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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.3. TRIACILGLICEROIS DE CADEIA MÉDIA E ÓLEOS LÁURICOS

A maioria das gorduras e óleos utilizados na área de alimentos é composta por ácidos graxos de cadeia longa, e são chamados de triacilglicerois de cadeia longa ou LCTs. Os óleos de soja, milho, girassol e azeite de oliva são exemplos de produtos ricos em LCTs. Os óleos láuricos e óleos extraídos de sementes como o óleo de babaçu, no entanto, são compostos principalmente por TAGs contendo ácidos graxos com cadeias carbônicas contendo de 8 a 12 carbonos, denominados triacilglicerois de cadeia média (MCTs). São exemplos de MCTs o ácido octanóico (C8:0, ou ácido caprílico), o ácido decanóico (C10:0, ou ácido cáprico) e o ácido decanóico (C12:0, ou ácido láurico). Desde 1994, os MCTs são reconhecidos como ingredientes seguros (GRAS) pela FDA (POUTON; PORTER, 2008; MARTEN; PFEUFFER; SCHREZENMEIR, 2006; BEARE-ROGERS, 1988).

Existem algumas fontes naturais de ácidos graxos de cadeia média, como o óleo de côco e os óleos derivados da palma. Os óleos ricos em triacilglicerois de cadeia média são produzidos por hidrólise do óleo de côco ou do óleo de palma, filtrados para obtenção dos ácidos graxos de cadeia média e reesterificados. Estes óleos contem quase que exclusivamente ácido octanóico e decanóico na proporção de 50:50 até 80:20 (MARTEN; PFEUFFER; SCHREZENMEIR et at., 2006; BEARE- ROGERS, 1988). Outros exemplos de óleos láuricos são o óleo de babaçu, utilizado neste trabalho de Mestrado, e a manteiga de murumuru.

Comparados com os LCTs, os MCTs têm ponto de fusão menor, menores massas molares e são líquidos ou semi-sólidos à temperatura ambiente. Essas distinções químicas e físicas afetam a forma com que os ácidos graxos de cadeia média são absorvidos e metabolizados de forma que os MCTs são absorvidos e metabolizados tão rapidamente quanto à glicose, enquanto que os LCTs mais lentamente. A maior parte da absorção dos ácidos graxos de cadeia média é feita por transporte para o fígado pelo sistema portal enquanto que os de cadeia longa exigem a formação de quilomícrons e chegam à circulação sistêmica através do sistema linfático. Os MCTs estimulam uma maior secreção de colecistoquinina, um hormônio que estimula a contração da vesícula biliar e do pâncreas, além de

estimular a secreção de fosfolipídios e colesterol quando comparados aos LCTs. Na presença de lipase pancreática ou deficiência de sais de bile, os ácidos graxos de cadeia média ainda podem ser absorvidos ao contrário dos de cadeia longa. Os MCTs também são aplicados para controle da obesidade e manutenção do peso, por possuírem propriedades termogênicas. Além disso, os MCTs podem reduzir os níveis de colesterol sérico e o acúmulo deste nos tecidos, e têm duas vezes a densidade calórica das proteínas e dos carboidratos (MARTEN et at., 2006; BEARE-ROGERS, 1988; BACH; BABAYAN,1982).

Os triacilglicerois de cadeia média (MCT) têm atraído significativamente a atenção no campo dos sistemas lipídicos de entrega, em parte por causa do aumento da velocidade da digestão, mas também pela capacidade destes promoverem uma melhor solubilização dos bioativos nas formulações. Isso ocorre porque a capacidade de solubilização de bioativos pelos triacilglicerois é função da concentração de grupos éster, assim, MCTs tem geralmente uma maior capacidade de solubilização que os LCTs (POUTON; PORTER, 2008). Quando as formulações contendo MCT são submetidas aos modelos de lipólise in vitro, elas frequentemente mantém os bioativos hidrofóbicos solubilizados após a digestão completa das formulações. De fato, para bioativos altamente lipofílicos essas formulações podem promover um estado aparentemente supersaturado no qual a concentração de bioativo excede a solubilidade nas formulações. O efeito de supersaturação é interessante para otimizar as formulações com base lipídica, uma vez que desenvolver formulações que apresentem o bioativo no estado de alta atividade termodinâmica é uma estratégia aceita para estimular a absorção passiva dos bioativos (PHAN et al., 2013;WASAN, 2007).

2.3.1. Óleo de Babaçu

No Brasil encontra-se o babaçu que é uma palmeira nativa da Amazônia, sendo o óleo extraído de suas sementes (Figura 2.6). O babaçu é pertencente à família Arecaceae (Palmae) e membros dos gêneros Orbignya e Attalea. Estudos demonstram que o babaçu tem propriedades biológicas curativas, analgésicas e anti-inflamatórias, além de propriedades imunomoduladoras quando combinado com um sistema de liberação (PESSOA et al., 2015; SOUZA et al., 2013; GUMIERO; ROCHA FILHO, 2012).

Figura 2.6. Palmeira, fruto e óleo extraído das sementes do babaçu.

O óleo de babaçu possui cor branca, ligeiramente amarelada, e corresponde a 4% do peso total do fruto e, pelo menos, 68% das sementes. Este óleo contém uma grande variedade de ácidos graxos (Tabela 2.2), incluindo o ácido láurico e o mirístico em maior porcentagem, entretanto o ácido láurico é o componente principal responsável pelas propriedades terapêuticas da planta (PESSOA et al., 2015; FERREIRA; FAZA; LE HYARIC, 2012; GUMIERO; ROCHA FILHO, 2012).

Tabela 2.2. Perfil de ácidos graxo do óleo de babaçu (Fonte: BEARE-ROGERS, 1988) Ácido Graxo Composição (%)

Capróico 0,4 Caprílico 5,3 Cáprico 5,9 Láurico 44,2 Mirístico 15,8 Palmítico 8,6 Esteárico 2,9 Oleico 15,1 Linoleico 1,7 Eicosanóico 0,1

Assim, o óleo de babaçu é rico em MCTs e possui grande potencial para aplicações em sistemas de encapsulação. Entretanto, apesar de vários estudos sobre as propriedades da planta e dos seus produtos, a utilização do óleo de babaçu para desenvolvimento destes sistemas baseados em emulsões e dispersões foi pouco elucidada.

Gumiero & Rocha Filho (2012) utilizaram a técnica de emulsificação por inversão de fases para produção de nanoemulsões de óleo de babaçu. As partículas apresentaram diâmetro hidrodinâmico médio de 50 nm e

polidispersidade de 0,1. As formulações testadas por estes autores não apresentaram variação no diâmetro quando submetidas a stress térmico.

Por sua vez, Pessoa et al. (2015) desenvolveram um sistema de microemulsão óleo em água contendo óleo de babaçu, Span 80, Tween 80 e 1- butanol que apresentou comportamento newtoniano, viscosidade linear e diâmetro hidrodinâmico médio de 277 nm.

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