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4.3 Caracterização dos resíduos sólidos urbanos

4.3.1 Gerenciamento do resíduo sólido domiciliar

4.3.1.4 Destinação final do lixo

4.3.1.4.2 Tratamento e/ou aproveitamento

Os sistemas de tratamento de resíduos sólidos consiste no conjunto de unidades, processos e procedimentos que alteram as características físicas, químicas ou biológicas dos resíduos e conduzem a minimização do risco saúde pública e a qualidade do meio ambiente.

Entre os vários tipos de tratamento e/ ou aproveitamento de resíduos sólidos será abordado a incineração, reciclagem, compostagem e a biodigestão.

A incineração é considerada, às vezes como forma de disposição final, mas na realidade é um sistema de tratamento que consiste num processo de combustão controlada para transformação de resíduos sólidos, líquidos e gases combustíveis em dióxido de carbono, outros gases e água. Isto reduz significativamente os volumes e pesos iniciais, sendo estes gases diluídos na atmosfera através da chaminé. O processo de incineração também produz resíduo, as escórias, que são encaminhadas para os aterros sanitários.

Segundo Roth et al. (1999), a incineração consiste na queima dos detritos a temperaturas superiores a 900°C. A principal vantagem é a redução do volume dos dejetos, a diminuição do potencial tóxico dos dejetos (no caso de resíduos industriais ou de serviço de saúde) e a possibilidade de utilização da energia liberada com a queima (geração de eletricidade e vapor). Os fatores limitantes ou problemas derivados da incineração são os custos de instalação e de operação do sistema (cerca de US$ 20/t de lixo incinerado), poluição atmosférica (emissão de dioxinas e furanos, por exemplo, que constituem uma classe de substâncias organocloradas) e a necessidade de mão-de-obra qualificada.

Machado (1996) alega que a literatura demonstra que a possibilidade de emissões de poluentes na atmosfera deve-se em maior proporção a outras fontes como veículos automotores, disposição inadequada de produtos químicos clorados, branqueamento de papel e produção de pesticidas.

Como o objetivo de estudo deste trabalho é o resíduo sólido gerado no Serviço de Nutrição os tratamentos mais enfatizados serão: reciclagem, compostagem e biodigestão.

Reciclagem

Mancini (1999) conta que talvez a denominação mais antiga, em língua portuguesa, para os resíduos recicláveis (retirando deste grupo os restos orgânicos alimentares) foi a de “ferro-velho”. O autor ainda comenta que muito provavelmente os metais fundidos devem ter sido os materiais que mais tinham possibilidade e necessidade de serem recuperados nos séculos passados. A partir da denominação dada a este tipo de material, outros materiais passíveis de reaproveitamento como o vidro, papel-jornal, papelão e mesmo o plástico, passaram “modernamente” a ser chamados de ferro-velho”, quando perdiam seu valor de uso original e eram descartados.

Nas duas últimas décadas, entretanto, popularizou-se um vocábulo em língua portuguesa, para a designação dos resíduos sólidos recicláveis ou reutilizáveis à palavra sucata, a qual é de origem árabe (Mancini, 1999).

O conceito de reciclagem também pode ser definido como um processo através do qual materiais que se tornariam lixo, ou que estão no lixo, são desviados

para serem utilizados como matéria prima na manufatura de bens normalmente elaborados com matéria prima virgem.

Embora não possa ser vista como a principal solução para o lixo, a reciclagem pode ser considerada uma alternativa num sistema de gerenciamento de resíduos sólidos urbanos.

A reciclagem quando analisada sob os parâmetros do seu “significado” de marketing apresenta apenas vantagens, tais como: diminui a quantidade de lixo a ser aterrado e conseqüentemente aumenta a vida útil dos aterros sanitários); economiza energia; diminui a poluição dos recursos naturais; gera empregos e etc, mas acreditar que não existe desvantagens como coloca alguns autores é ser muito simplista, assim esta questão será enfatizada no item 3.6.

Por outro lado, a reciclagem de resíduos sólidos enfrenta obstáculos que podem ser reais ou decorrente de aspectos indiretos desfavoráveis. A principal dificuldade está associada à diminuição da qualidade técnica do material, em função dos sucessivos ciclos de vida (síntese –transformação – uso – descarte), ao longo dos quais algumas propriedades vão sendo alteradas. Como conseqüência, há uma tendência de que os materiais reciclados sejam usados para a obtenção de produtos de menores exigências técnicas e com menor valor de mercado. Mas, também é importante ressaltar que vários materiais (vidro, alumínio, plásticos) mantêm suas características praticamente inalteradas ao serem reciclados.

