível ter uma aproximação das mesmas com base na tese de mestrado [30].

Neste trabalho as necessidades de climatização do parque habitacional de Portugal Continental são tipificadas tendo em conta a “região”, tipo de habitação e ano de construção.

Para estabelecer uma “região”, o primeiro passo foi o cruzamento dos mapas de necessidades de Verão e Inverno, presentes no RCCTE, criando zonas com necessidades de aquecimento e arrefecimento equivalentes. Seguidamente cada zona foi dividida em “regiões” agrupando concelhos tendo em conta a sua representatividade, localização e proximidade geográfica e ainda a semelhança no padrão de habitação e tipologias.

O resultado foi a divisão do território em 16 regiões:

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Figura 16 – “Divisão regional segundo as necessidades de climatização em Portugal Continental” [30]

O concelho de interesse para este trabalho (Sintra) corresponde à região LxLitO.

Posteriormente foi feita uma caracterização regional que teve como base o estudo da época de construção, número de divisões existentes em cada alojamento, principais materiais utilizados, entre outras características. Esta informação foi recolhida dos Censos 2001 e dos Anuários Estatísticos de 2008 disponibilizados pelo INE.

Foram escolhidas as habitações com o conjunto destas características mais representativas de cada região. Na região LxLitO os seis tipos de habitação mais comuns são:

• Prédio urbano de 1985-2001, paredes de tijolo furado 15+11 com isolamento • Prédio urbano de 1960-1985, paredes de tijolo furado 11+11

• Casa urbana de 1919-1945, paredes de alvenaria de pedra • Vivenda de 1960-1985, paredes de tijolo furado 11+11

• Vivenda de 1985-2001, paredes de tijolo furado 15+11 com isolamento • Casa urbana anterior a 1919, paredes de pedra

Posteriormente com base em alguns pressupostos, como a área de vãos envidraçados para cada tipo de habitação, cobertura, pé direito, etc. foram calculadas as necessidades tendo em conta a folha de cálculo do RCCTE. O resultado para cada tipo de habitação da região está em anexo.

Como foi anteriormente referido, as necessidades estabelecidas na legislação são calculadas em condições de referência, tais como, considerar que o aquecimento é feito em todas as divisões,

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durante o dia inteiro. No entanto, na prática os padrões comportamentais diferem bastante dos assumidos como referência [9].

Na linha deste pensamento, os autories do artigo [9] modelou a energia gasta em aquecimento, assumindo padrões de comportamento reais - “Heating Energy Use (HEU)” -, em função da energia gasta para aquecimento em condições de referência - “Heating energy Demand under Reference Conditions (HDRC)”. O HEU foi obtido segundo uma análise estatística de 2611 simulações de consumo onde foram combinadas diferentes características físicas do edifício e da localização geográficas e ainda as características comportamentais e de ocupância.

A Figura 17 mostra o comportamento do consumo real, em função das necessidades segundo o RCCTE, e da temperatura de aquecimento. As variáveis independentes: percentagem de área aquecida semanalmente (HA%), período de aquecimento (HP%), ganhos internos (HG) e infiltrações de ar (IR); foram estabelecidas segundo os resultados obtidos da monitorização realizada nesta tese. O consumo depende da temperatura de conforto, que como já foi referido anteriormente, neste trabalho foi estabelecido como 18ºC. Visto que o HG e o IR tomam os mesmos valores da legislação, o HA torna-se o elemento de relação entre as necessidades de aquecimento da legislação e a realidade. O estudo determinou que em média a proporção entre área e tempo ocupado na habitação é de 37%.

Por exemplo, se segundo o RCCTE as necessidades da habitação forem 50 kWh/m2, o consumo necessário para aquecer a habitação utilmente a 18ºC é aproximadamente 15 kWh/m2.

Figura 17 - HEU em função da Temperatura set point e do HDRCRCCTE, assumindo 1.0ac/h [9]

Com base neste HEU foi posteriormente calculado o custo. O custo depende diretamente do meio de aquecimento utilizado. De modo a simplificar a comparação entre as várias habitações e reduzir o número de variáveis, foi utilizado o mesmo meio de aquecimento para todos os casos: equipamento elétrico móvel (η=1 [29]; custo da eletricidade = 0,1652 €/kWhiv). A escolha teve por base o meio de aquecimento mais utilizados pelos inquiridos.

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Método baseado no consenso

Foi também calculado um método por consenso, baseado no estudo de Thomson et al. [31]. Na segunda campanha foi questionado aos 13 inquiridos as mesmas três perguntas:

• No último ano, sentiu alguma dificuldade para pagar alguma conta fixa a tempo?

Atrasos no pagamento de contas fixas pode ser um indicador de baixo rendimento e consequentemente estar em risco de exeperienciar pobreza energética [33].

• Sente que é financeiramente capaz de manter a sua casa adequadamente quente durante o inverno?

Este indicador apesar de ser altamente subjetivo, fornece uma boa visão da percepção que a população tem em relação ao custo e executabilidade para manter as habitações quentes [33]

• Tem alguma mancha ou sinal de humidade em paredes, chão ou teto?

Este indicador fornece uma métrica objetiva da condição da habitação. Tal como foi afirmado por Healy e Clinch, a presença de humidade “indica que a habitação não é energeticamente eficiente. Pode também ser uma manifestação de que a habitação é ineficazmente aquecida”, sendo então um indicador de pobreza energética [33].

Para o cálculo de pobreza energética foram utilizados 4 cenários, replicando o estudo de Thomson et

al. A diferença entre os cenários está no peso dado a cada indicador. A utilização de uma métrica

composta de pobreza energética permite explorar a interação entre os indicadores e a utilidade de cada um [28].

De modo a comparar os resultados da amostra com Portugal e os restantes países da Europa, foram utilizados os dados da EU-SILC de 2016.

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