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Tratamento e análise dos dados

CAPÍTULO 2 A “ROTA” PERCORRIDA

2.3 Tratamento e análise dos dados

Em relação à codificação dos dados, organizamos inicialmente as palavras coletadas pela aplicação do TALP, dispondo-as em ordem alfabética; em seguida, organizamos o “dicionário” agrupando as respostas com maior frequência àquelas que apareceram isoladas, utilizando-se da similaridade semântica ou afinidades de sentido comum através do reagrupamento por semelhanças. Como exemplo, podemos citar as palavras fundamental-importante-essencial que foram agrupadas, por similitude, à expressão que mais caracterizava a representação dos(as) docentes, seja pela maior frequência, seja pelo sentido percebido durante as respostas. Digitado os dados que apresentavam as variáveis fixas e as opiniões dos sujeitos, submetemo-los ao software estatístico Tri-Deux Mots30.

O uso do Trideux possibilita observar a organização das palavras evocadas fazendo o cruzamento dos dados entre as variáveis fixas (idade, formação, tempo de atuação e série que leciona) e as variáveis de opinião (palavras evocadas), com isso, é possível “visualizar as relações de atração e de afastamento entre os elementos do campo representacional à propósito de determinado objeto” (NÓBREGA; COUTINHO, 2003, p. 75), ou seja, observar a dinâmica das variáveis.

Ao utilizar o Trideux faz-se inicialmente um levantamento simples da frequência das palavras evocadas31 para em seguida, fazer uma Análise Fatorial de

Correspondência (doravante AFC), sendo as palavras evocadas pelos sujeitos organizadas e observadas umas em relação às outras e também em relação às variáveis que envolvem a caracterização dos sujeitos. A AFC permite um olhar sobre os dados de forma simultânea, sob diversas perspectivas e é por meio desta análise que se obtém o plano fatorial que nos dá o panorama das variáveis fixas e de opinião. O gráfico é consequência de um processamento dos termos evocados e demonstra as representações articuladas entre as variáveis. Dessa forma, Coutinho (2003, p. 99) destaca que a interpretação dos dados por meio da AFC “consiste em destacar eixos que explicam as modalidades de respostas, mostrando estruturas constituídas de elementos do campo representacional ou gráfico”. Assim, por meio

30 Este software foi elaborado pelo professor de Sociologia Philippe Cibois, o qual disponibiliza o acesso gratuitamente via internet para qualquer pessoa ter acesso. Ver site: http://pagesperso- orange.fr/cibois/SitePhCibois.htm

31 As palavras foram anteriormente categorizadas e procuramos ver aquelas que pareciam ser mais significativas.

da identificação do campo semântico, pudemos identificar as diferenças e as relações entre representação e características dos sujeitos por meio das modalidades e as representações que se encontram distribuídas de maneira oposta no gráfico. Na AFC as palavras mais significativas para a representação são as que se localizam no fator 1, isto significa que este fator é o mais forte na identificação das representações, e o fator 2 contribui para dar sentido e entender de modo mais amplo os dados revelados no fator 1, reforçando ou detalhando ainda mais os significados daquelas palavras.

Buscamos direcionar um olhar tanto quantitativo como qualitativo no mapeamento das palavras evocadas, pois, como destaca Sá (1996, p. 110), na identificação do núcleo central das representações é fundamental associar a perspectiva quantitativa à qualitativa. Isso nos possibilitou perceber elementos importantes para a realização das entrevistas, e também reverberou na nossa análise.

Após a organização e categorização das palavras, realizamos as entrevistas e fizemos o tratamento dos dados coletados. O início das entrevistas foi marcado pelo processo de hierarquização de palavras mais frequente para ambas as expressões indutoras utilizadas nesta pesquisa. Estes dados foram organizados tendo como pressuposto as próprias expressões utilizadas no TALP.

