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2.2. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS EM CONTEXTO DE INTERNAMENTO Ao longo da história tem vindo a assistir-se a uma cada vez maior preocupação com a

2.2.1 Treino de competências sociais

As competências sociais são, para Spencer (2003), citado por Aguiar (2009), referido em Baptista, Monteiro, Silva, Santos e Sousa (2011, p. 4), “a capacidade de obter resultados (positivos) a partir de interações interpessoais”. Muitas vezes usam-se os termos competências sociais e habilidades sociais como sinónimos, porém Del Prette e Del Prette (1999), referidos por Bandeira, Costa, Del Prette, Del Prette e Gerk-Carneiro (2000) dizem-nos que as competências e habilidades são diferentes, sendo que habilidades são os comportamentos verbais e não-verbais necessários à competência social, que é a avaliação da adequação dos comportamentos e do efeito que produz em

47 determinada situação. Assim, todo o treino de comportamentos verbais e não-verbais (habilidades sociais) leva à promoção de competências sociais. Ora a promoção destas competências sociais são fundamentais para o bem-estar do utente, mas têm neste momento uma importância redobrada uma vez que a política de saúde mental pretende a reabilitação e a inserção das pessoas com doença mental grave.

Para que haja a aquisição das competências sociais é necessário haver um treino de habilidades sociais que é realizado pelas intervenções psicossociais e socioterapêuticas, que para além de facilitarem a integração do utente na comunidade também, como diz Bellack (2004) diminuem o risco de recaídas.

Para o treino de competências sociais foram desenvolvidas intervenções socioterapêuticas e psicossociais através das atividades “ida ao supermercado”, “cumprimento de regras” e “ida ao médico” estando esta relacionada com a adesão à terapêutica.

A atividade de “ida ao supermercado” requereu muita interação e trabalho de grupo uma vez que era facultada uma lista de compras que tinham de preencher em conjunto de acordo com a situação que lhes era solicitada, tendo assim ajudado a desenvolver a capacidade de interagir e estabelecer diálogo entre os utentes, a capacidade de tomada de decisão chegando a consensos, desenvolvendo ainda a capacidade de argumentação (escolher uns produtos em prol de outros consoante o orçamento de que dispunham). Os utentes mostraram-se muito agradados com esta atividade, tendo sido importante para treinar e desenvolver competências sociais capacitando-os para voltar à vida em comunidade/sociedade, reduzindo o impacto negativo da mesma e após a realização da mesma verificou-se que a interação e relação em grupo melhoraram. A atividade supra citada permitiu obter ganhos em saúde no seguinte diagnóstico:

Diagnósticos CIPE antes das intervenções:

Socialização comprometida Comunicação comprometida

Diagnósticos CIPE após as intervenções: Socialização melhorada Comunicação melhorada

A atividade sobre “cumprimento de regras” pretendeu trabalhar a atenção/concentração e a capacidade de cumprir todas as diretrizes que lhes iam sendo

48 solicitadas de forma a perceberem a importância do cumprimento de regras e refletirem sobre as mesmas.

Esta atividade foi do agrado dos utentes embora o objetivo final apenas tenha sido atingido por um deles. Embora não tenham conseguido elaborar o exercício, perceberam a sua importância.

Com estas atividades foram desenvolvidas as competências específicas do enfermeiro especialista F3 e F4.

Com a sessão de “adesão à terapêutica” pretendeu-se para além do treino de competências sociais, fazer psicoeducação sobre importância da adesão ao regime terapêutico tendo como objetivo mudanças comportamentais. Uma das oito categorias de enunciados descritivos referidas pela OE (2011) é a prevenção de complicações e um dos pontos importantes referidos é a promoção da adesão ao regime terapêutico instituído, daí ter-se considerado importante esta atividade. Foi também objetivo dar resposta às competências comuns do enfermeiro especialista B1 (Regulamento nº122/2011, p.8649) e às Competências Específicas do Enfermeiro Especialista em Saúde Mental F3 e F4 (Regulamento n.º 129/2011).