Um segundo fator relacionado com a qualidade do material diz respeito ao grau de contaminação que o mesmo apresenta após o uso, principalmente, após ser coletado de forma convencional, em que predomina uma mistura bastante intensa dos resíduos. Uma boa separação favorece a recuperação dos materiais a serem reciclados.

Compostagem

A compostagem é definida como o ato ou ação de transformar os resíduos sólidos orgânicos, através de processos físicos, químicos e biológicos, em uma matéria biogênica mais estável e resistente à ação das espécies consumidoras. O produto final, o composto, é definido como adubo preparado com restos animais e /ou vegetais, separadamente ou combinados e é, portanto, considerado um material condicionador de solos.

Apesar de ser considerado um método de tratamento, a compostagem também pode ser entendida como um processo de reciclagem do material orgânico presente no lixo, o que possibilita enorme redução da quantidade de material a ser disposto em aterros sanitários, uma vez que somente será disposto o que for rejeitado no processamento.

No processo de compostagem a matéria orgânica atinge dois estágios importantes: digestão, que ocorre em primeiro lugar, correspondendo à fase de fermentação na qual a matéria alcança a bioestabilização. O segundo estágio é a maturação, no qual a matéria atinge a humificação. Para Lima (1991) o processo de fazer composto orgânico de lixo doméstico e rural é constituído de duas fases distintas: tratamento físico e tratamento biológico. Sendo que o tratamento físico destina-se ao preparo dos resíduos favorecendo a ação biológica. Nesta fase, o lixo sofre um processo de triagem manual e /ou mecânica onde componentes não–biodegradáveis são retirados da massa. A seguir, os resíduos restantes são gradualmente triturados e homogeneizados. Em alguns sistemas costuma-se adicionar lodo de esgoto para favorecer a digestão, acelerando o processo. O tratamento biológico consiste na fermentação ou digestão dos resíduos pela ação dos microorganismos. Em geral, nos sistemas de compostagem, procura-se estimular o processo aeróbio, por ser mais rápido e isento de mau

cheiro. Entretanto, é válido lembrar a classificação segundo a ação biológica encerra três tipos de processamento, o aeróbio, anaeróbio e o misto. A escolha do melhor processo depende de uma série de estudos que vão desde origem e formação dos resíduos até sua coleta e manejo. A tipologia dos resíduos deve ser conhecida, principalmente o teor de matéria orgânica biodegradável, do que dependerá a quantidade e qualidade do composto orgânico.

Neste sentido a segregação de resíduo orgânico na fonte geradora seria uma medida facilitadora para a realização de compostagem, pois favorece a qualidade do composto gerado. Uma vez que um dos problemas do composto derivado do lixo doméstico é o alto índice de metais pesados, como chumbo, arsênio, mercúrio e outros.

Esta forma de segregação e coleta seletiva dos resíduos orgânicos na fonte geradora está sendo adotada por alguns países da comunidade européia. Estima-se que cerca de 60 milhões de toneladas do resíduo orgânico potencialmente recuperáveis são produzidos na Europa anualmente. Destes 60 milhões de toneladas a França produz 24%, Alemanha e Itália 15%, Espanha 11% Áustria 4 % Bélgica e Grécia 3%, Portugal, 2%, Dinamarca e Finlândia 1%. E aproximadamente 15 % (9 milhões de toneladas) da fração orgânica é corretamente reaproveitada através da compostagem caseira ou pelas centrais de compostagem . Segundo os autores, a Áustria, a Bélgica, a Dinamarca, Alemanha e Países Baixos, representam em torno de 85% de todo o resíduo orgânico coletado e compostado na Europa. O material orgânico coletado pelos programas de segregação na fonte tende a uma fração orgânica constituída, principalmente, de vegetais, frutas e resíduos dos serviços de poda de jardim (Slater & Frederickson, 2001).

Os autores citam também que a Alemanha é o país mais avançado na realização da compostagem, sendo que no ano de 1997 realizou a compostagem de 77 % dos 8

milhões de toneladas de matéria orgânica domiciliar potencialmente recuperável, o que proporcionou um aumento no número de fábricas de compostagem de 378 em 1995 para 520 em 1997. Outros paises também estão buscando a prática da compostagem, com a segregação na fonte geradora, como uma alternativa sustentável para redução dos aterros sanitários nos municípios.

