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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.2 Triagem fitoquímica do EE

Informações importantes acerca da presença de metabólitos secundários nas plantas são fornecidas através da análise fitoquímica, para que assim possa chegar ao isolamento de princípios ativos importantes na produção de novos fitoterápicos. A classificação é feita em negativo (-), positivo (+), moderadamente positivo (++) e fortemente positivo (+++). Neste caso, a análise fitoquímica do extrato mostrou a presença de Fenóis, Taninos condensados, Catequinas, Esteroides, Alcaloides, classificados como fortemente positivos e Flavononóis e Saponinas, classificados como moderadamente positivo, conforme mostrado Tabela abaixo.

Tabela 4 - Avaliação qualitativa e semi-quantitativa dos constituintes químicos no EE das folhas de B. crassifolia.

Resultados expressos como média dos ensaios de avaliação qualitativa e semi-quantitativa de constituintes químicos realizados em triplicata no EE. Fortemente positivo = (+++); moderadamente positivo = (++); positivo = (+); negativo = (-).

Fonte: Elaborado pelo autor (2017)

Quanto ao extrato das folhas de B. crassifolia, no estudo fitoquímico preliminar obtiveram-se como metabólitos secundários fenóis, taninos condensados, flavanonóis, catequina, esteroide, saponina e alcaloides. Tendo-se como componentes majoritários os fenóis, os taninos condensados, catequinas, esteroides e alcaloides, representados por três cruzes na tabela 4. As saponinas e flavanonóis foram consideradas moderadamente positivas, representadas por duas cruzes. Os resultados negativos não implicam necessariamente na sua ausência, sendo possível que a quantidade dos mesmos esteja pequena para ser detectada. O estudo histoquímico é uma importante ferramenta para um direcionamento fitoquímico mais aprofundado, pois revelam as principais classes de metabólitos, possivelmente presentes numa estrutura celular (FANK-DE-CARVALHO, 2005).

Constituintes Químicos Avaliação

Cumarinas -

Fenóis +++

Taninos hidrolisáveis -

Taninos condensados +++

Antocianidinas e antocianidinas -

Flavonas, flavonóis e xantonas -

Chalconas e auronas - Flavanonóis ++ Leucoantocianidinas - Catequinas +++ Flavononas - Triterpenoides - Esteroides +++ Saponinas ++ Alcaloides +++

Os compostos fenólicos são citados por Esau (1998) como um grupo heterogêneo de substâncias presentes em quase todos os tecidos vegetais. Os autores referem que os mesmos estão relacionados com a proteção ao dessecamento ou ao aparecimento e ataque de animais, embora haja dúvidas quanto a totalidade de suas funções. Os produtos químicos de defesa são produzidos em consequência da ativação de rotas específicas e constituem a maioria dos princípios ativos como: óleos essenciais, alcaloides, taninos e flavonoides (KRIVENKO et al., 1989). Os dados de replicação por LC-MS corroboram com os de outros autores, como por exemplo, pela presença de flavonoides (RASTRELLI et al., 1997), fenóis, esteroides (SANNOMIYA, 2004).A presença de flavonóides, fenóis e alcaloides foi evidenciada em estudos de Bejar (1995). Ainda, um estudo de Sannomyia et al., (2015) revelou a ocorrência de esteroides, triterpenos, ésteres aromáticos, aminoácidos e proantocianidinas quando realizadas investigações fitoquímicos de B. crassifolia os autores Sannomyia et al., (2015)apud Gottlieb et al., (1975); Amarquaye et al., (1994); Bejar et al., (1995); Geiss et al., (1995); Rastrelli et al., (1997) e Mendes et al., (1999) corroborando apenas com a presença de esteroides.

Estudos de Rastrelli et al., (1997) sobre B. crassifolia relataram o isolamento de glicolipídeos, triterpenos, ácidos triterpênicos, catequinas e flavonoides das folhas e, proantocianidinas e taninos do tronco (GEISS et al., 1995), estando de acordo com os achados obtidos neste trabalho quanto à presença de taninos, flavonoides e catequinas nas folhas do murici.