Esta sessão decorreu numa primeira parte com a exposição oral sobre o tema da “Adesão à Terapêutica”, e os utentes foram expondo de alguma forma a sua opinião e formas estratégicas que têm no seu dia-a-dia para aderir à medicação, não esquecendo a sua toma, tendo-se no final procedido à entrega de um folheto (Anexo V). Numa segunda fase da sessão, ou seja, a parte prática, de role play os utentes tinham de ir ao médico que lhes receitava a terapêutica, depois ir à farmácia adquirir o medicamento e por fim preparar a medicação. Os utentes mostraram-se todos muito motivados, participando ativamente e demostrando comportamentos muito assertivos. Intervir de forma a aumentar a adesão terapêutica das pessoas é muito mais eficaz recorrendo a técnicas interativas que integrem a pessoa no problema do que a simples palestra e exposição de informação (Keltner, Schwecke & Bostrom, 2007) e daí ter sido muito importante a técnica de roleplay utilizada.

Segundo Soares (s.d.) a adesão ao tratamento é fundamental para gerir a doença crónica. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), referida pelo mesmo autor, cerca de 50% dos utentes têm dificuldade em aderir ao tratamento, sendo que esta adesão “é a

49 medida com que o comportamento de uma pessoa corresponde às recomendações de um profissional de saúde”, o que significa que para um controlo da doença crónica é necessário manter a medicação prescrita.

Antes da realização desta sessão foi aplicada uma escala de adesão à terapêutica, versão portuguesa, adaptada e validada a partir da escala Medication Adherence Rating Scale (MARS) (Anexo VI). O uso de instrumentos de avaliação nas intervenções é um elemento muito importante para a melhoria contínua da qualidade dos cuidados prestados. Sequeira (2010) refere que o uso de instrumentos de medida é fundamental para um diagnóstico feito com rigor. Esta intervenção vai ao encontro do que é preconizado nas competências comuns e específicas B2, F2 e F3. (Regulamentos n.º122/2011 e n.º129/2011) do EESMP.

A escala de adesão ao regime terapêutico (MARS) acabou por ser aplicada a todos os doentes com os diagnósticos de Esquizofrenia, Perturbação Esquizofreniforme, Perturbação Esquizoafectiva em fase maníaca, Perturbação Bipolar (mania) e psicose, uma vez que esta escala foi validada para os doentes com estes diagnósticos (Vanelli, Chendo, Gois, Santos & Levy, 2011), tendo sido aplicada a dez utentes no total. Depois de aplicada a escala de adesão à terapêutica verificaram-se os seguintes resultados: metade dos utentes teve abaixo dos cinco pontos e a outra metade acima dos cinco pontos. Abaixo dos cinco pontos apresentam baixa probabilidade de adesão e igual ou acima de cinco alta probabilidade de adesão. Procurou-se reforçar com a sessão a importância da toma da medicação e ensinar estratégias de associação a rotinas diárias para não esquecer a sua toma.

Antes desta actividade pediu-se a colaboração de toda a equipa (Anexo VII) e após esta atividade alertou-se a mesma para a importância da continuidade da implementação da escala MARS com o levantar do foco da Adesão ao Regime Terapêutico não demostrado no caso em que tal se verifique pela aplicação da referida escala, passando depois a demonstrado se as estratégias utilizadas derem resposta ao pretendido, pois só assim, pela alteração do estado do diagnóstico CIPE é possível evidenciarem-se ganhos em saúde sensíveis aos cuidados de enfermagem.

Com esta intervenção obtiveram-se ganhos em saúde através da alteração do estado de diagnóstico:

50 Diagnóstico CIPE antes da

Intervenção:

Não adesão ao regime medicamentoso presente

Diagnóstico CIPE após a intervenção:

Adesão ao regime medicamentoso

Todas estas atividades de treino de competências sociais foram consideradas promotoras de autonomia, agindo assim de acordo com o que refere a OE (2011) no enunciado descritivo relacionado com o Bem-estar e autocuidado e foram também utilizadas de forma a permitir ao cliente “desenvolver conhecimentos, capacidades e fatores de adaptação, de forma a eliminar ou reduzir os riscos decorrentes da sua perturbação mental” (OE,2011) referenciadas no enunciado descritivo relativo à Adaptação.

Relativamente ainda às competências sociais foi realizado um pequeno manual com exemplos de atividades a desenvolver para as treinar, (Anexo VIII) desenvolvido em conjunto com outra colega mestranda, de forma a dar o nosso contributo para a melhoria dos cuidados a prestar neste âmbito pois considerou-se ser uma mais-valia no serviço, respondendo assim às competências comuns do eixo B e C.