A cada entrevista finalizada, iniciávamos o processo de transcrição das falas das professoras, buscando um primeiro olhar para os temas que surgiram, as reações diante das perguntas e a mudança de entonação. Nesse processo de decodificação dos dados realizamos escutas atenta das falas e, ao trilhar este percurso, pudemos já direcionar o olhar para alguns temas que se sobressaíam nas falas das docentes. O tema, para Bardin (1977), é na maioria das vezes utilizado como uma unidade de registro em investigações que envolvem atitudes, valores, opiniões, crenças etc., sendo propício para os estudos de representação. Ainda de acordo com este autor, “fazer uma análise temática, consiste em descobrir os <<núcleos de sentido>> que compõem a comunicação e cuja presença, ou frequência de aparição podem significar alguma coisa para o objectivo analítico escolhido” (BARDIN, op. cit., p. 105). Nesse sentido, o tema é considerado na análise de conteúdo como uma unidade de significação.

Com os dados codificados, efetuamos uma análise dos conteúdos que constituíam as falas e procuramos organizá-los de acordo com os objetivos da

pesquisa. A análise de conteúdo é caracterizada, segundo Bardin, como “um conjunto de análise das comunicações” (1977, p. 31) que envolve os processos de descrição, inferência e interpretação. A descrição enfoca as características dos textos que são enumeradas, com esta organização o pesquisador faz inferências sobre os dados constatados já remetendo a uma interpretação que corresponde a significação concedida aos dados descritos. Sendo assim, no processo de análise do conteúdo, o investigador busca “compreender o sentido da comunicação [...], mas também e principalmente desviar o olhar para uma outra significação, uma outra mensagem entrevista através ou ao lado da mensagem primeira” (BARDIN, op. cit., p. 41). Na busca pelo sentido, o olhar não se detém simplesmente para o conteúdo das comunicações, mas também para “os sentidos e significados, patentes ou ocultos, que podem ser apreendidos por um leitor que interpreta a mensagem contida nele por meios de técnicas sistemáticas apropriadas” (CHIZZOTTI, 2006, p. 115). Perspectiva condizente, portanto, com a teoria das representações sociais que busca o sentido, o simbólico que constituem as representações.

Atentas a estes pressupostos, realizamos como já frisado, uma leitura atenta do material, intercalando a escuta da gravação com a entrevista já transcrita, para que, pudesse aflorar mais os temas e posteriormente montamos as categorias. Nesse percurso, procuramos refletir sobre o surgimento dos temas sempre com o olhar direcionado para os objetivos da pesquisa; em seguida, mapeamos as falas a partir dos temas emergentes definidos pela leitura flutuante e orientados pelos objetivos da pesquisa, agrupando as falas das professoras em um caderno; e, assim, visualizar o que cada docente falava sobre determinado aspecto, buscando a presença das demais palavras evocadas a partir do TALP.

No processo de refinamento dos dados agrupamo-los em categorias considerando a classificação das palavras evocadas através do TALP que se tornaram tópicos para apresentação e discussão dos resultados: categoria

pedagógica, categoria social, categoria cognitiva e categoria sócio-afetiva.

A elaboração de categorias é uma etapa fundamental no processo de pesquisa para poder atingir os objetivos delimitados para a investigação, e por isso, precisam ser bem elaboradas e definidas, além de estarem condizentes com os objetivos propostos na pesquisa (CHIZZOTTI, 2006). Bardin (1977) define a categorização da seguinte forma:

é uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente definidos. As categorias são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos (unidades de registro, no caso da análise de conteúdo) sob um título genérico, agrupamento esse efectuado em razão dos caracteres comuns destes elementos (p. 117).

Buscamos, enfim, realizar uma categorização dos dados com rigor e atenção aos objetivos traçados, observando-se o agrupamento dos elementos que constituem as representações do ensino da língua escrita, através dos dados oriundos tanto do TALP, como da organização das palavras no Trideux e das entrevistas.

CAPÍTULO 3 EM BUSCA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE O ENSINO