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2 REVISÃO ESPECÍFICA DE LITERATURA

2.7 Tratamento das LERs

Muitas podem ser as versões acerca da ligação ou separação do corpo e da mente, do corpo e do indivíduo, o que é preciso é não desconhecer qual é a sua visão que fundamenta sua praxis no sentido de que desconhecer significa não admitir, não aceitar, não reconhecer, estranhar, ignorar e negar. Acredita-se que da superação desta dicotomia corpo e mente abre-se a possibilidade de se retornar a natureza humana de forma humanizada (NICOLETTI, 1992).

2.7.1 Considerações acerca dos aspectos patológicos

O desconhecimento de muitos dos aspectos patológicos das LERs perdura até hoje, no mundo todo, e, em função dos fortes componentes psicossociais e econômicos que envolvem o assunto acabou gerando, em escala mundial, uma polarização de opiniões. De um lado estão os que defendem o ponto de vista de que a dor e a disfunção causadas pelas LERs são conseqüências de lesões orgânicas relacionadas com o trabalho. De outro lado estão grupos que entendem que as LERs representam situações de neurose compensatória, conversão, fadiga ou simplesmente simulação.

Acredita-se que as LERs possam ser originadas por alterações somáticas periféricas que, pela duração ou intensidade, acabem por influenciar a homeostase

psicossomática, produzindo perturbações psíquicas que representam a manifestação legítima de distúrbios resultantes de características pessoais de cada trabalhador e da exposição aos ambientes competitivos e pouco atentos às necessidades individuais, como é no mundo atual.

Examinando as possíveis causas, os fenômenos clínicos associados às lesões por esforços repetitivos, com a esperança de motivar os médicos, psicólogos e pesquisadores das ciências biológicas a se interessarem pela procura das causas básicas das tendinites, tenossinovites, bursites e neurites desencadeadas pelos esforços físicos e pelas situações de estresse. Serão necessários esforços para criar modelos de pesquisa e estudar os aspectos histológicos, moleculares e imunológicos das estruturas acometidas pelas alterações inflamatórias e degenerativas que acompanham as LERs.

Procura-se identificar ainda, possíveis correlações existentes entre as estruturas anatômicas músculo-esqueléticas que garantem a execução das funções do Aparelho Locomotor e suas vias de integração com o Sistema Nervoso Central, controlador dos movimentos e posturas, armazém das emoções e controlador da saúde, considerada em seu sentido mais amplo (NICOLETTI, 1992).

As estruturas anatômicas acometidas pelas LERs estão localizadas no interior das articulações (ligamentos, sinóvias, cápsulas) ou ao seu redor (tendões, músculos, faciais e nervos). Nessas regiões concentram-se, naturalmente, grande parte das cargas originadas pelos músculos, durante a realização dos movimentos necessários para as atividades.

A magnitude das cargas suportadas pelas articulações é muito grande, mesmo quando o movimento realizado é muito simples. Por exemplo, sempre que se eleva o membro superior para alcançar um objeto, a carga gerada sobre os tendões do manguito dos músculos rotadores do ombro é da ordem de nove vezes o peso da extremidade, o que significa cerca de 40Kg para uma pessoa de aproximadamente 70 kg de peso e envergadura média. Essa aparente desproporção de cargas suportadas pelas articulações é devida à composição das alavancas ósseas que compõem os nossos membros.

Não se pode sentir a sua presença porque existe um equilíbrio muito eficaz entre as forças que as controlam, de maneira que as cargas originadas pelos grupos musculares que as movimentam são neutralizadas por forças criadas por grupos musculares oponentes. Desse modo, quando a somatória das forças é zero, a

articulação fica estável e não se percebe o trabalho que os músculos têm para realizar a elevação do braço (NICOLETTI, 1992).

Quando, no entanto, se estabelecem desequilíbrios entre os grupos musculares controladores desses movimentos (essa é uma situação relativamente comum em pacientes portadores de "bursites" e "tendinites" do ombro), a magnitude das forças envolvidas produz alterações importantes nos tendões e cápsulas articulares que, por sua vez podem sofrer lesões decorrentes dos esforços adicionais a que são submetidos.

A maioria dos casos de LER tem bom prognóstico, em particular quando o diagnóstico é realizado precocemente e o tratamento iniciado de imediato. Durante todo o tratamento devem ser realizadas avaliações periódicas para eventual reorientação da conduta terapêutica.

É indispensável estabelecer-se, desde o início, uma boa relação dos profissionais de saúde com o trabalhador para que o desânimo e a desilusão mútuas não se instalem, já que, nos casos mais graves, os efeitos do tratamento podem não ser sentidos imediatamente.

O tratamento inicia-se pela imobilização do membro afetado, sendo indicada por período de 10 a 13 dias. Após a retirada da imobilização, deverá ser reavaliado o quadro clínico, lembrando que nesse momento o paciente terá dificuldade em avaliar as queixas. Quanto à medicação, sugere-se dose única injetável de corticóide de ação prolongada intramuscular, associada a anti-inflamatórios não hormonais orais, em doses adequadas, por duas semanas ininterruptamente, acompanhado a imobilização.

As infiltrações são contra-indicadas pois as degenerações distróficas de tecidos sinoviais, tendinosos e musculares, por elas causadas, levam a alterações e roturas teciduais irreparáveis.

2.7.2 Fisioterapia e terapia ocupacional

O tratamento fisioterápico e de terapia ocupacional podem ser iniciados após a retirada da imobilização, ou imediatamente, quando esta não se fizer necessária. Durante essa fase o paciente deve ser orientado a não utilizar o membro em

atividades que exijam esforços, movimentos repetitivos ou posições de tensão estática mantida. É nesse período que se define com o paciente os seus limites para cada uma das atividades principais, evitando tarefas que possam piorar o quadro. O estabelecimento de limites deve ser necessariamente acompanhando de adaptações na vida, inclusive de objetos de uso pessoal.

2.7.3 Cirurgia

A opção cirúrgica só deve ser feita por especialista habituado a tratar de pacientes portadores de LER A grande maioria dos casos tem indicação de tratamento clínico e a indicação equivocada de cirurgia poderá prejudicar muito a evolução, agravando o caso e piorando o prognóstico. O especialista deve esclarecer o paciente sobre as perspectivas positivas e negativas do procedimento, antes de realizá-lo. O tratamento cirúrgico está indicado quando se objetiva:

- a resecção de tecidos sinoviais em estado do processo inflamatório crônico é irreversível com o tratamento clínico intensivo e completo;

- a extirpação de massas tumorais císticas, fibróticas ou mesmo de músculos anômalos, em área que possam estar relacionadas com a moléstia.

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