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2 AS EMPRESAS BRASILEIRAS DE CAPITAL FECHADO APRESENTAM MAIORES

2.3 METODOLOGIA

2.3.2 TRATAMENTO E MENSURAÇÃO DAS VARIÁVEIS

A variável dependente adotada nos modelos econométricos explicados a seguir é a tax avoidance, mensurada através de duas medidas, TA1 e TA2, representadas respectivamente pela Effective Tax Rate (ETR total) e a ETR Diferencial.

Para a primeira medida de TA (TA1), utilizou-se a ETR Total, uma vez que não foi possível obter os valores separados dos impostos correntes e diferidos de todas as empresas da amostra. A ETR total foi tratada com base nos seguintes critérios: (i) quando o imposto de renda foi negativo, substitui-se o valor por zero no numerador; (ii) quando o LAIR foi menor que zero no denominador e o imposto de renda foi positivo, colocou-se 1 (um) no numerador. Além disso, as ETRs maiores que 1 (um) foram censuradas por apresentarem condições atípicas. Este procedimento seguiu em parte a metodologia aplicada por Stickney e McGee (1982), Gupta e Newberry (1997), Richardson e Lanis (2007), Kraft (2014) e Ribeiro, Cerqueira e Brandão (2015) e permitiu uma redução de perdas da amostra e, consequentemente, um melhor ajustamento nos modelos econométricos. Este tratamento proporcionou modificações em 196 observações de empresas de capital fechado e 23 observações de empresas de capital aberto.

A segunda medida de tax avoidance utilizada (TA2) é representada pela ETR Diferencial (HANLON; HEITZMAN, 2010). Aqui levou-se em consideração a média da ETR por setor, ao invés de utilizar uma taxa nominal, já que no Brasil o setor ou atividade econômica é um fator importante para a determinação da forma de tributação, a exemplo dos setores de construção civil e de energia elétrica (SANTOS; CAVALCANTE; RODRIGUES, 2013). Esta medida, além de minimizar algumas limitações da ETR Total, possibilita, por exemplo, verificar o esforço dispendido pela empresa no sentido de reduzir suas alíquotas efetivas sobre o lucro, de sorte que, quanto maior a ETR Diferencial, mais a empresa é agressiva na redução da ETR.

As variáveis independentes adotadas nos modelos econométricos são:

(i) FIRMA. É a principal variável de análise (dummy) que representa as empresas abertas ou fechadas. Diante da hipótese assumida, espera-se que as empresas de capital fechado apresentem ETR inferior à das empresas de capital aberto;

(ii) TAM – Tamanho. O tamanho da empresa é um determinante da tax avoidance que pode estar relacionado positivamente à ETR, sob a hipótese dos custos políticos. Por outro lado, a hipótese do poder político aduz que grandes empresas possuem recursos financeiros e intelectuais para investir em atividades de planejamento tributário e, assim, reduzir consideravelmente o pagamento de seus tributos (ZIMMERMAN, 1983; WATTS; ZIMMERMAN, 1986; SIEGFRIED, 1972);

(iii) ALAV – Alavancagem. Empresas com maior alavancagem podem apresentar ETR menores por causa das deduções de despesas com juros para fins tributários, enquanto que os dividendos não são dedutíveis. Isto se dá em função das decisões operacionais de investimentos e financiamentos (STICKNEY; McGEE; 1982; GUPTA; NEWBERRY, 1997);

(iv) ROA – Rentabilidade. Empresas rentáveis implicam em maiores lucros e, portanto, em maior parcela de tributação. Mas também pode ocasionar em menor tributação devido à eficiência na aplicação de recursos;

(v) INTCAP – Intensidade de Capital. Esta variável está ligada ao endividamento por causa de maiores deduções nos lucros por juros e, principalmente por causa das depreciações provenientes dos investimentos em ativos fixos;

(vi) INTINV – Intensidade de Estoque. Uma vez que os investimentos em estoque pode ser uma alternativa aos investimentos em ativos fixos, a empresa pode estar abrindo mão das deduções com depreciações, o que pode estar relacionado à busca de maiores vendas futuras e consequente aumento na rentabilidade;

(vii) ECV – Estágios do Ciclo de Vida. Uma vez que as diferentes estratégias das empresas, inclusive as tributárias, estão associadas aos estágios do ciclo de vida organizacional (DRAKE, 2015; HASAN et al., 2016) e, que, por sua vez, dão origem a diferenças nas ETRs, utiliza-se um conjunto de variáveis baseado no modelo de Dickinson (2011) para representar os estágios do ciclo de vida (ECV). Assim, a variável ECV assume um dos cinco estágios com base nos sinais dos fluxos de caixa (modelo de Dickinson), sendo que os dois últimos estágios podem apresentar mais de uma variação - conforme demonstrado na Tabela 2.2.