Segundo Slater & Frederickson (2001) o governo Inglês estabeleceu uma meta de redução na quantidade de resíduo sólido biodegradáveis dispostos em aterros, assim:

75% da quantidade produzida em 1995, para 2010; 50% da quantidade produzida em 1995, para 2013; 35% da quantidade produzida em 1995, para 2020.

Para tanto os autores afirmam que a não segregação de resíduos não será sustentável a longo prazo, bem como a falta de incentivo a prática da compostagem como uma alternativa de desvio do aterro sanitário.

Cerqueira (1999) cita que o mercado de comercialização dos orgânicos tem dois obstáculos a vencer, os quais correspondem a garantir a qualidade do composto e sua produção em escala, a fim de imprimir competitividade ao produto final. Sendo que a qualidade depende diretamente da procedência dos resíduos orgânicos e do sucesso da coleta seletiva. Ou seja, se a população for bem orientada a separar em seu lixo diário as embalagens recicláveis (plástico, vidro, alumínio e até pilhas e baterias) da fase úmida do lixo (resíduos orgânicos, como restos de alimentos), as chances do composto orgânico estar contaminado com substâncias tóxicas e metais pesados são menores.

Assim pode-se constatar que a qualidade da matéria prima fornecida à reciclagem orgânica, ou seja, a compostagem, é essencial para o incentivo desta prática. E uma medida facilitadora do processo de separação na fonte de resíduo orgânico pode ser estabelecida a partir da classificação do resíduo sólido em duas classes: resíduo seco e resíduo úmido. Sendo que o resíduo seco constituído da massa de baixa biodegradabilidade como as embalagens, material eletrônico, entre outros e o resíduo úmido caracteriza-se pela matéria orgânica putrescível. Tal modelo, quando domiciliar, exige dois recipientes, com coleta e transporte diferenciados. O destino do lixo putrescível é uma área dedicada à compostagem e o destino do lixo seco seria uma área destinada à triagem dos resíduos.

Calçado (2000) realizou um teste com esse modelo de separação de resíduo em dois condomínios de 48 e 12 apartamentos com simulação de triagem (separação de resíduos). Nas duas primeiras coletas observou-se confusão com relação a segregação entre resíduo seco, úmido e misto. Mas, após a adaptação dos moradores ao modelo desapareceram os sacos de lixo misto e as parcelas de resíduo úmido e seco estabilizaram-se em 68% e 32%, respectivamente.

A massa úmida, de aproximadamente 70%, mostra que essa metodologia favorece a prática da compostagem em boa quantidade e qualidade.

Biodigestão

A digestão anaeróbia é um processo que pode, em princípio, ser realizado a partir de qualquer matéria orgânica proveniente de biomassa, para isto o material seja mantido nas condições de desenvolvimento das bactérias anaeróbias responsáveis pela

fermentação. Este processo pode ser empregado com as finalidades de tratamento de rejeitos poluidores, obtenção de combustível alternativo (biogás) e /ou como método de obtenção de adubo ou ração.

Para Benincasa (2000) o reaproveitamento da fração orgânica do lixo pode ser efetuado transformando-o em biofertilizantes e biogás através da biodigestão anaeróbia, técnica que há muito vem sido utilizado com resíduos agropecuários no sentido de reaproveitar a biomassa, principalmente através da produção de biogás, utilizado para suprir as necessidades energéticas de pequenas propriedades rurais. A autora estudou a produção de biogás com lixo orgânico do CEASA (Centrais de Abastecimento S. A.) de Ribeirão Preto, o qual tem uma produção média anual de 18.000 toneladas de lixo orgânico, o qual é disposto em aterros sanitários. E obteve um potencial de 0,4222 m3/Kg de SV (sólidos voláteis) adicionados, o que é equivalente a 0,8621 m3/Kg de lixo “in natura”.

Segundo Veloso (2002) o Brasil produz 280.000 toneladas de lixo por dia, sendo que o maior percentual (49%) é constituído de lixo orgânico, que geralmente vem de restos de alimentos. Se esse lixo fosse aproveitado em processos de compostagem, dois subprodutos poderiam ser usados, o primeiro o adubo e o gás metano, que pode ser usado na geração de energia termoelétrica. A quantidade de gás metano produzido pela compostagem de todo lixo orgânico seria suficiente pra alimentar uma usina de 2000 megawatts (a usina de Angra I tem capacidade de 657 megawatts). Para o autor uma usina termoelétrica como essa produziria, em um ano, 3,6 bilhões de reais em energia.

A biodigestão mostra-se como mais uma alternativa de tratamento para o resíduo sólido urbano.