Os compostos fenólicos presentes no extrato como: Taninos condensados, Catequinas, Fenóis, estão vastamente distribuídos no reino vegetal, são constituídos por pelo menos um anel aromático cujo hidrogênio é substituído por uma hidroxila e estão associados a diversas atividades biológicas (SIMÕES, 2004). Os flavan-3-óis ou flavan-3,4-dióis, ou catequinas, derivados de flavonoides, originam os diversos tipos estruturais da classe dos taninos condensados, os quais são encontrados em diversas fontes, como o chá Camellia sinensis, açaí, cacau e barbatimão, dentre muitas outras, sejam plantas alimentícias ou medicinais (HERTOG; HOLLMAN; KATAN, 2013)

As catequinas que também foram encontradas no extrato do murici, sendo um dos metabólitos majoritariamente disponível na estrutura desta planta, têm sua importância na área microbiológica, pois alguns estudos já demonstraram que estas possuem atividade antibacteriana, como demonstra os estudos desenvolvidos por Schmitz (2005) que comprovam atividade antimicrobiana das catequinas. Segundo Schmitz (2005) existe uma relação direta entre a estrutura das catequinas e sua atividade antibacteriana. Estes autores

também citam que as catequinas com dihidroxilação nas posições 2 – 4 ou 2 – 6 do anel B e dihidroxilação nas posições 5 – 7 do anel A da estrutura das catequinas, apresentam atividade antibacteriana contra Staphylococcus aureus resistentes a meticilina (MRSA), porém não é possível afirmar neste estudo que as catequinas encontradas possuem tais estruturas, seriam necessários mais estudos experimentais para a elucidação das estruturas dos metabólitos encontrados nas folhas de murici.

No Nordeste brasileiro, ocorrem diversas espécies do gênero Byrsonima, havendo na literatura relatos que reportam a presença de triterpenos em Byrsonima verbascifolia e Byrsonima microphylla, e flavonoides e esteroides em Byrsonima variabilis (DAVID; SANTOS; GUEDES, 2003).

Os fenóis são considerados bons antioxidantes, pois estes compostos têm facilidade em perder um átomo de hidrogênio do grupo hidroxila no processo de transferência de um elétron e de um próton. Como a catequina é um polifenol oxida facilmente, ou seja, quando a mesma está presente no organismo e encontra um radical livre, logo reagirá com o mesmo evitando a oxidação de células sadias. O tanino dessa molécula é um melhor antioxidante do que somente o flavonoide da mesma, pois como ele é formado de três estruturas de catequina consegue reagir com três radicais livres ao mesmo tempo (VACCARI, 2009).

Dentre os compostos fenólicos, tem-se em abundância no extrato do muricios taninos estão relacionadas, principalmente, com suas propriedades adstringentes. A função biológica dos taninos tem sido investigada e acredita-se que eles estejam envolvidos na defesa química das plantas contra o ataque de herbívoros vertebrados ou invertebrados e microrganismos patogênicos. (SCALBERT, 1991). Por via interna os taninos exercem efeito antidiarreico e antisséptico; por via externa impermeabilizam as camadas mais expostas da pele e mucosas, protegendo assim as camadas subjacentes (BRUNETON, 1991). Quando se ingerem taninos presentes em alguns alimentos, que é o caso do vinho, sentimos um sabor adstringente, isto ocorre porque as catequinas e os demais taninos do vinho reagem com as enzimas salivares as inibindo e formando um complexo tanino/proteína. Os taninos condensados são capazes de reagir com as enzimas responsáveis pela catálise de transporte de nutrientes de algumas bactérias, quando esta reação acontece esta enzima torna-se inativa e, portanto, resulta na falta de nutrientes para a bactéria (VACCARI, 2009). Dentre as funções a que este se destina podemos destacar o efeito antidiarreico e antisséptico, e efeito antimicrobiano e antifúngico, além de cura em processos de feridas, queimaduras e inflamações (MONTEIRO; ALBUQUERQUE; ARAÚJO, 2005). Estes compostos também são capazes de reagir com as enzimas responsáveis pela catálise de transporte de nutrientes de algumas bactérias. Quando

esta reação acontece esta enzima torna-se inativa e, portanto, resulta na falta de nutrientes para a bactéria. (UETA, et al., 2014). Ao precipitar proteínas, os taninos propiciam um efeito antimicrobiano e antifúngico.

As propriedades antimicrobianas dos taninos são bem conhecidas e documentadas. Kilkuskie e colaboradores (1992) observaram que galotaninos mostraram atividade inibitória somente em concentrações tóxicas, elagitaninos e taninos condensados inibiram fracamente a replicação viral e os taninos complexos mostraram potente atividade contra a replicação do HIV. A atividade anti-HIV exibida por taninos é devida à inibição da transcriptase reversa, dificultando assim a replicação viral. Uma série de bactérias são sensíveis aos taninos, dentre elas Staphylococcus aureus, Streptococcus pneumonia, Bacillus anthracis e Shigella dysenteriae e, em concentrações mínimas (0,5 g/L) (CASTRO et al., 1999).