A inclusão do ciclo de vida organizacional na análise sobre os determinantes da ETR no Brasil é pouco explorada e é vista como uma contribuição. Hasan et al. (2016) mostram que o ciclo de vida organizacional é um determinante importante da tax avoidance (estratégias para

diminuição dos impostos sobre o lucro). No Brasil, Silva (2016) constatou que os estágios iniciais e avançados do ciclo de vida organizacional possuem maiores níveis de planejamento tributário, porém sua amostra considerou apenas as empresas de capital aberto do índice IBrX 100 da B3.

Tabela 2.2 - Classificação dos Estágios do Ciclo de Vida organizacional (ECV) pelos fluxos de caixa

Fluxo de Caixa

Estágios de Ciclo de Vida organizacional

Nascimento Crescimento Maturidade Turbulência Declínio

Operacional - + + + - + - -

Investimento - - - + - + + +

Financiamento + + - + - - + -

Fonte: Dickinson (2011, p. 1974).

(viii) SETOR. O setor econômico é outra variável independente importante, uma vez que determinados setores apresentam regimes específicos de tributação e outros recebem incentivos fiscais (LOPES, 2012; SANTOS; CAVALCANTE; RODRIGUES, 2013);

(ix) ANO. Variáveis dummies de anos para controlar possíveis influências macroeconômicas e outros efeitos do tempo no período de análise.

A Tabela 2.3 apresenta a descrição das variáveis, a forma como foram mensuradas e os trabalhos que as fundamentam.

Tabela 2.3. Especificação das variáveis utilizadas na pesquisa, mensuração e fundamentação Descrição Variável Mensuração Fundamentação Effective Tax Rate -

ETR TA1

Imposto de renda (IRPJ + CSLL) / Lucro Antes do Imposto de Renda - LAIR

Hanlon e Heitzman (2010); Chen et al. (2010) ETR diferencial TA2 ETR média do setor (-) ETR total da firma Adaptado de Hanlon e Heitzman (2010) Status da empresa FIRMA empresas de capital fechado e 0 Dummy, sendo 1 para as

para as demais

Cloyd, Pratt e Stock, (1996); Jacob, Rohlfing-Bastian e Sandner, (2014); Pierk (2016)

Tamanho da Firma TAM Log do ativo total

Zimmerman (1983); Richardson e Lanis (2007); Santos, Cavalcante e Rodrigues

(2013)

Alavancagem ALAV Dívidas de longo prazo / Ativo total Richardson (2014), Santos, Rego (2003); Taylor, Cavalcante e Rodrigues (2013) Rentabilidade ROA Lucro antes do IR e CSLL / Ativo total

Gupta e Newberry (1997); Richardson; Lanis (2007); Desai e Dharmapala (2009) Intensidade do Capital INTCAP Imobilizado / Ativo total Desai e Dharmapala (2009) Gupta e Newberry (1997);

Intensidade do Estoque INTINV Estoque / Ativo total

Parisi (2016), Fernández- Rodríguez e Martínez-Arias

(2014)

Estágio do Ciclo de

Vida – ECV ECV

Variáveis dummies para cada ciclo de vida adotado (nascimento, crescimento,

maturidade, turbulência e declínio)

Dickinson (2011), Hasan et al., (2016), Drake, 2015

Setores econômicos SETOR

Variáveis dummies para setor de atividade econômica: indústria,

comércio, construção civil, comunicação, água e energia,

transporte e serviços relacionados e outros setores

Adaptado de Santos, Cavalcante e Rodrigues (2013)

Ano 2010 a 2015 Variáveis dummies para cada ano - Fonte: Quantum Axis® e Economática®.

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