Ademais, os taninos são hemostáticos e, como precipitam alcaloides, pode servir de antídoto em casos de intoxicações (BRUNETON, 1991). Em processos de cura de feridas, queimaduras e inflamações, os taninos auxiliam formando uma camada protetora (complexo tanino-proteína e/ou polissacarídeo) sobre tecidos epiteliais lesionados, podendo, logo abaixo dessa camada, o processo curativo ocorrer naturalmente (MELLO; SANTOS, 2001). Várias doenças degenerativas como câncer, esclerose múltipla, arteriosclerose e o próprio processo de envelhecimento estão associados a altas concentrações intercelulares de radicais livres. Estudos recentes mostram que vários taninos atuam como captadores de radicais, os quais interceptam o oxigênio ativo formando radicais estáveis (MELLO; SANTOS, 2001).

Segundo Oloyede (2010), os alcaloides foram identificados como sendo um dos compostos majoritários do extrato do murici e possuem atividades antimaláricas, citotóxica e antimicrobiana.

As saponinas estão relacionadas com o sistema de defesa e são derivadas do metabolismo secundário das plantas e estão presentes principalmente nos tecidos mais suscetíveis ao ataque de insetos, fungos e bactérias (WINA; MUETZEL; BECKER, 2005).As saponinas podem se ligar aos esteroides e formar estruturas que apresentamefeitos de diminuir o colesterol,ação antifungicae sobre membranas celulares, alternando sua permeabilidade (SIMÕES, 2004).

Recentemente, Mors e colaboradores (2000), testaram várias substâncias naturais de diferentes classes, com histórico de neutralizar efeitos dos venenos de cobra. O teste realizado foi aquele do efeito antiletal sobre o veneno da Bothrops. Os autores observaram que substâncias amplamente difundidas no reino vegetal como o β- sitosterol, estigmasterol e 3β- glicopiranosídeo de β-sitosterila, dentre outras, apresentaram 70% de proteção contra o efeito

antiletal deste veneno. A abundância de esteroides nos extratos da folha do murici pode justificar a ação antiofídica atribuída à espécie na medicina popular.

Constituintes químicos do extrato das folhas de B. crassifolia foram isolados no estudo por Cromatografia Liquida de Alta Eficiência acoplada a Espectrometria de Massas (LC-ESI- IT-MS). A quercetina (3,5,7,3’-4’- pentahidroxi flavona) é o principal flavonoide presente na dieta humana. Quercetina é um flavonoide natural que possui propriedades farmacológicas, tais como Antiinflamatória, anticarcinogênica, antiviral, influencia na inibição de cataratas em diabéticos, anti-histamínicas (antialérgicas), cardiovascular, entre outras atividades. A quercetina possui propriedades antioxidantes. Tem atividade cardiovascular, reduzindo o risco de morte por doenças das coronárias e diminuindo a incidência de enfarte do miocárdio. Grandes concentrações são encontradas em maçãs, cebolas, chá, brócolis e vinho tinto (NIJVELDT, 2001).

Estudos concluíram que flavonoide isoquercetina é capaz de promover uma significativa diminuição da proliferação das células tumorais por mecanismos envolvidos diretamente no ciclo celular (AMADO et al.,2017)

De acordo com a literatura, um estudo utilizando a B. cinera, constatou-se que alguns flavonoides apresentam atividade antidiarreica como no caso da quercetina e ternatina. Essa atividade dos flavonoides foi observada através de experimentos de diarreia crônica em ratos e motilidade do trânsito intestinal de camundongos. Os dados obtidos neste trabalho mostram- se relevantes, já que não há dados sobre a química ou efeitos farmacológicos de extratos das folhas no sistema gastrintestinal desta espécie na literatura. Esta atividade observada pode estar relacionada com a presença de catequinas e flavonoides nos extratos polares de B. cinera (RAO et al., 1997; GALVEZ et al., 1991; GALVEZ et al., 1993; GALVEZ et al., 1996). A abundância de quercetina no extrato do murici pode justificar a ação gastrointestinal atribuída à espécie na medicina popular.

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